"Stalinismo"
01/08/2019
Eu sou grato à Academia Sarat por ter me convidado a palestrar para vocês sobre “Stalinismo”.
Porém,
sua escolha de tema apresentou-se a mim com certa dificuldade, visto
que sou um grande admirador de Stalin e a palavra “Stalinismo” foi
introduzida por oponentes enrustidos de Stalin – em particular por
Nikita Kruschev – em preparação para futuros ataques políticos a ele.
Hoje,
em fato, “Stalinismo” virou um termo de abuso sem sentido usado para
denotar posições políticas com que alguém discorda. A imprensa
conservadora às vezes até descreve Tony Blair como “Stalinista” - dando à
Stalin, se estivesse vivo, campos amplos para uma ação por difamação!
Stalin
sempre se referiu a si mesmo como “um pupilo de Lenin” e eu devo seguir
o exemplo e interpretar o assunto “Stalinismo” como Marxismo-Leninismo.
Talvez
a figura mais próxima à Stalin na história britânica é Ricardo
Terceiro, do qual todo mundo “sabe” – e eu ponho a palavra “sabe” em
aspas – de seus livros de história do Segundo Grau e de Shakespeare por
ter sido um cruel, deformado monstro que matou o pequenino príncipe na
Torre.
É
apenas comparativamente recentemente que sérios historiadores começaram
a perceber que o retrato comumente aceito de Ricardo foi desenhado por
seus sucessores Tudor, que tomaram o trono e mataram Ricardo.
Naturalmente,
eles então procederam em reescrever as crônicas para justificar sua
usurpada do trono – até alterando a imagem de Ricardo para apresentá-lo
como deformado fisicamente, como um monstro tanto físico quanto moral.
Em outras palavras, a imagem de Ricardo que foi geralmente aceita hoje
não foi resultado de verdades históricas, mas de propaganda de seus
oponentes políticos.
É,
então, legítimo se perguntar: A figura de Stalin apresentada para nós
pelos autoproclamados “Kremlinologistas” fato histórico ou mera
propaganda?
A
União das Repúblicas Soviéticas Socialistas (União Soviética), a qual
foi construída sobre as lideranças de Lenin e Stalin, não existe mais. É
então verdadeiro dizer – como muitas pessoas dizem – que isso significa
que o socialismo na União Soviética falhou?
Eu
tenho a intenção de citar aqui apenas um conjunto de estatísticas.
Nesse relato ao 17° Congresso do Partido Comunista da União Soviética em
janeiro de 1939, Stalin cita figuras de fontes ocidentais sobre o
crescimento industrial em vários países em comparação com 1913. Essas
figuras eram:
Alemanha: -24,6%
Bretanha: -14,8%
EUA: +10,2%
URSS: +291,9%
Realmente,
é um fato indisputável que sobre a economia planificada centralmente
instituída por Stalin, a Rússia foi transformada em poucas décadas de um
país atrasado e agrário em um país avançado industrial que em 1941-45
tinha se tornado poderoso o bastante para derrotar uma agressão alemã
capaz de estagnar os recursos de toda Europa Ocidental.
É comum ouvir Stalin ser chamado de “ditador”
O
escritor americano anti-soviético fervoroso Eugene Lyons uma vez
perguntou à Stalin diretamente: “Você é um ditador?” Lyons continua (e
eu cito):
“Stalin sorriu, implicando que a pergunta estava no lado do ridículo.
‘Não’,
ele falou lentamente, ‘Eu não sou um ditador. Aqueles que usam esta
palavra não entendem o Sistema Soviético de Governo e os métodos do
Partido Comunista. Nenhum homem ou grupo de homens pode ditar. Decisões
são feitas pelo Partido.”
Os
economistas Fabian britânicos Sidney e Beatrice Webb, em seu livro
compreensivo “Comunismo Soviético: Uma Nova Civilização” rejeitam
categoricamente a noção de Stalin como um ditador. Eles dizem (e eu
cito):
“Stalin...não
tinha nem o poder extensivo...que a Constituição Americana confia de
quatro em quatro anos para cada sucessivo presidente.
O Partido Comunista na URSS adotou sua própria organização.
Nesse modelo não há lugar para ditadura individual. Decisões pessoais são desconfiadas e elaboradamente contra-guardadas.”
Certamente,
na época de Lenin e Stalin o regime Soviético era oficialmente descrito
como uma “Ditadura do Proletariado”. Mas isso não implica em ditadura
individual. Significa simplesmente que o poder político está nas mãos
dos trabalhadores e que ações políticas visando tomar o poder para longe
dos trabalhadores são consideradas ilegais.
É
claro, essa atividade é considerada em círculos oficiais de Londres e
Washington como “não-democrática” e “uma grande violação dos Direitos
Humanos”.
Mas
a palavra “Democracia” significa “o Governo do povo comum” e nesse
sentido a União Soviética na época de Stalin era infinitamente mais
democrática que qualquer país ocidental.
Sobre
“Direitos Humanos”, a Convenção de Direitos Humanos das Nações Unidas
de 1966 descreve que o Estado devia garantir aos seus cidadãos o
“direito de trabalhar”.
Mas
somente em uma sociedade Socialista esse direito pode ser posto em
efeito, pode o desemprego ser abolido (como foi na União Soviética
durante a época de Stalin). Uma sociedade Capitalista requer o que Marx
chamava de “um exército reserva de trabalho” para que esta possa fazer o
trabalho disponível a curto-prazo em épocas de crise.
Logo,
um país Socialista banir atividades políticas visadas em restaurar o
Capitalismo é totalmente de acordo com a Convenção de Direitos Humanos
das Nações Unidas.
De
fato, falar sobre direitos humanos é, na maioria dos casos, meramente
uma arma de propaganda direcionada contra o Socialismo. Nos olhos de
Lombard Street e Wall Street, uma corrupta central americana “república
banana” que manda esquadrões de morte durante a noite para matar
crianças desabrigadas em ordem de manter as ruas arrumadas para contas
de comércio turistas como um “país livre” enquanto ela permite a
liberdade de investimento.
Os
traidores soviéticos do Socialismo abriram seu ataque contra o
Socialismo em 1956 no 20° Congresso do Partido Comunista em fevereiro de
1956 ao acusar Stalin de gerar um “culto à personalidade” ao redor de
si.
De fato, na época de Stalin havia um Culto à Personalidade de Stalin, mas este foi ridicularizado e oposto pelo próprio Stalin.
Por
exemplo, quando em fevereiro de 1938 alguém quis publicar um livro
intitulado “Histórias da Infância de Stalin”, Stalin escreveu
tipicamente:
“Eu sou absolutamente contra a publicação do ‘Histórias da Infância de Stalin’.
O livro é abundado de uma massa de inexatidões de fato, ... de exageros e de louvores desmerecidos.
Mas...
a coisa importante reside na tendência de gravar na mente das crianças
soviéticas (e no povo em geral) o culto de personalidade de líderes, de
heróis infalíveis.
Isso é perigoso e pernicioso... eu sugiro que queimemos este livro”.
Havia
de fato um Culto a Personalidade ao redor de Stalin. Um líder comunista
gritou no 18° Congresso do Partido Comunista em março de 1939:
“O Povo Ucraniano proclama com todo o seu coração e alma: ‘Vida Longa ao nosso amado Stalin! ’.
Vida Longa ao mais superior gênio de toda a Humanidade,... nosso amado Camarada Stalin!”.
O gritante era Nikita Kruschev!
Foi
também Kruschev que criou o termo “Stalinismo” e começou a chamar
Stalin de “Vozhd” – o equivalente em russo do alemão “Führer”, líder.
Em
outras palavras, o “Culto a Personalidade” ao redor de Stalin não foi
criado por Stalin e por aqueles que o apoiavam genuinamente, mas por
seus oponentes políticos para atacá-lo depois como um ditador
megalomaníaco.
Mesmo
Stalin não ter tido o poder para parar essas alegadas manifestações de
“lealdade” e de “patriotismo”, Stalin não era tolo e estava ciente de
que seus motivos eram, como ele disse ao escritor alemão Lion
Feauchtwanger em 1937, “para desprestigiá-lo” no futuro.
Logo,
o Culto a Personalidade rodeando Stalin era contrário aos próprios
desejos de Stalin e o fato de que isso se demonstrou nos últimos anos de
vida de Stalin – longe de ter qualquer poder ditatorial – vindo de uma
minoria dentro da liderança Soviética.
Isso explica muitos fatos estranhos:
Por
exemplo, que depois de 1927 Stalin cessou de ser ativo na Internacional
Comunista; que os trabalhos de Stalin, apesar de incompletos, cessaram
de serem publicados na União Soviética em 1949, três anos antes de sua
morte; que, em termos de prática a longo-prazo, Stalin – apesar de ser
Secretário Geral do Partido Comunista e em boa saúde – falhou em
apresentar o relatório no 19° Congresso do Partido Comunista em 1952.
Deixe-me retomar a pergunta sobre a alegada “falência do Socialismo”.
Em
uma tentativa de prevenir a construção do Socialismo, em 1918 o novo
Estado foi atacado pelas forças armadas da Bretanha, França, Polônia e
Japão. Mas, mesmo pelo fato de que o novo Estado Soviético possuía nesse
tempo nem um Exército Organizado e nem militares experientes, a Guerra
de Intervenção de cinco anos acabou com vitória para os Soviéticos.
Os
oponentes do Socialismo aprenderam uma importante lição pelas suas
derrotas, nominalmente, que o Socialismo era muito improvável de ser
destruído por ofensiva direta, mas somente por dentro, isto é, por
agente posando como socialistas, trabalhando duro dentro do Partido
Comunista para atingir lugares de influência e então, em nome de
“modernizar” o Socialismo, usando esta influência para dividir o Partido
em linhas políticas que iriam minar o Socialismo e gradualmente
destruir o apoio do Povo Trabalhador ao Partido.
Isto
é um programa que os Marxistas chamam de revisionismo, pois enquanto
revisa o Marxismo de maneiras danosas, clama estar meramente o
“modernizando”.
Kruschev
se tornou o líder do Partido Comunista Soviético pouco depois da morte
de Stalin em 1953. Mas foi apenas em 1956, três anos depois, que ele se
sentiu seguro em atacar abertamente Stalin – e então somente em um
comício secreto que nunca foi publicado na União Soviética até vários
anos depois.
O
ataque à Stalin foi um prelúdio necessário para um ataque ao (e a
mudança do) programa para a construção do socialismo posto em frente por
Stalin.
Uma
das acusações comumente levantadas contra Stalin é que enquanto ele
estava no cargo de Secretário Geral do Partido muitas pessoas inocentes
foram falsamente aprisionadas por ações contrarrevolucionárias. Essa
alegação, diferente da maioria das outras, é verdadeira. Entre 1934 e
1938 o posto de Comissário Popular de Questões Internas – em cargo da
polícia de segurança – foi ocupado sucessivamente por Genrikh Yagoda e
Nikolai Yezhov. No julgamento público de Yagoda em 1938, ele descreveu à
corte como ele usou sua autoridade para servir à conspiração protegendo
seus companheiros conspiradores de prisões, mas prendendo comunistas
fiéis sob falsas acusações.
Foi
Stalin quem, suspeitando de que algo estava terrivelmente errado, pegou
seu secretariado pessoal sobre Aleksandr Poskrebyshev para investigar o
que estava acontecendo na polícia de segurança.
Foi
pelo resultado de tais investigações que Yagoda e Yezhov foram
demitidos e presos, que todos os supostos casos de crimes políticos
foram re-investigados e milhares de erros de justiça foram corrigidos.
Essa
situação foi mais responsável do que qualquer coisa pela produção de
bibliotecas inteiras de acusações contra Stalin o acusando de
assassinato em massa.
Com
cada edição de tais livros como o de Robert Conquest intitulado “O
Grande Terror”, sua estimativa das “vítimas” de Stalin subiu de vários
milhões para o ridículo. Quando, depois da Contra-Revolução estar
completa, Boris Yeltsin publicou figuras oficiais de prisioneiros
soviéticos, eles chegaram a ser menos numerosos que presos nos Estados
Unidos e a prensa mundial ficou estranhamente silenciosa.
Foi
para Leonid Brezhnev – que sucedeu Kruschev como Secretário Geral do
Partido em 1964 – que caiu a desonra de ser o verdadeiro desmantelador
do Socialismo. Sobre as “reformas econômicas” de Brezhnev, levadas sob o
disfarce de “descentralização”, ações foram feitas para substituir o
planejamento centralizado, que é uma das bases do Socialismo, pela
regulação da produção pelo motivo de lucro, que é uma das bases do
Capitalismo.
A partir daí, foi tudo abaixo.
O
que foi abolido, junto com a União Soviética, em 1991 virtualmente sem
oposição, não era Socialismo, mas uma particularmente corrupta e
não-democrática forma de Capitalismo semelhante ao Fascismo.
Hoje,
graças aos falsos comunistas como Kruschev, Brezhnev e Gorbachev a
antes unida União Soviética foi dividida em um número de principados
rivais, comumente em guerra entre si por serem falidas.
Mas
nós somos ditos que o povo da antiga União Soviética são agora
“livres”. Livres para serem desempregados e, caso forem sortudos o
bastante para conseguirem um emprego; livres para passarem meses sem
salários por que os bancos de seus patrões liquidaram; livres para
comprarem carros Rolls-Royce se eles forem milionários da Máfia; livres
para beberem água poluída. Livres para mendigar em qualquer lado da rua
pelo equivalente de algumas moedas.
Não
deveria ser surpresa de que nos noticiários Russos de hoje vemos
pessoas protestando carregando o retrato de Stalin! Para os que
protestam o retrato de Stalin simboliza o socialismo do qual eles foram
temporariamente privados.
Se, então, pessoas me chamam de “stalinista” – como às vezes o fazem – eu levo isso como um elogio, mesmo sendo um desmerecido.
Eu
honro Stalin como uma grande figura progressista que lutou toda sua
vida pelo fim do sistema Capitalista e Imperialista que é a causa de
cada ano de miséria e morte de incontáveis homens, mulheres e crianças,
especialmente no mundo Neo-Colonial.
Eu honro Stalin como uma pessoa que lutou toda sua vida pela maior causa no mundo:
A Liberação da Humanidade.
Uma carta à Academia Sarat em Londres
30 de abril de 1999
Escrito por Bill Bland
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