Poderá Trump reparar a economia em 2017?
– Informação lixo e capacidade de julgamento lixo dominam o ocidente
por Paul Craig Roberts
O mundo ocidental e aquela parte do mundo que partilha as
explicações ocidentais vive num mundo ficcional. Vemos isto por
toda a parte para onde olhamos – nas alegadas maquinações da
Rússia para eleger Donald Trump presidente dos EUA; nas
afirmações de que Saddam Hussein e suas (não existentes)
armas de destruição em massa eram uma ameaça aos EUA (uma
nuvem em cogumelo sobre cidades americanas); que Assad da Síria
utilizava armas químicas contra o seu próprio povo; que o
Irão tem um programa de armas nucleares; que uns poucos árabes
sauditas burlaram a totalidade do serviços de inteligência dos
EUA, da UE e de Israel e assestaram a maior humilhação da
história humana à "única super-potência do
mundo"; que a Rússia invadiu a Ucrânia e poderia a qualquer
momento invadir os países bálticos e a Polónia; que a taxa
de desemprego dos EUA é de 4,6%; que o excedente comercial da China com
os EUA deve-se à manipulação da divisa chinesa; e assim
por diante.
Alegadamente vivemos numa era científica de informação, mas que bem pode decorrer de uma informação orquestrada defeituosa? Na medida em que falsas notícias apresentadas pelas presstitutas serve poderosos interesses privados e governamentais, como podemos saber a verdade acerca de alguma coisa?
Por exemplo: considere a afirmação encontrada por toda a parte em declarações do governo e dos media dos EUA de que o maciço défice comercial com a China resulta da manipulação da divisa chinesa, mantendo o yuan subvalorizado em relação ao US dólar.
Esta afirmação falsa, a qual é amplamente aceite como verdade mesmo por autores russos em sítios web russos ( www.strategic-culture.org/... (pegged) ao US dólar. Ela move-se com o dólar. Ao longo da última década a China ajustou a sua divisa ao dólar e permitiu uma ascensão do valor da divisa chinesa de 8,1 yuan para 6,9 yuan por US dólar. (O yuan alcançou uma força de 6 por dólar, mas um dólar em ascensão estava a alcançar o yuan, levando a China a ampliar a flutuação a fim de evitar uma apreciação indevida por causa da ascensão do US dólar em relação a outras divisas asiáticas e europeias.) Como uma ascensão do yuan pode ser "manipulação da divisa"? Não espere resposta dos media financeiros presstitutos ou dos economistas lixo que incluem os que professam a teoria económica neoliberal.
A função do mito da manipulação chinesa da divisa é ocultar o facto de que o maciço défice comercial dos EUA com a China deve-se às corporações estado-unidenses que deslocalizam para a China a sua produção destinada ao mercado estado-unidense. Quando corporações dos EUA trazem bens e serviços produzidos externamente para venda nos EUA, eles entram como importações, inchando portanto o défice comercial. O mito acerca da manipulação da divisa transfere para a China a culpa das corporações estado-unidenses, embora de facto seja o retorno de produção deslocalizada, tal como a dos computadores Apple, para venda a americanos que incha o défice comercial dos EUA.
As corporações dos EUA produzem no exterior porque os custos do trabalho muito mais baixos resultam em lucros mais altos, em preços de acções mais elevados para accionistas e em bónus de desempenho para executivos. Uma das causas principais para as altas médias do Dow Jones e da pioria do rendimento e da distribuição de riqueza nos EUA é a deslocalização de empregos. Em 2016 as pessoas mais ricas acrescentaram US$237 mil milhões à sua riqueza, ao passo que a subida em empréstimos a estudantes, empréstimos para automóveis e dívida em cartões de crédito combinadas com rendimento estagnado ou declinante deixou os americanos comuns mais pobres. Durante o século XXI, o endividamento familiar subiu de cerca de 70% do PIB para cerca de 80%. O rendimento pessoal não subiu de acordo com a dívida pessoal.
A deslocalização de empregos beneficia apenas um pequeno número de accionistas e executivos – e impõe custos externos maciços à sociedade americana. Antigos estados manufactureiros prósperos estão em depressão de longo prazo. Caíram os rendimentos reais medianos das famílias. Valores imobiliários em áreas manufactureiras abandonadas caíram. A base fiscal desgastou-se. Os sistemas de pensões dos governos estaduais e locais não podem atender às suas obrigações. A rede da segurança social está a desfazer-se.
Para se ter uma ideia dos custos externos que a deslocalização impõe à população americana vá à net e olhe as fotos da decrépita Detroit, antigamente uma potência industrial. Escolas e bibliotecas estão abandonadas. Edifícios públicos estão abandonados. Fábricas estão abandonadas. Lares estão abandonados. Igrejas estão abandonadas. Aqui está uma descrição num vídeo de 4 minutos: https://www.youtube.com/watch?v=pcTYqnL2Bgw
E não se trata só de Detroit. No meu livro, The Failure of Laissez Faire Capitalism (Clarity Press, 2013), informo dados do Censo de 2010 dos EUA. A população de Detroit, anteriormente a quarta maior cidade da América, declinou em 25 por cento na primeira década do século XXI. Gary, Indiana, perdeu 22 por cento da sua população. Flint, Michigan, perdeu 18 por cento. Cleveland, Ohio, perdeu 17 por cento. Pittsburg, Pennsylvania, perdeu 7 por cento. South Bend perdeu 6 por cento. Rochester, New York, perdeu 4 por cento. St. Louis, Missouri, perdeu 20 por cento. Estas cidades foram outrora o centro de poder da manufactura e da indústria americana.
Ao invés de contar a verdade, os media financeiros presstitutos e a corrupta profissão económica dos EUA ocultaram os maciços custos sociais e externos da deslocalização de empregos sob a afirmação totalmente falsa de que a mesma é boa para a economia. No meu livro, chamo à pedra serviçais corporativos tais como Matthew Slaughter de Dartmouth e Michael Porter de Harvard, os quais produziram com total incompetência ou conivência relatórios erróneos dos grandes benefícios para os americanos de terem os seus empregos dados a chineses e deixarem cidades americanas em ruínas.
Ao longo da sua história os EUA sofreram com mentiras públicas, mas não ao ponto a que chegaram os regimes de Clinton, George W. Bush e Obama em que as mentiras tornaram-se tão omnipresentes que a verdade desapareceu.
Considere o relatório do emprego de Novembro. Disseram-nos que a taxa de desemprego caiu para 4,6% e que nos EUA foram criados 178 mil novos empregos no mês de Novembro. A recuperação está em curso, etc. Mas o que são os factos reais?
A taxa de desemprego não incluiu trabalhadores desencorajados que foram incapazes de encontrar emprego e cessaram de procurar, o que é caro, exaustivo e desmoralizador. Por outras palavras, pessoas desempregadas estão a ser empurradas para a categoria dos desencorajados mais depressa do que podem encontrar empregos. Esta é a explicação para a baixa taxa de desemprego. Além disso, esta afirmada baixa taxa de desemprego é incompatível com a taxa declinante de participação da força de trabalho. Quando empregos estão disponíveis, as pessoas entram na força de trabalho a fim de aproveitar das oportunidades de emprego e a taxa de participação da força de trabalho sobe.
O relatado pelos presstitutos financeiros aumenta a fraude. Dão-nos o número de 178 mil novos empregos em Novembro. E assim é. Contudo, os dados divulgados pelo Bureau of Labor Statistics mostram aspectos problemáticos dos dados. Exemplo: só 9.000 dos apregoados 178 mil empregados são a tempo inteiro (definido como 35 horas por semana). Outubro assistiu a uma perda de 103 mil empregos a tempo inteiro em relação a Setembro. E Setembro teve menos 5.000 empregos a tempo inteiro do que Agosto. Ninguém explica como é que uma economia a perder empregos a tempo inteiro pode estar em recuperação.
A distribuição etária dos novos empregos de Novembro é perturbante. 77 mil dos empregos foram para aqueles com 55 ou mais anos de idade. Só 4 mil empregos foi para as idades de 25 a 34 anos, em que se constitui família.
O estado civil da distribuição dos empregos também é perturbador. Em Novembro houve menos 95 mil homens casados empregados com esposa presente e 74 mil menos mulheres casadas com esposo presente do que em Outubro. Em Outubro houve 333 mil menos homens casados e 87 mil menos mulheres casadas empregadas do que em Setembro.
Pode-se concluir destas grandes diferenças de mês para mês que as estatísticas oficiais não são boas, o que pode muito bem ser o caso. Exemplo: como enfatizei nos meus relatos sobre os comunicados mensais do emprego em folha de pagamento, há sempre um grande número de novos empregos para empregados de mesa e atendedores em bares. Mas o movimento em restaurantes declinou durante nove meses consecutivos. Por que restaurantes contratam mais empregados quando o movimento declina?
Como John Williams (shadowstats.com) nos informnou, os apregoados empregos em folha de pagamento mensal consistem inteiramente de acréscimos a partir de estimativas de um modelo enviesado de nascimentos/mortes e de manipulações de ajustamentos sazonais. Por outras palavras, os novos empregos relatados podem ser só ilusões estatísticas.
John Williams também enfatiza que os apregoados números do crescimento do PIB real podem ser inteiramente produtos da subestimação da inflação. Alguns anos atrás das medidas da inflação foram "reformadas" a fim de trapacear os ajustamentos da Segurança Social de acordo com o custo de vida. Em lugar de um índice ponderado que calculasse o custo de um padrão de vida constante, foi introduzida um substituto. No índice reformado, se o preço de um ítem no índice ascende, um ítem de preço mais baixo é substituído no seu lugar, negando assim o impacto inflacionário da subida do preço. Além disso, subidas de preços são definidas como "melhorias de qualidade". Claramente, isto é um índice concebido para subestimar a subida de preços.
No final das contas, a recuperação alegadamente a caminho desde Junho de 200 pode ser uma ilusão estatística produzida por uma medida enviesada da inflação.
O que os americanos podem esperar da economia em 2017? Primeiro, alguma perspectiva. A derrota da estagflação pela política do lado da oferta do presidente Reagan deu uma boa economia ao regime Clinton. A melhoria da economia dos EUA não foi totalmente uma coisa boa, porque ela mascarou as consequências adversas da deslocalização de empregos que começou a sério após o colapso soviético em 1991.
O colapso soviético encorajou a mudança de atitude dos governos indiano e chinês em relação ao capital estrangeiro. A Wall Street e grandes retalhistas como a Walmart forçaram a relocalização de grande parte da manufactura dos EUA para a China, que foi seguida após a ascensão da internet de alta velocidade pela deslocalização de empregos profissionais qualificados, como os de engenharia de software, para a Índia. Estas relocalizações da actividade económica dos EUA em locais estrangeiros esvaziaram a economia estado-unidense e reduziram as oportunidades de emprego para americanos.
O crescimento do rendimento da família real mediana cessou. Sem aumentos em gastos de consumo para impulsionar a economia, o Federal Reserve substituiu um crescimento na dívida do consumidor para [compensar] o crescimento faltante no rendimento real da família mediana. Mas o crescimento da dívida do consumidor é limitado pela falta de crescimento no rendimento do mesmo. Portanto, uma economia dependente da expansão da dívida está limitada na sua capacidade de expansão. Ao contrário do governo federal, o povo americano não pode imprimir dinheiro para pagar as suas contas.
Único entre aqueles a competirem por cargo político, o presidente eleito Trump apontou a deslocalização de empregos como uma desgraça para o povo e a economia americanas. Está para ser visto o que ele pode fazer quanto a isso, pois a deslocalização de empregos serve os interesses das corporações globais e dos seus accionistas.
Desde há muitos anos as informações de empregos em folha de pagamento mensal mostram que os EUA descem a um status de Terceiro Mundo, com a grande maioria dos apregoados novos empregos em serviços internos não comerciais de baixo pagamento. As projecções de emprego a 10 anos da BLS mostram poucos novos empregos que exijam um grau universitário. Se empregos de alto valor acrescentado e alta produtividade da classe média não puderem ser trazidos de volta para os EUA, o futuro económico americano é de declínio contínuo para o status de Terceiro Mundo.
Considerando os constrangimentos do consumidor, uma grande fatia de lucros corporativos veio da poupança no custo do trabalho com a deslocalização de empregos. Para corporações como a Apple, cujos produtos são quase totalmente produzidos em fábricas chinesas, não há mais lucros a serem garantidos com a exportação de empregos. Para manter os lucros a fluírem, a Apple planeia substituir o trabalho barato do trabalho chinês por robots, aos quais não se tem de pagar qualquer salário. O que mostra melhor a desconexão entre capital e trabalho do que robotizar fábricas chinesas diante de um excesso de oferta de trabalho?
O manual económico de Paul Samuelson ensinava a falácia da composição, o que é bom para o indivíduo por não ser bom para o grupo. Os economistas keynesianos aplicaram isto às poupanças. Poupar é bom para o indivíduo, mas se a poupança agregada excede o investimento, a procura agregada cai, destruindo rendimento, emprego e poupança.
Este é o caso com a deslocalização de empregos. Ela pode aumentar lucros para a firma, mas diminui o rendimento agregado da população e limita o crescimento das vendas. O que a deslocalização de empregos faz quanto a isto será feito em maior escala pela robótica.
Quando leio economistas as presstitutas financeira a glorificarem as poupanças de custos da robótica, pergunto-me onde está a sua mente ou se eles têm alguma. Robots não compram casa, mobiliário e electrodomésticos para casas, carros, alimentos, vestuário, férias, entretenimento. Quando robots tiverem os empregos, de onde os humanos obterão rendimentos para comprar os produtos produzidos por robots?
Esta questão não examinada tem extraordinárias implicações para os direitos de propriedade e a organização social da sociedade. As patentes robóticas não são amplamente detidas. Portanto, num mundo robotizado, rendimento e riqueza seriam concentrados nas mãos de umas relativamente poucas pessoas. Como a robótica aumenta lucros e reduz salários, a desigualdade económica aumentará drasticamente. Na verdade, haveria qualquer rendimento ou riqueza afinal de contas? O único meio com que humanos poderiam sobreviver à sua substituição por robots seria tornarem-se outra vez agricultores auto-suficientes em rendimento monetário para comprarem produtos fabricados por robots. Quando poucos seriam capazes de comprar produtos feitos pelos robots, qual seria a fonte de rendimento e riqueza para os proprietários da robótica?
É disparate que políticas monetárias e orçamentais macroeconómicas (tais como baixas taxas de juro e cortes fiscais) possam manter pleno emprego frente à exportação de empregos e à robótica. Estou convencido de que se a robótica está em vias de suplantar o trabalho humano, as patentes terão de ser socializadas e o rendimento distribuído numa base relativamente igual por toda a sociedade.
Assim, pode Trump consertar a economia em 2017?
Não há nada que possa ser consertado a menos que as escadas da mobilidade ascendente que fizeram os EUA uma sociedade da oportunidade possam ser repostas no lugar. Isto exigirá trazer de volta os empregos deslocalizados da classe média ou, assumindo que novos empregos de alto valor acrescentados pudessem ser criados, impedir estes novos empregos de serem transferidos para fora.
Há um meio de fazer isto. É basear a taxa fiscal corporativo sobre a localização geográfica onde corporações acrescentam valor ao seu produto. Se corporações acrescentam valor internamente com trabalho estado-unidense, a taxa fiscal seria baixa. Se o valor é acrescentado no exterior, a taxa fiscal seria elevada. A taxa fiscal pode ser ajustada para compensar os benefícios de custos mais baixos no estrangeiro.
Apesar da propaganda acerca de globalismo e livre comércio, a economia dos EUA foi construída sobre a protecção e a sua força era o mercado interno. A prosperidade dos EUA nunca esteve dependente de exportações. E como o US dólar e a divisa de reserva mundial, os EUA não precisam exportar a fim de pagar pelas suas importações. Eis porque os EUA podem tolerar os défices comerciais causados pela deslocalização de empregos.
O globalismo é um cozinhado feito pelos economistas lixo neoliberais em cumplicidade com os grandes bancos, a Wall Street e corporações multinacionais. O globalismo é um disfarce para a exploração dos muitos em proveito dos poucos. Os alegados benefícios do globalismo foram utilizados para justificar a deslocalização de empregos e enriquecer executivos e accionistas de corporações.
É a economia interna que é importante, não a economia global. A população sofredora nas áreas centrais da América finalmente aprendeu esta lição e elegeu Trump.
Pode Trump por no roteiro "A fuga do globalismo?" Ele poderia perder o combate. O globalismo foi institucionalizado. As grandes corporações que deslocalizaram a sua produção para mercados dos EUA opor-se-iam aos movimentos contra a deslocalização de empregos. Assim como todos os seus serviçais na profissão económica e nos media financeiros. Não sei a medida em que o globalismo se enraizou nas mentes dos povos da Ásia, África e América do Sul, mas na Europa – mesmo na Rússia de Putin – povos são doutrinados (brainwashed) na crença de que não podem sair do globalismo sem pagar um enorme preço económico.
GREGOS E PORTUGUESES
Considere por exemplos os gregos. Para benefício dos balanços de um punhado de bancos europeus do norte (e talvez dos EUA), os povos grego e português são forçados a austeridade extrema, resultando em tão alto desemprego e queda livre de padrões de vida que mulheres têm sido obrigadas a prostituírem-se a fim de sobreviver. Esta consequência totalmente desnecessária verificou-se porque os povos e governos grego e português estão com os cérebros tão lavados que acreditam não poderem sobreviver como países independentes sem o globalismo e entrada para o globalismo providenciada pela condição de membro da UE. No Reino Unido, 45% da população sofre da mesma concepção errada.
O globalismo é a técnica mais recente pela qual o capitalismo saqueia e destrói. No mundo ocidental são as classes trabalhadoras e médias que são saqueadas dos seus empregos e carreiras. Na Ásia, África e América Latina comunidades agrícolas auto-suficientes são saqueadas da sua terra e forçadas à monocultura como trabalhadores que produzem cultivos de exportação. Países antigamente auto-suficientes em alimentos tornaram-se dependente de importações alimentares e as suas divisas, que arcam com esse fardo, são sujeitas à especulação e manipulação infindável.
Foi a ignorância universal ou os subornos que obrigaram governos por toda a parte a entregar suas populações ao globalismo?
Jornalistas de vanguarda, tais como Chris Hedges, que viram e relataram um bocado, concluíram que o destino do mundo está em tão poucas mãos que actuam apenas no seu estreito auto-interesse que unicamente a revolução pode corrigir o desequilíbrio entre o interesse de um punhado de oligarcas e a massa da humanidade. A posição de Hedge não é fácil de contestar.
Trump, ao descer dentro do poço de serpentes que é Washington, DC, precisa recordar o que aconteceu ao presidente Jimmy Carter. De facto, a melhor coisa que Trump pode fazer para a sua presidência é passar algum tempo com Carter antes de tomar posse.
Carter era um homem de fora, uma pessoa de princípios, e o establishment de Washington não o queria. Eles reduziram a sua eficácia ao tramarem seu director do orçamento e seu chefe de equipe. O mesmo pode acontecer a Trump, assumindo que ele é capaz de conseguir que seus nomeados sejam confirmados pelo Senado, mas membros do mesmo estão aliados à CIA contra Trump.
Reaganistas tiveram uma experiência semelhante na administração Reagan. Este tinha experiência política como governador da Califórnia, o maior estado, mas ele era um estranho ao establishment republicano, cujo candidato para a nomeação presidencial era George H.W. Bush.
Reagan derrotou Bush na nomeação, mas foi aconselhado pelos republicanos, os quais recordavam o massacre de Goldwater quando as forças de Rockefeller voltaram-se contra ele por não escolher o derrotado Rockefeller como seu companheiro para a vice-presidência, o que custou a eleição a Goldwater, ao escolher Bush como vice-presidente. Do contrário, Reagan descobrir-se-ia, tal como Goldwater, a correr contra os establishments tanto democrata como republicano.
O primeiro mandato de Reagan verificou-se com o principal operacional de George H.W. Bush como chefe de equipe da Casa Branca. Isto confrontou-me com problemas como secretário assistente do Tesouro para Política Económica, onde eu era o ponta de lança para a política económica do lado da oferta de Reagan.
Ambos os establishments político-partidários estão mais interessados em controlar o partido do que em fazer bem para o país. Durante os quatro anos do presidente Carter, a principal preocupação do establishment democrata foi recuperar controle do partido às forças que haviam enviado um estranho para a Casa Branca. Durante os oito anos de Reagan, a principal preocupação do establishment republicano era recuperar o controle do Partido Republicano aos reaganistas.
É provável que Trump agora experimente em grande escala o que os presidentes Carter e Reagan experimentaram. O esforço será feito no sentido de forçá-lo a compromissos e neutralizar a sua agenda. Ironicamente, este ataque determinado a Trump está a ser ajudado pela esquerda, forças progressistas que se preparam para ganhos [políticos] pelo interesse de Trump em favor das classes trabalhadora e média e da paz com a Rússia. Muitos dos sítios web liberais, progressistas e de esquerda já estão a solicitar doações a fim de combater contra Trump.
Assim, mesmo quando conseguimos um presidente que pode tentar representar os interesses do povo americano, aqueles que dizem falar a favor do povo juntam-se aos oligarcas no ataque a Trump. O lado esquerdo do espectro parece sempre, como o lado direito, acatar seus odiados. Trump é um bilionário = odiado. Trump nomeou um magnata da energia = odiado. Trump nomeou dois generais de três estrelas = belicista e mais odiado.
Os liberais, progressistas e de esquerda não podem transcender seus espantalhos. Naturalmente, eles podem estar correctos. Entretanto, como tenho enfatizado, Trump escolheu independentes que se têm manifestado contra o establishment. Além disso, trata-se de homens fortes, como Trump, o que dá trabalho para deitar abaixo. O presidente da Exxon quer negócios de energia, não a guerra, com a Rússia. O gen. Flynn é um dos que revelou na televisão que Obama utilizava o ISIS para derrubar a Síria contra a recomendação da Defense Intelligence Agency. O gen. Mattis foi um dos que contestou a eficácia da tortura.
Os principais nomeados de Trump são pessoas que desafiaram o Establishment. A variedade habitual de nomeados aprovados pelo establishment não pode provocar mudança em Washington.
Os liberais, progressistas e de esquerda deveriam estar felizes com a perspectiva de um governo com gente de fora do Establishment. Ao invés disso, os liberais, progressistas e de esquerda alinharam-se com o Establishment na oposição a Trump.
Todos os dias recebo meia dúzia de pedido de doações para "ajudar-nos a combater Donald Trump". O que é que estas pessoas pensam? Por que querem combater alguém a que todo o establishment político dos EUA se opõe? O que elas deveriam tentar em primeiro lugar é obter a confiança de Trump e ganhá-lo para a sua agenda, como fez o general Mattis.
Não posso assegurar-lhe que Trump não é um outro falsário como Obama. Mas é um erro começar com esta suposição. Por que cancelar antecipadamente a única pessoa com a coragem para por a sua vida em risco e enfrentar o corrupto e perverso establishment de Washington?
Por que ajudar o Establishment a derrotar Trump? Se Trump trair americanos, podemos voltar-nos então contra ele, ou podemos decidir se Chris Hedges está correcto em que só a revolução pode rectificar esta situação.
Alegadamente vivemos numa era científica de informação, mas que bem pode decorrer de uma informação orquestrada defeituosa? Na medida em que falsas notícias apresentadas pelas presstitutas serve poderosos interesses privados e governamentais, como podemos saber a verdade acerca de alguma coisa?
Por exemplo: considere a afirmação encontrada por toda a parte em declarações do governo e dos media dos EUA de que o maciço défice comercial com a China resulta da manipulação da divisa chinesa, mantendo o yuan subvalorizado em relação ao US dólar.
Esta afirmação falsa, a qual é amplamente aceite como verdade mesmo por autores russos em sítios web russos ( www.strategic-culture.org/... (pegged) ao US dólar. Ela move-se com o dólar. Ao longo da última década a China ajustou a sua divisa ao dólar e permitiu uma ascensão do valor da divisa chinesa de 8,1 yuan para 6,9 yuan por US dólar. (O yuan alcançou uma força de 6 por dólar, mas um dólar em ascensão estava a alcançar o yuan, levando a China a ampliar a flutuação a fim de evitar uma apreciação indevida por causa da ascensão do US dólar em relação a outras divisas asiáticas e europeias.) Como uma ascensão do yuan pode ser "manipulação da divisa"? Não espere resposta dos media financeiros presstitutos ou dos economistas lixo que incluem os que professam a teoria económica neoliberal.
A função do mito da manipulação chinesa da divisa é ocultar o facto de que o maciço défice comercial dos EUA com a China deve-se às corporações estado-unidenses que deslocalizam para a China a sua produção destinada ao mercado estado-unidense. Quando corporações dos EUA trazem bens e serviços produzidos externamente para venda nos EUA, eles entram como importações, inchando portanto o défice comercial. O mito acerca da manipulação da divisa transfere para a China a culpa das corporações estado-unidenses, embora de facto seja o retorno de produção deslocalizada, tal como a dos computadores Apple, para venda a americanos que incha o défice comercial dos EUA.
As corporações dos EUA produzem no exterior porque os custos do trabalho muito mais baixos resultam em lucros mais altos, em preços de acções mais elevados para accionistas e em bónus de desempenho para executivos. Uma das causas principais para as altas médias do Dow Jones e da pioria do rendimento e da distribuição de riqueza nos EUA é a deslocalização de empregos. Em 2016 as pessoas mais ricas acrescentaram US$237 mil milhões à sua riqueza, ao passo que a subida em empréstimos a estudantes, empréstimos para automóveis e dívida em cartões de crédito combinadas com rendimento estagnado ou declinante deixou os americanos comuns mais pobres. Durante o século XXI, o endividamento familiar subiu de cerca de 70% do PIB para cerca de 80%. O rendimento pessoal não subiu de acordo com a dívida pessoal.
A deslocalização de empregos beneficia apenas um pequeno número de accionistas e executivos – e impõe custos externos maciços à sociedade americana. Antigos estados manufactureiros prósperos estão em depressão de longo prazo. Caíram os rendimentos reais medianos das famílias. Valores imobiliários em áreas manufactureiras abandonadas caíram. A base fiscal desgastou-se. Os sistemas de pensões dos governos estaduais e locais não podem atender às suas obrigações. A rede da segurança social está a desfazer-se.
Para se ter uma ideia dos custos externos que a deslocalização impõe à população americana vá à net e olhe as fotos da decrépita Detroit, antigamente uma potência industrial. Escolas e bibliotecas estão abandonadas. Edifícios públicos estão abandonados. Fábricas estão abandonadas. Lares estão abandonados. Igrejas estão abandonadas. Aqui está uma descrição num vídeo de 4 minutos: https://www.youtube.com/watch?v=pcTYqnL2Bgw
E não se trata só de Detroit. No meu livro, The Failure of Laissez Faire Capitalism (Clarity Press, 2013), informo dados do Censo de 2010 dos EUA. A população de Detroit, anteriormente a quarta maior cidade da América, declinou em 25 por cento na primeira década do século XXI. Gary, Indiana, perdeu 22 por cento da sua população. Flint, Michigan, perdeu 18 por cento. Cleveland, Ohio, perdeu 17 por cento. Pittsburg, Pennsylvania, perdeu 7 por cento. South Bend perdeu 6 por cento. Rochester, New York, perdeu 4 por cento. St. Louis, Missouri, perdeu 20 por cento. Estas cidades foram outrora o centro de poder da manufactura e da indústria americana.
Ao invés de contar a verdade, os media financeiros presstitutos e a corrupta profissão económica dos EUA ocultaram os maciços custos sociais e externos da deslocalização de empregos sob a afirmação totalmente falsa de que a mesma é boa para a economia. No meu livro, chamo à pedra serviçais corporativos tais como Matthew Slaughter de Dartmouth e Michael Porter de Harvard, os quais produziram com total incompetência ou conivência relatórios erróneos dos grandes benefícios para os americanos de terem os seus empregos dados a chineses e deixarem cidades americanas em ruínas.
Ao longo da sua história os EUA sofreram com mentiras públicas, mas não ao ponto a que chegaram os regimes de Clinton, George W. Bush e Obama em que as mentiras tornaram-se tão omnipresentes que a verdade desapareceu.
Considere o relatório do emprego de Novembro. Disseram-nos que a taxa de desemprego caiu para 4,6% e que nos EUA foram criados 178 mil novos empregos no mês de Novembro. A recuperação está em curso, etc. Mas o que são os factos reais?
A taxa de desemprego não incluiu trabalhadores desencorajados que foram incapazes de encontrar emprego e cessaram de procurar, o que é caro, exaustivo e desmoralizador. Por outras palavras, pessoas desempregadas estão a ser empurradas para a categoria dos desencorajados mais depressa do que podem encontrar empregos. Esta é a explicação para a baixa taxa de desemprego. Além disso, esta afirmada baixa taxa de desemprego é incompatível com a taxa declinante de participação da força de trabalho. Quando empregos estão disponíveis, as pessoas entram na força de trabalho a fim de aproveitar das oportunidades de emprego e a taxa de participação da força de trabalho sobe.
O relatado pelos presstitutos financeiros aumenta a fraude. Dão-nos o número de 178 mil novos empregos em Novembro. E assim é. Contudo, os dados divulgados pelo Bureau of Labor Statistics mostram aspectos problemáticos dos dados. Exemplo: só 9.000 dos apregoados 178 mil empregados são a tempo inteiro (definido como 35 horas por semana). Outubro assistiu a uma perda de 103 mil empregos a tempo inteiro em relação a Setembro. E Setembro teve menos 5.000 empregos a tempo inteiro do que Agosto. Ninguém explica como é que uma economia a perder empregos a tempo inteiro pode estar em recuperação.
A distribuição etária dos novos empregos de Novembro é perturbante. 77 mil dos empregos foram para aqueles com 55 ou mais anos de idade. Só 4 mil empregos foi para as idades de 25 a 34 anos, em que se constitui família.
O estado civil da distribuição dos empregos também é perturbador. Em Novembro houve menos 95 mil homens casados empregados com esposa presente e 74 mil menos mulheres casadas com esposo presente do que em Outubro. Em Outubro houve 333 mil menos homens casados e 87 mil menos mulheres casadas empregadas do que em Setembro.
Pode-se concluir destas grandes diferenças de mês para mês que as estatísticas oficiais não são boas, o que pode muito bem ser o caso. Exemplo: como enfatizei nos meus relatos sobre os comunicados mensais do emprego em folha de pagamento, há sempre um grande número de novos empregos para empregados de mesa e atendedores em bares. Mas o movimento em restaurantes declinou durante nove meses consecutivos. Por que restaurantes contratam mais empregados quando o movimento declina?
Como John Williams (shadowstats.com) nos informnou, os apregoados empregos em folha de pagamento mensal consistem inteiramente de acréscimos a partir de estimativas de um modelo enviesado de nascimentos/mortes e de manipulações de ajustamentos sazonais. Por outras palavras, os novos empregos relatados podem ser só ilusões estatísticas.
John Williams também enfatiza que os apregoados números do crescimento do PIB real podem ser inteiramente produtos da subestimação da inflação. Alguns anos atrás das medidas da inflação foram "reformadas" a fim de trapacear os ajustamentos da Segurança Social de acordo com o custo de vida. Em lugar de um índice ponderado que calculasse o custo de um padrão de vida constante, foi introduzida um substituto. No índice reformado, se o preço de um ítem no índice ascende, um ítem de preço mais baixo é substituído no seu lugar, negando assim o impacto inflacionário da subida do preço. Além disso, subidas de preços são definidas como "melhorias de qualidade". Claramente, isto é um índice concebido para subestimar a subida de preços.
No final das contas, a recuperação alegadamente a caminho desde Junho de 200 pode ser uma ilusão estatística produzida por uma medida enviesada da inflação.
O que os americanos podem esperar da economia em 2017? Primeiro, alguma perspectiva. A derrota da estagflação pela política do lado da oferta do presidente Reagan deu uma boa economia ao regime Clinton. A melhoria da economia dos EUA não foi totalmente uma coisa boa, porque ela mascarou as consequências adversas da deslocalização de empregos que começou a sério após o colapso soviético em 1991.
O colapso soviético encorajou a mudança de atitude dos governos indiano e chinês em relação ao capital estrangeiro. A Wall Street e grandes retalhistas como a Walmart forçaram a relocalização de grande parte da manufactura dos EUA para a China, que foi seguida após a ascensão da internet de alta velocidade pela deslocalização de empregos profissionais qualificados, como os de engenharia de software, para a Índia. Estas relocalizações da actividade económica dos EUA em locais estrangeiros esvaziaram a economia estado-unidense e reduziram as oportunidades de emprego para americanos.
O crescimento do rendimento da família real mediana cessou. Sem aumentos em gastos de consumo para impulsionar a economia, o Federal Reserve substituiu um crescimento na dívida do consumidor para [compensar] o crescimento faltante no rendimento real da família mediana. Mas o crescimento da dívida do consumidor é limitado pela falta de crescimento no rendimento do mesmo. Portanto, uma economia dependente da expansão da dívida está limitada na sua capacidade de expansão. Ao contrário do governo federal, o povo americano não pode imprimir dinheiro para pagar as suas contas.
Único entre aqueles a competirem por cargo político, o presidente eleito Trump apontou a deslocalização de empregos como uma desgraça para o povo e a economia americanas. Está para ser visto o que ele pode fazer quanto a isso, pois a deslocalização de empregos serve os interesses das corporações globais e dos seus accionistas.
Desde há muitos anos as informações de empregos em folha de pagamento mensal mostram que os EUA descem a um status de Terceiro Mundo, com a grande maioria dos apregoados novos empregos em serviços internos não comerciais de baixo pagamento. As projecções de emprego a 10 anos da BLS mostram poucos novos empregos que exijam um grau universitário. Se empregos de alto valor acrescentado e alta produtividade da classe média não puderem ser trazidos de volta para os EUA, o futuro económico americano é de declínio contínuo para o status de Terceiro Mundo.
Considerando os constrangimentos do consumidor, uma grande fatia de lucros corporativos veio da poupança no custo do trabalho com a deslocalização de empregos. Para corporações como a Apple, cujos produtos são quase totalmente produzidos em fábricas chinesas, não há mais lucros a serem garantidos com a exportação de empregos. Para manter os lucros a fluírem, a Apple planeia substituir o trabalho barato do trabalho chinês por robots, aos quais não se tem de pagar qualquer salário. O que mostra melhor a desconexão entre capital e trabalho do que robotizar fábricas chinesas diante de um excesso de oferta de trabalho?
O manual económico de Paul Samuelson ensinava a falácia da composição, o que é bom para o indivíduo por não ser bom para o grupo. Os economistas keynesianos aplicaram isto às poupanças. Poupar é bom para o indivíduo, mas se a poupança agregada excede o investimento, a procura agregada cai, destruindo rendimento, emprego e poupança.
Este é o caso com a deslocalização de empregos. Ela pode aumentar lucros para a firma, mas diminui o rendimento agregado da população e limita o crescimento das vendas. O que a deslocalização de empregos faz quanto a isto será feito em maior escala pela robótica.
Quando leio economistas as presstitutas financeira a glorificarem as poupanças de custos da robótica, pergunto-me onde está a sua mente ou se eles têm alguma. Robots não compram casa, mobiliário e electrodomésticos para casas, carros, alimentos, vestuário, férias, entretenimento. Quando robots tiverem os empregos, de onde os humanos obterão rendimentos para comprar os produtos produzidos por robots?
Esta questão não examinada tem extraordinárias implicações para os direitos de propriedade e a organização social da sociedade. As patentes robóticas não são amplamente detidas. Portanto, num mundo robotizado, rendimento e riqueza seriam concentrados nas mãos de umas relativamente poucas pessoas. Como a robótica aumenta lucros e reduz salários, a desigualdade económica aumentará drasticamente. Na verdade, haveria qualquer rendimento ou riqueza afinal de contas? O único meio com que humanos poderiam sobreviver à sua substituição por robots seria tornarem-se outra vez agricultores auto-suficientes em rendimento monetário para comprarem produtos fabricados por robots. Quando poucos seriam capazes de comprar produtos feitos pelos robots, qual seria a fonte de rendimento e riqueza para os proprietários da robótica?
É disparate que políticas monetárias e orçamentais macroeconómicas (tais como baixas taxas de juro e cortes fiscais) possam manter pleno emprego frente à exportação de empregos e à robótica. Estou convencido de que se a robótica está em vias de suplantar o trabalho humano, as patentes terão de ser socializadas e o rendimento distribuído numa base relativamente igual por toda a sociedade.
Assim, pode Trump consertar a economia em 2017?
Não há nada que possa ser consertado a menos que as escadas da mobilidade ascendente que fizeram os EUA uma sociedade da oportunidade possam ser repostas no lugar. Isto exigirá trazer de volta os empregos deslocalizados da classe média ou, assumindo que novos empregos de alto valor acrescentados pudessem ser criados, impedir estes novos empregos de serem transferidos para fora.
Há um meio de fazer isto. É basear a taxa fiscal corporativo sobre a localização geográfica onde corporações acrescentam valor ao seu produto. Se corporações acrescentam valor internamente com trabalho estado-unidense, a taxa fiscal seria baixa. Se o valor é acrescentado no exterior, a taxa fiscal seria elevada. A taxa fiscal pode ser ajustada para compensar os benefícios de custos mais baixos no estrangeiro.
Apesar da propaganda acerca de globalismo e livre comércio, a economia dos EUA foi construída sobre a protecção e a sua força era o mercado interno. A prosperidade dos EUA nunca esteve dependente de exportações. E como o US dólar e a divisa de reserva mundial, os EUA não precisam exportar a fim de pagar pelas suas importações. Eis porque os EUA podem tolerar os défices comerciais causados pela deslocalização de empregos.
O globalismo é um cozinhado feito pelos economistas lixo neoliberais em cumplicidade com os grandes bancos, a Wall Street e corporações multinacionais. O globalismo é um disfarce para a exploração dos muitos em proveito dos poucos. Os alegados benefícios do globalismo foram utilizados para justificar a deslocalização de empregos e enriquecer executivos e accionistas de corporações.
É a economia interna que é importante, não a economia global. A população sofredora nas áreas centrais da América finalmente aprendeu esta lição e elegeu Trump.
Pode Trump por no roteiro "A fuga do globalismo?" Ele poderia perder o combate. O globalismo foi institucionalizado. As grandes corporações que deslocalizaram a sua produção para mercados dos EUA opor-se-iam aos movimentos contra a deslocalização de empregos. Assim como todos os seus serviçais na profissão económica e nos media financeiros. Não sei a medida em que o globalismo se enraizou nas mentes dos povos da Ásia, África e América do Sul, mas na Europa – mesmo na Rússia de Putin – povos são doutrinados (brainwashed) na crença de que não podem sair do globalismo sem pagar um enorme preço económico.
GREGOS E PORTUGUESES
Considere por exemplos os gregos. Para benefício dos balanços de um punhado de bancos europeus do norte (e talvez dos EUA), os povos grego e português são forçados a austeridade extrema, resultando em tão alto desemprego e queda livre de padrões de vida que mulheres têm sido obrigadas a prostituírem-se a fim de sobreviver. Esta consequência totalmente desnecessária verificou-se porque os povos e governos grego e português estão com os cérebros tão lavados que acreditam não poderem sobreviver como países independentes sem o globalismo e entrada para o globalismo providenciada pela condição de membro da UE. No Reino Unido, 45% da população sofre da mesma concepção errada.
O globalismo é a técnica mais recente pela qual o capitalismo saqueia e destrói. No mundo ocidental são as classes trabalhadoras e médias que são saqueadas dos seus empregos e carreiras. Na Ásia, África e América Latina comunidades agrícolas auto-suficientes são saqueadas da sua terra e forçadas à monocultura como trabalhadores que produzem cultivos de exportação. Países antigamente auto-suficientes em alimentos tornaram-se dependente de importações alimentares e as suas divisas, que arcam com esse fardo, são sujeitas à especulação e manipulação infindável.
Foi a ignorância universal ou os subornos que obrigaram governos por toda a parte a entregar suas populações ao globalismo?
Jornalistas de vanguarda, tais como Chris Hedges, que viram e relataram um bocado, concluíram que o destino do mundo está em tão poucas mãos que actuam apenas no seu estreito auto-interesse que unicamente a revolução pode corrigir o desequilíbrio entre o interesse de um punhado de oligarcas e a massa da humanidade. A posição de Hedge não é fácil de contestar.
Trump, ao descer dentro do poço de serpentes que é Washington, DC, precisa recordar o que aconteceu ao presidente Jimmy Carter. De facto, a melhor coisa que Trump pode fazer para a sua presidência é passar algum tempo com Carter antes de tomar posse.
Carter era um homem de fora, uma pessoa de princípios, e o establishment de Washington não o queria. Eles reduziram a sua eficácia ao tramarem seu director do orçamento e seu chefe de equipe. O mesmo pode acontecer a Trump, assumindo que ele é capaz de conseguir que seus nomeados sejam confirmados pelo Senado, mas membros do mesmo estão aliados à CIA contra Trump.
Reaganistas tiveram uma experiência semelhante na administração Reagan. Este tinha experiência política como governador da Califórnia, o maior estado, mas ele era um estranho ao establishment republicano, cujo candidato para a nomeação presidencial era George H.W. Bush.
Reagan derrotou Bush na nomeação, mas foi aconselhado pelos republicanos, os quais recordavam o massacre de Goldwater quando as forças de Rockefeller voltaram-se contra ele por não escolher o derrotado Rockefeller como seu companheiro para a vice-presidência, o que custou a eleição a Goldwater, ao escolher Bush como vice-presidente. Do contrário, Reagan descobrir-se-ia, tal como Goldwater, a correr contra os establishments tanto democrata como republicano.
O primeiro mandato de Reagan verificou-se com o principal operacional de George H.W. Bush como chefe de equipe da Casa Branca. Isto confrontou-me com problemas como secretário assistente do Tesouro para Política Económica, onde eu era o ponta de lança para a política económica do lado da oferta de Reagan.
Ambos os establishments político-partidários estão mais interessados em controlar o partido do que em fazer bem para o país. Durante os quatro anos do presidente Carter, a principal preocupação do establishment democrata foi recuperar controle do partido às forças que haviam enviado um estranho para a Casa Branca. Durante os oito anos de Reagan, a principal preocupação do establishment republicano era recuperar o controle do Partido Republicano aos reaganistas.
É provável que Trump agora experimente em grande escala o que os presidentes Carter e Reagan experimentaram. O esforço será feito no sentido de forçá-lo a compromissos e neutralizar a sua agenda. Ironicamente, este ataque determinado a Trump está a ser ajudado pela esquerda, forças progressistas que se preparam para ganhos [políticos] pelo interesse de Trump em favor das classes trabalhadora e média e da paz com a Rússia. Muitos dos sítios web liberais, progressistas e de esquerda já estão a solicitar doações a fim de combater contra Trump.
Assim, mesmo quando conseguimos um presidente que pode tentar representar os interesses do povo americano, aqueles que dizem falar a favor do povo juntam-se aos oligarcas no ataque a Trump. O lado esquerdo do espectro parece sempre, como o lado direito, acatar seus odiados. Trump é um bilionário = odiado. Trump nomeou um magnata da energia = odiado. Trump nomeou dois generais de três estrelas = belicista e mais odiado.
Os liberais, progressistas e de esquerda não podem transcender seus espantalhos. Naturalmente, eles podem estar correctos. Entretanto, como tenho enfatizado, Trump escolheu independentes que se têm manifestado contra o establishment. Além disso, trata-se de homens fortes, como Trump, o que dá trabalho para deitar abaixo. O presidente da Exxon quer negócios de energia, não a guerra, com a Rússia. O gen. Flynn é um dos que revelou na televisão que Obama utilizava o ISIS para derrubar a Síria contra a recomendação da Defense Intelligence Agency. O gen. Mattis foi um dos que contestou a eficácia da tortura.
Os principais nomeados de Trump são pessoas que desafiaram o Establishment. A variedade habitual de nomeados aprovados pelo establishment não pode provocar mudança em Washington.
Os liberais, progressistas e de esquerda deveriam estar felizes com a perspectiva de um governo com gente de fora do Establishment. Ao invés disso, os liberais, progressistas e de esquerda alinharam-se com o Establishment na oposição a Trump.
Todos os dias recebo meia dúzia de pedido de doações para "ajudar-nos a combater Donald Trump". O que é que estas pessoas pensam? Por que querem combater alguém a que todo o establishment político dos EUA se opõe? O que elas deveriam tentar em primeiro lugar é obter a confiança de Trump e ganhá-lo para a sua agenda, como fez o general Mattis.
Não posso assegurar-lhe que Trump não é um outro falsário como Obama. Mas é um erro começar com esta suposição. Por que cancelar antecipadamente a única pessoa com a coragem para por a sua vida em risco e enfrentar o corrupto e perverso establishment de Washington?
Por que ajudar o Establishment a derrotar Trump? Se Trump trair americanos, podemos voltar-nos então contra ele, ou podemos decidir se Chris Hedges está correcto em que só a revolução pode rectificar esta situação.
03/Janeiro/2017
O original encontra-se em
www.paulcraigroberts.org/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Sem comentários:
Enviar um comentário