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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Foi este o destino das sociedades humanas?

 

Um grande livro

Armas, Germes e Aço. Os destinos das sociedades humanas

JARED DDDIAMOND, 1997,2003,2005- em português 2015-2020,3º edição

Grande em volume 663 páginas. Grande em massa de informações surpreendentes mesmo para especialistas , os capítulos sobre as histórias da Austrália e da Nova Guiné e de como a África se tornou negra, são espectaculares.

O livro mereceu o prémio Pulitzer outros prémios. Escrito com uma clareza que atrai qualquer leigo nas matérias versadas 8 e somos todos), com um rigor de raciocínio científico ( no sentido de atitude método de aproximação honesta da verdade) extraordinariamente convincente na ligação de elementos antes divorciados. Um mapa ecológico e naturalista da história universal.

«os descendentes das sociedades que fundaram mais cedo o governo centralizado e a religião organizada acabaram por dominar o mundo moderno. A combinação de governo e religião funcionou assim, a par dos germes, da escrita e da tecnologia, como um dos quatro principais conjuntos de agentes próximos conducentes ao mais amplo padrão da história. « p. 353, temas e debates-círculo de leitores.

Porquê Bill Gates terá dito do livro: «Fascinante. ...estabelece uma base para a compreensão da historia humana.» ? (De resto, parece concluir-se pelas palavras do autor que são amigos) Bill Gates é indiscutivelmente culto e em talento é uma caso invulgar. É também um dos mais ricos do mundo cuja conhecida filantropia não se destina a promover alguma transformação do capitalismo. Pode-se dizer sem exagero que é um ilustre membro do vasto clube dos que consideram que o capitalismo é a melhor e, por isso, a última sociedade humana (que se vai corrigindo) e o liberalismo a doutrina que melhor corresponde à natureza humana. Os cientistas que trabalham por via dos donativos generosos que ele e outros iguais distribuem por centros de pesquisa, esforçam-se por demonstrar que o capitalismo é uma sociedade “natural”, as suas relações básicas, de produção, expressam desejos e sentimentos da própria espécie humana. Certamente que não escrevem com aforismos filosóficos, mas com extenuantes (para eles e às vezes para nós) investigações e deduções. Incluo neste rol de tantos e diferenciados escritores o cientista português radicado nos EUA, António Damásio, como já o referi num comentário neste meu blogue.

Mas isto aplica-se ao livro referido e por mim elogiado?

Há nele algo parecido com a homeostasia de Damásio que tudo é capaz de explicar (homeostasia da cooperação)? Há e não há.

Não há porque o autor não reduz (essa atitude designada reduccionismo que tanto persegue filósofos e cientistas) as sociedades a um único princípio básico, imanente, e ao qual eu chamaria metafísico (ainda que se apresente naturalista e biologista). Não há porque ao invés de um método evolucionista uni linear, processa-se uma dialéctica , um relacionamento de influências recíprocas entre elementos aparentemente díspares : solos e plantas domesticáveis com “germes” e “aço”. Quando lemos o entrelaçamento torna-se claro e evidente que ficamos com a impressão de que foi sempre assim que tínhamos entendido o assunto, isto é, que isto leva àquilo por consequência, que tudo anda ligado, que um efeito pode tornar-se causa, e que não existe nada que não tenha uma história, uma origem e um desenvolvimento.

  Pois com certeza, cometamos quando lemos o capítulo sobre a originalidade do “Crescente Fértil”: ali existiam animais potencialmente (e utilmente) domesticáveis e por isso...enquanto nas Américas não existiam tais animais nem trigo e cevada...A fertilidade dos solos e mais propícios em condições climáticas (no fundo, a mesma realidade) para agricultura que viria a alimentar as civilizações. Contudo, o aparentemente estranho é que determinados povos não optaram voluntariamente por se tornaram agricultores. É nesses lances que o Jared se mostra brilhante, As “soberbas” vantagens do modo de vida sedentário e do trabalho agrícola não os entusiasmou: Preferiram continuar recolectores nómadas (a caso exemplar dos povos aborígenes da Tasmânia e do continente australiano). E Jared mostra muito claramente porquê e como.

No livro quase tudo se articula entre si: plantas, animais, solos, climas, culturas, doenças, guerras...

Disse "quase", porque, na verdade o que se articula, e muito bem, são os elementos físicos (biológicos e ecológicos), o que a seguir vem é deduzido desses elementos. Essa dedução é uma crença, e, portanto, podemos aceitá-la ou não. É uma crença porque o que é especificamente social (humanamente social, não as sociedades dos insectos) não é consequência da causa bio-ecológica (ou climática ou geográfica). O geógrafo David Harvey desmente categoricamente estes determinismos. 

Antes de lermos ou relermos Harvey como obra que desmente esse reduccionismos do chamado evolucionismo ou darwinismo, seria bom relermos F. Engels e o seu livro "Origens da família, da propriedade privada e do Estado", pois já aí se antecipam determinismos bio ou economicistas. E, já agora, as famosas Onze Teses, de Marx (onde se vê a categoria de "relações sociais").

Nem a famosa homeostasis de António Damásio (donde ele também deduz a cooperação), nem a eco-geografia de Jared conseguem explicar cientificamente o surgimento ( continuidade/ruptura) e as múltiplas formas de desenvolvimento do(s) processo(s) histórico(s). 

Por isso Bill Gates elogia muito o livro de Jarede, do qual ele é muito amigo.

Nozes Pires

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