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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O significado da via eleitoral -III

Com este programa ou com qualquer outro com a mesma amplitude, o problema que logo se coloca (e que se devia sempre colocar) é o do poder político. É necessário alcançar um poder suficiente para se aplicarem estas reformas (revolucionárias no caso presente) sem que os adversários vençam no contra ataque inevitável. Não se pode resistir vitoriosamente a ataques violentos e terroristas sem que se disponha de armas (o inimigo tê-las-á seguramente). Se o governo com esse programa, que venceu as eleições com ele em alianças, quiser subsistir, necessitará de dispor do apoio (ou, pelo menos, da neutralidade) das forças armadas e das forças de segurança. É provável que disponha numa primeira fase do processo, porém essas forças irão dividir-se inevitavelmente, e umas contra as outras, ou todas contra o governo legítimo. No 25 de Novembro de 1975 não se dispunha nem do governo executivo, nem da Assembleia da República, nem de forças militares suficientes para enfrentar com probabilidade de sucesso as forças adversárias, nem provavelmente, de amplas massas sociais que enchessem ruas e praças como no dia 25 de Abril de 1974. A derrota era certa, E sangrenta, O que se fez foi negociar. E bem. 

Como repor essas conquistas que foram esmagadas e suprimidas ou ficaram formalmente na CRP? Sem repetir o que já não é receptível porque o país transformou-se em todos os aspectos. 

Concorrendo exclusivamente às eleições que legitimam um regime democrático? Como construir uma Frente com o mesmo programa, uma aliança multipartidária? Que partidos temos no presente? Que valor tem imaginar-se um futuro incógnito, porém um futuro que se terá sempre de construir em grande parte no(s) presentes(s) temporais?

Ora, se o programa que anotei for eventualmente considerado por alguns um programa social-democrata, então qual o programa alternativo ao capitalismo actual e real? Um programa de uma sociedade socialista muito desenvolvida sem capitalismo? É correcto defender-se essa aspiração secular já sem qualquer fase de preparação, de transição? Fase(s) que significam um duro processo de conservar o apoio das massas trabalhadoras (e pequeno burguesas) para se "saltar" para a fase seguinte mais revolucionária. Estamos na Europa da UE, não na China dos anos quarenta, a China governada por um partido que mostrou e mostra punhos de ferro para impor a via que tem escolhido percorrer.

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