Karl Marx
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Karl Marx | |
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Nome completo | Karl Heinrich Marx |
Nascimento | 5 de maio de 1818 Tréveris, Renânia-Palatinado Prússia, Confederação Germânica |
Morte | 14 de março de 1883 (64 anos) Londres, Inglaterra Reino Unido |
Nacionalidade | alemão |
Progenitores | Mãe: Henriette Pressburg (1788–1863) Pai: Heinrich Marx (1777-1838) |
Cônjuge | Jenny von Westphalen |
Filho(s) | Jenny Caroline (1844-1883) Jenny Laura (1845-1911) Edgar (1847-1855) Henry Edward Guy (1849-1850) Jenny Eveline Frances (1851-1852) Jenny Julia Eleanor (1855-1898) Natimorto (Julho/1857) |
Ocupação | escritor, economista, sociólogo, historiador, filósofo |
Influências |
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Influenciados |
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Magnum opus | O Capital |
Escola/tradição | Marxismo (cofundador, junto com Engels) |
Principais interesses | Filosofia, Sociologia, economia, história, política, teoria social |
Ideias notáveis | transição gradual para o comunismo,ditadura do proletariado,materialismo histórico, materialismo dialético,[8] socialismo científico, modo de produção, mais-valia, luta de classes, teoria marxista da ideologia, teoria marxista da alienação, Fetichismo da mercadoria |
Assinatura | |
Marx nasceu em uma família de classe média em Tréveris, na Renânia prussiana, e estudou nas universidades de Bonn e Berlim, onde se interessou pelas ideias filosóficas dos jovens hegelianos. Depois dos estudos, escreveu para o Rheinische Zeitung, um jornal radical publicado em Colônia, e começou a trabalhar na teoria da concepção materialista da história. Em 1843, mudou-se para Paris, onde começou a escrever para outros jornais radicais e conheceu Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e colaborador. Em 1849, foi exilado e se mudou para Londres junto com sua esposa e filhos, onde continuou a escrever e formular suas teorias sobre a atividade econômica e social. Também fez campanha para o socialismo e tornou-se uma figura significativa na Associação Internacional dos Trabalhadores.[14]
As teorias de Marx sobre a sociedade, a economia e a política — a compreensão coletiva do que é conhecido como o marxismo — sustentam que as sociedades humanas progridem através da luta de classes (um conflito entre uma classe social que controla os meios de produção e a classe trabalhadora, que fornece a mão de obra para a produção) e que o Estado foi criado para proteger os interesses da classe dominante,[15] embora seja apresentado como um instrumento que representa o interesse comum de todos. Além disso, ele previu que, assim como os sistemas socioeconômicos anteriores, o capitalismo produziria tensões internas que conduziriam à sua auto-destruição e substituição por um novo sistema: o socialismo. Ele argumentava que os antagonismos no sistema capitalista, entre a burguesia e o proletariado,[16] seriam consequência de uma guerra perpétua entre a primeira e as demais classes ao longo da história.[17] Isto, associado à sociedade industrial e ao acúmulo de capital,[18] geraria a sua classe antagônica,[19] que resultaria na "conquista do poder político pela classe operária e, eventualmente, no estabelecimento de uma sociedade sem classes[20][21] e apátrida — o comunismo — regida por uma livre associação de produtores.[22][23] Marx ativamente argumentava que a classe trabalhadora deveria realizar uma ação revolucionária organizada para derrubar o capitalismo e provocar mudanças sócio-econômicas.[24]
Elogiado e criticado, Marx tem sido descrito como uma das figuras mais influentes na história da humanidade.[25] Muitos intelectuais, sindicatos e partidos políticos em nível mundial foram influenciados por suas ideias, com muitas variações sobre o seu trabalho base. Marx é normalmente citado, ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, como um dos três principais arquitetos da ciência social moderna.[26]
Índice
Biografia
Juventude
Ver também: Cronologia da vida de Karl Marx
Marx foi o terceiro de nove filhos,[27] de uma família de origem judaica de classe média da cidade de Tréveris, na época no Reino da Prússia. Sua mãe, Henriette Pressburg (1788–1863), era judia holandesa e seu pai, Herschel Marx (1777–1838), um advogado e conselheiro de Justiça. Herschel descende de uma família de rabinos, mas se converteu ao cristianismo luterano em função das restrições impostas à presença de membros de etnia judaica no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos.[28]
Seus irmãos eram Sophie (1816-1886), Hermann (1819-1842), Henriette
(1820-1845), Louise (1821-1893), Emilie (1824-1888 - adotada por seus
pais), Caroline (1824-1847) e Eduard (1826-1837).[29]Em 1830, Marx iniciou seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, em Tréveris, ano em que eclodiram revoluções em diversos países europeus. Ingressou mais tarde na Universidade de Bonn para estudar Direito, transferindo-se no ano seguinte para a Universidade de Berlim, onde o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, cuja obra exerceu grande influência sobre Marx, foi professor e reitor.[28] Em Berlim, Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado pelo hegueliano de esquerda Bruno Bauer.[30] Ali perdeu interesse pelo Direito e se voltou para a Filosofia, tendo participado ativamente do movimento dos Jovens Hegelianos. Seu pai faleceu neste mesmo ano.[28] Em 1841, obteve o título de doutor em Filosofia com uma tese sobre as Diferenças da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro.[28] Impedido de seguir uma carreira acadêmica,[31] tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana (Rheinische Zeitung), um jornal da província de Colônia;[32] conheceu Friedrich Engels neste mesmo ano, durante visita deste a redação do jornal.[28]
Casamento e vida política
Do casamento de Marx com Jenny von Westphalen, nasceram sete filhos, mas devido às más condições de vida que foram forçados a viver em Londres, apenas três sobreviveram à idade adulta. As crianças eram: Jenny Caroline (1844-1883), Jenny Laura (1845-1911), Edgar (1847-1855), Henry Edward Guy ("Guido"; 1849-1850), Jenny Eveline Frances ("Franziska"; 1851-52), Jenny Julia Eleanor (1855-1898) e mais um que morreu antes de ser nomeado (Julho, 1857). Ao que consta, Franziska, Edgar e Guido morreram na infância, provavelmente pelas péssimas condições materiais a que a família estava submetida,[36] duas das filhas de Marx cometeram suicídio: Eleanor, 15 anos após a morte de Marx, aos 43 anos, após descobrir que seu companheiro havia se casado secretamente com uma atriz bem mais jovem, mas há quem suspeite que ele, na verdade, assassinou-a; e Laura, 28 anos após a morte de Marx, aos 66 anos, junto com o seu marido, Paul Lafargue, por não querer viver na velhice.[37] Marx também teve um filho nascido de sua relação amorosa com a militante socialista e empregada da família Marx, Helena Demuth. Solicitado por Marx, Engels assumiu a paternidade da criança, Frederick Delemuth, e pagando uma pensão, entregou-o a uma família de um bairro proletário de Londres[38]
No tratamento pessoal — Leandro Konder ressalta — Marx foi produto de seu tempo: "Antes de poder contestar a sociedade capitalista Marx pertencia a ela, estava espiritualmente mais enraizado no solo da sua cultura do que admitiria, e que diante dos padrões da Inglaterra vitoriana mostrou: traços típicos das limitações de seu tempo". Como moças aristocráticas, suas filhas tinham aulas de piano, canto e desenho, mesmo que não tivessem desenvoltura para tais atividades artísticas.[38]
De Paris, Marx ajudou a editar uma publicação de pequena circulação chamada Vorwärts!, que contestava o regime político alemão da época. Por conta disto, Marx foi expulso da França em 1845 a pedido do governo prussiano. Migrou então para Bruxelas, para onde Engels também viajou.[34] Entre outros escritos, a dupla redigiu na Bélgica o Manifesto comunista. Em 1848, Marx foi expulso de Bruxelas pelo governo belga. Junto com Engels, mudou-se para Colônia, onde fundam o jornal Nova Gazeta Renana.[28] Após ataques às autoridades locais publicados no jornal, Marx foi expulso de Colônia em 1849. Até 1848, Marx viveu confortavelmente com a renda oriunda de seus trabalhos, seu salário e presentes de amigos e aliados, além da herança legada por seu pai.[35] Entretanto, em 1849 Marx e sua família enfrentaram grave crise financeira; após superarem dificuldades conseguiram chegar a Paris, mas o governo francês proibiu-os de fixar residência em seu território. Graças, então, a uma campanha de arrecadação de donativos promovida por Ferdinand Lassalle na Alemanha, Marx e família conseguem migrar para Londres, onde fixaram residência definitiva[28] trabalhar como correspondente em Londres para o New York Tribune[39] onde declarou seu apoio público o governo de Abraham Lincoln durante a Guerra da Secessão.[40][41][42]
Morte
Muitos dos amigos mais próximos de Marx prestaram-lhe homenagem no seu funeral, incluindo Wilhelm Liebknecht e Friedrich Engels. Este pronunciou as seguintes palavras:[44]
“ | Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e das instituições estatais por esta suscitadas, contribuir para a libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação. A luta era seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com quem poucos puderam rivalizar. (…) Como consequência, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutistas como republicanos, deportaram-no de seus territórios. Burgueses, quer conservadores ou ultrademocráticos, porfiavam entre si ao lançar difamações contra ele. Tudo isso ele punha de lado, como se fossem teias de aranha, não tomando conhecimento, só respondendo quando necessidade extrema o compelia a tal. E morreu amado, reverenciado e pranteado por milhões de colegas trabalhadores revolucionários - das minas da Sibéria até a Califórnia, de todas as partes da Europa e da América - e atrevo-me a dizer que, embora, muito embora, possa ter tido muitos adversários, não teve nenhum inimigo pessoal. | ” |
Influências
Algumas das principais leituras e estudos feitos por Marx são:[46]- A filosofia alemã de Kant, Hegel e dos neo-hegelianos (como Ludwig Feuerbach e Moses Hess);
- O socialismo utópico (representado por Saint-Simon, Robert Owen, Louis Blanc e Proudhon); e
- A economia política clássica britânica (representada por Adam Smith, David Ricardo e outros).[47]
Influência da filosofia idealista
Para Hegel, nada no mundo é estático, tudo está em constante processo (vir-a-ser); tudo é histórico, portanto. O sujeito desse mundo em movimento é o Espírito do Mundo (também chamado de Superalma ou Consciência Absoluta), que representa a consciência humana geral, comum a todos indivíduos e manifesta na ideia de Deus. A historicidade é concebida enquanto história do progresso da consciência da liberdade. As formas concretas de organização social correspondem a imperativos ditados pela consciência humana, ou seja, a realidade é determinada pelas ideias dos homens, que concebem novas ideias de como deve ser a vida social em função do conflito entre as ideias de liberdade e as ideias de coerção ligadas a condição natural ("selvagem") do homem. O homem se liberta progressivamente de sua condição de existência natural através de um processo de "espiritualização" – reflexão filosófica (ao nível do pensamento, portanto) que conduz o homem a perceber quem é o real sujeito da história.[48][49]
Marx considerou-se um "hegeliano de esquerda" durante certo tempo, mas rompeu com o grupo e efetuou uma revisão bastante crítica dos conceitos de Hegel após tomar contato com as concepções de Ludwig Feuerbach.[nota 2] Manteve o entendimento da história enquanto progressão dialética (ou seja, o mundo está em processo graças ao choque permanente entre os opostos; não é estático), mas eliminou o Espírito do Mundo enquanto sujeito ou essência, porque passou a compreender que a origem da realidade social não reside nas ideias, na consciência que os homens têm dela, mas sim na ação concreta (material, portanto) dos homens, portanto no trabalho humano. A existência material precede qualquer pensamento; inexiste possibilidade de pensamento sem existência concreta. Marx inverte, então, a dialética hegeliana, porque coloca a materialidade – e não as ideias – na gênese do movimento histórico que constitui o mundo. Elabora assim a dialética materialista, construída como uma crítica ao materialismo de Feuerbach[50] e um conceito não desenvolvido por Marx que também costuma ser chamado de materialismo dialético).[48][51]
A respeito da influência de Hegel sobre Marx, escreveu Lenin que "é completamente impossível entender O Capital de Marx, e, em especial, seu primeiro capítulo, sem haver estudado e compreendido a fundo toda a lógica de Hegel."[53]
A mistificação por que passa a dialética nas mãos de Hegel não o impede de ser o primeiro a apresentar suas formas gerais de movimento, de maneira ampla e consciente. Em Hegel, a dialética está de cabeça para baixo. É necessária pô-la de cabeça para cima, a fim de descobrir a substância racional dentro do invólucro místico.—Karl Marx, em O Capital[52]
Influência do socialismo utópico
À época de Marx, "socialismo utópico" designava um conjunto de doutrinas diversas (e até antagônicas entre si) que tinham em comum, entretanto, duas características básicas: (1) a base determinante do comportamento humano residia na esfera moral/ideologia e (2) o desenvolvimento das civilizações ocidentais estava a permitir uma nova era onde iria imperar a harmonia social.Marx criticou sagazmente as ideias dos socialistas utópicos (principalmente dos franceses, com os quais mais polemizou), acusando-os de muito romantismo ingênuo e pouca ou nenhuma dedicação ao estudo rigoroso da conjuntura social, pois os socialistas utópicos muito diziam sobre como deveria ser a sociedade harmônica ideal, mas nada indicavam sobre como seria possível alcançá-la plenamente. Além de criticar o socialismo utópico, ele também criticou o socialismo pequeno burguês,[54] o "socialismo feudal" reacionário e o "socialismo conservador".[55] Por outro lado, pode-se dizer que, de certa forma, Marx adotou – explícita ou implicitamente – algumas noções contidas nas ideias de alguns dos socialistas utópicos, como a noção de que o aumento da capacidade de produção decorrente da revolução industrial permite condições materiais mais confortáveis à vida humana ou ainda a noção de que as crenças ideológicas do sujeito lhe determinam o comportamento. É importante destacar uma diferença primordial: para os socialistas utópicos em geral, todo o comportamento humano é absolutamente determinado pela moral/ideologia, já para Marx, essa afirmação é parcialmente verdadeira, pois a moral/ideologia encontra-se submetida a uma outra condição anterior que lhe determina – a dimensão material da reprodução da existência.[48]
Influência da economia política clássica
Colaboração de Engels
Friedrich Engels exerceu significativa influência sobre as reflexões intelectuais de Marx, principalmente no início da associação entre ambos, período em que dirigiu a atenção de Marx para a economia Política e a história econômica da Europa. Após a morte deste, Engels tornou-se não só o organizador dos muitos manuscritos incompletos e/ou inéditos legados, mas também o primeiro intérprete e sistematizador das ideias de Marx. Engels igualmente se ocupou, desde bem antes do falecimento de seu amigo, de redigir exposições em termos populares das ideias de Marx, visando facilitar sua difusão.[59]Teoria e obras
Parte da série sobre o |
Marxismo |
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Ver artigo principal: Lista de obras de Karl Marx
A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas,
mas é uma crítica que não se limita a teoria em si: Marx se posiciona
contra qualquer separação drástica entre teoria e prática, entre
pensamento e realidade, porque essas dimensões são abstrações mentais
(categorias analíticas) que, no plano concreto, real, integram uma mesma
totalidade complexa.[60]O marxismo constitui-se como a concepção materialista da História, longe de qualquer tipo de determinismo, mas compreendendo a predominância da materialidade sobre a ideia, sendo esta possível somente com o desenvolvimento daquela, e a compreensão das coisas em seu movimento, em sua inter-determinação, que é a dialética. Portanto, não é possível entender os conceitos marxianos — como forças produtivas ou capital — sem levar em conta o processo histórico, pois não são conceitos abstratos e sim uma abstração do real, tendo como pressuposto que o real é movimento.[61]
Karl Marx compreende o trabalho como atividade fundante da humanidade.[62][63] E o trabalho, sendo a centralidade da atividade humana, se desenvolve socialmente, sendo o homem um ser social. Sendo os homens seres sociais, a História, isto é, suas relações de produção e suas relações sociais fundam todo processo de formação da humanidade. Esta compreensão e concepção do homem é radicalmente revolucionária em todos os sentidos, pois é a partir dela que Marx irá identificar a alienação do trabalho como a alienação fundante das demais. E com esta base filosófica é que Marx compreende todas as demais ciências, tendo sua compreensão do real influenciado cada dia mais a ciência por sua consistência.[64]
Metodologia
Segundo Marx, Hegel e seus seguidores criaram uma dialética mistificada, que buscava explicar a história mundial a partir da economia[65] e como auto-desenvolvimento da Ideia absoluta.Já os economistas clássicos naturalizavam e desistoricizaram o modo de produção capitalista, concebendo a dominação de classe burguesa como uma ordem natural das relações econômicas, a partir de um conceito abstrato de indivíduo, homo economicus. Por isso, os economistas clássicos recorriam a "robsonadas", isto é, narrativas de trocas de produtos entre caçadores e pescadores primitivos, para ilustrar as suas teorias econômicas. Marx atribuía essa mistificação ao fetichismo da mercadoria, e não a uma intenção consciente.[66]
Em oposição aos filósofos idealistas e aos economistas clássicos, Marx propunha a investigação do desenvolvimento histórico das formas de produção e reprodução social, partindo do concreto para o abstrato e do abstrato para o concreto[67]
Classes sociais
Em razão da divisão social do trabalho e dos meios, a sociedade se extrema entre possuidores e os não detentores dos meios de produção. Surgem, então, a classe dominante e a classe dominada, sendo a classe dominante aquela que mantém poder sobre os meios de produção e a classe dominada a que se sujeita a dominante para obter os bens produzidos. O Estado aparece para representar os interesses da classe dominante[68] e cria, para isso, inúmeros aparatos para manter a estrutura da produção. Esses aparatos são nomeados por Marx de infraestrutura e condicionam o desenvolvimento de ideologias e normas reguladoras, sejam elas políticas, religiosas, culturais ou econômicas, para assegurar os interesses dos proprietários dos meios de produção.[69]Crítica da religião
Ver artigos principais: Ateísmo Marxista-leninista e Marxismo e religião
Para Marx a crítica da religião
é o pressuposto de toda crítica social, pois crê que as concepções
religiosas tendem a desresponsabilizar os homens pelas consequências de
seus atos.[48] Marx tornou-se reconhecido como crítico sagaz da religião devido a sentença que profere em um escrito intitulado Crítica da filosofia do direito de Hegel:
“A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem
coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É
o ópio do povo.”[70]
Em verdade, Marx se ocupou muito pouco em criticar sistematicamente a
atividade religiosa. Nesse quesito ele basicamente seguiu as opiniões de
Ludwig Feuerbach, para quem a religião não expressa a vontade de nenhum Deus ou outro ser metafísico: é criada pela fabulação dos homens.[70]Revolução
Apesar de alguns leitores de Marx adjetivarem-no de “teórico da revolução”, inexiste em suas obras qualquer definição conceitual explícita e específica do termo "revolução".[71] O que Marx oferece são descrições e projeções históricas inspiradas nos estudos que fez acerca das revoluções francesa, inglesa e norte-americana.[48] Um exemplo de prognóstico histórico desse tipo encontra-se em Contribuição para a crítica da Economia Política:“ |
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” |
Importante notar que Marx não entende revolução enquanto algo como reconstruir a sociedade a partir de um zero absoluto. Na Crítica ao Programa de Gotha, por exemplo, indica claramente que a instauração de um novo regime só é possível mediada pelas instituições do regime anterior. O novo é sempre gestado tendo o velho por ponto de partida.[71] A revolução proletária, que instauraria um novo regime sem classes, só obteria sucesso pleno após a conclusão de um período de transição que Marx denominou socialismo.[48]
Crítica ao anarquismo
Práxis
Ver artigo principal: Práxis
Na lógica da concepção materialista da História, não é a realidade
que move a si mesma, mas comove os atores, trata-se sempre de um "drama
histórico" (termo que Marx usa em O 18 Brumário de Luís Bonaparte) e não de um "determinismo histórico" que cairia num materialismo mecânico (positivismo), oposto ao materialismo dialético
de Marx, que poderia ser definido como uma "dialética
realidade-idealidade evolutiva". Ou seja, as relações entre a realidade e
as ideias se fundem na práxis, e a práxis é o grande fundamento do pensamento de Marx. Pois sendo a história
uma produção humana, e sendo as ideias produto das circunstâncias em
que tais ideais brotaram, fazer história racionalmente é a grande meta. É
o próprio fazer da história que criará suas condições objetivas e
subjetivas adjacentes, já que a objetividade histórica é produto da
humanidade (dos homens associados, luta política, etc). E, assim, Marx
finaliza as Teses sobre Feuerbach,
não se trata de interpretar diferentemente o mundo, mas de
transformá-lo, pois a própria interpretação está condicionada ao mundo
posto, só a ação revolucionária produz a transcendência do mundo
vigente.[75]Mais-valia
Ver artigo principal: Mais-valia
O conceito de mais-valia foi empregado por Karl Marx para explicar a obtenção dos lucros no sistema capitalista. Para Marx, o trabalho gera a riqueza, portanto, a mais-valia seria o valor
extra da mercadoria, a diferença entre o que o empregado produz e o que
ele recebe. Os operários em determinada produção produzem bens (ex: 100 carros num mês). Se dividirmos o valor dos carros pelo trabalho realizado dos operários, teremos o valor do trabalho
de cada operário. Entretanto os carros são vendidos por um preço maior:
esta diferença é o lucro do proprietário da fábrica. A esta diferença,
Marx chama de "valor excedente ou maior", ou mais-valia.[76]
Segundo ele, o lucro teria uma tendência decrescente devido a
necessidade de se investir na produção, à medida que a remuneração dos
trabalhadores estaria submetida a mais-valia.[77]O Capital
Ver artigo principal: O Capital
Outras obras
Na obra A Ideologia Alemã, Marx apresenta os pressupostos de seu novo pensamento. No Manifesto Comunista, apresenta sua tese política básica, propondo a construção de uma nova sociedade, derrubando a burguesia através da luta contra a propriedade privada[80] de poucos.[81] No ensaio "Sobre a Questão Judaica", apresenta sua crítica à religião, dizendo que não se deve apresentar questões humanas como teológicas, mas as teológicas como questões humanas, e que afirmar ou negar a existência de Deus, são ambas teologia. Para ele, deve-se sempre ver as religiões como reflexões fantasiosas do ser humano acerca de si mesmo, mas que representam a condição real a qual está submetido o ser humano. Em Crítica ao Programa de Gotha, Marx faz sua mais extensa e sistemática apresentação do que seria uma sociedade socialista. Em A Guerra Civil na França, Marx supera todas as suas tendências jacobinas[82] de antes e defende claramente que só com o fim do Estado o proletariado oferece a si mesmo as condições de manter o próprio poder recém conquistado, e o fim do Estado é literalmente o "povo em armas", ou seja, o fim do "monopólio da violência" que o Estado representa. Em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, além da profunda análise sobre o terror da "burocracia", outros aspectos marcantes são a questão do campesinato como aliado da classe operária na revolução iminente, o papel dos partidos políticos na vida social[83] e uma caracterização profunda da essência do bonapartismo. Karl Marx foi um dos poucos ideólogos que acompanharam todo o percurso de instabilidade política francesa pós-revolução francesa, revolução industrial e globalização[84] sendo que influenciou muito na obra do autor e contribuiu para alimentar os debates políticos dentro da esquerda.[85]Recepção da obra
Durante a vida de Marx, suas ideias receberam pouca atenção de outros estudiosos. Talvez o maior interesse tenha se verificado na Rússia, onde, em 1872, foi publicada a primeira tradução do Tomo I de O Capital. Na Alemanha, a teoria de Marx foi ignorada durante bastante tempo, até que, em 1879, Adolph Wagner, um alemão estudioso da economia política, comentou o trabalho de Marx ao longo de uma obra intitulada Allgemeine oder theoretische Volkswirthschaftslehre. A partir de então, os escritos de Marx começaram a atrair cada vez mais atenção.[59]Ao final do século XIX, o principal local de debate da teoria de Marx era o Partido Social-Democrata da Alemanha. Contudo, nos primeiros anos após sua morte, sua teoria obteve crescente influência intelectual e política sobre os movimentos operários e, em menor proporção, sobre os círculos acadêmicos ligados às ciências humanas – notadamente na Universidade de Viena e na Universidade de Roma, primeiras instituições acadêmicas a oferecerem cursos voltados para o estudo de Marx.[59]
Marx foi herdeiro da filosofia alemã, considerado ao lado de Kant, Nietzsche e Hegel um de seus grandes representantes. Foi um dos maiores (para muitos, o maior) pensadores de todos os tempos, tendo uma produção teórica com a extensão e densidade de um Aristóteles, de quem era um admirador.[86] Marx criticou ferozmente o sistema filosófico idealista de Hegel. Enquanto que, para Hegel, "da realidade se faz filosofia", para Marx, a filosofia precisa incidir sobre a realidade. Para transformar o mundo, é necessário vincular o pensamento à prática revolucionária, união conceitualizada como práxis: união entre teoria e prática.[87]
Legado
Do ponto de vista acadêmico, a obra de Marx contribuiu para o nascimento da sociologia moderna. Ele tem sido citado como um dos três mestres da "escola cínica" do século XIX, ao lado de Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud,[91] e como um dos três principais arquitetos da ciência social moderna juntamente com Émile Durkheim e Max Weber.[26] Em contraste com outros filósofos, Marx ofereceu teorias que, muitas vezes, poderiam ser testadas com o método científico.[24] Tanto Marx quanto Auguste Comte começaram a desenvolver ideologias cientificamente fundadas durante a secularização européia e novos desenvolvimentos na filosofia da história e ciência. Trabalhando na tradição hegeliana, Marx rejeitou o positivismo sociológico comtiano na tentativa de desenvolver uma ciência da sociedade.[92] Karl Löwith considerou Marx e Søren Kierkegaard os dois maiores sucessores filosóficos de Hegel.[93] Na teoria sociológica moderna, a sociologia marxista é reconhecida como uma das principais perspectivas clássicas. Isaiah Berlin considera Marx o verdadeiro fundador da sociologia moderna, "na medida em que qualquer um pode reivindicar o título".[94] Além da ciência social, ele também teve um legado duradouro na filosofia, na literatura, nas artes e nas humanidades.[95][96][97][98]
Politicamente, o legado de Marx é mais complexo. Ao longo do século XX, ocorreram revoluções em dezenas de países que se autorotularam de "marxistas", mais notavelmente a Revolução Russa, que levou à fundação da URSS.[105] Líderes mundiais como Vladimir Lenin,[105] Mao Zedong,[106] Fidel Castro,[107] Salvador Allende,[108] Josip Tito[109] e Kwame Nkrumah[110] citaram Marx como uma influência, e suas ideias estão presentes em vários partidos políticos em todo o mundo, além daqueles onde ocorreram "revoluções marxistas".[111] As ditaduras brutais associadas com algumas nações marxistas levaram oponentes políticos a culpar Marx por milhões de mortes,[112] mas a fidelidade destes líderes, partidos e revoluções à obra de Marx é contestada e rejeitada por muitos marxistas.[113] Atualmente, é comum distinguir entre o legado e a influência de Marx especificamente, e o legado e influência de suas ideias para fins políticos.[114]
Ludwig von Mises, em Ação Humana – um tratado de Economia (1949), tentou demonstrar a impossibilidade de se organizar uma economia nos moldes socialistas, pela ausência do sistema de preços, que, segundo ele, funcionaria como sinalizador aos empreendedores acerca das necessidades dos consumidores. Aponta, desta forma, que cálculo econômico sem o equivalente universal (dinheiro) só poderia ser medido pelo tempo de trabalho. Mises ainda levanta que estatizar todos os produtos acabaria com o mercado, e na ausência da lei da oferta e da demanda não seria possível fazer o cálculo de preço. Sem o cálculo de preço, seria inviabilizada a economia planificada - e consequentemente o socialismo.[118] Mises também refinou argumentos formulados por Eugen von Böhm-Bawerk na obra Marxism Unmasked: From Delusion to Destruction.[119]
Raymond Aron em O ópio dos intelectuais (1955), criticou de forma agressiva os intelectuais seguidores de Marx e condenou a teoria da revolução e o determinismo histórico.[120]
Eric Voegelin relata em seu livro Reflexões Autobiográficas que, induzido pela onda de interesse sobre a Revolução Russa de 1917, estudou O Capital de Marx e foi marxista entre agosto e dezembro de 1919. Porém, durante seu curso universitário, ao estudar disciplinas de teoria econômica e história da teoria econômica, aprendera o que estava errado em Marx. Voegelin afirma que Marx comete uma grave distorção ao escrever sobre Hegel. Como prova de sua afirmação, cita os editores dos Frühschiften (Escritos de Juventude) de Karl Marx (Kröner, 1953), especialmente Siegfried Landshut, que dizem o seguinte sobre o estudo feito por Marx da Filosofia do Direito de Hegel:[121]
"Ao equivocar-se deliberadamente sobre Hegel, se nos é dado falar desta maneira, Marx transforma todos os conceitos que Hegel concebeu como predicados da ideia em enunciados sobre fatos".Marx acreditava que a história humana é regida pela luta de classes.[122] Para Pitirim Sorokin, a história do mundo não é definida unicamente pelo conflito entre as classes sociais e, segundo ele:[123]
"A cooperação entre as classes sociais, é um fenômeno ainda mais universal do que o antagonismo entre elas."Apesar de dizer que Marx trouxe, em alguns aspectos, um progresso maior para a sociedade do que figuras como Margaret Thatcher,[124] em Thinkers of the New Left (1985), Roger Scruton afirma:[125]
"Consideremos as teorias de Karl Marx: desde sua primeira aparição, estas têm despertado as controvérsias mais vivas e é pouco provável que tenham permanecido intocadas. O fato, me parece, é que todas as teorias marxistas já foram refutadas em sua essência: a teoria da história por Maitland, Weber e Sombart; a teoria do valor por Eugen von Böhm-Bawerk, Mises, Sraffa e muitos outros; a teoria da consciência falsa, alienação e luta de classes por um vasto grupo de pensadores, de Mallock a Sombart e Popper e de Hayek a Aron."Revendo posições anteriores sobre a ideia de reformismo ontológico, o historiador marxista Jacob Gorender afirma que o proletariado é ontologicamente, em si, reformista, e descarta uma teleologia na história, em sua obra Marxismo sem utopia (1999).[126]
Ver também
Notas
- Ludwig Feuerbach foi um filósofo materialista que atraiu muita atenção de intelectuais de sua época. Publicou, em 1841, uma obra chamada A Essência do Cristianismo, que teve influência importante sobre Marx, Engels e os Jovens Hegelianos. Nela, Feuerbach criticou duramente Hegel, e afirmou que a religião consiste numa projeção dos desejos humanos e numa forma de alienação. É de Feuerbach a concepção de que, em Hegel, a lógica dialética está "de cabeça para baixo", porque apresenta o homem como um atributo do pensamento ao invés do pensamento como um atributo do homem. O contato de Marx com as ideias feuerbachianas foi determinante para a formulação de sua crítica radical da religião e das "concepções invertidas" de Hegel.[48]
Referências
- GORENDER, Jacob. Marxismo Sem Utopia. Editora Ática, 1999. ISBN 9788508073689 Adicionado em 25/11/2015.
Bibliografia
- Calhoun, Craig J. (2002). Classical Sociological Theory. Oxford: Wiley-Blackwell. ISBN 978-0-631-21348-2
- Singer, Peter (1980). Marx. Oxford: Oxford University Press.ISBN 978-0-19-287510-5
Ligações externas
- Biografia de Karl Marx, por (em inglês) Franz Mehring.
- «Karl Marx, esboço biográfico e uma exposição do Marxismo» de Lénine
- Artigo sobre Karl Marx (em português)
- Vida e obra de Karl Marx (em português)
- Marx e a Filosofia: elementos para a discussão ainda necessária (em português) artigo publicado na revista Nova Economia
- O conceito de Alienação no jovem Marx (em português) artigo sobre o conceito de "alienação" em Marx, publicado na revista Tempo Social
- Obras de Karl Marx (em alemão) Zeno.org
- Breve história da edição crítica das obras de Karl Marx
- Marxists Internet Archive (em inglês e em português)
- Entrevista com Karl Marx, líder da Internacional, de 18 Julho de 1871. Nova York. (em inglês)
- Escritos de Karl Marx (em alemão)
- Biblioteca Comunista Libertária - Arquivo Karl Marx (em inglês)
- David Riazanov e a Edição das Obras de Marx e Engels (em português)
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