MANIFESTO
23.09.19
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP)
O Estado conhecerá uma Nova Modalidade Operativa. Só responderemos à ofensiva. Não vamos continuar a matar-nos entre irmãos de classe, para que uma oligarquia descarada continue a manipular o nosso destino e a enriquecer-se, cada vez mais, à custa da pobreza pública e dos dividendos da guerra. […] Desde a assinatura do Acordo de Paz em Havana, e do desarmamento ingénuo da guerrilha em troca de nada, a matança não cessa. Em dois anos, mais de 500 líderes do movimento social foram assassinados e já somam 150 os guerrilheiros mortos, no meio da indiferença e da indolência do Estado.
29 de agosto de 2019
Enquanto houver vontade de lutar
haverá esperança de vencer
Uma nova etapa de luta para o despertar das consciências
A partir do Inírida, que acaricia com a
ternura das suas águas frescas a selva amazónica, e do Orinoco, sitiados
pela fragrância do Vaupés, que é ananás maduro, anunciamos ao mundo que
começou a Segunda Marquetalia, ao abrigo do direito universal que
assiste a todos os povos do mundo de se levantar em armas contra a
opressão. É a continuação da luta guerrilheira, em resposta à traição do
Estado ao Acordo de Paz de Havana. É a marcha da Colômbia humilde,
ignorada e desprezada, rumo à justiça que brilha nas colinas do futuro.
Será a justiça da paz efetiva, não traída, abrindo as suas asas de
anseios populares sobre a perfídia do status quo. A rebelião
não é uma bandeira derrotada nem vencida; por isso continuamos com o
legado de Manuel e de Bolívar, a trabalhar a partir de baixo e com os de
baixo pela mudança política e social.
Procuraremos coordenar esforços com a
guerrilha do ELN [Exército de Libertação Nacional] e com aqueles
companheiros e companheiras que não abandonaram as suas bandeiras que
tremulam por uma pátria para todos.
Esta insurgência não se levanta das
cinzas como a ave fénix para continuar a operar nas profundidades da
selva remota. Não. Voará através do cristal dessas lonjuras brumosas
para abraçar com a força do amor os sonhos de vida digna e bom governo
por que suspiram as gentes do comum.
O objetivo não é o soldado nem o
polícia, nem o oficial ou o suboficial que respeitam os interesses
populares; será a oligarquia, essa oligarquia excludente e corrupta,
mafiosa e violenta que acredita que pode continuar a trancar a porta do
futuro de um país.
O Estado conhecerá uma Nova Modalidade
Operativa. Só responderemos à ofensiva. Não vamos continuar a matar-nos
entre irmãos de classe, para que uma oligarquia descarada continue a
manipular o nosso destino e a enriquecer-se, cada vez mais, à custa da
pobreza pública e dos dividendos da guerra.
Durante o trecho final do processo de
paz desenvolvido em Havana, e no breve espaço de um ano pós-acordo,
podemos constatar que há militares e polícias que anseiam pela paz para a
Colômbia, tanto como a gente do comum. Eles – que são povo fardado –
foram tocados pelos benefícios do Acordo e quiseram agora dedicar mais
tempo às suas famílias, a estudar e seguir uma carreira, a preparar-se
melhor para a defesa da soberania e a colocar as suas armas ao serviço
do povo. Sabemos que quiseram ter o poder suficiente para arrancar as
dragonas aos altos comandos corruptos da instituição... Não querem
continuar a ser utilizados por políticos dementes como gatilho dos
falsos positivos, do assassinato de líderes sociais e de ex-combatentes.
Não querem continuar a ser cúmplices do paramilitarismo, da
deslocalização forçada, do desumano despojo de terras e das políticas
económicas que vitimizaram milhões de colombianos. Indigna-os que só
eles tenham de se sentar agora no banco dos réus, enquanto a cúpula
política que emitiu as ordens contempla indiferente o espetáculo, por
trás do biombo da impunidade. Após o Acordo de Paz de Havana, a grande
maioria distancia-se da ideia absurda de serem sipaios de Washington,
numa guerra injusta contra a Venezuela.
Compatriotas e cidadãos do mundo, a
nossa divisa é: paz aos colombianos, paz aos países vizinhos, paz aos
quartéis que não apontem as suas miras e os seus canhões contra as
comunidades. Unidade, unidade, unidade... Mobilização do inconformismo
contra os maus governantes e pela construção de uma nova ordem social
justa.
Anunciamos o nosso total afastamento das retenções com fins económicos. Priorizaremos o diálogo com empresários, ganadeiros, comerciantes e a gente abastada do país, para procurar, por essa via, a sua contribuição para o progresso das comunidades rurais e urbanas. A única tributação válida será – sempre em função do financiamento da rebelião – a que se aplica às economias ilegais e às multinacionais que saqueiam as nossas riquezas.
Anunciamos o nosso total afastamento das retenções com fins económicos. Priorizaremos o diálogo com empresários, ganadeiros, comerciantes e a gente abastada do país, para procurar, por essa via, a sua contribuição para o progresso das comunidades rurais e urbanas. A única tributação válida será – sempre em função do financiamento da rebelião – a que se aplica às economias ilegais e às multinacionais que saqueiam as nossas riquezas.
Vamos atuar com dureza no combate contra
a corrupção, a impunidade e contra os ladrões do Estado que, como
sanguessugas, estão a chupar o sangue e até a alma do povo.
Continuaremos a ser a mesma guerrilha
protetora do meio ambiente, da selva, dos rios, da fauna, que os
colombianos conhecem, e não deixaremos de dar alento ao esforço mundial
da razão para deter a mudança climática. Contem com a nossa férrea
oposição ao fracking [método que possibilita a extração de
combustíveis líquidos e gasosos do subsolo – NT] que contamina as nossas
águas subterrâneas.
Queremos trabalhar com todos os estratos
do pensamento humanista a construção da pátria do futuro. Nós, os
colombianos, temos a carta de navegação do Libertador para marchar rumo a
“...um governo eminentemente popular, eminentemente justo,
eminentemente moral, que aprisione a opressão, a anarquia e a culpa. Um
governo que faça reinar a inocência, a humanidade e a paz”. Com
isto estaremos comprometidos de coração e sem descanso – como disse
Marulanda – numa luta constante pelas mudanças, motivados na grande
causa da paz com justiça social e soberania, por um Novo Governo
Alternativo que salve o país da crise geral.
Sim, nosso objetivo estratégico é a paz
na Colômbia com justiça social, democracia, soberania e decoro. Essa é a
nossa bandeira, a bandeira do direito à paz que garanta a vida. A vida é
o direito supremo. Nenhum dos direitos fundamentais é aplicável se não
houver vida. Por isso queremos para todos paz com alimentos, emprego,
água, teto, saúde, educação, estradas, comércio, conetividade, descanso e
a mais ampla democracia. Só assim daremos sentido à vida. Unidos
seremos o farol da esperança, a potência social transformadora que pode
tornar realidade o sentimento mais profundo que se aninha no coração
humano.
A paz traída
A história da Colômbia está salpicada pelas traições aos acordos e às esperanças de paz.
Em 1782, depois de firmar um Acordo com a coroa espanhola, que prometia o fim da opressão, o guerrilheiro comunero, José Antonio Galán, acabou atraiçoado, preso e esquartejado vivo. As partes do seu corpo desmembrado foram exibidas nas entradas de alguns povoados, como punição e recurso brutal para dissuadir a rebeldia.
Em 1782, depois de firmar um Acordo com a coroa espanhola, que prometia o fim da opressão, o guerrilheiro comunero, José Antonio Galán, acabou atraiçoado, preso e esquartejado vivo. As partes do seu corpo desmembrado foram exibidas nas entradas de alguns povoados, como punição e recurso brutal para dissuadir a rebeldia.
A seguir à batalha de Boyacá – aurora da
independência da Nossa América – a traição estendeu-se como névoa
revolta, agitada por uma ambição desenfreada de riquezas e poder. E foi
Santander o cabecilha da traição. Tentou por todos os meios, em
concertação com o governo de Washington, assassinar o libertador Simón
Bolívar e destruir o seu legado; e condecorou com a Cruz de Boyacá aos
assassinos do marechal António José de Sucre, que havia derrotado com os
seus soldados internacionalistas a opressão colonial na pampa de
Ayacucho. Santander é o herói da oligarquia colombiana e o seu
paradigma; não é o herói do povo.
Essa oligarquia santanderista cortou a
vida de Jorge Eliécer Gaitán, o caudilho armado pelo povo e que era para
este a sua esperança de redenção. A sua intransigência não perdoou a
Guadalupe Salcedo, chefe das guerrilhas liberais do Llano [planície], que
terminou crivado de balas, na pacificação dos anos 50. O mesmo fizeram a
Jacobo Prías Alape, porta-voz da guerrilha comunista nas conversações
de paz com o Governo da Frente Nacional. Em 1960 foi assassinado pelas
costas na povoação de Gaitania.
O Movimento político União Patriótica
(UP), surgido do primeiro diálogo de paz Governo-FARC, foi exterminado a
tiros. Mais de 5 mil militantes e dirigentes da UP foram abatidos. Toda
uma geração de revolucionários e revolucionárias foi massacrada.
Depois de firmar o acordo de paz com a guerrilha do M-19, nos anos 80, o Estado foi matando, um a um, os seus principais comandantes, os companheiros Iván Marino Ospina, Álvaro Fayad e Carlos Pizarro Leongómez.
Depois de firmar o acordo de paz com a guerrilha do M-19, nos anos 80, o Estado foi matando, um a um, os seus principais comandantes, os companheiros Iván Marino Ospina, Álvaro Fayad e Carlos Pizarro Leongómez.
E já no ano de 2011, um presidente da
República ordenou, com premeditação e aleivosia, o assassínio do
comandante das FARC-EP, Alfonso Cano, com quem, desde há meses, avançava
com contactos exploratórios para abrir conversações de paz. Esta
traição ocorreu a seguir a um bombardeamento da Força Aérea, com a
agravante de o comandante insurgente se encontrar capturado e totalmente
indefeso.
Desde a assinatura do Acordo de Paz em
Havana, e do desarmamento ingénuo da guerrilha em troca de nada, a
matança não cessa. Em dois anos, mais de 500 líderes do movimento social
foram assassinados e já somam 150 os guerrilheiros mortos, no meio da
indiferença e da indolência do Estado.
Quando firmámos o Acordo de Havana,
fizemo-lo com a convicção de que era possível mudar a vida dos humildes e
dos desapossados. Mas o Estado não cumpriu nem com a mais importante
das suas obrigações, que é garantir a vida dos seus cidadãos e,
particularmente, a de evitar o assassinato por razões políticas. Tudo
isto – a armadilha, a traição e a perfídia, a modificação unilateral do
texto do Acordo, o incumprimento dos compromissos por parte do Estado,
as montagens judiciais e a insegurança jurídica –, obrigou-nos a
regressar às montanhas. Nunca fomos vencidos nem derrotados
ideologicamente. Por isso, a luta continua. A história registará nas
suas páginas que fomos obrigados a retomar as armas. Somos a continuação
daquela gesta que se iniciou em Marquetalia, em 1964.
O ex-presidente Santos jurou, com voz
empostada de Nobel da Paz, que não mudaria nem uma única vírgula do
pactuado, que cumpriria o firmado de boa fé e que não nos ia colocar na
posição de coelhos. Mas nem sequer se atreveu a titular terras
aos camponeses que nelas viveram durante décadas, sendo algo tão simples
como a água. Tanto o fundo de terras, como a substituição voluntária
dos cultivos de uso ilícito, acompanhada de projetos alternativos e da
melhoria das condições de vida no campo ficaram, por agora, perdidas no
labirinto do esquecimento. Santos nada fez para impedir o afundamento,
no Congresso, da Reforma Política, sabendo, como todos os colombianos,
que nenhuma guerrilha se desarma se não existirem plenas garantias de
participação política para todos. E, para rematar, sabotaram as
Circunscrições Eleitorais Especiais de Paz, concebidas para que as
vítimas das regiões mais afetadas pelo conflito tivessem voz no
Congresso da República.
Estes são assuntos centrais da paz.
Agora, o seu sucessor na Presidência da República, Iván Duque, assegura
sem pestanejar que o que ele não assinou não o obriga, desconhecendo
assim que o acordo foi firmado com o Estado, não com um governo.
Quem são Duque e o Centro Democrático
para desconhecerem uma obrigação de Estado elevada a norma
constitucional, que hoje é Documento Oficial do Conselho de Segurança
das Nações Unidas e Acordo Especial do Art. 3 das Convenções de Genebra?
O Estado que não respeita os seus compromissos não merece o respeito da
Comunidade Internacional, nem do seu próprio povo.
Estivemos próximos de pôr fim, através
do diálogo, ao mais longo conflito do hemisfério, mas fracassámos porque
o institucionalismo não quis respeitar os princípios que regem as
negociações, o pacta sunt servanda [os
pactos são para serem cumpridos – NT] e a boa fé. Conseguido o que
queriam, que era a entrega das armas, fizeram conscientemente em
pedacinhos o Acordo de Paz, despedaçando – como dizem os uribistas – “esse maldito papel”.
Olhando para trás, o primeiro passo da
traição foi a convocação de um plebiscito improcedente, porque sendo a
paz um direito básico fundamental não se consulta. Aparentemente, mais
do que blindar a paz, o que Santos queria era derrotar Uribe, expondo
assim o mais importante êxito da Colômbia, nas últimas décadas, à mercê
da mentira, da politiquice e da manipulação mediática do uribismo.
O Ato Legislativo 002, de 2017, que
obriga as instituições do Estado a cumprir o acordo de paz, foi
debilitado de maneira incoerente, até pelo próprio Tribunal
Constitucional que o aprovou. Se alguns conteúdos do Acordo não estavam
em consonância com a norma constitucional, o caminho era modificá-la,
para que não colidisse com o disposto no Acordo Final, respeitando
sempre as convenções internacionais sobre Direitos Humanos e o Direito
Humanitário Internacional.
As modificações deste Tribunal
prejudicaram o Acordo sobre as vítimas e a justiça para a paz, acabaram
com a autonomia da Jurisdição Especial para a Paz (JEP) como jurisdição
fechada, modificaram o regime de condicionalidade, só para armadilhar os
guerrilheiros, excluíram terceiros envolvidos no conflito, amparando-os
com a impunidade, e ampliaram o foro especial para presidentes da
República a todos. O Tribunal também modificou a Lei de Amnistia,
passando por cima de disposições claras do Estatuto de Roma, em relação
ao recrutamento de menores.
Esse Tribunal, que havia sentenciado que
o Acordo não podia ser modificado nos próximos três governos, terminou
dando rédea solta a legisladores de direita que, em rápidas dentadas de
“fast track” [via rápida – NT] o destroçaram, com o pretexto da sua
implementação normativa. Perguntamos: em que lugar do planeta um acordo
de paz firmado solenemente por uma guerrilha e um Estado, aplaudido pelo
mundo, foi unilateralmente destruído dessa forma tão infame, por
pessoas que nunca foram plenipotenciárias das partes? O
Procurador-Geral, congressistas de direita da fação política de Uribe e
Duque, e a embaixada dos Estados Unidos comandaram a imperdoável derrota
da paz.
A oração de Jorge Eliécer Gaitán, que
recordámos na implementação dos diálogos de paz, em Oslo, retoma hoje,
perante esta realidade, uma esmagadora atualidade: “Bem-aventurados
os que entendem que as palavras de concórdia e de paz não devem servir
para esconder sentimentos de rancor e extermínio. Mal-aventurados os
que, no governo, escondem, por trás da bondade das palavras, a impiedade
para os homens do povo, porque serão marcados com o dedo da ignomínia
nas páginas da história!”.
Para os filhos de Santander continua a ser “primeiro a lei – neste caso o direito penal do inimigo – assim, que o diabo leve a República”. Essa visão fundamentalista foi o que matou a paz.
Como construir a paz sobre estas ruínas
taciturnas? Por algum lado há que começar. E tem de ser com a instalação
no Palácio de Nariño de um Novo Governo, ali colocado por uma grande
coligação de forças da vida, de justiça social e democracia, que
convoque um novo diálogo de paz. Um novo diálogo que corrija e aprisione
a perfídia e a má fé, que envolva as forças guerrilheiras e todos os
atores armados, para que possamos fundar uma paz definitiva, estável e
duradoura, selada com o compromisso coletivo do Nunca Mais. Um novo
Acordo de Paz sem mais assassinatos de líderes sociais e de
ex-combatentes guerrilheiros, em que as armas sejam verdadeiramente
retiradas da política e colocadas longe do seu uso – não entregá-las.
Não mais santanderismo
Se não nos libertarmos da maldição do
santanderismo, nós, os colombianos, nunca teremos paz, nem pátria digna.
Com esse lastro será impossível levantar voo. Foi Santander um falso
herói nacional e “o arquétipo da simulação: não tinha cara, tinha máscara”. “Não foi o paradigma da Colômbia, mas sim o da sua destruição”. O santanderismo é “o triunfo do pícaro sobre o homem honrado”. Uma “sórdida rábula, que afiava as suas garras nos dorsos dos tratados de direito”,
isso foi Francisco de Paula Santander. Roubou o empréstimo de 1824. Era
invencível no campo da pequenez, quer dizer, em eleições, compadrios,
clientelismos, difamações, suspeições, intrigas, em organizar maiorias
no Congresso...; controlava o poder judicial e o legislativo; manipulava
a imprensa de Bogotá. Planeou com os Estados Unidos dividir e
desmoralizar o exército libertador; sabotar o Congresso Anfictiónico [1]
do Panamá; desmembrar a Colômbia; impor o seu racismo, assassinar
Bolívar e Sucre, e abolir a obra política e legislativa bolivariana. E
promoveu a invasão do Peru para a Grande Colômbia. Com razão, dizia o
Libertador: “Quanto a Santander, a este homem perverso já nada lhe
resta por fazer, toca todas as teclas da intriga, da maldade, e a
maldade é para me ferir e formar o seu partido... A existência desse
monstro de iniquidade e perfídia é uma cilada perpétua ao governo, a mim
mesmo e à Colômbia”.
Uma nova forma de fazer política
Analisada a partir do dever ser e da
inocência, a política é uma elevada manifestação de altruísmo, que
impulsiona – longe de todo o interesse material individualista – o
serviço aos cidadãos e à pátria, não pelo ouro, nem pela fama, nem pelo
predomínio, mas sim por amor e sentimentos puros de humanidade; pela
dignificação da vida e pela grandeza da pátria.
Mas a política na Colômbia – salvo
honrosas exceções – deixou de ser uma prática louvável para se converter
na arte de roubar e enganar, acompanhada por uma eloquência sonora e
demagógica. A maioria dos políticos e seus delfins, instalados nos
poderes executivo, legislativo e judicial, não pensam em servir, mas sim
em enriquecer-se. Inventam todos os dias leis e mais leis para
beneficiar a grande empresa, o capital e eles próprios, enquanto mantêm o
povo longe, muito longe, do seu coração. Magistrados venais interpretam
a lei, que é a lei do funil: “a parte ampla para eles e a estreita para os outros”.
A grande maioria dos nossos males vêm das suas leis absurdas. O
controle da Fazenda Pública, a assinatura de contratos, as multas
sumarentas são as únicas coisas que preenchem a sua ambição. E para o
conseguir compram tudo: cargos, autarquias, governações, presidências da
república e também consciências famélicas e sem luzes, para que votem
neles.
O Estado foi sequestrado pelos foragidos
e pela máfia da corrupção e da impunidade. Resgatá-lo e libertá-lo está
nas mãos da mobilização das consciências, da nação em massa, do povo
unido. Essa é a força que pode.
A palavra cabe ao soberano
Sim. Devemos levantar esta república das
ruínas. E isso só o povo o pode fazer, que é o verdadeiro soberano. Por
cima dele, apenas o céu. O movimento social e político colombiano tem a
palavra. Na introdução do Acordo Final de Havana há um compromisso que
ficou suspenso no firmamento rígido dos incumprimentos e que é
necessário reviver; trata-se da convocatória a todos os partidos,
movimentos políticos e sociais, e a todas as forças vivas do país para
concertar um grande ACORDO POLÍTICO NACIONAL destinado a definir as
reformas e ajustes institucionais necessários para atender aos reptos
que a paz exige, pondo em marcha um novo paradigma de convivência
política e social.
O regime imperante, de políticas
neoliberais, de corrupção e guerra do atual poder de classe, colocou-nos
perante dois caminhos: ou se abre uma recomposição, como resultado de
um diálogo político e da institucionalização das mudanças resultantes de
um Processo Constituinte Aberto, ou essas mudanças, tarde ou cedo,
serão conquistadas mediante a explosão do inconformismo de todo um povo
em rebelião.
Continuemos a tentar a saída mais
concertada; abramos todos os caminhos de aproximação; analisemos e
recolhamos as múltiplas propostas e plataformas elaboradas a partir do
campo popular e da intelectualidade crítica do país e façamos com elas
uma só bandeira, para marchar como processo constituinte aberto, rumo à
superação da exclusão, da miséria e das imensas desigualdades; rumo à
democratização em profundidade do Estado, da vida social, restabelecendo
a soberania e procurando incidir nos processos de mudança na Nossa
América e garantir o bem-estar e o bom viver do nosso povo. Trata-se
também de potenciar as nossas aspirações e elevá-las a um novo nível, no
qual, então sim, uma Assembleia Constituinte suficientemente
representativa e com plenas garantias de atuação, dê um impulso
definitivo às transformações estruturais que a Colômbia requer.
Os jovens, as mulheres, os camponeses,
os negros e os índios, os transportadores, os grémios, os partidos
políticos, as centrais operárias, os desempregados, os cristãos e
integrantes de outros credos religiosos, os ambientalistas, os
desportistas, o movimento comunal, o arco íris LGTBI, os que sonham com a
paz, todos e todas, devemos unir forças para conquistar o objetivo de
um novo país, de uma nova ordem social, com uma economia ao serviço da
nação, que, regida por princípios de humanidade, estimule a produção
interna e o emprego. Que assuma a educação gratuita e de qualidade em
todos os níveis, como a primeira necessidade da República. Uma política
internacional de paz, que retome a ideia de Bolívar, de conformar neste
hemisfério uma Grande Nação de Repúblicas irmãs, que garanta a nossa
independência e liberdade. Uma nova ordem que, ao proclamar a soberania
da pátria, proíba a extradição de nacionais, o livre arbítrio das
multinacionais e a presença de bases militares estrangeiras no
território.
A potência transformadora
A unidade do movimento social e político
do país, com as suas bandeiras de vida digna desfraldadas, é a potência
transformadora, a potência da mudança social, em cuja construção
devemos empenhar-nos.
A força do povo está na UNIDADE, na militância nacional
pela dignidade da Colômbia e da sua gente. A potência transformadora
forma-se com a unidade e a força de todas as consciências que confluem
de todos os pontos cardeais onde palpita o anseio de uma pátria nova.
Não devemos deixar-nos encurralar pelos militaristas e tiranos.
Sejamos um só punho ao alto, por um novo
governo, um governo de transição. Não mais do mesmo. Tomemos o leme da
Colômbia e dirijamo-la, sem perda de tempo, para a costa da dignidade
humana. Somos mais. Apliquemos a força da união e da razão para levar ao
Palácio de Nariño um governo que ame os seus cidadãos, respeite os seus
vizinhos, inimigo da guerra, soberano e solidário com os povos; com
novas instituições integradas com gente virtuosa, honrada, de méritos e
sentimentos humanos. Um governo que faça a felicidade do povo.
A luta continua!
Com Bolívar, com Manuel, com o povo ao poder!
FARC, Exército do Povo
[1] relativo a anfictião: na Grécia
antiga, cada um dos membros do conselho de representantes dos Estados
confederados que se reunia regularmente para deliberar sobre assuntos de
interesse geral (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). – NT
Fonte: https://farc-ep.info/2019/08/29/manifiesto-una-nueva-etapa-de-lucha-para-el-despertar-de-las-conciencias/, colocado e acedido em 2019/08/29
Tradução do castelhano de PAT
Sem comentários:
Enviar um comentário