João Miguel Tavares faz parte do elenco do "Governo Sombra", programa semanal da TVI, com o já célebre humorista Ricardo Araújo Pereira e o poeta Pedro Mexia. Inteligência não é coisa que ali falte. Um grande humorista e talentoso cronista de costumes, um crítico literário erudito e penetrante, um jornalista inteligente.
O problema é que, por vezes, a inteligência pisca o olho ao cinismo e disfarça sob o manto diáfano da crítica "independente" uma tremenda dependência ideológica. É o caso de João M. Tavares. Com um argumentário pretensamente diferente dos apelos ao golpe de estado que a coligação de direita anda por aí a exigir sem máscara, ataca um governo do PS, legítimo e legal, com apoio na Assembleia da República. “O acordo da esquerda não pode ser um Frankenstein keynesiano-leninista
colado a cuspo. O acordo da esquerda não pode ser uma fraude
intelectual. O acordo da esquerda não pode ser um discurso de Miss
Universo, composto em exclusivo de suspiros por um mundo melhor.” Ora, o
acordo de esquerda, que não é sequer um acordo mas três desacordos, é
tudo isto, mas em pior. E só mesmo a carneirização da pátria e o nosso
notável talento para ir atrás do primeiro flautista de Hamelin que se
atravessa no caminho é que pode conduzir à suspensão, tanto à direita
como à esquerda, dos mais básicos critérios de exigência intelectual e
de honestidade política, e a uma espécie de aceitação conformada da
inevitabilidade de António Costa ter de vir a ser indigitado
primeiro-ministro.", "A opção de Cavaco não tem de ser um governo de gestão, nem de iniciativa
presidencial. O que ele tem de fazer é ater-se aos critérios de solidez
e estabilidade que enunciou e pedir a António Costa para parar de
brincar connosco e assinar alguma coisa séria, se quer ser
primeiro-ministro. Aceitar aqueles três desacordos daria uma grande
felicidade à esquerda. Mas transformaria o presidente da República num
triste notário, obrigado a carimbar qualquer papel que lhe pusessem à
frente. A bem da salubridade do regime, não pode ser." O palavreado pretensamente irrefutável (o homem mostra-se arrogante e vaidoso no tal "Governo Sombra" e provoca permanentemente o Ricardo, querendo-se fazer passar por humorista também...Pobrezito!) resume-se ao mesmo que a direita trauliteira apregoa desesperada: Governo de esquerda nunca, jamais!
Nestes meandros sinuosos vão certos "liberais" desvelando a sua ideologia reaccionária. Anti-humanista se quisermos confrontá-la com as misérias que os trabalhadores têm sofrido nestes últimos quatro anos. O que é ser liberal hoje?
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