APONTAMENTOS
(De um artigo que está a ser publicado pela revista VÉRTICE, Lisboa)
O debate Modernidade versus pós-modernidade
Nos anos 80 do século passado abriu-se um intenso debate
sobre este título e tema. O livro do filósofo alemão Jürgen HABERMAS, O Discurso Filosófico da Modernidade
(Ver ed. Na Texto Editora) desempenhou o papel de protagonista principal. Por
essa altura Jean-François Lyotard aturdira meio mundo com o seu livro A Condição Pós-Moderna, inaugurando a
expressão “pós-modernidade” (a expressão “pós-modernismo”, nas artes, já
circulava anteriormente).
O segundo autor declarava o fim da Modernidade, isto é, do
conceito de Verdade, a nova modalidade de pensamento, o “relativismo”.
Entretanto, jogavam-se para fora, pelos seus discípulos sobretudo, valores
tidos antes como consensuais, tais como os valores herdeiros do Iluminismo.
Habermas entrou no debate com esse livro célebre, alicerçado
numa poderosa argumentação, defendendo que a Modernidade era um programa vivo
que esperava vir a ser cumprido, e ele, Habermas, propunha-se completá-lo com a
sua teoria da livre e racional comunicação inter-subjetiva.
A meu ver os valores criados pela burguesia revolucionária
dos séculos XVII e XVIII não foram respeitados, em grande parte, pela burguesia
que alcançou o poder absoluto a partir do século XIX, ou somente de modo
formal. Marx e Engels demonstraram, no Manifesto Comunista, o caráter
contraditório da Modernidade ( a “dialética da Modernidade”), ou seja, da
civilização burguesa. Havia, pois, que aceitar como conquistas históricas e
irreversíveis (no interesse dos trabalhadores e dos povos colonizados) os direitos
universais e as instituições democráticas populares (o sufrágio universal, por
exemplo). Tratava-se, agora, de reverter essas conquistas progressistas para as
mãos do proletariado e dos povos, subverter o Estado (burguês), abolir os
chamados “direitos naturais” enquanto instrumentos ideológicos que legitimavam
a exploração desenfreada dos “novos escravos” que se julgavam libertos.
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