Marcelo PR e as comparações obscenas Alfredo Barroso
Sinceramente,
ainda esperei que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e
os órgãos de informação (?) que o idolatram se indignassem perante a
compensação ou indemnização que um tal Marcel Keizer,
ex-treinador deveras incompetente da equipa de futebol do meu clube - o
Sporting - levou para casa: nada menos do que 2 000 000 (dois milhões)
de euros! Ou seja: praticamente o mesmo que tanto o PS como o PPD-PSD
contam gastar na campanha eleitoral para a
Assembleia da República. Podiam ter pegado neste caso, de um dos clubes
do futebol português tecnicamente falidos, para criticar as quantias
exorbitantes pagas a treinadores do “pontapé-na-bola” e, sobretudo, a
gestores de empresas despedidos por incompetência
- porque falharam completamente os objetivos e alguns deles conseguiram
mesmo destruir as empresas - e que, ainda assim, têm direito a
compensações ou indemnizações faraónicas, apesar de o seu desempenho se
ter traduzido num enorme fiasco. Bem sei que se trata
de entidades privadas e que - por um reflexo bastante provinciano e uma
dependência cada vez maior da plutocracia - a maioria dos órgãos de
informação (?) acham que os privados podem fazer tudo o que lhes der na
gana, pois o privado é que é bom, e o público
é que é aquela “merda” que espatifa “sem critério” o dinheiro dos
contribuintes. Isto é: os privados fartam-se de falhar, mas ao menos
falham “com critério”…
Infelizmente,
Marcelo PR interfere continuamente onde não deve, ou - em jargão
popular - mete o bedelho onde não é chamado.
Neste caso, para dizer ao povo que ele, Marcelo PR, é que é muito
poupadinho e que os outros políticos e os seus partidos é que são a
malandragem que estafa um fartote de dinheiros públicos. É ver o que
ele, Marcelo comentador - então a fazer-se passar por
um ilustre forreta desconhecido -, mal gastou na sua campanha eleitoral
de 2016 para conquistar o poleiro de Belém, onde não pára de palrar
como um papagaio, oscular como um beijoqueiro e girar como um catavento:
de facto, nem sequer chegou aos 180 mil euros.
É obra, pá! - dirá o povo, entusiasmado com tamanha parcimónia. Claro
que Marcelo andou durante 20 anos a fazer pré-campanha eleitoral,
fingindo, sem o conseguir, que era um comentador político isento,
chegando até a falhar no seu intento de vir a ser primeiro-ministro
- aquilo como chefe do PPD-PSD e a relação com o CDS-PP de Paulo Portas
não correu lá muito bem… - mas, enfim, acabou por triunfar no grande
desiderato de se instalar no Palácio de Belém, mesmo em frente da
estátua do famoso Albuquerque, “o terríbil”… Felizmente,
para ele, este Albuquerque já está morto e bem morto há séculos, porque
senão era capaz de vir a ser um pesadelo para Marcelo PR - se é que ele
tem pesadelos…
Eh
pá, ó Alfredo Barroso, você não gosta mesmo do homem! - dizem-me as
“boas almas” que acham que eu sou excessivo e me passo
das marcas em muitos dos meus comentários. Pois é, mas eu já observo “o
homem” há décadas e acho que o seu comportamento como político - um
videirinho frio como uma vichyssoise - e como comentador muito bem pago -
mas muito pouco isento - não me deixa acreditar
na espontaneidade do que ele faz nem na sinceridade do que ele diz. De
facto, sempre o julguei um político - e um comentador político - frio e
calculista, inclusive nos abraços e beijos que vai dando a quem lhe
apareça pela frente e lhe peça uma selfie. Até
na atribuição de certas comendas ele calculou a quem lhe seria mais
útil dá-las e as receberia com o maior prazer e vaidade. Não é que os
seus antecessores não o tenham feito também; todavia, davam-nas a
posteriori, entre muitas outras, ao passo que, no caso
de Marcelo PR, elas foram atribuídas isoladamente, nos primeiros anos
deste mandato, metendo-se pelos olhos dentro o seu propósito deveras
interesseiro, sobretudo para catrapiscar ou neutralizar os tão felizes
contemplados, o que se me afigurou patético e
chocante…
Em
suma: os avisos de Marcelo PR - realçados, como é costume, por várias
TV, rádios e jornais, que o idolatram como “um dos
seus” - contra os custos, que ele considera “excessivos”, das campanhas
eleitorais dos diferentes partidos políticos que concorrem às
legislativas são, na minha opinião, política e jornalisticamente
facciosos, risíveis e obscenos! É certo que, em 2016, o então
candidato Marcelo Rebelo de Sousa gastou menos de 180 mil euros durante
a campanha eleitoral para Presidente da República. Mas fê-lo por um
motivo bem simples (que ele e a “sua” imprensa agora ignoram
deliberadamente): é que a pré-campanha eleitoral do prof.
Marcelo durou mais de 20 anos e foi paga pelas TV, sobretudo pela TVI,
onde fez comentários sempre bem remunerados, embora nem sempre sérios,
praticamente todas as semanas. Ele bem sabe que eu tenho razão, e que os
seus “avisos” e comparações revelam grande
hipocrisia política e uma desonestidade intelectual verdadeiramente
obscena. Mas Marcelo PR tem mostrado toda a vida que as acusações de
hipocrisia, cinismo ou falta de vergonha não o incomodam minimamente
porque são partes intrínsecas do seu carácter, do
seu estilo, do seu comportamento pessoal e das suas atitudes públicas -
quer como comentador político, quer como chefe de partido (PPD-PSD),
quer como membro de Governos da direita no tempo da Aliança Democrática,
quando a sua deslealdade política e pessoal
veio ao de cima como o repuxo da marina de Paço d’Arcos!
Os
partidos políticos democráticos são parte integrante de qualquer
democracia pluralista e pluripartidária. É verdade que a
democracia custa dinheiro, mas será bom não esquecer que ela está
submetida ao dever de transparência, à obrigação de fiscalizar e à
liberdade de criticar. Por enquanto, e felizmente, é o que sucede nas
democracias ocidentais que ainda não foram assaltadas
e deformadas por políticos da extrema-direita. Mas também é verdade que
quaisquer ditaduras são astronomicamente mais caras que as democracias,
custam muito mais ao erário público e aos cidadãos, sujeitos ao poder
discricionário dos ditadores, à falta dos
direitos e liberdades públicas essenciais, ao controlo das comissões de
censura e à constante ameaça de perseguições, prisão e tortura levadas a
cabo por polícias políticas - como a PIDE de Salazar e a DGS de Marcelo
Caetano, os ditadores que Marcelo PR admirou,
comprovadamente, desde a mais tenra idade.
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