Graeber narra o declínio da Ciência Económica David Graeber
Ela
mantém-se aferrada aos dogmas — enquanto os problemas centrais ligados à
produção e distribuição de riquezas mudaram. Contudo, tornou-se mais
influente, ao se converter em ideologia a favor do 1%.
Que fazer: salvá-la ou destruí-la?
De Robert Skidelsky. Imprensa da Universidade de Yale, 492 págs
Há
um sentimento crescente, entre aqueles que têm a responsabilidade de
administrar grandes economias: o de que a disciplina
de Economia não é mais adequada ao seu objetivo. Ela está começando a
parecer uma ciência desenvolvida para resolver problemas que não existem
mais.
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Um
bom exemplo é a obsessão pela inflação. Os economistas ainda ensinam
aos alunos que o principal papel econômico do governo
– muitos insistiriam que seu único papel econômico realmente adequado – é
garantir a estabilidade de preços. Devemos estar constantemente
vigilantes sobre os perigos da inflação. Para os governos, simplesmente
imprimir dinheiro é, portanto, inerentemente pecaminoso.
Se, no entanto, a inflação se mantiver muito baixa, por meio da ação
coordenada do governo e dos banqueiros centrais, o mercado encontrará
sua “taxa natural de desemprego” e os investidores, aproveitando os
sinais claros de preços, serão capazes de garantir
um crescimento saudável. Essas premissas vieram com o monetarismo da
década de 1980, a idéia de que o governo deveria se restringir à
administração do suprimento de dinheiro. Na década de 1990, passaram a
ser aceitas como um senso comum tão elementar que praticamente
todo debate político teve que partir de um reconhecimento ritual dos
perigos dos gastos do governo. Continua a ser assim, apesar do fato de
que, desde a recessão de 2008, os bancos centrais imprimiram dinheiro
freneticamente na tentativa de criar inflação
e obrigar os ricos a fazer algo útil com seu dinheiro, tendo fracassado
retumbantemente em ambos os empreendimentos.
Agora
vivemos em um universo econômico diferente do que vivíamos antes
do crash. A queda do desemprego não eleva mais os salários.
Imprimir dinheiro não causa inflação. No entanto, a linguagem do debate
público e a suposta sabedoria transmitida nos livros econômicos
permanecem quase inteiramente inalteradas.
Espera-se
uma certa defasagem institucional. Hoje em dia, os economistas
convencionais (orig.: mainstream) podem não ser particularmente
bons em prever colisões financeiras, facilitar a prosperidade geral ou
criar modelos para prevenir as mudanças climáticas. Mas quando se trata
de se estabelecer em posições de autoridade intelectual, não afetadas
por essas falhas, seu sucesso é incomparável.
Alguém teria que olhar para a história das religiões para encontrar algo
parecido. Até hoje, a economia continua a ser ensinada não como uma
história de argumentos – não, como qualquer outra ciência social, como
uma série de perspectivas teóricas muitas vezes
conflitantes – mas como algo mais parecido com a física, a realização
gradual de verdades matemáticas universais e intransponíveis. É claro
que existem teorias “heterodoxas” da economia (institucionalista,
marxista, feminista, “austríaca”, pós-keynesiana …),
mas seus expoentes foram quase completamente excluídos do que são
considerados departamentos “sérios”. Até mesmo rebeliões diretas de
estudantes de economia (do movimento pós-autista na França até a
economia do pós-colapso na Grã-Bretanha) foram incapazes
de incluí-los no currículo básico.
Como
resultado, os economistas heterodoxos continuam sendo tratados como
quase malucos, apesar de frequentemente terem um histórico
muito melhor de previsão de eventos econômicos do mundo real. Além
disso, as suposições psicológicas básicas nas quais a economia
convencional (neoclássica) baseia-se – apesar de há muito serem
refutadas por psicólogos reais – colonizaram o restante da academia
e tiveram um impacto profundo nas compreensões populares sobre o mundo.
Em
nenhum lugar essa separação entre o debate público e a realidade
econômica é mais dramática do que na Grã-Bretanha, e talvez
por isso pareça ser o primeiro país em que algo está começando a
quebrar. Na virada do século, foi o “novo” Partido Trabalhista, de
centro-esquerda, que presidiu a bolha pré-colapso. A expulsão dos
bastardos por parte dos eleitores trouxe uma série de governos
conservadores, os quais logo descobriram que uma retórica de
“austeridade” – a evocação churchilliana de sacrifício comum – caiu bem
no público britânico. Garantiu ampla aceitação popular para políticas
que reduziram o pouco que restava do estado social britânico
e concentraram os recursos no andar de cima, junto aos ricos. “Não
existe uma árvore mágica do dinheiro”, disse Theresa May durante a
eleição de 2017 – praticamente a única linha memorável de uma das
campanhas mais sem brilho da história britânica. A frase
é repetida incessantemente na mídia, sempre que alguém pergunta por que o
Reino Unido é o único país da Europa Ocidental que adota cobrança para a
universidade ou se é realmente necessário ter tantas pessoas dormindo
nas ruas.
O
mais extraordinário da frase de May é que ela é falsa. Há muitas
árvores mágicas de dinheiro na Grã-Bretanha, assim como em
qualquer economia desenvolvida. Elas são chamados de “bancos”. Como o
dinheiro moderno é simplesmente crédito, os bancos podem criar dinheiro
literalmente do nada, simplesmente fazendo empréstimos. Quase todo o
dinheiro que circula na Grã-Bretanha no momento
é criado por bancos dessa maneira. O público não apenas não está ciente
disso, mas uma pesquisa recente do grupo de pesquisa britânico Positive
Money descobriu que 85% dos membros do Parlamento não tinham idéia de
onde realmente vinha o dinheiro (a maioria
parecia ter a impressão de que era produzido pela Casa da Moeda Real).
Os
economistas, por razões óbvias, não podem ignorar completamente o papel
dos bancos, mas passaram boa parte do século XX discutindo
sobre o que realmente acontece quando alguém solicita um empréstimo. Uma
escola insiste em que os bancos transferem os fundos existentes de suas
reservas, outra afirma que eles produzem dinheiro novo, mas apenas com
base em um efeito multiplicador (para que
seu empréstimo de carro ainda possa ser visto como ancorado, em última
análise no fundo de pensão de alguma avó aposentada). Somente uma
minoria – principalmente economistas heterodoxos, pós-keynesianos e
partidários da Teoria Monerária Moderna – defende o
que é chamado de “teoria da criação de crédito do setor bancário”. Ou
seja, a noção de que os banqueiros simplesmente acenam com uma varinha
mágica e fazem o dinheiro aparecer, seguros e confiantes de que, mesmo
que entreguem a um cliente um crédito de US$
1 milhão, ao final das contas o destinatário o devolverá ao banco, para
que, no sistema como um todo, os créditos e dívidas sejam cancelados. Em
vez de os empréstimos serem baseados em depósitos, nessa visão, os
próprios depósitos são o resultado de empréstimos.
A
única coisa que parecia nunca ocorrer a alguém era conseguir um emprego
em um banco e descobrir o que realmente acontece quando
alguém pede dinheiro emprestado. Em 2014, um economista alemão chamado
Richard Werner fez exatamente isso e descobriu que, de fato, os agentes
de crédito não verificam seus fundos, reservas ou qualquer outra coisa
existente. Eles simplesmente criam dinheiro
do nada, ou, como ele preferia dizer, da “poeira de fada”.
Parece
ter sido também naquele ano que elementos do notoriamente independente
serviço público britânico decidiram que bastava.
A questão da criação de dinheiro tornou-se um ponto crítico de
discórdia. A grande maioria dos economistas do Reino Unido rejeitou a
“austeridade”, por considerá-la contraproducente (o que,
previsivelmente, quase não teve impacto no debate público). Mas, a
partir de em certo momento, exigir que os tecnocratas encarregados de
administrar o sistema baseiem todas as decisões políticas em suposições
falsas sobre algo tão elementar quanto a natureza do dinheiro torna-se
um pouco como exigir que os arquitetos continuem
entendendo que a raiz quadrada de 47 é na verdade π. Os arquitetos sabem
que os edifícios começarão a cair. Pessoas morreriam
Em
pouco tempo, o Banco da Inglaterra (um banco central cujos economistas
são mais livres para se expressar, uma vez que não
fazem parte formalmente do governo) lançou um elaborado relatório
oficial chamado “Criação de dinheiro na economia moderna”. Repleto de
vídeos e animações, ele afirma o mesmo ponto: os livros didáticos de
economia existentes, e particularmente a ortodoxia
monetarista dominante, estão errados. Os economistas heterodoxos estão
certos. Os bancos privados criam dinheiro. Os bancos centrais, como o
Banco da Inglaterra, também criam dinheiro, mas os monetaristas estão
completamente errados ao insistir que sua função
adequada é controlar o suprimento de dinheiro. De fato, os bancos
centrais não controlam de maneira alguma a oferta de moeda; sua
principal função é definir a taxa de juros – determinar quanto os bancos
privados podem cobrar pelo dinheiro que criam [no Brasil,
nem isso – Nota de Outras Palavras]. Quase todo o debate público sobre
esses assuntos é, portanto, baseado em premissas falsas. Por exemplo, se
o que o Banco da Inglaterra estava dizendo era verdade, então os
empréstimos tomados pelo governo não desviavam
fundos do setor privado – eles criavam dinheiro inteiramente novo, que
não existia antes.
Alguém
poderia ter imaginado que tal admissão criaria uma espécie de respingo,
e em certos círculos restritos, isso aconteceu.
Os bancos centrais da Noruega, Suíça e Alemanha publicaram rapidamente
documentos semelhantes. De volta ao Reino Unido, a resposta imediata da
mídia foi simplesmente o silêncio. Segundo o meu conhecimento, o
relatório do Banco da Inglaterra nunca foi mencionado
em nenhum canal de notícias. Os colunistas de jornais continuaram a
escrever como se o monetarismo estivesse evidentemente correto. Os
políticos continuaram sendo questionados sobre onde encontrariam
dinheiro para programas sociais. Era como se uma espécie
de entente cordiale tivesse sido estabelecida, na qual os tecnocratas
pudessem viver em um universo teórico, enquanto os políticos e os
comentaristas de notícias continuariam a existir em outro, completamente
diferente.
Ainda
assim, há sinais de que esse arranjo é temporário. A Inglaterra – e o
Banco da Inglaterra em particular – orgulha-se de
ser o principal indicador das tendências econômicas globais. O próprio
monetarismo começou sua respeitabilidade intelectual na década de 1970,
depois de ter sido adotado por economistas do Banco da Inglaterra. A
partir daí, foi finalmente adotado pelo regime
insurgente de Thatcher, e somente depois por Ronald Reagan, nos Estados
Unidos, e posteriormente exportado para quase todos os lugares.
É
possível que um padrão semelhante esteja se reproduzindo hoje. Em 2015,
um ano após o aparecimento do relatório do Banco da
Inglaterra, o Partido Trabalhista pela primeira vez permitiu eleições
abertas para sua liderança. Sua ala esquerda do partido, sob a liderança
de Jeremy Corbyn e do agora ministro da Fazenda paralelo, John
McDonnell, assumiu o controle. Na época, a esquerda
trabalhista era considerada ainda mais extremista marginal do que a ala
de Margareth Thatcher no Partido Conservador em 1975. Também é (apesar
dos constantes esforços da mídia em retratá-los como socialistas
não-reconstruídos da década de 1970) o único grande
grupo político no Reino Unido aberto a novas idéias econômicas. Enquanto
praticamente todo o establishment político passou dos últimos anos
gritando, uns contra os outros, sobre o Brexit, o gabinete de McDonnell –
e os grupos de apoio da juventude trabalhista
– estão realizando workshops e tomando iniciativas políticas sobre tudo.
Propõem desde uma semana de trabalho de quatro dias e renda básica
universal a uma Revolução Industrial Verde e ao “Comunismo de Luxo
Totalmente Automatizado”. Convidam economistas heterodoxos
a participar de iniciativas de educação popular destinadas a transformar
as concepções de como a economia realmente funciona. O corbynismo
enfrentou oposição quase histérica de praticamente todos os setores do
establishment político, mas seria imprudente ignorar
a possibilidade de que algo histórico esteja acontecendo.
Um
sinal de que algo historicamente novo realmente surgiu será se os
estudiosos começarem a ler o passado sob uma nova luz.
Consequentemente, um dos livros mais importantes a sair do Reino Unido
nos últimos anos teria que ser Money and Government: The Past and Future
of Economics, de Robert Skidelsky. Aparentemente é uma tentativa de
responder à pergunta de por que a economia dominante
tornou-se tão inútil nos anos imediatamente anteriores e posteriores à
crise de 2008. Na verdade, trata-se de uma tentativa de recontar a
história da disciplina econômica através da consideração das duas coisas
– dinheiro e governo – sobre as quais a maioria
dos economistas menos gosta de falar.
Skidelsky
está bem posicionado para contar esta história. Ele personifica um tipo
exclusivamente inglês: o gentil dissidente.
Está tão firmemente instalado no establishment que nunca lhe ocorre que
talvez não seja capaz de dizer o que exatamente ele próprio pensa. Suas
opiniões são toleradas pelo resto do establishment precisamente por
isso. Nascido na Manchúria, treinado em Oxford,
professor de Economia Política em Warwick, Skidelsky é mais conhecido
como autor da biografia definitiva em três volumes de John Maynard
Keynes. Nas últimas três décadas, esteve na Câmara dos Lordes como Barão
de Tilton, afiliado em momentos diferentes a vários
partidos políticos e, às vezes, a nenhum deles. Durante os primeiros
anos do primeiro ministro Tony Blair, foi um conservador e até serviu
como porta-voz da oposição em questões econômicas na câmara alta.
Atualmente, é independente, alinhado com a esquerda
do Partido Trabalhista. Em outras palavras, ele segue sua própria
bandeira. Geralmente, é uma bandeira interessante. Nos últimos anos,
Skidelsky aproveitou sua posição no corpo legislativo de elite do mundo
para realizar uma série de seminários de alto nível
sobre a reforma da disciplina econômica; este livro é, em certo sentido,
o primeiro produto importante desses empreendimentos.
O
que isso revela é uma guerra sem fim entre duas amplas perspectivas
teóricas nas quais o mesmo lado sempre parece vencer –
por razões que raramente têm algo a ver com sofisticação teórica ou
maior poder preditivo. O cerne da discussão sempre parece recair sobre a
natureza do dinheiro. O dinheiro é melhor concebido como uma mercadoria
física, uma substância preciosa usada para
facilitar as trocas, ou é melhor vê-lo principalmente como crédito, como
método de contabilidade ou circulação – de qualfquer forma, um arranjo
social? Esta é uma disputa que vem ocorrendo de alguma forma há milhares
de anos. O que chamamos de “dinheiro” é
sempre uma mistura de ambos, e, como eu próprio observei em Debit (2011),
o centro de gravidade entre os dois tende a mudar de um
lado para o outro ao longo do tempo. Na Idade Média, as transações
cotidianas na Eurásia eram tipicamente realizadas por meio de crédito, e
supunha-se que o dinheiro era uma abstração. Foi a ascensão dos
impérios europeus globais nos séculos XVI e XVII, e
a correspondente inundação de ouro e prata saqueados das Américas, que
realmente mudou as percepções. Historicamente, o sentimento de que ouro é
dinheiro tende a marcar períodos de violência generalizada, escravidão
em massa e exércitos predadores – para a
maior parte do mundo era precisamente a experiência dos impérios
espanhol, português, holandês, francês e britânico. Uma inovação teórica
importante que essas novas teorias de dinheiro baseadas em barras de
ouro permitiram foi, como observa Skidelsky, o que
passou a ser chamado de Teoria Quantitativa da Moeda (geralmente
referida nos livros didáticos – já que os economistas se deleitam
infinitamente nas abreviações – como QTM).
O
argumento da QTM foi apresentado pela primeira vez por um advogado
francês chamado Jean Bodin, durante um debate sobre a causa
da forte e desestabilizadora inflação de preços que se seguiu
imediatamente à conquista ibérica das Américas. Bodin argumentou que a
inflação era uma simples questão de oferta e demanda: o enorme influxo
de ouro e prata das colônias espanholas estava barateando
o valor do dinheiro na Europa. O princípio básico, sem dúvida, teria
parecido uma questão de senso comum para qualquer pessoa com experiência
em comércio na época, mas na verdade baseia-se em uma série de
suposições falsas. Por um lado, a maior parte do ouro
e da prata extraídos do México e do Peru não acabaram na Europa e
certamente não foram cunhados como moeda. A maior parte foi transportada
diretamente para a China e a Índia (para comprar especiarias, sedas,
chitas e outros “luxos orientais”). Seus eventuais
efeitos inflacionários locais foram baseados em vínculos especulativos
de um tipo ou de outro. Quase sempre é assim, quando aplica-se a QTM: a
lógica parece evidente, mas apenas se você deixar de fora a maioria dos
fatores decisivos.
No
caso da inflação de preços do século XVI, por exemplo, a partir do
momento em que se considera crédito, acumulação e especulação
— sem mencionar o aumento das taxas de atividade econômica, investimento
em novas tecnologias e níveis salariais (que, por sua vez, têm muito a
ver com o poder relativo de trabalhadores e empregadores, credores e
devedores) – torna-se impossível dizer com
certeza qual é o fator decisivo. É a oferta monetária que impulsiona os
preços ou os preços que impulsionam a oferta monetária? Tecnicamente,
isso se resume a uma escolha entre o que é chamado de teorias exógenas e
endógenas do dinheiro. O dinheiro deveria
ser tratado como um fator externo, como todos os dobrões espanhóis
supostamente varrendo Antuérpia, Dublin e Gênova nos dias de Felipe II?
Ou deveria ser imaginado, antes de tudo, como um produto da própria
atividade econômica, extraído, cunhado e colocado
em circulação – ou, mais frequentemente, criado como instrumentos de
crédito, como empréstimos, a fim de atender a uma demanda – o que, é
claro, significaria que as raízes da inflação estão em outro lugar?
Para
ser franco: A QTM está obviamente errada. Dobrar a quantidade de ouro
em um país não afetará o preço do queijo, se você
der todo o ouro às pessoas ricas e elas o enterrarem em seus quintais,
ou preferir usá-lo para fazer submarinos folheados a ouro [é por isso,
aliás, que o quantitative easing (flexibilização quantitativa), a
estratégia de comprar títulos públicos de longo
prazo para colocar dinheiro em circulação, também não funcionou]. O que
realmente importa é o gasto.
No
entanto, desde a época de Jean Bodin até o presente, quase toda vez que
houve um grande debate sobre políticas, os defensores
da QTM venceram. Na Inglaterra, o padrão foi estabelecido em 1696, logo
após a criação do Banco da Inglaterra, com uma discussão sobre inflação
em tempo de guerra, entre o secretário do Tesouro William Lowndes, Sir
Isaac Newton (então diretor da casa da moeda)
e o filósofo John Locke. Newton concordara com o Tesouro, em que as
moedas de prata tinham que ser desvalorizadas oficialmente para evitar
um colapso deflacionário; Locke assumiu uma posição monetarista extrema,
argumentando que o governo deveria se limitar
a garantir o valor da propriedade (incluindo moedas) e que alterar seu
valor confundiria os investidores e fraudaria os credores. Locke venceu.
O resultado foi um colapso deflacionário. Um forte aperto no suprimento
de dinheiro criou uma contração econômica
abrupta, que tirou centenas de milhares de pessoas do trabalho e criou
penúria em massa, tumultos e fome. O governo rapidamente moderou sua
política (primeiro, permitindo que os bancos monetizassem as dívidas de
guerra na forma de notas bancárias e, eventualmente,
removendo completamente o padrão prata). Porém, na retórica oficial, a
ideologia de Locke – favorável a um governo reduzido, pró-credor e
ortodoxa em relação ao papel da moeda – tornou-se o fundamento de todo o
debate político.
Segundo
Skidelsky, o padrão iria se repetir continuamente: em 1797, nas décadas
de 1840, 1890 e, na transição entre as décadas de 1970-80, com
a adoção do monetarismo por Thatcher e Reagan. Sempre ocorre a mesma
sequência de eventos:
(1) O governo adota políticas monetárias ortodoxas (moeda exógena) como uma questão de princípio.
(2) Um desastre se segue.
(3) O governo abandona discretamente as políticas ortodoxas.
(4) A economia se recupera.
(5) A filosofia monetária ortodoxa, no entanto, torna-se senso comum universal ou, se já o era, consegue se fortalecer ainda mais.
Como
foi possível justificar uma série tão notável de fracassos? Boa parte
da culpa, segundo Skidelsky, pode ser atribuída ao
filósofo escocês David Hume. Um dos primeiros defensores da QTM, Hume
também foi o primeiro a introduzir a noção de que choques de curto prazo
– como os produzidos por Locke – criariam benefícios a longo prazo se
tivessem o efeito de liberar os poderes de
autorregulação do mercado:
Desde
Hume, os economistas distinguem entre os efeitos de curto e de longo
prazo da mudança econômica, incluindo os efeitos
de intervenções políticas. A distinção serviu para proteger a teoria do
equilíbrio, permitindo que ela fosse enunciada de uma forma que levasse
em conta a realidade. Em Economia, o curto prazo agora normalmente
representa o período durante o qual um mercado
(ou uma economia de mercado) se desvia temporariamente de sua posição de
equilíbrio de longo prazo sob o impacto de algum “choque”, como um
pêndulo temporariamente desalojado de uma posição de descanso. Esse modo
de pensar sugere que os governos devem deixar
que os mercados descubram suas posições de equilíbrio natural. As
intervenções do governo para “corrigir” os desvios adicionarão apenas
camadas extras de ilusão à original.
Existe
uma falha lógica em qualquer teoria desse tipo: não há maneira possível
de refutá-la. A premissa de que os mercados sempre
se endireitam no final só pode ser testada se alguém tiver uma definição
comum de quando será o “fim”. Mas para os economistas, essa definição
acaba sendo “o tempo que leva para chegar a um ponto em que posso dizer
que a economia voltou ao equilíbrio”. (Da
mesma forma, é impossível demonstrar o erro de afirmações como “os
bárbaros sempre vencem no final” ou “a verdade sempre prevalece”, pois
na prática elas apenas querem dizer“ sempre que os bárbaros vencerem, ou
que a verdade prevalecer, declararei a história
terminada”).
Nesse
ponto, todas as peças estavam no lugar: políticas de aperto monetário
(que beneficiavam credores e ricos) podiam ser justificadas
como “remédio severo” para apagar os sinais de preço, de modo que o
mercado pudesse retornar a um estado saudável de equilíbrio de longo
prazo. Ao descrever como tudo isso aconteceu, Skidelsky está nos
fornecendo uma extensão digna de uma história que Karl
Polanyi começou a traçar nos anos 1940: a história de como os mercados
nacionais supostamente auto-regulados eram o produto de cuidadosa
engenharia social. Parte disso envolvia a criação de políticas
governamentais conscientemente projetadas para inspirar
ressentimentos contra o “big government” (“Estado inchado”). Skidelsky
escreve:
Uma
inovação crucial foi o imposto de renda, cobrado pela primeira vez em
1814 e renovado pelo [primeiro-ministro Robert] Peel
em 1842. Entre 1911 e 14, ele se tornou a principal fonte de receita do
governo. O imposto de renda teve o duplo benefício de fornecer ao Estado
britânico uma base de receita segura e alinhar os interesses dos
eleitores ao governo barato, uma vez que apenas
os contribuintes tiveram o direito ao voto…. “Probidade fiscal”, sob
Gladstone, “tornou-se a nova moralidade”.
De
fato, não há absolutamente nenhuma razão para um Estado moderno se
financiar pela apropriação de uma proporção dos ganhos
de cada cidadão. Existem muitas outras maneiras de fazer isso. Muitas –
como impostos sobre terras, riquezas, comércio ou sobre o consumidor
(qualquer um dos quais pode ser tornado mais ou menos progressivo) – são
consideravelmente mais eficientes, além de
que a criação de um aparato burocrático capaz de monitorar os assuntos
pessoais dos cidadãos no grau exigido pelo sistema de imposto de renda
é, em si, enormemente caro. Mas isso não leva ao ponto real: o imposto
de renda deve ser intrusivo e irritante. Precisa
produzir pelo menos certa sensação de injustiça. Como grande parte do
liberalismo clássico (e do neoliberalismo contemporâneo), é um truque
político engenhoso — uma expansão do Estado burocrático que também
permite que seus líderes finjam advogar por um Estado
mínimo.
A
única exceção importante a esse padrão foram os meados do século XX,
que passaram a ser lembrados como a era keynesiana. Foi
um período em que as democracias capitalistas, apavoradas com a
Revolução Russa e a perspectiva de rebelião em massa de suas próprias
classes trabalhadoras, permitiram níveis sem precedentes de
redistribuição – o que, por sua vez, levou à prosperidade material
mais generalizada da história da humanidade. A história da revolução
keynesiana da década de 1930 e a contra-revolução neoclássica da década
de 1970 já foi contada inúmeras vezes, mas Skidelsky dá ao leitor uma
nova sensação do conflito subjacente.
O
próprio Keynes era um anticomunista convicto, mas em grande parte
porque achava que o capitalismo era mais propenso a impulsionar
o rápido avanço tecnológico, de modo a eliminar amplamente a necessidade
de trabalho material. Ele desejava o pleno emprego não porque achava
que o trabalho era bom, mas porque, em última análise, desejava acabar
com o trabalho, imaginando uma sociedade em
que a tecnologia tornaria obsoleto o trabalho humano. Em outras
palavras, ele assumiu que o terreno estava sempre movendo-se sob os pés
dos analistas; o objeto de qualquer ciência social era inerentemente
instável. Max Weber, por razões semelhantes, argumentou
que nunca seria possível aos cientistas sociais inventar algo
remotamente parecido com as leis da física, porque no momento em que
chegassem perto de reunir informações suficientes, a própria sociedade e
aquilo que os analistas sentiam ser importante saber
sobre ela, teria mudado tanto que as informações se tornariam
irrelevantes. Os oponentes de Keynes, por outro lado, estavam
determinados a enraizar seus argumentos em algo que consideravam como
princípios universais.
É
difícil para não especialistas ver o que realmente está em jogo aqui,
porque o argumento passou a ser recontado como uma disputa
técnica entre os papéis da micro e macroeconomia. Os keynesianos
insistiram que o primeiro é apropriado para estudar o comportamento de
famílias ou empresas individuais, que tentam ampliar sua vantagem no
mercado; mas que, assim que se começa a olhar para
as economias nacionais, está se mudando para um nível de complexidade
totalmente diferente, onde diferentes tipos de leis se aplicam. Assim
como é impossível entender os hábitos de acasalamento de um
porco-espinho analisando todas as reações químicas em suas
células, os padrões de comércio, investimento ou flutuações nas taxas de
juros ou emprego não eram apenas o agregado de todas as microtransações
que pareciam produzi-los. Os padrões tinham, como diriam os filósofos
da ciência, “propriedades emergentes”. Obviamente,
era necessário entender o nível micro (assim como era necessário
entender a química que compunha o porco-espinho) para ter alguma chance
de entender o nível macro. Mas isso não era, por si só, suficiente.
Os
contra-revolucionários – começando com o antigo rival de Keynes,
Friedrich Hayek e os vários luminares que se juntaram a
ele na Sociedade Mont Pelerin – apostaram diretamente nessa noção de que
as economias nacionais não são nada mais que a soma de suas partes.
Politicamente, observa Skidelsky, isso se deveu a uma hostilidade à
própria idéia de Estado (e, em um sentido mais
amplo, a qualquer bem coletivo). As economias nacionais poderiam de fato
ser reduzidas ao efeito agregado de milhões de decisões individuais e,
portanto, todos os elementos da macroeconomia precisavam ser
sistematicamente “micro-fundados”.
Uma
razão pela qual essa posição era tão radical é a de que ela foi tomada
exatamente no mesmo momento em que a própria microeconomia
estava completando uma profunda transformação – que havia começado com a
revolução marginalista do final do século XIX. Passava de uma técnica,
para entender como aqueles que operavam o mercado tomam decisões, a uma
filosofia geral da vida humana. Foi capaz
de fazê-lo, de modo notável, propondo uma série de suposições que até os
próprios economistas estavam felizes em admitir que não eram realmente
verdadeiras. “Vamos supor”, diziam eles, “sujeitos puramente racionais,
motivados exclusivamente pelo interesse
próprio, que sabem exatamente o que querem, nunca mudam de idéia e têm
acesso completo a todas as informações relevantes sobre preços”. Isso
lhes permitiu fazer equações precisas sobre exatamente como se deveria
esperar que os indivíduos agissem…
Certamente
não há nada de errado em criar modelos simplificados. Pode-se
argumentar que é assim que qualquer ciência dos assuntos
humanos deve proceder. Mas uma ciência empírica passa a comparar esses
modelos com o que as pessoas realmente fazem, para então ajustar seus
modelos. Isso é precisamente o que os economistas não fizeram. Em vez
disso, descobriram que, se alguém envolvesse
esses modelos em fórmulas matemáticas completamente impenetráveis para
os não iniciados, seria possível criar um universo no qual essas
premissas nunca pudessem ser refutadas. (“Todos os atores estão
envolvidos na maximização da utilidade. O que é utilidade?
O que quer que seja que um ator pareça estar maximizando.”) As equações
matemáticas permitiram aos economistas afirmar de forma plausível que a
disciplina deles era o único ramo da teoria social que avançara para
algo como uma ciência preditiva (mesmo que
a maioria de suas previsões bem-sucedidas fosse do comportamento de
pessoas que haviam sido treinadas em teoria econômica).
Isso
permitiu que o Homo economicus invadisse o restante da academia, de
modo que, nas décadas de 1950 e 1960, quase todas as
disciplinas acadêmicas no negócio de preparar jovens para posições de
poder (ciência política, relações internacionais, etc.) haviam adotado
alguma variante de “teoria da escolha racional” – em última análise,
extraída da microeconomia. Nas décadas de 1980
e 1990, havia-se chegado a um ponto em que nem mesmo os chefes de
fundações de arte ou organizações de caridade seriam considerados
totalmente qualificados se não estivessem ao menos amplamente
familiarizados com uma “ciência” dos assuntos humanos que partia
da suposição de que os humanos eram fundamentalmente egoístas e
gananciosos.
Essas
eram, então, as “microfundações” às quais os reformadores neoclássicos
exigiam que a macroeconomia retornasse. Aqui eles
foram capazes de tirar proveito de certas fraquezas inegáveis nas
formulações keynesianas. Acima de tudo sua incapacidade de explicar a
estagflação da década de 1970, de afastar a superestrutura keynesiana
restante, para retornar à mesma política de dinheiro
duro e Estado enxuto que havia sido dominante no mundo do século XIX. O
padrão tradicional se seguiu. O monetarismo não funcionou; no Reino
Unido e depois nos EUA, essas políticas foram rapidamente abandonadas.
Mas ideologicamente, a intervenção foi tão eficaz
que, mesmo quando “novos keynesianos” como Joseph Stiglitz ou Paul
Krugman voltaram a dominar o debate sobre macroeconomia, eles ainda se
sentiam obrigados a manter as novas microfundações.
O
problema, como Skidelsky enfatiza, é que, se suas suposições iniciais
forem absurdas, multiplicá-las por mil vezes dificilmente
as tornará menos absurdas. Ou, como diz, de maneira menos gentil,
“premissas lunáticas levam a conclusões malucas”:
A
hipótese do mercado eficiente (EMH), popularizada por Eugene Fama … é a
aplicação das expectativas racionais aos mercados
financeiros. A hipótese das expectativas racionais (REH) diz que os
agentes utilizam de maneira ideal todas as informações disponíveis sobre
a economia e a política instantaneamente para ajustar suas
expectativas….
Assim, nas palavras de Fama, … “Em um mercado eficiente, a concorrência entre os muitos participantes inteligentes leva a uma
situação em que … o preço real de um título será uma boa estimativa de seu valor intrínseco.” [Grifo de Skidelsky]
Em
outras palavras, éramos obrigados a fingir que os mercados não
poderiam, por definição, estar errados. Se, na década de 1980,
o terreno em que o complexo Imperial em Tóquio foi construído, por
exemplo, era mais valorizado do que a de todos os terrenos de Nova York,
então isso teria que ser porque era o que realmente ele valia. Se
houver desvios, eles são puramente aleatórios, “estocásticos”
e, portanto, imprevisíveis, temporários e, em última análise,
insignificantes. De qualquer forma, atores racionais irão rapidamente
intervir para varrer quaisquer ações subvalorizadas. Skidelsky observa
secamente:
Há
um paradoxo aqui. Por um lado, a teoria diz que não há sentido em
tentar lucrar com a especulação, porque as ações sempre
são precificadas corretamente e seus movimentos não podem ser previstos.
Mas, por outro lado, se os investidores não tentassem lucrar, o mercado
não seria eficiente porque não haveria mecanismo de autocorreção.
Em segundo lugar, se as ações sempre tiverem preços corretos, bolhas e crises não poderão ser geradas pelo mercado….
Essa
atitude entrou na política: “funcionários do governo, começando com
Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve, não
estavam dispostos a estourar a bolha precisamente porque não estavam
dispostos a sequer julgar que se tratava de uma bolha.” Isso
impossibilitou a identificação de bolhas porque descartou-as a priori.
Se houver uma resposta para a famosa pergunta da rainha da Inglaterra, sobre por que ninguém previu a grande crise, será essa.
Neste
ponto, chegamos ao círculo completo. Após um embaraço tão catastrófico,
os economistas ortodoxos recorreram ao seu forte
apelo – política acadêmica e poder institucional. No Reino Unido, um dos
primeiros movimentos da nova coalizão entre Conservadores e
Liberal-democratas, em 2010, foi reformar o sistema de ensino superior
triplicando as mensalidades e instituindo um regime
de empréstimos estudantis ao estilo norte-americano. O senso comum
poderia sugerir que, se o sistema educacional estivesse funcionando com
êxito (apesar de todos os seus pontos fracos, o sistema universitário
britânico era considerado um dos melhores do mundo),
enquanto o sistema financeiro estava operando tão mal que quase destruía
a economia global, o mais sensato seria reformar o sistema financeiro
para parecer um pouco mais com o sistema educacional, e não o contrário.
Um esforço agressivo para fazer o oposto
poderia ser apenas um movimento ideológico. Foi um ataque total à
própria idéia de que o conhecimento poderia ser outra coisa senão um bem
econômico.
Movimentos
semelhantes foram feitos para solidificar o controle sobre a estrutura
institucional. A BBC, outrora orgulhosamente
independente, sob os Conservadores, passou a assemelhar-se cada vez mais
a uma rede de radiodifusão estatal. Seus comentaristas políticos
recitavam quase literalmente os últimos pontos de discussão do partido
no poder – que, pelo menos economicamente, tinham
como premissa as próprias teorias que acabavam de ser desacreditadas. O
debate político simplesmente supunha que o “remédio” usual e a
“probidade fiscal” gladstoniana eram a única solução. Ao mesmo tempo, o
Banco da Inglaterra começou a imprimir dinheiro como
louco, efetivamente entregando-o ao 1%, em uma tentativa malsucedida de
desperatar a inflação. Os resultados práticos foram, para dizer o
mínimo, pouco inspiradores. Mesmo no auge da “recuperação”, no quinto
país mais rico do mundo, algo como um cidadão britânico
em cada doze experimentou fome, inclusive passando dias inteiros sem
comida. Se uma “economia” deve ser definida como o meio pelo qual uma
população humana se provê de suas necessidades materiais, a economia
britânica é cada vez mais disfuncional. Esforços
frenéticos por parte da classe política britânica para mudar de assunto
(Brexit) dificilmente poderão durar para sempre. Em algum momento, os
problemas reais terão que ser abordados.
A
teoria econômica, tal como existe, assemelha-se cada vez mais a um
galpão cheio de ferramentas quebradas. Isso não quer dizer
que não haja informações úteis, mas fundamentalmente a disciplina
existente é projetada para resolver os problemas de outro século. O
problema de como determinar a distribuição ideal do trabalho e dos
recursos, para criar altos níveis de crescimento econômico,
simplesmente não é o mesmo problema que estamos enfrentando agora: isto
é, como lidar com o aumento da produtividade tecnológica, a redução da
demanda real de trabalho e o manejo eficaz dos trabalhos relacioandos ao
cuidado, sem também destruir a Terra. Isso
exige uma ciência diferente. As “microfundações” da economia atual são
precisamente o que está impedindo isso. Qualquer ciência nova e viável
terá que recorrer ao conhecimento acumulado do feminismo, economia
comportamental, psicologia e até antropologia para
apresentar teorias baseadas em como as pessoas realmente se comportam,
ou mais uma vez abraçar a noção de níveis emergentes de complexidade –
ou, provavelmente, ambos.
Intelectualmente,
isso não será fácil. Politicamente, será ainda mais difícil. Romper com
o bloqueio da economia neoclássica
nas principais instituições e seu domínio quase-teológico sobre a mídia –
para não mencionar todas as maneiras sutis para definir nossas
concepções de motivações humanas e os horizontes das possibilidades
humanas – é uma perspectiva assustadora. Presumivelmente,
algum tipo de choque seria necessário. O que é preciso? Outro colapso no
estilo de 2008? Alguma mudança política radical em um grande governo,
de repercussão mundial? Uma rebelião global da juventude? Seja como for,
livros como este – e possivelmente este
livro de Skidelsky – terão um papel crucia
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