Nasceu
em Estocolmo, vive no Massachusetts e fala português como se tivesse
passado a vida toda no Brasil. Professor de Física no MIT, Max Tegmark é
também responsável pelo Future of Life Institute, sendo uma das
principais referências à escala mundial quando o assunto é o futuro da
Humanidade e a sua relação com a tecnologia
Texto João Miguel Salvador
Não
se espere de Max Tegmark, a quem chamam “Mad Max”, uma visão ortodoxa. A
cada resposta que dá ao Expresso, o autor de “Life 3.0: Ser-Se Humano
na Era da Inteligência Artificial” (Dom Quixote) faz jus à sua alcunha
Fala-se
cada vez mais de inteligência artificial, mas a possibilidade de as
máquinas se tornarem mais inteligentes que os humanos continua a ser
vista como ficção. Como explica este ceticismo geral?
As
pessoas são céticas quanto à superinteligência porque pensam na
inteligência como algo misterioso, que apenas pode fazer parte de
organismos biológicos, como o seu. A inteligência tem tudo que ver com
processamento de informação. Não importa que essa informação seja
processada por átomos de carbono nos neurónios do cérebro ou de outra
forma.
Não há nada que o indique, que deixe em aberto essa possibilidade?
Não
há qualquer lei da Física que diga que o processamento da informação
que fazemos no nosso cérebro é o melhor possível. Achar isso é apenas
arrogância humana.
A quanto tempo estamos de atingir a inteligência artificial geral?
É
inevitável que se chegue à inteligência artificial geral dentro de
alguns anos, a menos que nos destruamos primeiro, numa guerra nuclear ou
por outros meios.
Mas de quantos anos estamos a falar?
Os
trabalhos mais recentes, feitos com investigadores de inteligência
artificial, mostram que obter formas de inteligência artificial geral
será possível dentro de uma década.
A inteligência artificial é boa ou má?
E
o fogo? O fogo é bom ou é mau? É uma tecnologia, como a inteligência
artificial. Não têm valores, por isso tudo depende de quão boas são as
normas sociais e as leis. A diferença agora é simplesmente o poder da
tecnologia.
O que temos de fazer para garantir que a tecnologia é usada a nosso favor, por exemplo?
Temos
de ensinar aos nossos carros autónomos que não podem atropelar pessoas.
Que não podem obedecer se o condutor tentar acelerar contra pessoas.
Isso pode impedir um massacre, por exemplo. Garantindo o controlo sobre a
tecnologia, é possível desenvolvê-la de modo a beneficiar toda a gente.
Pode mesmo ser a melhor coisa que já aconteceu à Humanidade.
Como é que a Europa pode responder ao desafio da inteligência artificial?
Devíamos
construir um novo CERN para a inteligência artificial, focado na saúde
global e com investimento de todos os governos europeus.
Que resultados teria uma decisão assim?
Se
houver um verdadeiro centro de excelência na Europa, liderado pela
Europa, este terá uma enorme influência. Vai levar os mais jovens a
estudarem inteligência artificial e a criarem empresas europeias que se
tornem líderes em inteligência artificial desde o início.
E enquanto raça, o que é que mantém os humanos no topo da cadeia?
Se
pensar bem, só somos a espécie dominante na Terra por causa da nossa
capacidade de aprender, de evoluir. Não é que sejamos mais fortes do que
os tigres, ou que corramos mais rápido...
E em que ponto da evolução estamos agora?
Talvez
já nos possamos chamar 2.1, com os nossos joelhos artificiais e
implantes nos ouvidos, mas por enquanto ainda não podemos instalar um
hardware no cérebro para ganhar uma memória 1 milhão de vezes superior.
É para aí que caminhamos?
Claro.
A transição definitiva vai acontecer quando a vida se libertar dos
grilhões da evolução e assumir o controlo sobre o seu próprio software e
hardware.
in EXPRESSO
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