Translate

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Este artigo é de 2010. A situação interna e internacional da China modificou-se muito? As classes sociais, com a sua desigualdade profunda, vivem melhor apsear disso e constituiu-se uma larga "classes média" ao lado de uma enorme massa de proletariado oriundo do campesinato. Dez anos se passaram. Servirá aChina de contrapeso ao imperialismo cada vez mais agressivo?

O papel internacional da China

Por Elisseos Vagenas, via KKE, traduzido por Guilherme Laranjeira e Beatriz Lazari 
A ascensão de uma nova potência global, a China, tem provocado grande interesse para analistas e trabalhadores comuns em todo o mundo. Esse interesse é ainda mais intenso entre pessoas politizadas, que entendem a era de revoluções sociais que começou com a de Outubro de 1917 na Rússia, e que acarretou em uma série de importantes lutas e revoluções sociopolíticas em todo o mundo – entre elas, a Revolução Chinesa. O interesse em relação ao crescimento do poder da China é contraditório, uma vez que o aumento de seu poder está ocorrendo sob a bandeira vermelha e com o Partido Comunista da China no poder.
No entanto, uma das “lições” da contrarrevolução na União Soviética é que os comunistas não deveriam ter aceitado inquestionavelmente o que o PCUS (Partido Comunista da União Soviética) dizia, mas que todo PC, embora fiel ao princípio do internacionalismo proletário, deveria estudar com seus próprios recursos os desenvolvimentos e a experiência do movimento comunista internacional, e tentar formular sua própria opinião sobre esses assuntos, utilizando do marxismo-leninismo como sua ferramenta. O KKE reserva seu direito de crítica dentro do movimento comunista internacional, com o objetivo tanto de fortalecê-lo, como também de fortalecer a estratégia dos comunistas. O KKE confronta desvios dos princípios do marxismo-leninismo e das leis da construção socialista, mantendo ao mesmo tempo relações bilaterais com partidos comunistas que possuem abordagens diferentes.
Neste sentido, o KKE, embora continue mantendo relações bilaterais com o PCCh (Partido Comunista da China), acompanha sistematicamente os desenvolvimentos e formula suas próprias avaliações, que expressa tanto publicamente, como ao PCCh. Como é sabido, o KKE já em seu 17º Congresso (2005) observou a expansão das relações capitalistas na China. Desde então, essa tendência tem sido reforçada e é ainda mais evidente.
Desenvolvimentos relativos à posição internacional da China na economia
O crescimento do poder econômico da China é inquestionável. Já é amplamente aceito que a China ultrapassou o Japão e é, agora, a segunda maior economia do mundo [1], atrás somente dos EUA, enquanto em 2010 ultrapassou a Alemanha e se tornou o maior exportador do mundo. Durante o período de Janeiro a Outubro de 2009, a China exportou produtos no valor de 957 bilhões de dolares [2]. As exportações compõem 80% das transações do Estado [3]. A China exporta 50 mil tipos diferentes de produtos para 182 países, enquanto 80 desses países assinaram acordos comerciais e protocolos de cooperação com a China. Os parceiros comerciais básicos da China são os principais países capitalistas (Japão, EUA e países da UE), responsáveis por 55% de suas transações de comércio exterior. [4]
Um fato que reflete as mudanças ocorridas nos últimos 20 anos é que, embora em 1993 a China exportasse petróleo, hoje é obrigada não apenas a importá-lo, mas também, em 2009, a quantidade de petróleo importado foi comparável globalmente ao importado pelos EUA.
Em 2010 a China conquistou o segundo lugar globalmente (depois dos EUA) na lista de bilionários por país (130), cujas fortunas aumentaram 222% em um ano. Estima-se também que as 1.000 pessoas mais ricas da China aumentaram suas riquezas, dentro de um ano, em cerca de 30% – de 439 bilhões de dólares para 571 bilhões de dólares. [5]
Também poderíamos comparar essas estatísticas com outras que demonstram a miséria e a exploração de centenas de milhões de trabalhadores na China moderna, como resultado da política de “enriquecer a si mesmos”, que o PCCh segue abertamente há 30 anos. Mencionaremos o seguinte, de acordo com as estimativas da associação de empresários chineses, como foi mostrado na televisão chinesa: 8,5% dos maiores monopólios do mundo são chineses (43 empresas). Neste momento, os monopólios estadunidenses têm o dobro do lucro em comparação aos chineses, mas a tendência é de que os monopólios chineses sejam individualmente mais lucrativos e de que tenham uma taxa de acumulação mais rápida que os estadunidenses. [6]
As estatísticas oficiais também mostram que no período de 2004 a 2010, o número de empresas privadas na China aumentou 81%, enquanto hoje o número de empresas privadas na China atingiu 3.596 milhões. [7] Os lucros das 500 maiores empresas privadas aumentaram 23,27% em 2009. [8]
Ao mesmo tempo, essas empresas que operam ao lado dos monopólios estatais chineses aumentaram sua presença na concorrência internacional. 117 dessas empresas participaram em 481 planos de investimento no exterior, onde investiram 225,27 milhões de dólares. [9] Ao todo, os investimentos diretos chineses em todo o mundo chegaram a 56,53 bilhões de dólares em 2009 (5.1% dos investimentos globais), colocando a China em 5º lugar na lista de investidores globais. [10]
A ascensão do poder econômico da China levou, em junho de 2010, uma série de bancos internacionais (como HSBC, Deutsche Bank, Citigroup) a pressionar as empresas a usar o yuan chinês em vez do dólar em suas transações. [11]
Ao mesmo tempo, em setembro de 2010, a China aumentou sua aquisição de títulos estadunidenses em 3 bilhões de dólares, atingindo 86,7 bilhões de dólares, mantendo sua posição, à frente do Japão, como maior detentor estrangeiro de títulos estadunidenses. [12]. Além disso, assinou um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para comprar títulos no valor de 50 bilhões de dólares. [13]
Outra característica digna de nota é o desejo da China de controlar a maior quantidade possível de recursos naturais, que são cada vez mais controlados por empresas chinesas. A África está no centro dessa atividade. Os dados a seguir são particularmente característicos: nos anos 90, o comércio chinês na África era de cerca de 5 a 6 bilhões de dólares; em 2003 esse número havia aumentado para 18 bilhões de dólares, e em 2008 alcançou 100 bilhões de dólares. [14] Hoje a China tem uma presença econômica significativa em quase todos os países africanos. No cinturão do cobre da Zâmbia e da República Democrática do Congo, existe a Chinatown que mais cresce no mundo. O Sudão se tornou um dos principais fornecedores de petróleo para o mercado chinês: 600.000 barris de petróleo sudanês são enviados para a China diariamente. Um terço de todas as importações da China vem da África, sendo Angola, Guiné Equatorial e Sudão os maiores fornecedores. Além disso, Chade, Nigéria, Argélia e Gabão fornecem petróleo à China.
Em troca do acesso aos recursos naturais dos países africanos, a China investe em infraestrutura rodoviária e portuária, na infraestrutura necessária para a reprodução da força de trabalho (prédios escolares, hospitais, moradias), bem como em infraestrutura industrial nesses países. As empresas chinesas estão construindo estradas em Angola e Moçambique, além de melhorar seus portos e rodovias. As empresas chinesas também estão envolvidas em muitos projetos em Addis Ababa, capital da Etiópia, e em Nairobi, capital do Quênia.
A busca de Pequim por matérias-primas não se restringe à África, mas se estende a regiões menos distantes. Possui investimentos significativos em mineração e outros recursos naturais em Mianmar (madeira, pedras preciosas). Segundo o ministro de Planejamento Nacional e Desenvolvimento de Mianmar, os investimentos estrangeiros diretos no ano econômico de 2008/2009 foram 6 vezes maiores em comparação ao ano anterior (de 173 a 985 milhões de dólares), 87% desses investimentos foram chineses. Segundo algumas estimativas, cerca de 90% da economia de Mianmar é sustentada por capital chinês.
As empresas chinesas estão ativas no Oriente Médio, especialmente no Irã, onde estima-se que um investimento na construção de apenas um complexo industrial para a produção de alumínio (para a produção de 110,000) atinja 516 milhões de dólares. O Irã compete com a Arábia Saudita como fornecedor de petróleo para a China.
Outro importante fornecedor de petróleo para a China é a Venezuela. A China investiu 2 bilhões de dólares no desenvolvimento da extração de petróleo neste país. Em 2004, a Venezuela vendeu 12.000 barris de petróleo por dia para a China, em 2006 vendeu 200.000 barris por dia, e está previsto que estes números aumente para 500.000 barris em 2011. Este petróleo será enviado para a China depois de processado em uma nova planta especialmente desenvolvida para o petróleo bruto da Venezuela. Ele passará pelo Canal do Panamá, que agora é controlado pelos interesses comerciais chineses e que foi redesenhado para que os navios-tanques da Venezuela consigam passar, de acordo com o plano de investimento chinês. A China, a fim de “vincular” economicamente a Venezuela, assinou acordos comerciais no valor de 9 bilhões de dólares para o desenvolvimento da infraestrutura da Venezuela, assim como nos setores de extração mineral, agricultura e telecomunicações.
A China conseguiu adquirir acesso significativo aos recursos naturais na Sibéria e na Ásia central. Em agosto de 2010, abriu a tubulação que liga a China à riqueza natural do leste da Sibéria. Inicialmente, a China importará da Rússia 15 milhões de toneladas de petróleo anualmente, com vistas a dobrar esse valor no futuro.
Além disso, a China conseguiu obter acesso ao gás natural da região do Mar Cáspio, construindo um gasoduto desde o Turcomenistão, com capacidade de 30 bilhões de m³. Ao mesmo tempo, está em negociação com a “Gazprom” da Rússia para a construção de duas novas tubulações de gás para o transporte de 63 bilhões de metros cúbicos por ano, algo equivalente à quantidade de gás que é transportada pelo “South Stream” da Rússia para o sul da Europa. Além disso, estima-se que a China controla hoje cerca de 23% do petróleo extraído do Cazaquistão.
Aumento da Força Militar da China
Nos últimos anos, a China, assim como outros países imperialistas, passou a fortalecer significativamente suas forças armadas. Hoje, as forças armadas chinesas são as mais numerosas do mundo, com 2,300,000 soldados. No entanto, como é sabido, o que importa hoje não é o tamanho do exército, mas sim a aquisição de sistemas modernos de armamentos, e forças armadas flexíveis e bem armadas.
Em 2010, a China aumentou seus gastos militares em 7,5%, atingindo 542.1 bilhões de Yuan (US $ 77,9 bilhões) [15], que é cerca de 25% a mais do que as despesas anuais da Rússia, e 10 vezes menos do que as dos EUA. Mas deve-se levar em consideração que os EUA estimam que o valor real que a China gastará com as forças armadas em 2010 será o dobro e chegará a 150 bilhões de dólares, enquanto estima que, num período de 4 anos, desde 2006, os gastos militares chineses quadruplicaram! [16]
Hoje a China possui 434 ogivas nucleares [17], 1,500 mísseis balísticos, a maioria com alcance de 2,800 quilômetros, enquanto 20 têm alcance de 4.750 quilômetros e 4 mísseis com alcance de 12.000 quilômetros. É o terceiro país do mundo que mais possui submarinos e está entre os 5 países do mundo que possuem submarinos nucleares com mísseis balísticos. Em 2007, a China derrubou (com um míssil) um de seus próprios satélites, demonstrando sua capacidade de agir no espaço e que está desenvolvendo seu próprio programa espacial. Ainda possui 7.580 tanques e 144 navios de guerra, quase 1700 aviões de combate, 500 dos quais são de quarta geração, e terá aviões de quinta geração em operação até 2018. Importa armas, mas também fabrica dezenas de armas modernas, comprando patentes de sistemas de armas, e, também, simplesmente copiando-as. Em breve adquirirá seu primeiro porta-aviões.
Segundo o relatório da Academia Chinesa de Ciências Sociais, a China é a segunda colocada no mundo em termos de gastos com defesa, de tamanho das forças armadas e de seus equipamentos. ]18] Em conclusão, mesmo que a China não possa se comparar, no momento, com o poder militar dos EUA no que diz respeito à uma resposta teórica de dissuasão ao primeiro ataque nuclear (capacidade que a Rússia, por exemplo, possui), ao mesmo tempo, a China fez um progresso notável no campo da força militar. Isso não passou despercebido pelos EUA – é observado em relatórios de autoridades relacionadas e em publicações de seus especialistas.
Fortalecendo sua presença nas Organizações Internacionais
A China é membro da ONU desde a sua criação e membro permanente do Conselho de Segurança. Aumentou sua contribuição econômica para a ONU de 0.995% do orçamento da Organização em 2000, para 2,053% em 2006, enquanto em 1988 declarou sua disponibilidade para contribuir com as “forças de manutenção da paz” da ONU. Desde então, participou de dezenas missões de “manutenção da paz” da ONU (Libéria, Afeganistão, Kosovo, Haiti, Sudão, Líbano etc.) e mantém uma “força de manutenção da paz” de mais de 6.000 soldados. [19] [20] O Ministro de Defesa da China, em um discurso, observou que a China participou no total, durante 2010, em 24 missões de manutenção da paz, envolvendo 10.000 soldados, além de ser o mais ativo dos membros permanentes do Conselho de Segurança nas “missões de manutenção da paz”. [21]
A China, juntamente com a Rússia e os países da Ásia Central, formou em 2001 a “Organização para Cooperação de Xangai” (SCO), que apesar de realizar anualmente maciços exercícios militares, não é considerada um “bloco” militar e promove, principalmente, questões relativas à cooperação econômica dos países da região e sua segurança política. Isso demonstra a importância que a China atribui a uma região com grande riqueza natural, como a Ásia Central, que nos últimos 20 anos se tornou uma fonte de discórdia nas rivalidades inter-imperialistas. Ao mesmo tempo, a China é membro da “Cooperação Econômica Ásia-Pacífico” (APEC) desde 1991. A APEC foi fundada em 1989 por iniciativa da Austrália e da Nova Zelândia. 21 países participam, sendo que neles vivem cerca de 40% da população mundial, possuem 54% do PIB mundial e, também, são onde 44% do comércio global é realizado.
Por fim, a China participou de fóruns dos países capitalistas mais avançados (no G8 como observador e no G20 como membro pleno) e, ao mesmo tempo em que nenhuma organização específica foi formada, coopera com os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China), que buscam uma melhor posição na correlação internacional de forças. Esses países coordenam de perto suas intervenções no G20, ao mesmo tempo em que também tentam coordenar suas atividades nas Nações Unidas.
Apontamentos acerca da posição econômica da China e a relação com seu papel no sistema imperialista internacional
1. A China, particularmente a partir dos anos de 80, vinculou sua economia ao mercado capitalista internacional. Este é um fato que não é negado pela liderança chinesa, mas que é, de fato, exaltado por ela. Ela participa ativamente da divisão capitalista global de funções, como uma “fábrica” massiva, com uma força de trabalho barata e com altas taxas de lucro para os capitalistas que têm a capacidade de investir lá.
2. Como um resultado dessa mudança de direção, a China foi abraçada por outras potências imperialistas fortes, sobretudo pelos EUA, mas também pelo Japão e pela UE, devido à sua dependência em relação a elas, como potência exportadora global. A China é parte integrante do sistema imperialista internacional. Essa relação de dependência e interdependência é expressa pelo fato da China possuir títulos estadunidenses.
3. Enquanto a China se fortalecer economicamente, suas necessidades de matérias-primas e combustíveis também aumentarão. Por esse motivo, a concorrência interimperialista pelo controle das fontes energéticas na Ásia Central, no Oriente Médio, na África e na América Latina, está aumentando a nível global.
Como Lenin escreveu: “Os capitalistas não partilham o mundo levados por uma particular perversidade, mas porque o grau de concentração alcançado os obriga a seguir esse caminho para obterem lucros; e repartem-no “segundo o capital”, “segundo a força”; qualquer outro processo de partilha é impossível no sistema da produção mercantil e no capitalismo. A força varia, por sua vez, de acordo com o desenvolvimento econômico e político”. [22]
A competição por parcelas dos mercados é particularmente acirrada. Isso é demonstrado pelo recente esforço dos círculos político-econômicos nos EUA de avançar com uma legislação que prevê sanções contra os países que considera manter artificialmente sua moeda subvalorizada, para que as exportações desses países tenham preços competitivos, dessa maneira assumindo o controle dos mercados e removendo seus concorrentes.
Os argumentos a seguir são usados para refutar o que foi descrito acima.
O argumento de que a URSS também tinha relações econômicas externas. Devemos lembrar o seguinte: mais da metade das transações comerciais da URSS foram realizadas com outros países socialistas do conselho de assistência econômica mútua. Quase um terço das transações da URSS envolviam petróleo e gás natural, combustíveis que possuía em abundância, enquanto a virada no sentido de aumentar suas exportações e aumentar suas relações com os países mais desenvolvidos ocorreu após a década de 1960, guiada pela visão oportunista da então chamada “coexistência pacífica” e “competição pacífica”. No entanto, mesmo assim, a URSS nunca possuiu ⅓ dos títulos dos EUA, e nem exportava capitais. E, portanto, nunca ocorreu a ninguém que a URSS pudesse comprar o porto de Pireu e o Triasio! Fatos, que mostram a diferença qualitativa entre a China hoje e um país socialista, como a URSS.
Às vezes, ouvimos de certos setores que, em contraste com outras potências imperialistas, a China, com seus investimentos em países em desenvolvimento, não busca a pilhagem de seus recursos naturais, mas sim a criação de infraestrutura (estrada, prédios, instalações, hospitais, escolas, etc). O objetivo é, como afirmam os próprios chineses, que esses países “melhorem o desenvolvimento de suas infraestruturas e promovam a cooperação comercial”. [23] A China implementa programas médicos especiais nos países em desenvolvimento, programas para o treinamento de executivos desses países, em troca da redução dos impostos sobre as importações dos produtos desses países na China, o que absorve 50.1% de todas as importações dos países menos desenvolvidos [24] para os mais desenvolvidos, e, ao mesmo tempo, fornece empréstimos a juros baixos. As informações acima são apresentadas como evidências que mostram a diferença entre a China “socialista” e outras potências imperialistas.
Mesmo se aceitarmos que existe uma diferença na maneira como a China opera na África, na Ásia, etc, em comparação com as outras potências imperialistas (algo questionável, uma vez que elas desenvolvem programas “humanitários” e “educacionais” similares em países menos desenvolvidos, vide e o fato de que a UE era, até 2008, o maior parceiro econômico e fornecedor de ajuda na África) [25], em essência, essas medidas não alteram o objetivo final das atividades da China. O objetivo é facilitar os investimentos chineses nesses países, facilitar o “caminho” do capital chinês, que atua nesses locais, ou seja, facilitar a acumulação de capital. Essa atividade é assistida, por exemplo, quando houver uma infraestrutura moderna (estradas, portos, aeroportos, edifícios), bem como a infraestrutura necessária para a educação da força de trabalho, de forma a possibilitar o funcionamento das empresas. Os empréstimos a juros baixos concedidos pelos bancos chineses ou a absorção das exportações desses países pela China visam salvaguardar condições mais favoráveis à penetração do capital chinês nesses países, além de fortalecer sua relação com eles – com vistas a cooptá-los para uma aliança política nas várias organizações internacionais (ONU, OMC, etc), onde (como examinaremos mais adiante) a China está tentando liderar um bloco de países junto com outros estados capitalistas que buscam fortalecer suas posições internacionais.
A promoção da China como um contrapeso aos imperialistas
O crescente interesse na China dentro das fileiras do movimento comunista internacional está relacionado à questão de saber se as agitações e mudanças na correlação de forças, causadas pela “ascensão” da China a nível regional e global, poderiam levar à criação de um novo “contrapeso” para os imperialistas, papel desempenhado pela URSS no passado.
Precedente Histórico
É importante nos lembrarmos de certos fatos do passado. Enquanto a União Soviética existia, a política externa chinesa era coordenada com a dos EUA, contra a URSS. Essa postura foi inicialmente apresentada como uma crítica à virada oportunista do PCUS em seu 20º Congresso. Certamente, sabemos hoje que, no início, o PCCh na verdade não diferenciava sua posição, abertamente ou em essência, das direções do 20º Congresso do PCUS. Seu desacordo foi publicado posteriormente, motivado por disputas fronteiriças sino-soviéticas. A posição do PCCh teve algum impacto sobre outros PCs, devido ao deslizamento oportunista da URSS para posições relativas à “eterna paz e competição” com as potências imperialistas no quadro da “coexistência pacífica”. No entanto, após o 20º Congresso, o PCCh não restringiu suas críticas às posições oportunistas, mas escolheu uma estratégia que, na prática, levou muitas vezes a uma posição hostil em relação ao movimento comunista internacional e à URSS, e, em coordenação com os EUA, a uma posição contra os interesses dos movimento revolucionário mundial. O PCCh prosseguiu com base em sua análise sobre os “três mundos”: o “primeiro mundo” era composto pelas “superpotências” (na verdade, a URSS era chamada de “poder social-imperialista”), o “segundo mundo” era composto pelos aliados ricos das superpotências, e o “terceiro mundo” formado pelos países em desenvolvimento, incluindo a China.
Um exemplo típico é a atitude da China em relação à assistência internacionalista que a URSS deu ao Poder Popular Revolucionário de Estado no Afeganistão. Nesta ocasião, a China fazia parte do “bloco” de forças formado pelos EUA, junto com a Arábia Saudita, Paquistão, e outros, bancando as forças político-sociais mais reacionárias do Afeganistão, que travavam uma luta armada contra o recém-estabelecido governo do povo. [26]
Em um artigo do “Washington Post” de 19 de julho de 1992 sobre as táticas da CIA em relação ao Afeganistão em 1980, é mencionado que a China vendeu armas para a CIA e doou um pequeno número de armas para o Paquistão. Ao mesmo tempo, o artigo enfatiza: “Até que ponto a China desempenhou um papel constitui um dos segredos mais bem guardados da guerra” [27]. Neste artigo, houve também referências aos tipos de armas que a China deu para o fortalecimento dos contrarrevolucionários.
Outro exemplo característico é a atitude da China em relação ao povo combatente do Vietnã, durante o período de sua luta de libertação nacional. A China rejeitou as propostas da URSS para a organização de ações conjuntas de apoio ao Vietnã. “Pequim rejeitou as propostas da URSS de fechar o espaço aéreo do Vietnã aos invasores estadunidenses. Os líderes da China se recusaram a fornecer aeroportos no sul de seu país para o estacionamento de aviões militares soviéticos, que poderiam ter defendido o Vietnã. As autoridades chinesas bloquearam o transporte de equipamentos militares e especialistas da URSS para a República Democrática do Vietnã”. [28] Mais tarde, poucos anos após a libertação do país dos invasores imperialistas, no dia 17 de fevereiro de 1979, a China desencadeou um ataque militar contra o Vietnã. Em fevereiro de 1979 ocorreu a visita do vice-presidente chinês, Deng Xiaoping, a Washington, que falou da necessidade de “dar uma lição sangrenta ao Vietnã”, discurso aplaudido pelos políticos estadunidenses, que prometeram o fornecimento de armas de países Ocidentais. [29] Depois de 30 dias de luta, o exército chinês de 600.000 soldados que invadiu o Vietnã, e perdeu 60.000 soldados, cerca de 300 tanques e 100 peças de artilharia pesada e morteiros, foi forçado a se retirar.[30]
Como sabemos hoje, durante esse período, houveram muitos contatos, em diversos níveis, entre a China e os EUA. Em 4 de novembro de 1979, um documento oficial “vazado” foi publicado no “New York Times”, mencionando que a assistência militar estadunidense ao Exército de Libertação Popular da China era estimada em 50 bilhões de dólares, a fim de – como observou – constituir um obstáculo ao Exército Vermelho”. [31] Além disso, quando o Secretário de Defesa Nacional de Pesquisa e Engenharia, William Perry, visitou Pequim em 1980, ele informou aos chineses que o governo dos EUA “aprovou a exportação de 400 pedidos de licença para vários tipos de bens de dupla-finalidade e equipamentos militares. Isso inclui materiais como computadores geofísicos, veículos pesados, aviões de transporte C-130 e helicópteros Chinook.” [32]
Outro exemplo é a posição que a China assumiu em relação à guerra civil na Angola, onde apoiou (econômica e militarmente) as forças locais da reação, que lutaram em uma frente unida junto aos exércitos racistas da África do Sul – que invadiram a República Popular da Angola.
A República Popular da Angola foi apoiada por conselheiros militares e pelo armamento da URSS, e também por milhares de voluntários cubanos que lutaram e contribuíram decisivamente para o esmagamento das forças sul-africanas e a derrota das forças reacionárias locais. [33] Como foi revelado hoje pelos documentos confidenciais da CIA, durante esse período houve uma forma peculiar de “coordenação” entre os EUA e a China, incluindo até operações militares realizadas em Angola. [34]
A Situação Hoje
Vamos voltar ao presente. Hoje, com o desenvolvimento e predominância de relações capitalistas de produção na China, com sua participação em organizações imperialistas como a OMC e similares no sistema imperialista, sua posição não difere das potências imperialista. Qualquer desacordos que o país tenha com os EUA são relacionados à “divisão do saque”, enquanto há “harmonia” sobre as questões acerca dos direitos dos trabalhadores, que estão sendo reduzidos pelo “bem” da economia de mercado, e também contra Estados cujas ações ofendam qualquer monopólio das potências imperialistas líderes.
Um exemplo é a atitude da China em relação ao programa nuclear do Irã. Como já sabemos, a China desenvolveu uma relação próxima de cooperação econômica com o Irã, que é um dos seus maiores provedores de petróleo. Apesar dessa cooperação, em Setembro de 2010 a China, assim como a Rússia, se aliou aos EUA, França, Alemanha e Grã-Bretanha (“o grupo dos 6”) na questão do programa nuclear do Irã, demandando que o Irã recuasse e aceitasse as condições do Conselho de Segurança da ONU no que dizia respeito seu programa nuclear. No começo de Junho de 2010, a China aceitou no Conselho de Segurança da ONU o estabelecimento de novas sanções ao país. [35]
Um segundo exemplo é a posição da China em relação a Kosovo. Apesar da China e outras potências imperialistas ainda não reconheceram oficialmente o Kosovo, é importante notar que no Conselho de Segurança da ONU não adotaram posições consistentes e firmes contra o ataque da OTAN nos Bálcãs, enquanto se abstiveram da votação na missão de paz, na qual a OTAN tem um papel central (a notória KFOR) [36] e mais tarde participaria da ocupação realizada pela OTAN, mandando forças policiais.
Além disso, em 2010 tivemos a decisão desprezível do Tribunal Internacional de Justiça em Haia, que estabeleceu que a declaração de independência de Kosovo não violava a lei internacional. Alguns juízes mantiveram uma posição diferente em relação a essa importante decisão. Os juízes da Rússia, Eslováquia, Brasil e Marrocos foram contra a legitimação de Kosovo, que foi apoiada por juízes dos EUA, Japão, Alemanha, França, Inglaterra, México, Nova Zelândia, Serra Leoa, Somália e Jordânia. Como é mencionado nos documentos publicados, os juízes chineses não tomaram parte nessa importantíssima decisão que prevê a mudança de fronteiras nos Bálcãs, abrindo a “caixa de Pandora” para instigar a existência de outras controvérsias relacionadas a minorias nacionais, por causa de “questões processuais”. Isso foi seguido pelo recurso da Albânia a Pequim para reconhecer a independência de Kosovo e para usar sua influência no Conselho de Segurança da ONU com a finalidade de outro estado-membro apoiar seu reconhecimento. [38]
Um terceiro exemplo é a visita do primeiro ministro da China, Wen Jiabao, à Grécia em Outubro de 2010. Em seu discurso para a parlamento grego, o primeiro ministro chinês afirmou que a China apoiava uma zona do Euro estável, porque “nós temos a crença de que uma Europa forte e unida pode ter uma papel insubstituível no desenvolvimento do mundo” e acrescentou que ele sentiu “alegria ao ver a Grécia escapar das sombras de sua dívida externa, reduzindo seu déficit e abrindo horizontes para o desenvolvimento de sua economia.” [39]. Nessas duas frases, o primeiro ministro da China, um membro pleno do Politburo do Comitê Central do PC da China, conseguiu sintetizar o apoio dado pela liderança de seu país ao centro imperialista europeu da UE e governo social-democrata do PASOK, que, sob o pretexto de reduzir o déficit, vem implementando um duro programa anti-povo com a finalidade de reduzir os gastos com a força de trabalho na Grécia.
As lideranças chinesas assinaram uma série de acordos com o governo da Grécia, que irá constituir algum tipo de lucro para certos setores da plutocracia grega e nada mais. O notório investimento chinês de 5 bilhões não é nada mais que um incentivo aos armadores gregos que servem à indústria de construção naval da China. Assim como ao seu objetivo de posterior inserção no mercado europeu por meio da Grécia. A construção, uso e operação de portos e linhas ferroviárias, assim como a infraestrutura de construção naval por monopólios chineses e certamente companhias gregas irá intensificar o desenvolvimento desigual nas despesas com as necessidades do povo. A expansão e fortalecimentos das atividades do capital em setores cruciais de infraestrutura, aliados às políticas anti-povo, levou à precarização do trabalho, com redução de direitos trabalhistas e de salários. A exportação de azeite vai beneficiar somente os grandes empresários que a controlam e não os fazendeiros pobres, que tem seu trabalho cada vez mais precarizado. Mesmo assim, essa visita foi usada pelo governo “social-democrata” do PASOK com o objetivo de fazer o estrato popular acreditar que graças aos investimentos chineses (assim como os de Catar, Israel, etc) o país irá se desenvolver e, consequentemente, haverá um aumento do PIB, assim como irão aumentar as migalhas que caem para o povo da mesa dos capitalistas. Na realidade, estamos falando de uma saída capitalista para a crise, que pretende não recuar no desenvolvimento em favor do grande capital, nem na pobreza e no desemprego dos trabalhadores. Estamos falando de um desenvolvimento que mina a capacidade produtiva de nosso país e nos envolve em perigosas rivalidades entre imperialistas. Em todo caso, com certeza não podemos falar em “contribuição internacionalista” da China para as dificuldade que o povo grego enfrenta.
Finalmente, o Partido Comunista da China pode por enquanto manter seu título de “partido comunista”, mesmo assim é bem sabido que ele tem desenvolvido relações próximas com a Internacional Socialista. Em 2009, o PCCh organizou um seminário conjunto em Pequim com o tema “um modelo de desenvolvimento diferente, o da economia verde”. Em seu discurso lá, o presidente do PASOK e da Internacional Socialista, G. Papandreou, expressou “o desejo da Internacional de futuramente estabelecer relações entre os dois lados, o que é provado pela exposição de hoje” [40]. A questão da “cooperação mais ampla dentro do quadro da Internacional Socialista” também foi discutida durante o encontro entre PASOK e PCCh em Julho de 2010. [41]
Em 2009, o livro “China is not Happy” [42], que lida com a posição da China frente ao mundo, foi publicado na China (em três meses foram vendidas 700,000 cópias e posteriormente muitos outros milhões). Dentre outras coisas ele aponta:
“Nós somos as pessoas mais indicadas para tomar a frente da liderança do mundo”. Como argumenta, a China é o país que gerencia mais eficientemente recursos naturais no mundo, portanto deve assumir a liderança do mundo. Nota-se também que o exército chinês deveria defender a soberania do país fora de suas fronteiras, se voltar para países onde a China tem “interesses fundamentais” e protegê-los [43]. Isso quer dizer que propõe a mobilização do exército chinês em lugares onde o capital chinês é ativo. Devemos lembrar que a China participa ativamente da chamada “guerra contra a pirataria” (na “Declaração Conjunta” assinada pelo governo grego e pela China durante recentes visitas do primeiro ministro chinês à Grécia, o governo grego agradeceu à China pela proteção de navios gregos na Somália pela Marinha Chinesa), em uma tentativa de controlar importantes passagens navais militares internacionais.
No supramencionado livro existe uma discussão acerca da “necessidade de espaço vital” que tem a China e isso é direcionado às vastas extensões da Sibéria, que “devem ser cultivadas pelo grande povo chinês”. [45]
Não é preciso mencionar que um livro como esse não poderia ter sido lançado na China sem a aprovação do PCCh. Aos que duvidam, basta olhar para o que o órgão do Comitê Central do PCCh, “Diário do Povo” escreveu: “Aparentemente, a China está pronta para tomar o Extremo Oriente da Rússia sob sua influência, mas de um jeito que não alarme Moscou. A força de sua influência não será baseada em um influxo em larga escala de colonos chineses, mas na repentina “chinesificação” dos russos… Um belo dia ocorrerá uma grave crise e em face da fraca influência política e militar de Moscou, esses russos podem se voltar para Pequim e não para seu próprio governo. Nessa situação hipotética o Extremo Oriente russo pode virar uma província da China.” [46]
De acordo com o que já foi dito, devemos nos lembrar de que, no começo de Agosto de 2010, o representante do Ministro de Defesa do Vietnã, Nguen Fwong Nga, deu a seguinte declaração: “o Vietnã demanda que a China cesse imediatamente seus ataques à soberania vietnamita” [47]. No Mar da China do Sul, onde existem depósitos de energia, emergiram “zonas cinzentas” e regiões de disputa de soberania.
É claro que no âmbito da concorrência emergem tanto “eixos” de cooperação quando “não-eixos”. Assim, podemos ver que o Primeiro Ministro da Itália, Berlusconi, que habitualmente se refere a qualquer oponente político com a grave acusação de… “comunista”, não vê problema algum em iluminar o Coliseu em Roma com a cor vermelha do “comunismo” em homenagem ao Primeiro Ministro chinês, que visitou a “cidade eterna” visando dobrar o comércio entre os dois países para 100 bilhões de dólares até o ano de 2015, assim como o “desenvolvimento de portos e outros investimentos”, já que estão buscando uma “porta de entrada” estratégica na Europa. [48]
Cooperação com Rússia, Índia e Brasil a fim de modificar o balanço de forças nos Organismos Internacionais
Nos últimos anos, a China desenvolveu coordenação e cooperação com Estados que buscam alavancar sua posição internacionalmente (Brasil, Rússia, Índia), conhecidos como BRIC, assim como parcerias-alianças em uniões regionais, como a Organização para Cooperação de Xangai (junto da Rússia e das ex-Repúblicas Soviéticas da Ásia Central). Podem essas alianças e parcerias serem consideradas como um golpe contra o “mundo unipolar” dos EUA?
Em primeiro lugar devemos deixar claro que “mundo unipolar” não existe e nunca existiu. Sempre existiu uma diferenciação dentro do sistema imperialista internacional, com os EUA conquistando o primeiro lugar imediatamente no período pós-guerra e liderando o combate ao socialismo, no qual a URSS desempenhou o papel principal. A luta entre OTAN-OCDE e Pacto de Varsóvia-Conselho para Assistência Econômica Mútua foi uma luta de classes. Depois da derrubada do poder soviético e da dissolução da URSS as contradições inter-imperialista se intensificaram – devido a sua força, os EUA assumiu o papel principal nisso. Ao mesmo tempo, por causa do desenvolvimento desigual do capitalismo, novos poderes imperialistas emergiram ao lado dos EUA, da UE e do Japão, buscando adquirir uma parte da matéria prima, de suas rotas de transporte e de seus mercados. Isso é apresentado hoje em dia pela mídia burguesa e por analistas como um “mundo multipolar” e como o fim do “mundo unipolar”. A desigualdade da eclosão da crise capitalista durante esse processo acelera convulsões na correlação entre forças capitalistas. Mas isso não torna nosso mundo um lugar mais pacífico ou seguro. Enquanto a contradição entre capital-trabalho não for resolvida em níveis nacionais, regionais e globais, enquanto as novas potências em ascensão forem movidas pelo desejo capitalista por novos mercados e matérias primas, nós não teremos mudanças radicais. Os Estados que estão ganhando base no sistema imperialista internacional não podem ter o papel que a URSS teve no passado, porque eles operam com base no lucro adicional para seus próprios monopólios. isso é verdadeiro para a China e não pode ser negado somente porque ela usa uma bandeira vermelha e o partido no comando tem o nome de “comunista”.
Além disso, quando focamos na cooperação dos países do BRIC, ou daqueles da “Organização para Cooperação de Xangai”, ou na coordenação que os Ministros de Relações Exteriores da China, Índia e Rússia atingiram, não devemos esquecer que é apenas um aspecto da realidade imperialista. Por trás disso, há o aspecto de duras rivalidades e contradições entre essas potências. Por exemplo, entre a China e Rússia pelos recursos energéticos da Ásia Central, ou ainda a ambição chinesa no Extremo Oriente da Rússia, etc. O mesmo vale para as relações entre a China e a Índia, onde, além da questão não resolvida da fronteira (por exemplo, em agosto de 2010, a Índia enviou duas divisões ao estado de Arunachal Pradesh para reforçar seu estabelecimento na fronteira com a China) [49], também há uma feroz competição pela hegemonia na região da Ásia Oriental. É característico que, como se sabe, o Ministro da Defesa da Índia realizou em 2009 e 2010 consecutivas reuniões sobre a modernização das forças armadas chinesas, estabelecendo metas correspondentes para as forças armadas da Índia. [50]
A tendência de alteração nas relações com os EUA está se desenvolvendo também nos estados da América Latina, com o Brasil na vanguarda desse processo. Assim, esses estados buscam fortalecer suas relações com a China, a Rússia, a Índia e a UE. A competição e a cooperação coexistem no mundo imperialista, onde a interdependência e o estabelecimento de alianças andam de mãos dadas com as rivalidades e as contra-alianças.
Ao mesmo tempo, todos aqueles que consideram a China um “freio” à “unipolaridade” dos EUA ignoram o fato que a China, em 2001, apoiou publicamente a “guerra ao terrorismo” e a Resolução 1373/2001 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que institucionalizou a agressão imperialista sob o pretexto de “terrorismo”. É claro que o movimento comunista internacional seguiu uma direção totalmente diferente, quando no Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários em 2002 (com 62 Partidos Comunistas) observou que “os eventos de 11 de setembro também constituíam um álibi para lançar uma ofensiva sem precedentes contra as liberdades e os direitos dos povos, sob o pretexto de declarar guerra ao terrorismo. Os imperialistas rotulam como terroristas todo movimento de resistência que luta contra a globalização capitalista e as decisões contra os interesses populares tomadas por organizações internacionais (como o FMI, Banco Mundial, OMC, UE, etc), os movimentos anti-imperialistas que lutam contra intervenções imperialistas e guerras, assim como contra a OTAN, bem como qualquer movimento de libertação social e nacional e resistências contra regimes ditatoriais e fascistas.” [51]
A aliança da China com os países “em desenvolvimento”
Em 10 de julho de 1986, a China expressou oficialmente seu desejo de ingressar no GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) e, em 11 de dezembro de 2001, tornou-se o 143º membro da Organização Mundial do Comércio (OMC), que constituiu a continuação do GATT.
Dentro da OMC, a China destacou contradições secundárias que existem no sistema imperialista global. Em seu relatório ao 16º Congresso do PC da China, Jiang Zemin falou da “diferença de desenvolvimento entre o Norte e o Sul”, assim como da “pressão da supremacia econômica, científico-técnica, dentre outras, dos países desenvolvidos”. [52] De acordo com certas estimativas a China busca, constantemente, ser apresentada como uma representante e líder dos países em desenvolvimento. [53]
Apesar do aprimoramento da posição internacional econômica da China, a liderança da China insiste em apresentá-la como um “país em desenvolvimento”. [54] Essa alegação se baseia em três argumentos: A) em 2008, o PIB per capita na China era de apenas 3.300 dólares, o 104º do mundo. B) Das 1,3 bilhões de pessoas na China, mais de 700 milhões são agricultores. C) Indústria, agricultura e o setor de serviços na China constituem 49%, 11% e 40%, respectivamente, do PIB; enquanto em outros países com um nível mais alto de desenvolvimento capitalista, a indústria e a agricultura possuem percentuais mais baixos. Em 2009, o PIB aumentos 9,5% na indústria, 8,4% em serviços e apenas 4,2% na agricultura.
Os rankings da ONU e da OCDE são problemáticos e não refletem a realidade da China; muito menos, o denominação da China como um “país em desenvolvimento” por sua liderança. Esses fenômenos de uma economia capitalista “em desenvolvimento” são devidos à profunda desigualdade entre a parte leste e oeste do país. Uma imagem mais precisa seria dada por dados relevantes relativos à parte oriental do país. [55] E, é claro, o que ocorre para o capitalismo em geral também se aplica à seção oriental desenvolvida: a concentração dos meios de produção em poucas mãos e o aumento da desigualdade social.
Deste ponto de vista, a aliança da China com outras potências (por exemplo a Índia) com desenvolvimento capitalista desigual similar não se coloca na mesma posição que as sociedades mais atrasadas na Ásia e na África. No entanto, em nome do “atraso”, são criados “sonhos patrióticos”, que são utilizados no esforço de atrair o movimento operário, os PCs, e outras forças mais radicais, que são convidadas a esquecer, no presente, a luta de classes e a necessidade de se construir uma nova sociedade, e se dedicar ao trabalho de “fortalecer a posição internacional de seus países”. A busca pelo “desenvolvimento nacional” é frequentemente combinada com um “anti-imperialismo” seletivo, que concentra seu fogo apenas nos EUA, caracterizando-o como um “império”, e possivelmente em alguns dos estados poderosos da Europa Ocidental. A teoria do chamado “bilhão dourado” (os 30 países mais desenvolvidos pertencentes à OCDE) opera dentro dessa lógica, que promove como critério básico de definição o consumo per capita de vários bens, por país.
Ao mesmo tempo, aqueles que se concentram excessivamente na distinção entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, esquecem que mesmo nos países capitalistas mais ricos, como os EUA, existem fenômenos de privação em massa e pobreza nos setores populares. Também existem fenômenos de enriquecimento massivo nos países mais pobres, talvez até de maneira mais flagrante do que nos chamados países desenvolvidos. Como a análise de Marx sustenta: “quanto mais produtivo um país em relação a outro no mercado mundial, mais alto serão os seus salários em comparação com o outro. Na Inglaterra, não apenas os salários nominais, mas [também] os salários reais, são mais altos do que no continente. O trabalhador come mais carne; ele satisfaz mais necessidades. Isso, no entanto, apenas se aplica ao trabalhador industrial e não ao trabalhador agrícola. Mas, proporcionalmente à produtividade dos trabalhadores ingleses, seus salários não são maiores [do que os salários pagos em outros países].” [56]
Se as forças comunistas abrirem mão da palavra de ordem da solidariedade internacional proletária e apoiarem a ideia da separação do mundo em “Norte-Sul”, ou a ideia do “bilhão dourado”, elas facilmente cairão na armadilha da “unidade” com o chamado “capital de orientação nacional”, que é, por assim dizer, a classe burguesa de seus países (ou uma fração dela) , que busca uma melhor posição dentro do sistema capitalista global para si. Nesse caso, como comunistas, eles revisariam consciente ou inconscientemente a central tese leninista sobre “imperialismo, fase superior do capitalismo”, que se refere e engloba toda a era reacionária do capitalismo e, consequentemente, toda sociedade capitalista, seja qual for sua força no mercado global. Por esse motivo, é mais uma questão em que a posição da China, que busca se apresentar como líder dos países “em desenvolvimento”, contribui para essa desorientação e para a criação de uma confusão no movimento comunista internacional, uma vez que o líder desse esforço é um grande país, governado por um partido que carrega o nome de “comunista”.
A chamada inevitável “abertura” ao mercado global
O PCCh e outras forças também promoveram o fortalecimento gradual das relações de produção capitalistas como uma forma de participar da globalização: “hoje, no mundo cada vez mais globalizado, a China não pode se desenvolver isolada do resto do mundo, nem o mundo pode ignorá-la no processo de alcançar prosperidade”. [57] Entretanto, o “mercado global” não é algo neutro, um mercado em que há uma troca mútua de produtos entre a produção capitalista e socialista. O fenômeno da chamada “globalização”, em nome do qual o nível salarial no capitalismo avançado está sob ataque hoje, não é novo. De fato, no “Manifesto Comunista”, há referências ao “mercado global”: “Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela roubou da indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a ser destruídas diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas – indústrias que já não empregam matérias-primas nacionais, mas, sim, matérias-primas vindas das regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio país, mas em todas as partes do mundo. Ao invés das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, surgem novas demandas, que reclama para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e de climas mais diversos. No lugar do antigo isolamento de regiões e nações auto suficientes, desenvolvem-se um intercâmbio universal e uma universal interdependência das nações. E isso se refere tanto à produção material como à produção intelectual. As criações intelectuais de uma nação tornam-se patrimônio comum. A estreiteza e a unilateralidade nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis; das numerosas literaturas nacionais e locais nasce uma literatura universal.” [58]
Pode a “participação da China” no mercado internacional ser considerada uma troca obrigatória de mercadorias entre diferentes economias, troca essa forçada devido à correlação internacional de forças? Não, porque estamos falando sobre exportação de capital, que está sendo acumulado na China através de relações capitalistas de produção.
É sabido que a construção socialista na URSS se baseava, sobretudo, na socialização dos meios de produção concentrados, no planejamento central e nas medidas econômicas correspondentes em suas relações econômicas internacionais, como o monopólio estatal do comércio exterior, estabelecido em Abril de 1918.
Mesmo sob as condições da NEP (que alguns gostam de invocar quando se referem à China contemporânea), o monopólio estatal tornou-se ainda mais importante como um baluarte contra as crescentes tendências capitalistas. Lenin, em sua controvérsia com Bukharin, defendeu a importância de se manter um monopólio no comércio exterior. E Stalin, mais tarde, observou a necessidade de “a economia ser planejada para salvaguardar a independência da economia popular, para que nossa economia não seja transformada em um apêndice da economia capitalista. Depende de nós não nos tornarmos um apêndice da economia capitalista.” [59]
Stalin, em seu discurso de encerramento da 7ª sessão plenária do Comitê Executivo da Internacional Comunista, em 13 de dezembro de 1926, demoliu o mito de que a URSS era “dependente” do mercado capitalista global porque mantinha relações econômicas com os países capitalistas. Ele observou a interdependência existente nessas relações e destacou que esse tipo de interdependência é diferente da assimilação da economia de um país dentro da estrutura da economia capitalista global. [60] Nomeadamente, a não assimilação requer planejamento central, um monopólio estatal do comércio exterior, do sistema bancário e da socialização da indústria. A realidade na China é completamente diferente da URSS durante a NEP. Na China:
  1. Não há monopólio no comércio exterior. Milhares de empresas estrangeiras que operam na China cobrem a maior parte das exportações chinesas, as quais, é claro, dependem de seus planos, baseado em sua lucratividade e não em uma economia planejada central.
  2. 440 bancos privados estrangeiros operam na China e adquiriram pelo menos 10% das ações dos bancos estatais chineses, e, desde 2005, se desenvolve um setor bancário privado doméstico. [61]
  3. Uma importante porcentagem da indústria é privada ou privatizada (na forma de sociedades por ações), enquanto os setores privados produzem estimadamente 70% do PIB.
  4. A legislação chinesa, especialmente no setor econômico e comercial, é totalmente harmonizada, graças à assistência da OMC, às normas da economia capitalista global.
    Epílogo
Concluindo, o domínio das relações capitalistas na China, hoje, é um fato. Lenta ou rapidamente, isso levará a uma maior conformidade do sistema político, da ideologia dominante e de todos os elementos da superestrutura, na qual o caráter capitalista refletirá cada vez mais em seus símbolos. A intensificação das contradições de classe irá avançar, assim como a necessidade de um movimento operário revolucionário ser representado pelo seu próprio partido contra o poder capitalista.
*Elisseos Vagenas é membro do CC do KKE (Partido Comunista da Grécia), então responsável pela seção internacional do CC. Artigo de 2010.

Notas:
[2] “China is now the largest exporting power in the world”, http://www.eurocapital.gr/index.php/permalink/5287.html
[5] “The philosophy of the success of the Chinese billionaires”, http://www.buffett.ru/investments/?ID=3293&print=Y
[6] “The largest companies in China and in the world” http://russian.cntv.cn/program/news_ru/20100906/102640.shtml
[7] “The number of privately-owned business in China has exceeded 3.5 million”, http://www.ttservice.by/index.php?name=news&op=view&id=4
[8] “This year the 500 most powerful private business have 5 specific characteristics”, http://russian.china.org.cn/exclusive/txt/2010-09/01/content_20841263.htm
[9] Ibid.
[10] “China in 2009 was amongst the five biggest investors in the world”, http://www.bfm.ru/news/2010/09/06/kitaj-v-2009-godu-stal-pjatym-krupnejshiminvestorom-v-mire.html
[11] “The global economy: The Chinese cycle”, http://www.warandpeace.ru/ru/reports/vprint/51067
[12] “The USA: Acquisition of American bonds by China”, http://www.capital.gr/NewsPrint.asp?id=1048344
[13] “China proceeds in the world”, http://www.chaskor.ru/article/kitaj_poshel_po_miru_18811
[14] “A clean-up of raw materials”, http://www.expert.ru/printissues/expert/2009/40/resursnuy_pylesos. The statistics that follow in this section are from this article
[15] “The Pentagon is concerned about the increasing military power of China”, http://www.bbc.co.uk/russian/international/2010/08/100817_cnina_military_report_pentagon.shtml
[16] “The Pentagon: China continues to increase its military power”, http://www.voanews.com/russian/news/world-news/US-China-military-2010-08-16-100809179.html
[17] “The overall strength of China”, http://www.journal-neo.com/?q=node/488
[18] “China has the 2nd most numerous army in the world”, http://vpk.name/news/35274_voennyii_potencial_kitaya_zanimaet_vtoroe_mesto_v_mire.html
[19] Statistics from the Russian language website of the Chinese Ministry of Trade http://russia.mofcom.gov.cn/article/subject/zhongguo/lanmufff/200803/20080305410262.html.
[21] Yian Jiechi “The PR China pays more and more attention to development, taking on more and more responsibility”, speech in Munich, 5 February 2010,http://russian.people.com.cn/31520/6889574.html
[22] V.I. Lenin “ Imperialismo, fase superior do capitalismo” – disponível em: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/imperialismo/cap5.htm
[23] From the website of the Chinese Embassy in Athens: http://gr.chinaembassy.org/eng/xwdt/t261536.htm
[24] Ibid.
[25] Resolution of the European Parliament on the 23rd of April 2008 related to the policies of China and their impact in Africa, 2007/2255(INI) (2009/C 259E/08).
[26] Nikita Medkovitch : “The financial dimension of the war in Afghanistan (1979-1989)” http://afghanistan.ru/print/?id=18319
[27] Steve Coll: «Anatomy of a Victory CIA s Covert Afghan War», «Washington Post»,19 July 1992, http://emperors-clothes.com/docs/anatomy.htm
[28] A.S. Voronin; “Vietnam, independence, unity, socialism”, “Sychroni Epohi”. Ps 96-97
[29] A.S. Voronin “ Vietnam Today”, “nea biblia”, p. 109
[30] Ibid.
[31] Consolidated Guidance No.8, summary in the “The New York Times”, 4 November 1979,p. A1
[32] Jonathan Pollack: «The Lessons of Coalition Politics: Sino-American Security Relations», Santa Monica: RAND Corporation, 1984, p. 70.
[33] S. Lavrenov-I. Popov “The Soviet Union in local wars and conflicts”, http://militera.lib.ru/h/lavrenov_popov/index.html
[35] Newspaper “Imerisia”, 23 September 2010, http://www.imerisia.gr/article.asp?catid=12337&subid=2&pubid=61921147
[36] “The Military Force in Kosovo (KFOR)”, http://tosyntagma.antsakkoulas.gr/afieromata/item.php?id=395
[39] Athens News Agency-Macedonian News Agency
[42] Its full title is: “China is not happy. An important era, important goals and the internal and external upheavals”. “ Chiansou Zenmin Tsoumanse”, which publishes political, philosophical and literay books. March 2009.The authors are five well-known journalists and writers: Song Shaojun, military analyst of the central televison channel “Fenwan”. Wang Xiaodong, journalist. Song Qiang, deputy editor of “the journal of international social studies”. Liu Yang, journalist, media commentator on economic, cultural and political issues.
[43] “Chinese military strength”, 26.8.2010, http://www.odnagdy.com/2010/08/blog-post_9626.html
[44] Joint statement for the deepening of the extensive strategic cooperation between China and Greece, http://greek.cri.cn/161/2010/10/04/42s4914.htm
[45] “Why China is angry with Russia”, http://kp.ru/daily/24313/506551
[46] “China is more and more attracted to the Russian Far East”, http://world.people.com.cn/GB/1030/6677024.html, translated into Russian: http://www.inosmi.ru/world/20080130/239263.html
[47] “China’s neighbours are arming themselves with whatever they can”, http://www.ng.ru/world/2010-08-10/7_vietnam.htm
[48] “Italy welcomes China with…a red Colosseum”, http://www.euro2day.gr/news/world/125/articles/607508/ArticleNewsWorld.aspx
[49] “India has sent 2 divisions to its borders with China”, http://www.warandpeace.ru/ru/news/vprint/50479
[50] “India is increasing its military strength in response to China”, http://flot.com/nowadays/concept/opposite/indiareadiesforchinafight/index.php?print=Y
[51] Statement of the International Meeting of Communist and Workers’ Parties, Athens 2002 http://www2.rizospastis.gr/story.do?id=1320825&publDate=2002-06-26%2000:00:00.0
[52] Report to the 16th Congress of the CPC, http://russian.china.org.cn/news/txt/2002-11/19/content_2050838.htm
[53] A. Liukin: “The Chinese “vision” and the future of Russia”, http://www.mgimo.ru/news/experts/document151024.phtml
[54] “China: increase in the rate of its economic development”, March 2010, http://www.imperiya.by/economics2-7364.html
[55] Over 80% of the population lives in the Eastern regions which account for about 10% of China’s territory. Source: Russian geographic website: “Description of China”, http://geo-tour.net/Asia/china.htm
[56] K. Marx: “Theories of Surplus value”, part 2 “Synchroni Epohi”, p 13
[57] Website of the Chinese Embassy in Athens, http://gr.china-embassy.org/eng/xwdt/t261536.htm
[58] K. Marx-F. Engels; V. Lenin: “Manifesto Comunista; Teses de Abril”, BOITEMPO, p 25.
[59] From the article of J.V. Stalin “Discussion about the Handbook of Political Economy” (January 1941), in Richard Kosolapov: “Comrade Stalin has the floor”, “Discussion about the Handbook of Political Economy”, 29 January 1941, “paleia”, Moscow, 1995, ps 161-168.
[60] J.V. Stalin: “His closing speech at the 7th plenary session of the Executive Committee of the Communist International”, “Collected Works”, v. 9, ps 132-136.
[61] “The financial market of China”, http://www.globfin.ru/articles/finsyst/china.htm

in LavraPalavra.com

Sem comentários:

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.