Adolfo Sánchez Vázquez*
Ética e marxismo**
* Catedrático de Estética e Filosofia Política na Faculdade de Filosofia e Letras e Professor Emérito da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).
** Tradução de Simone Rezende da Silva.
Propomos-nos examinar as relações entre ética e marxismo. Porém, ao abordá-las, necessitamos partir de uma distinção entre ética e moral que não sempre pode fazer-se com a conseguinte confusão de termos. Pois bem, por moral entendemos uma forma específica do comportamento humano, individual ou coletivo, que se dá realmente, ou que se propõe que deveria dar-se. E por ética entendemos a atenção reflexiva, teórica à moral em um ou outro plano –o fático ou o ideal– que não são para ela excludentes. Vale dizer: à ética interessa a moral, seja para entender, interpretar ou explicar a moral histórica ou social realmente existente, seja para postular e justificar uma moral, que não se dando efetivamente, considera-se que deveria dar-se.
Temos, pois, frente a nós, a moral em um duplo sentido: como objeto de reflexão ou conhecimento e como conjunto de princípios, valores ou normas às quais se considera que deveriam ajustar-se as relações, em sociedade, entre os indivíduos ou dos indivíduos com determinados grupos sociais ou com a comunidade. Contudo, este sentido normativo não somente é próprio da moral que se propõe, como também da crítica da moral existente, assim como da crítica à qual podem submeter-se outros tipos de comportamento humano como o político, o estético, o religioso, o lúdico ou o econômico. A partir deste enfoque, cabe uma crítica moral de certos atos como os de uma política que recorre a certos meios aberrantes, ou os de certa economia que rebaixa ou anula a dignidade do trabalhador ao fazer dele um simples instrumento ou mercadoria. Em casos como estes, a moral –justamente por seu caráter normativo– com sua crítica a partir de certos princípios, valores ou normas, enfrenta-se com outras formas de comportamento humano que, por sua natureza específica não têm uma conotação moral. Entretanto, ao marcar a presença da moral em outras formas de comportamento humano, é necessário tomar cuidado para não acentuar esta presença até o ponto de dissolver nela o comportamento específico de que se trate; isto é, não se pode cair no extremo que o dissolve: o moralismo. Como também será necessário tomar cuidado com outro extremo que também dissolve a moral: o sociologismo, na teoria ou no pragmatismo ou “realismo” na prática [política].
Com estas precauções, abordemos o problema das relações entre o marxismo como ética e a moral, entendidos ambos os termos no duplo plano antes enunciado: explicativo e normativo.
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