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sábado, 9 de julho de 2011

HERBERT MARCUSE

Herbert Marcuse

foto Allende


1898-1979

Alemão, filósofo político cuja combinação do marxismo e psicologia freudiana foi popular entre os estudantes no final dos anos 1960. Tornou-se membro do Partido Social Democrata, enquanto estudante na Universidade de Freiburg, Frankfurt. Aderiu ao Instituto de Investigação Social, em 1932.

Sua obra Razão e Revolução, escrita em 1941, foi uma importante contribuição para a compreensão de Hegel e a influência que exerceu sobre Marx.


Eros e Civilização

[Galego]

Eros e Civilização


Uma interpretação filosófica do pensamento de Freud

Herbert Marcuse

1955



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Primeira Edição: Eros and Civilization. A philosophical inquery into Freud. Beacon Press, Boston, 1955.

Fonte: Eros y Civilización (Tradução para castelhano de Juan García Ponce). Editorial Seix Barral, S.A., Barcelona, 1968..

Tradução para o português da Galiza: José André Lôpez Gonçâlez. Junho, 2008.

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, agosto 2006.

Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.





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Em memória de

SOPHIE MARCUSE

1901-1951

Índice

Prefácio da primeira edição



Introdução



Primeira Parte

SOB O DOMÍNIO DO PRINCIPIO DE REALIDADE



I. A tendência oculta na psicanálise



II. A origem do indivíduo reprimido (Ontogênese)



III. A origem da civilização repressiva (Filogênese)



IV. A dialética da civilização



V. lnterlúdio filosófico



Segunda Parte

PARA ALÉM DO PRINCIPIO DE REALIDADE



VI. Os limites históricos do princípio de realidade estabelecido



VII. Fantasia e utopia



VIII. As imagens de Orfeu e Narciso



IX. A dimensão estética



X. A transformação da sexualidade em Eros



XI. Eros e Thanatos



Epílogo: Crítica do revisionismo neofreudiano



Obras de Freud citadas no texto



in Mraxists Internet Archive

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Opinião de Carvalho da Silva (coordenador da CGTP)

Injustiça e empobrecimento


2011-07-02

O Governo PSD/CDS apresentou esta semana o seu programa, cujo cerne era já conhecido face à postura de engajamento às receitas da troika por parte dos dois partidos. Não se descortina neste programa um mínimo esforço na busca de políticas capazes de minorar o sacrifício, que se perspectiva de enorme violência para milhares e milhares de trabalhadores, de reformados e pensionistas, de pequenos empresários. O discurso do primeiro-ministro (PM) na Assembleia da República (AR) veio dar-nos mais sinais do que significa na sua concepção e propósitos, "ir mais além" que as medidas da troika.

Trata-se de um programa de empobrecimento generalizado dos portugueses, nas condições específicas de vida de cada um e, colectivamente, naquilo que a sociedade portuguesa regredirá no seu processo de desenvolvimento. E esse empobrecimento será causa e efeito de um proliferar de injustiças, gerando mais desigualdade e mais pobreza.

Ali está um forte ataque aos direitos laborais e sociais dos trabalhadores e dos cidadãos em geral; a flexibilização desmedida da legislação laboral e o aumento da precariedade; a perspectiva de mais algumas dezenas de milhares de despedimentos na Administração Pública; a subversão do sistema público de Segurança Social transformando-o num sistema de base assistencialista e caritativa; a "liberdade de escolha" na Saúde que conduzirá, inevitavelmente, a condições mínimas para os pobres e ao desenvolvimento da velha receita liberal de que quem quiser saúde (com qualidade) paga-a.

Cada trabalhador e trabalhadora e a maioria dos portugueses empobrece com os cortes na retribuição do trabalho, com o desemprego e o abaixamento da qualidade do emprego, com o aumento de impostos e os cortes nas pensões sociais.

O país empobrece colectivamente com a recessão económica, com o desemprego, com o empobrecimento individual de cada cidadão, com a fragilização dos serviços públicos fundamentais. Há que acrescentar os efeitos de empobrecimento colectivo resultante da "reestruturação do sector empresarial do Estado" e do programa de privatizações.

A pobreza de hoje, em sociedades democráticas, não é apenas o resultado de fragilidades no plano económico. É, em grande parte, a ausência de direitos sociais e laborais.

A este propósito refira-se que o Governo (discurso do PM) anuncia um "Programa de Emergência Social" para "vir em socorro daqueles que mais precisam": "as crianças e os idosos, as mulheres com filhos a seu cargo, os desempregados que viram cessar o subsídio de desemprego e não encontram trabalho, as pessoas com deficiências". Este programa é uma peça do ataque ao sistema universal e solidário da Segurança Social.

Estamos de acordo em proteger os mais frágeis, mas nesta proposta a generalidade das pessoas referidas surgem já excluídas do acesso a direitos sociais fundamentais que lhes davam dignidade, protecção e responsabilização. É uma nova situação de exclusão e, como "o pobre tem má reputação", até identificarão umas actividades para o obrigar a "serviço cívico" e uns serviços de fornecimento de roupas e alimentos para que esses marginalizados não estraguem o dinheiro da caridade.

A esquerda social e política não pode ter atitudes condescendentes face a este programa.

No seu discurso, o PM disse que "uma sociedade aberta e democrática é também uma sociedade onde a economia sabe representar as aspirações de quem trabalha, de quem investe, de quem faz planos para a sua vida", sendo preciso "associar a democracia representativa a uma economia representativa". Tendo presente as concepções do Governo sobre a economia (tudo nas mãos do privado e das leis do mercado), sabendo-se que o trabalho tem outras dimensões para além da económica e, acima de tudo, que a democracia é política, social e cultural, estamos perante uma afirmação subversiva do conceito de democracia.

Acrescente-se uma boa observação sobre as concepções e propostas do Governo no que se refere à educação e ao ensino, à cultura, ao papel do Estado e não restam dúvidas quanto à necessidade de se construir caminhos alternativos

in Jornal de Notícias

quarta-feira, 6 de julho de 2011

HENRI WALLON (Psicologia)

Henri Wallon


1870 - 1962



"‘Foi a dialética que forneceu à Psicologia sua estabilidade e seu significado, e que a libertou de ter de optar entre o materialismo elementar ou o idealismo choco, o substancialismo cru ou o irracionalismo desesperado. Com o auxílio da dialética a Psicologia pode ser simultaneamente uma ciência natural e uma ciência humana, abolindo a divisão entre a consciência e as coisas que o espiritualismo buscou impor ao universo. A Dialética Marxista permitiu à Psicologia compreender o organismo e seu ambiente em interação constante, como uma totalidade unificada. E finalmente, na Dialética Marxista, a Psicologia encontra uma ferramenta para explicar os conflitos nos quais o indivíduo tem que evoluir seu comportamento e desenvolver sua personalidade."

Psicologia e Materialismo Dialético.



Nasceu na França. Formado em filosofia e medicina. Em 1925 inicia um período de intensa produção com todos os livros voltados para a psicologia da criança. Em 1931 viaja para Moscovo e passa a integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo de intelectuais interessados em aprofundar o estudo do materialismo dialético e de examinar as possibilidades por ele oferecidas aos vários campos da ciência. Em 1942, filiou-se ao Partido Comunista Francês.
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Psicologia e Materialismo Dialético


Henry Wallon

1942



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Escrito: 1951.

Fonte: "Psychologie et materialisme dialectique" in The World of Henri Wallon.

Editor: Jason Aaronson 1984.

Tradução de: Nilson Dória para o Marxists Internet Archive, Julho de 2004.

HTML por José Braz para o Marxists Internet Archive, Novembro de 2004.


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A Psicologia é uma ciência? Esta pergunta foi colocada freqüentemente pelos teóricos burgueses. Ela tem dois possíveis significados: a Psicologia tem um objeto correspondente no mundo real? O objeto da Psicologia é compatível com o determinismo científico?

Auguste Comte, o pai do positivismo, respondeu à primeira pergunta negativamente. Para ele o indivíduo não era mais que um ser biológico cujo estudo era de propriedade da Fisiologia, e um ser social, explicável coletivamente pela Sociologia - dois determinismos nos quais a pessoa humana é reduzida a nada.

A segunda resposta é aquela de Bergson e seus adeptos e, em nossos dias, dos existencialistas. A ciência, eles sustentam, é uma coleção de construtos que bem pode ter uma certa utilidade prática mas que distorce, adultera, e perverte a realidade. A realidade é o imediatamente experimentado, ou vivido, por cada pessoa; a percepção, nos revelando a nós mesmos, também revela o mundo a nós. O universo que nós nos imaginamos capazes de reconstruir com base nesta percepção não seria mais que uma coleção de sistemas arbitrários que sufocam nossa espontaneidade. Deste modo, nós somos alienados de nossa liberdade. A única verdade é aquela que expressa a essência de nosso ser - quer dizer, a perpétua, imprevisível, única, e incomparável recorrência de impressões, sentimentos, ou imagens que aparecem em uma sucessão interminável em nossa consciência. Como esta sucessão engana qualquer forma de determinismo, o irracional se torna a fundação mesma da existência. Em nome da liberdade absoluta, cada pessoa é abandonada ao destino- um destino ligado, bem entendido, ao ser particular de cada um, mas nem por isso menos inevitável. Esta posição também insinua um tipo de participação passiva na existência das coisas que emanam da nossa própria existência- um tipo de responsabilidade desamparada e terrível por tudo aquilo poderia ser o resultado de nossas ações sob as quais nós não temos nenhum controle definitivo. Estas conseqüências desesperadoras do existencialismo foram desenvolvidas particularmente pelo escritor francês Sartre. Elas são uma indicação da auto-negação do declínio da classe burguesa e evidência de sua decadência final. A auto-negação é relacionada a idéias de grandeza: na patologia da mente, entram sempre de mãos dadas idéias de negação pessoal e grandeza pessoal.

A característica comum à concepção positivista e à existencialista é a noção da ineficácia do indivíduo, esmagado debaixo das necessidades duais da ordem natural e da ordem social, dotado de uma certa grandeza com respeito ao universo, mas sem poder mudá-lo. Embora o indivíduo o contenha e o contemple, ele também é governado por este universo e não pode intervir sobre ele como uma força ativa dentre todas as outras forças das quais o universo está composto. As pretensões do individualismo burguês se afundam assim finalmente em uma impotência absoluta.

Estas implicações derivam consistentemente das duas falhas expostas por Lênin (Materialismo e Empiro-criticismo) da concepção burguesa de ciência que às vezes é mecanicista às vezes idealista, e às vezes as duas coisas. O mecanicismo retrata o mundo, no final das contas, como redutível a elementos e efeitos básicos e invariáveis, a leis eternas que não permitem nem a mudança, nem a novidade, nem o progresso, e a uma necessidade inelutável de previsibilidade de qualquer evento por uma inteligência abrangente o bastante para contemplar o universo em sua totalidade. O idealismo postula que a cognição subordina a realidade a ela, que a consciência existe antes de matéria, concebe o pensamento como princípio da existência, buscando destarte acorrentar o mundo a suas definições e assim conter as revoluções em uma bolha. A afirmação de um mundo que basicamente é sempre idêntico a si mesmo é o ponto ao qual mecanismo e idealismo convergem.

Este conceito estático de ciência e do universo é contrabalançado por uma distinção específica entre as várias disciplinas de conhecimento e entre seus objetos diversos. Porém, Marx e Engels insistiram no aspecto provisório destas distinções, enquanto as vendo somente como dependentes das limitações de nossa inteligência e dos meios técnicos a nossa disposição para explorar realidade. Realmente, o desenvolvimento e interpenetração das ciências os confirmaram. No entanto, há certos obstáculos que atualmente permanecem e ainda parecem insuperáveis. Assim, a Psicologia às vezes é classificada como um subproduto da Biologia e às vezes como a ante-sala das ciências humanas. Para muitos, a diferença de natureza entre a Biologia e as ciências humanas parece criar um abismo intransponível entre elas. Por causa deste seu caráter ostensivamente híbrido, a Psicologia é considerada freqüentemente como sendo de valor científico desprezível. Mas porque pode unir dois domínios que as metafísicas reacionárias ainda mantêm opostos, a Psicologia se reveste de uma relevância extrema para a dialética.

O centésimo aniversário do nascimento de Pavlov forneceu uma ocasião para que os estudiosos soviéticos demonstrassem toda extensão dialética de seu trabalho. Por muito tempo, a Psicologia tinha sido considerada puramente mecanicista. Pavlov pôde elaborar reflexos condicionados pela mera justaposição temporal de estímulos. Porém, ele notou que o seu método foi além dos métodos da Fisiologia tradicional que estudava o organismo a função por função - circulação, digestão, etc. - cada uma com suas reações específicas e estímulos igualmente específicos. Na realidade, o próprio Pavlov seguiu a mesma linha em seus estudos iniciais. Mas com o reflexo condicionado, não só as barreiras interfuncionais foram transcendidas, mas a atividade funcional também foi integrada ao ambiente. Entre o estímulo específico e a reação funcional esperada são enxertados outros estímulos que podem pertencer a qualquer domínio de qualquer atividade relacional.

Esta é a conseqüência de mais longo alcance daquilo que Pavlov chamou atividade nervosa superior que teria lugar no córtex cerebral- onde conexões são estabelecidas entre todo aspecto da vida do organismo e todos os estímulos que do exterior podem vir a incidir sobre ele. Atividade nervosa superior é inerente à organização do sistema nervoso: não é uma atividade adicional ou suplementar; ao contrário, é essencial e integral. Surge da união indissociável entre organismo e ambiente e fornece ao organismo sistemas de sinais que permitem-no responder adequadamente a todas as circunstâncias. Porque o ambiente ao qual o organismo tem que responder não é só o ambiente físico, mas também o ambiente do qual cada organismo depende para sua existência. Para o homem, o ambiente é aquele criado através de sua atividade e no qual é imerso desde o nascimento-o ambiente social.

Mas nestas interações, entre o organismo e o ambiente, sempre sob o controle seletivo da atividade nervosa superior, o biológico não é completamente distinto do social. A inter-relação dos dois é primária e fundamental. Não é mais válido determinar as propriedades dos dois separadamente de acordo com suas naturezas particulares. Os processos se dão de forma tal que os dois, o biológico e o social, são componentes complementares. Estas substituições: processos em lugar de propriedades, atos no lugar de substâncias, são precisamente a revolução que dialética provocou em nossos modos de cognição.

A interação recíproca entre o organismo e o ambiente também é incompatível com o mecanicismo e o idealismo em todas suas formas. É impossível ajusta-la à estrutura relacional geralmente dedutiva que mecanicismo busca estabelecer entre os elementos e suas diversas combinações. Os encontros entre o organismo e seu ambiente demandam respostas que não podem ser preditas com base nos elementos somente, porque eles devem ser freqüentemente adaptados a situações acidentais e conseqüentemente devem ser forçados a evoluir para novas formas de comportamento.

Esta reciprocidade de interação também é oposta ao idealismo que procura subordinar o mundo real à consciência porque, ao contrário do que o idealismo postula, a consciência não pode fixar a ordem dos eventos que a confrontam e determinam, ou guiam, suas respostas. Finalmente, o materialismo dialético é oposto ao existencialismo e a seu indeterminismo essencial, porque, na realidade nossa vida mental é perpetuamente condicionada pelas situações nas quais está engajada, estejam elas de acordo com suas próprias tendências ou contrárias a elas.

As relações entre o organismo e o ambiente são ainda mais enriquecidas pelo fato do próprio ambiente não ser imutável. Uma mudança no ambiente pode resultar ou na extinção ou na transformação dos organismos que existem em seu interior.

Então, se torna o papel dos diversos ambientes, na medida de suas diferenças, evocar ou trazer à tona capacidades inatas diferentes, já potencialmente presentes, em uma espécie ou em indivíduos. Assim, na história do gênero humano a sucessão de diferentes civilizações deu origem às diversas formas de atividade. O materialismo histórico expande e coroa o materialismo de dialético. Transformando suas condições de vida, o homem se transforma. As técnicas modernas, para serem entendidas, desenvolvidas, e, freqüentemente, até mesmo aplicadas, requerem um conhecimento de fórmulas abstratas, sistemas simbólicos nos quais as imagens perceptuais do mundo real são substituídas por pistas que designam operações a serem executadas ao nível do que Pavlov nomeou segundo sistema de sinais - sistema no qual o sinal ou estímulo condicionado não é mais uma sensação, mas a palavra, e os substitutos ainda mais abstratos para as próprias palavras: os símbolos matemáticos.

Na atividade humana a linguagem serviu como o instrumento de uma transformação que modificou gradualmente a fala que passou de uma atividade puramente muscular para uma atividade teórica, requerendo uma reorganização das operações cerebrais. Isto não significa, contudo, que o novo tipo atividade substituiu o primeiro.

Através da linguagem, a esfera conceitual adquiriu organização e estrutura baseadas em sistemas estáveis, coerentes, e lógicos. Nossas impressões e ações em sua maior parte encaminham-se para, ou procedem desta esfera. Mas embora as governe, não as abole. Sob a dimensão conceitual (representacional) do pensamento ainda se encontram os gestos e as ações que parecem caracterizar o pensamento representacional em crianças ou em deficientes mentais, e que supre o pensamento representacional de seus primeiros contornos primários na forma de rituais ou ritos (Wallon 1942). Os rituais de povos primitivos normalmente utilizam tremendos recursos emocionais que são dissipados quando a imagem intelectual emerge em seu lugar. A reflexão intelectual refreia a agitação emocional. Mas a emocionalidade persiste. Quando mantida dentro de seus limites, pode agir como um estimulante; mas quando assume o controle restringe ou distorce a reflexão. Assim, essas atividades opostas entram em conflito, apesar de uma sempre poder dar origem à outra. Estas afinidades e oposições são consoantes com as leis da dialética Marxista.

Foi a dialética que forneceu à Psicologia sua estabilidade e seu significado, e que a libertou de ter de optar entre o materialismo elementar ou o idealismo choco, o substancialismo cru ou o irracionalismo desesperado. Com o auxílio da dialética a Psicologia pode ser simultaneamente uma ciência natural e uma ciência humana, abolindo a divisão entre a consciência e as coisas que o espiritualismo buscou impor ao universo. A Dialética Marxista permitiu à Psicologia compreender o organismo e seu ambiente em interação constante, como uma totalidade unificada. E finalmente, na Dialética Marxista, a Psicologia encontra uma ferramenta para explicar os conflitos nos quais o indivíduo tem que evoluir seu comportamento e desenvolver sua personalidade.

A Psicologia de forma alguma está sozinha nesse respeito. O Materialismo de Dialético é pertinente a todo domínio de conhecimento, como também a todo domínio de ação. Mas a Psicologia, a fonte principal das ilusões antropomórficas e metafísicas, deve, mais que qualquer outra ciência, encontrar no materialismo dialético sua base e princípios-guia.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

GYORGY LUKÁCS (Filósofo húngaro)

Velha e Nova Cultura


György Lukács

1920



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Escrito: 1920.

Primeira Edição: Publicado originalmente em 1920 na revista Kommunismus, nº 43.

Fonte da Presente Tradução: texto publicado em "Revolución y Antiparlamentarismo", Ediciones Pasado y Presente, México, 1978.

Transcrição de: Biblioteca Virtual Revolucionária.

HTML por José Braz para Arquivo Marxists na Internet.

A característica principal da organização social capitalista deveria ser buscada então no fato de que a vida econômica deixou de ser um instrumento para a função vital da sociedade e se colocou no centro: se converteu em fim em si mesmo, o objetivo de toda a atividade social. A primeira conseqüência, e a mais importante, é a transformação da vida social em uma grande relação de troca; a sociedade em seu conjunto tomou a forma de mercado. Nas distintas funções da vida, tal situação se expressa no fato de que cada produto da época capitalista, como também todas as energias dos produtores e dos criadores, reveste a forma de mercadoria. Cada coisa deixou de valer em virtude de seu valor intrínseco (por exemplo, valor ético, valor artístico): tem valor unicamente como coisa vendável ou adquirível no mercado. Tudo o que este realizou destrutivamente sobre toda a cultura - expressando-se esta seja em atos, em criações de obras de arte, ou em instituições - é algo que não exige análises ulteriores. Da mesma maneira que a independência dos homens das preocupações de sustento e a livre utilização de suas próprias forças como fim em si são a condição humana e social preliminar da cultura, assim tudo o que a cultura produz pode ter valor cultural autêntico só quando tem valor para si. No momento em que assume o caráter de mercadoria e entra no sistema de relações que o transforma em mercadoria, cessa ainda sua autonomia, a possibilidade da cultura.




Mas em outro ponto o capitalismo corroeu nas raízes a possibilidade social da cultura. Este ponto está constituído por sua relação com a fabricação dos produtos culturais. Já vimos: do ponto de vista do produto, a cultura é impossível quando os produtos não levam em si seu fim. Do ponto de vista das relações entre produto e produtor, a cultura é possível só onde o surgimento do produto constitui - com relação a seu criador - um processo unitário, em si acabado. Ou seja, um processo cujas condições dependem da possibilidade e das ações humanas do criador. O exemplo característico para um processo de tal caráter é a obra de arte, onde o nascimento da obra é, definitivamente, em sua integridade, resultado da atividade do artista e onde a peculiaridade da obra está determinada pelas qualidades individuais do artista. Nas épocas pré-capitalistas este espírito artístico dominou toda indústria. A impressão do livro era em essência tão pouco distinta de escrevê-lo como a pintura de um quadro o era da fabricação de uma mesa (em relação ao caráter humano do produto). Pelo contrário, a produção capitalista não só tira do trabalhador a propriedade do meio mas também que, por conseqüência da divisão do trabalho, mais fortemente especializado, fragmenta o processo de fabricação em partes, nenhuma das quais é tal que origine algo significativo, em si e para si acabado. Não existe trabalho singular que não esteja em ligação imediata e perceptível com o produto terminado; esse processo tem um sentido somente para o cálculo abstrato do capitalista; só enquanto mercadoria está dotado de sentido. Ao se estender a indústria intensifica-se mais ainda a inumanidade dessa relação. Na divisão do trabalho que existe dentro da manufatura, mesmo sendo o processo de fabricação sumamente fragmentado e despedaçado, a qualidade das partes singulares do produto dependia sem dúvida das atitudes físicas e espirituais do trabalhador; enquanto que na indústria desenvolvida toda relação entre produto e produtor foi suprimida. Nela, então, o processo produtivo depende definitivamente das possibilidades das máquinas; o homem serve a máquina, se adapta a ela; a produção se torna completamente independente das possibilidades e atitudes humanas do trabalhador.[2]



Junto a essas forças que destróem a cultura e que nós consideramos até aqui do ponto de vista do produto e do produtor singular e isolado, no capitalismo atuam ainda outras similares as primeiras. Podemos observar a mais importante quando consideramos o nexo recíproco dos produtos. A cultura das épocas pré-capitalistas era possível graças à relação de continuidade em que se encontravam os produtos culturais singulares: um produto levava adiante o problema colocado por outro, e assim sucessivamente. A cultura em seu conjunto delineava portanto uma determinada continuidade de desenvolvimento lento e orgânico. Assim era possível que em cada campo se afirmasse uma cultura coerente, unívoca e entretanto original; uma cultura cujo nível superava também em muito o nível mais alto alcançável através de atos individuais, isolados. Enquanto revolucionou o processo produtivo, enquanto tornou permanente este caráter revolucionário através do caos da produção, o capitalismo suprimiu a continuidade e a organicidade da velha cultura. Por um lado, a revulocionarização da produção significa, para a cultura, que o processo produtivo se origina de contínuos momentos que influem de maneira decisiva sobre a marcha e o modo da produção, sem que isso se ligue logo de maneira alguma com a essência do produto - uma obra como fim em si - (é assim que na indústria, na arquitetura desaparece a autenticidade do material). Por outro lado, como conseqüência do produzir-para-o-mercado (sem o qual a revolução constante da produção seria inimaginável) vem à luz na fabricação do produto tudo o que é mera novidade, o elemento sensacional e caduco, sem consideração alguma pelo problema da contribuição ou perda do autêntico, íntimo valor do produto. O reflexo cultural desse caráter revolucionário é o fenômeno que habitualmente chamamos moda. Moda e cultura configuram por suas essências conceitos que se excluem reciprocamente. O domínio da moda significa que a forma e a qualidade dos produtos postos no mercado mudam a breve prazo, independentemente da relação com a beleza e a finalidade. A essência desse mercado contém o fato de que dentro de determinados períodos devem ser fabricados novos objetos, de modo que possam diferenciar-se radicalmente dos precedentes; de forma que, ao produzi-los, seja possível se basear sobre experiências recolhidas na produção precedente. Da rapidez do desenvolvimento resulta a impossibilidade de recolhê-las e senti-las; ou ninguém quer mais se basear nelas, pois a essência mesma da moda requer justamente o oposto ao velho. Assim desaparece lentamente todo desenvolvimento orgânico: aparece uma oscilação sem meta e um diletantismo vazio e ruidoso.

domingo, 3 de julho de 2011

LOUIS ALTHUSSER

Althusser, Louis


(1918-1990): Nasceu na cidade de Birmandrais, na Argélia, então colônia francesa, para onde parte das famílias de seus pais havia emigrado. Após cursar o ensino fundamental em Argel, Althusser vai em 1930 para a cidade francesa de Marselha, completando ali os seus estudos secundários. De 1936 a 1939 ele frequenta o Lycée du Parc de Lyon, no qual se prepara para o concurso de ingresso na École Normale Superieur (ENS) de Paris. Nesse período, Althusser era católico e militante da Jeunesse Étudiante Chrétienne. Em 1939 ele ingressa na ENS, mas antes mesmo de iniciar os seus estudos é mobilizado para lutar na Segunda Grande Guerra e cai prisioneiro dos alemães, permanecendo em um campo de concentração de 1940 a 1945. Após o conflito, passa então a estudar filosofia na ENS, na qual se formaria em 1948. Desde o período da guerra Althusser padece de sucessivas crises psíquicas, que o acompanharão por toda a sua carreira. A partir de 1948 assume o posto de "caiman" - professor encarregado de preparar os estudantes para os exames de agregation - na ENS. Este também é o ano em que Althusser ingressa no Partido Comunista Francês, tendo já há algum tempo deslocado-se de suas posições católicas anteriores para o marxismo. É no início dos anos sessenta, no entanto, que surgem os trabalhos mais importantes de Althusser - Pour Marx (A favor de Marx) e Lire Le capital (Ler O capital) - que, contrapondo-se à leitura dominante de Marx até então vigente, terão o efeito de uma verdadeira revolução teórica no campo marxista. Sua produção intelectual se estenderá até os anos 80, com retificações, aprofundamentos e o desenvolvimento de uma original teoria da ideologia e dos Aparelhos Ideológicos de Estado. Sempre sofrendo de crises psíquicas e passando por períodos de tratamento e convalescência, Althusser vive em 16 de novembro de 1980 o drama de ter causado involuntariamente, por estrangulamento, a morte de sua companheira, Hélène, em uma severíssima recaída na doença. Afasta-se, então, do trabalho acadêmico e da cena pública, mas continua a produção teórica imerso na solidão e na culpa. Daí resultarão a sua biografia, L'avenir dure longtemps (O futuro dura muito tempo), em que reconstitui a sua trajetória e a tragédia que se abateu sobre ele, assim como uma série de textos em que apresenta uma concepção nova do materialismo, recuperando o atomismo dos pensadores da Grécia antiga, por ele denominada de "materialismo aleatório" ou "materialismo do encontro", e na qual alguns veem uma ruptura com a sua concepção primeva, e outros uma continuidade com ela. Althusser veio a falecer no dia 22 de outubro de 1990, vítima de um ataque cardíaco.

A principal contribuição que Althusser deu à teoria marxista foi a crítica ao economicismo e ao humanismo que dominavam as leituras de Marx. Demonstrando a irremediável ruptura entre Hegel e Marx, Althusser oferece uma nova periodização da obra marxiana, distinguindo um período de juventude, ainda ideológico, não-marxista, um período de maturação, no qual Marx formula o corpo conceitual de sua teoria, mas ainda em parte prisioneiro da ideologia burguesa, e o período da maturidade, em que a teoria do materialismo histórico é fundada em bases científicas rigorosas. Assim, por meio do conceito de corte epistemológico, Althusser deixa ver na própria constituição da teoria marxista a emergência da problemática científica do interior do campo da ideologia e em luta com ele. A afirmação do caráter materialista da teoria de Marx, formada por um conjunto de conceitos científicos, como os de modo de produção, relações de produção, forças produtivas, ideologia, luta de classes, infraestrutura, superestrura, etc, vai se contrapor à interpretação do marxismo como um vago humanismo, ancorado na noção de homem e de seus "predicados", que remete ao direito burguês e à circulação mercantil, e que sustenta, portanto, os "valores" da própria ideologia burguesa dominante. Igualmente, Althusser rompe com a concepção de que para Marx o "motor" do processo social e histórico seria o desenvolvimento das forças produtivas, de tal sorte que um progresso linear em direção ao comunismo já estaria inscrito na história como destino inelutável. Rompendo com essa concepção teleológica e economicista, Althusser mostra que Marx, especialmente em O capital, sustenta o primado das relações de produção, abrindo a história para as incertezas da luta de classes. Dessa leitura de Marx, que põe no centro de sua concepção a luta de classes, Althusser recupera a noção de determinação em última instância do econômico, dando assim às instâncias da superestrutura uma eficácia própria que pode permitir a elas jogar o papel dominante na reprodução das relações sociais. A dialética marxiana, assim, é o contrário direto da dialética hegeliana, na qual a contradição se apresenta como o desdobramento de um princípio interno simples, ao passo que em Marx ela é sempre sobredeterminada, isto é, a contradição nunca se apresenta pura, mas como uma conjunção de determinações eficazes incidindo sobre um determinado objeto. Althusser criticou também a concepção de ideologia como falsa consciência, compreendendo-a como "uma representação da relação imaginária dos indivíduos com as relações de produção e com as relações delas derivadas", e lhe emprestando uma irredutível materialidade, tal como aparece no conceito de Aparelhos Ideológicos de Estado, que veio permitir que a concepção marxiana de Estado fosse ampliada e aprofundada.

Louis Althusser analisa o processo social como fenômeno objetivo, e não como o resultado da vontade de um sujeito. A sua intervenção teórica ao romper com os limites impostos pelas leituras hegelianas de Marx, põe em evidência a capacidade explicativa e transformadora do marxismo, constituindo, assim, entre as análises marxistas, uma referência importante para a luta dos trabalhadores contra o capital.

in Dicionário Político, Marxists Internet Archive

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Opinião- M. António Pina

Pelo andar da carruagem


00h56m


Há um provérbio popular que, devidamente adaptado, se pode aplicar com proveito a governos: "Pelo andar da política fiscal se vê quem vai lá dentro". Porque, sendo a política fiscal um instrumento de redistribuição da riqueza e do rendimento, ela espelha, mais do que nenhuma outra, o rosto de uma governação.

Como se propõe um governo obter recursos?; como se propõe redistribui-los?, são questões cujas respostas dizem quase tudo o que quisermos saber sobre esse governo mas tivermos vergonha de perguntar.

Com o corte de 50% dos subsídios de Natal, o novo Governo tenciona obter 800 milhões de euros, saídos (na verdade nem lá chegarão a entrar) dos bolsos de trabalhadores e reformados.


E para onde irá tanto dinheiro? Com mais 800 milhões poupados em "acomodações" na despesa do Estado que "o senhor ministro das Finanças detalhará nas próximas semanas" (preparemo-nos para o pior, designadamente para mais cortes nos apoios sociais e na saúde), servirá para compensar os 1 600 milhões que o Estado deixará de cobrar com a redução de 4% da TSU das empresas. O que é o mesmo que dizer que 50% dos subsídios de Natal dos trabalhadores e reformados, mais as "acomodações" ainda a anunciar, irão parar às contas bancárias dos empresários. Será reconfortante ver passar um Ferrari (pelo menos em regiões deprimidas como a do Vale do Ave) e imaginar que talvez uma porca de um daqueles pneus seja o nosso subsídio de Natal.

in Jornal de Notícias, 1 julho,2011

Dois Desaparecimentos simbólicos

Filipe Diniz
29.Jun.11

No governo PSD/CDS-PP o Trabalho e a Cultura desaparecem enquanto ministérios. Trata-se de um exorcismo simbólico relativo a duas áreas pelas quais a direita tem a maior aversão. Inutilmente, porque é decerto dessas áreas que sairá o mais radical combate contra a política da “troika”.

Na estrutura da próxima comissão executiva do programa da “troika” - o chamado governo PSD/CDS-PP – desapareceram várias áreas ministeriais. Duas têm um evidente significado simbólico: o Trabalho e a Cultura.

O Trabalho some-se - reduzido à designação de emprego na Economia (a parte menor), e de desemprego na Segurança Social (a parte maior) – correspondendo, nesse sentido, à perspectiva destruidora e recessiva do “memorando”.

A Cultura regressa ao estatuto de secretaria de Estado. Sobre essa matéria é bom clarificar quatro pontos.

O primeiro é que esse retrocesso confirma a conhecida aversão da direita pela cultura.

O segundo é que bem podem vir agora os responsáveis do PS lastimar este retrocesso. Foram os desastrosos governos Sócrates que lhe abriram caminho, com os orçamentos de miséria que aprovaram e com a reestruturação interna que empreenderam, cujo resultado foi um Ministério da Cultura provavelmente com menores meios e capacidade de intervenção do que a própria secretaria de Estado que o antecedeu.

O terceiro é que este retrocesso anuncia uma nova aceleração na desresponsabilização do Estado em relação à Cultura.

O quarto é que em toda a UE a Cultura tem sido devastada pelas medidas de “austeridade” comandadas pelo capital financeiro.

O responsável indigitado pela secretaria de Estado respondeu a um inquérito do jornal “Sol” (3.06.2011). O título escolhido pelo jornal é sintomático: “Libertar a Cultura do Estado”. O depoimento só não é igualmente claro porque, em diferentes matérias, manifesta bastante ignorância acerca do que está em causa. Mas o essencial fica dito e deve ter resposta desde já.

Se chegamos a 2011 com uma situação em que não existe área da Cultura que não atravesse uma gravíssima crise isso deve-se, não a “Estado a mais”, mas a anos de desresponsabilização do Estado e de mercantilização da Cultura.

Sem a responsabilização do Estado a Cultura fica entregue ao mercado. E o mercado exclui o direito à igualdade de todos no acesso à fruição e à criação cultural que a democracia reclama e a Constituição consagra.

No desaparecimento do Trabalho e da Cultura o governo PSD/CDS-PP dá um claro sinal da escalada antidemocrática que aí vem.

in ODiário.info

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