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sábado, 5 de junho de 2010
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Ferreira Gullar, poeta brasileiro galardoado com o Prémio Camões, comunista, perseguido, preso e exilado durante a ditadura militar fascista do Brasil.
SUBVERSIVA
A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
Ferreira Gullar
A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
Ferreira Gullar
quinta-feira, 3 de junho de 2010
A memória de Álvaro Cunhal
Foi há cinco anos que faleceu Álvaro Cunhal. A revista «Sábado», última, traz uma entrevista com a filha de Cunhal (e é capa da Revista). O jornalista que conduziu a entrevista, a entrevista e o destaque dignificam o pluralismo e o bom nível que frequentemente esta revista alcança e merece. O jornalista usa de uma contenção e de um civismo que demonstra como se é sempre injusto quando se ataca uma classe profissional no seu todo. A entrevista é comovedora, independentemente das posições políticas de cada um. Basta ser-se sério e honesto para nos comovermos com os elogios que uma filha faz ao seu pai, ao amor filial e à saudade que se devota ao progenitor. Qualquer que seja este. Neste caso, ao mais importante político português, ao qual nenhum vivo se lhe compara.
É verdade que este trabalho da revista coincide (propositadamente ou não) com a publicação do livro de Carlos brito, «Álvaro Cunhal, sete fôlegos do combatente» (edições Nelson de Matos); de resto, inclui trechos do livro. O livro, que li depressa, é um rico repositório de experiências políticas que transcendem a vida comum de cidadãos e leitores comuns. A grande maioria provavelmente ainda ignora o que realmente sucedeu sob e contra a ditadura fascista e, suponho, o que veio a suceder após a insurreição armada e popular do 25 de Abril. Mas essa maioria torna-se imensa no que respeita aos acontecimentos que abalaram o PCP de quando em vez, por dentro, e, sobretudo, há uma década atrás. A muitíssimos talvez não importe absolutamente nada, a outros importa para tomarem partido por uns ou por outros e para fortalecerem os seus preconceitos. Pelo que a mim diz respeito não tomei partido por uma «linha» nem pela outra quando ambas se radicalizaram. O que faz de mim um leitor comprometido, certamente, mas não envolvido, completamente à vontade para ler com gosto e espírito crítico este livro de memórias de Carlos Brito, ex-dirigente destacado do PCP, de um homem honrado, que nos fornece a sua versão sobre a personalidade de Àlvaro Cunhal, sobre o percurso acidentado do PCP, sobre, enfim, as causas do seu definitivo afastamento do Partido em que militou generosamente. Um livro oportuno para quem não é (e desejamos que nunca tenha sido) dogmático, sectário ou revisionista. Era urgente agora um livro com a versão opositora. Somente há História quando há o contraditório.
É verdade que este trabalho da revista coincide (propositadamente ou não) com a publicação do livro de Carlos brito, «Álvaro Cunhal, sete fôlegos do combatente» (edições Nelson de Matos); de resto, inclui trechos do livro. O livro, que li depressa, é um rico repositório de experiências políticas que transcendem a vida comum de cidadãos e leitores comuns. A grande maioria provavelmente ainda ignora o que realmente sucedeu sob e contra a ditadura fascista e, suponho, o que veio a suceder após a insurreição armada e popular do 25 de Abril. Mas essa maioria torna-se imensa no que respeita aos acontecimentos que abalaram o PCP de quando em vez, por dentro, e, sobretudo, há uma década atrás. A muitíssimos talvez não importe absolutamente nada, a outros importa para tomarem partido por uns ou por outros e para fortalecerem os seus preconceitos. Pelo que a mim diz respeito não tomei partido por uma «linha» nem pela outra quando ambas se radicalizaram. O que faz de mim um leitor comprometido, certamente, mas não envolvido, completamente à vontade para ler com gosto e espírito crítico este livro de memórias de Carlos Brito, ex-dirigente destacado do PCP, de um homem honrado, que nos fornece a sua versão sobre a personalidade de Àlvaro Cunhal, sobre o percurso acidentado do PCP, sobre, enfim, as causas do seu definitivo afastamento do Partido em que militou generosamente. Um livro oportuno para quem não é (e desejamos que nunca tenha sido) dogmático, sectário ou revisionista. Era urgente agora um livro com a versão opositora. Somente há História quando há o contraditório.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Os consensos irracionais
Separam-se as águas. Estas políticas acordadas entre o PS e o PSD para resolverem (tentarem!) a má situação orçamental possuem uma virtude: esclarecem e demonstram que os partidos ditos do «Bloco Central, PS/PSD/CDS), isto é, da Direita ou que a imitam tão bem ou melhor que ela (o PS), defendem os interesses do capital financeiro e do grande capital em geral e que os partidos da Esquerda defendem o povo que trabalha por conta de outrem, ou que tentam resistir à crise nas suas pequenas ou médias empresas, que defendem os reformados e pensionistas, os desempregados. Insisto: as políticas que o PEC anuncia e ainda irá agravar não vão ao encontro dos interesses dos próprios pequenos capitalistas. Ora, se somassemos todos estes cidadãos e suas famílias teriamos uma esmagadora maioria a ser ofendida, saqueada, atingida, pelo acordo PS/PSD. Temos, assim, o que é próprio da Direita e o que é próprio da Esquerda. Temos, assim, as classes sociais claramente delimitadas qualquer que seja o critério sociológico que as classifica. Teríamos, assim, um voto nas urnas perfeitamente distinto, consciente, informado e, portanto, uma derrota clamorosa da Direita.
Mas não é assim que as coisas funcionam. E não sendo isto um mistério inexplicável, ou uma fatalidade religiosa, é, contudo, um paradoxo que desafia, senão contraria mesmo, a racionalidade.
Mas não é assim que as coisas funcionam. E não sendo isto um mistério inexplicável, ou uma fatalidade religiosa, é, contudo, um paradoxo que desafia, senão contraria mesmo, a racionalidade.
A Ideologia
O conceito de "ideologia" tem vindo a ser abandonado por um grande número de filósofos e cientistas sociais a partir do século passado; os "pós-modernos" recusam-no pura e simplesmente. Em épocas passadas o conceito foi amplamente estudado e ainda hoje é admitido por alguns investigadores marxistas. Entre aqueles que o abandonaram encontramos cientistas sociais que utilizam, contudo, conceitos forjados por Marx. O conceito na sua acepção clássica não se refere exclusivamente àquilo que é comum designar-se por ideologia: as doutrinas políticas. Na acepção de Marx ideologia expressa a existência de uma ligação necessária entre formas "invertidas" de consciência e a existência material dos indivíduos. É um fenómeno social, um comportamento individual e colectivo, um género de pensamento distorcido cuja origem e formação se deve às contradições sociais e as oculta. A ideologia é, portanto, comum e universal, mas não reflecte o universal racional e verdadeiro, mas o particular. Deste modo, pode-se descobrir quais os interesses de classe envolvidos nas opiniões comuns, inclusivamente nas mais elaboradas teses e argumentações filosóficas e mesmo "científicas". Assim nas épocas em que na Biologia se defenderam teses racistas (por exemplo, no século passado aquando da difusão das doutrinas nazi-fascistas) a componente ideológica dos seus defensores estava visível. A fonte da inversão ideológica é uma inversão da própria realidade, supor, por exemplo, que são as ideias (determinadas ideias) que governam o mundo da vida e da história, e não os interesses práticos e materiais dos homens agrupados e divididos em classes sociais com interesses divergentes e mesmo antagónicos. A religião, por exemplo, expressa uma inversão, e ela é mais do que uma alienação filosófica ou simples ilusão: expressa ou reflecte as contradições e sofrimentos do mundo real. É uma espécie de compensação que pode trazer algum alívio mas que não resolve os problemas das misérias reais. Partir da consciência para explicar tudo, em vez de partir da realidade material, é pensar em termos ideológicos; o rótulo de "ideólogos" encaixa, então, naqueles que, propositadamente ou não, fazem a propaganda de mistificações que ajudam a classe dominante a perpetuar-se no poder. Marx foi muito claro ao explicar que os verdadeiros problemas da humanidade não são as ideias erróneas, mas as contradições sociais reais e que aquelas são consequência destas. A Escola (de qualquer nível) serve muitas vezes para disfarçar, pelos seus conteúdos que ensina, a existência das contradições sociais e tende a reproduzir as desigualdades sociais. As distorções e mistificações ideológicas podem e devem ser criticadas e postos a nu os verdadeiros interesses particulares que elas ocultam, porém não é apenas a crítica que vai resolver as contradições, os dramas e os conflitos que nascem do facto das sociedades estarem divididas em classes sociais. O capitalismo não se explica se nos limitarmos à sua esfera de circulação (dos capitais), os mercados; procedendo assim não sairiamos do "reino" das aparências e das expressões tipicamente ideológicas como sejam «os direitos inatos do homem», o blá-blá da Liberdade, Igualdade e Propriedade. A ideologia burguesa da liberdade e da igualdade oculta o que ocorre sob o processo superficial de troca, onde « essa aparente igualdade e liberdade individuais desaparecem» e «revelam-se como desigualdade e falta de liberdade» (Marx).
terça-feira, 1 de junho de 2010
«Cuidado com a Alemanha»
Leio sempre com interesse as crónicas do professor Diogo Freitas do Amaral na revista "Visão". Eis outro exemplo de como os indivíduos podem evoluir: Se olhassemos apenas para o passado político deste homem tudo me afastaria dele. A sua passagem breve pelo governo de Sócrates em nada o manchou. O seu prestígio internacional é incontestável. As crónicas, reflectindo muito embora um pensamento "liberal" são sempre inteligentes e oportunas (ainda que discutíveis, pois claro). O pensamento "liberal" é tão variado que nos EU corresponde a um movimento reformista que se opõe ao Partido Republicano e se encontra em certas questões na ala esquerda do Partido Democrático. Não conheço os contornos do pensamento teórico, de doutrina política, de Freitas do Amaral, tanto mais que ele nos surpreendeu aderindo ao governo do PS, ele, que foi fundador do CDS. Apreciar as suas análises políticas não é esperar que ele critique a NATO e outros eixos fundamentais do imperialismo e do capitalismo. É constatar com curiosidade como certos destacados cidadãos podem evoluir para posições críticas um tanto ou quanto inesperadas e interrogar-me porque sucede assim. Talvez seja a própria vida a ensinar...
Nesta crónica última «Cuidado com a Alemanha» o que mais importa não é encontrar aí porventura um pensamento legitimamente conservador que aponta os perigos das grandes potências sobre a nossa soberania nacional, mas os efeitos nefastos das opções políticas dos últimos anos. Leia-se, por exemplo, este parágrafo: «Crescimento mínimo, desemprego crónico e endividamento excessivo: eis um resultado não previsto do euro mas muito negativo - e que, por isso, é indispensável examinar com toda a objectividade, e sem preconceitos, (também não conseguimos reduzir as desigualdades sociais - o que é mau, mas não resulta do euro, pois quase todos os países dessa zona estão melhores do que nós.» Se admitirmos que o seu ideário ainda é de Direita, como julgo, só podemos concluir que há uma Direita inteligente e uma Direita estúpida. Quando ele escreve que «salvar o Euro e a EU, (é) conseguir negociar -desde já- a flexibilização das regras do PEC», é ler palavras de uma Direita inteligente.
Eu, que sou de esquerda, não me importo de lidar com a inteligência. Não suporto é a boçalidade, a arrogância, a prepotência, o cinismo brutal dos poderosos.
Nesta crónica última «Cuidado com a Alemanha» o que mais importa não é encontrar aí porventura um pensamento legitimamente conservador que aponta os perigos das grandes potências sobre a nossa soberania nacional, mas os efeitos nefastos das opções políticas dos últimos anos. Leia-se, por exemplo, este parágrafo: «Crescimento mínimo, desemprego crónico e endividamento excessivo: eis um resultado não previsto do euro mas muito negativo - e que, por isso, é indispensável examinar com toda a objectividade, e sem preconceitos, (também não conseguimos reduzir as desigualdades sociais - o que é mau, mas não resulta do euro, pois quase todos os países dessa zona estão melhores do que nós.» Se admitirmos que o seu ideário ainda é de Direita, como julgo, só podemos concluir que há uma Direita inteligente e uma Direita estúpida. Quando ele escreve que «salvar o Euro e a EU, (é) conseguir negociar -desde já- a flexibilização das regras do PEC», é ler palavras de uma Direita inteligente.
Eu, que sou de esquerda, não me importo de lidar com a inteligência. Não suporto é a boçalidade, a arrogância, a prepotência, o cinismo brutal dos poderosos.
Saldanha Sanches
Este blogue associa-se àqueles que ora recordam e prestam homenagem à memória de Saldanha Sanches, sem preconceitos e sem sectarismos. Muitos de nós, isto é do Partido em que militávamos, fomos o alvo dos ataques políticos do então jovem Saldanha Sanches e do partido de que ele era um destacado dirigente. Muitos anos passaram, muita água passou debaixo da ponte. Não é isso que recordo agora. Recordo o professor universitário emérito, corajoso e honesto que não tinha venda nos olhos nem papas na língua. Lia-o e escutava-o na TV sempre com gosto, sempre a aprender com o muito que ele sabia e deixava-me mais convencido do que já estava de que a corrupção passeava-se impune neste país, de que a justiça era apenas dura para os fracos, de que as declarações dos governantes e seus acólitos sobre as contas públicas eram pura mentira. Um maldito cancro calou a voz incómoda deste grande cidadão. Porque vindo dos meios universitários e académicos já temos poucas dessas vozes, ficamos mais pobres.
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