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By António Gomes Marques on 15 de Setembro de 2025
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Ainda o processo kafkiano contra Boaventura de Sousa Santos
Carta a um amigo
por Júlio Marques Mota
Meu grande amigo
Obrigado pela tua leitura do meu texto sobre o Processo kafkiano – o processo contra Boaventura de Sousa Santos
Dizes-me:
“Júlio,
Já li texto sobre a defesa do Boaventura.
Formalmente está bem escrito, com lógica, e é uma boa defesa que fazes do nome dele.
Sendo
amigo dele, interpreto como um gesto nobre da tua parte, numa altura em
que ele está a ser marginalizado. Isto nada tem a ver com as opiniões
que possamos ter sobre o pensamento político dele.” Fim de citação
Meu
caro amigo, eu sublinho no meu texto que parto de um ponto de vista
muito especial, o caminho indicado por Sraffa, como sendo o homem caído
da lua, o homem que se quer assumir como não conhecendo ninguém, um
homem que se quer assumir sem circunstâncias que o condicionem. Não cito
ninguém ligado ao processo, não conheço as acusantes, não frequento o
CES, nunca “quis ser envolvido nas Sociologias”, não me cruzo com o
Boaventura de Sousa Santos há mais de 20 anos. Este é o ponto de
partida.
E
porquê este ponto de partida? Porque é que não parti da ideia de que as
acusações feitas correspondiam ao que se tinha passado?
Dito
de uma outra forma, escrevi o texto não como amigo seja de quem for,
escrevi-o como cidadão revoltado contra o cancelamento que a uma das
figuras de maior relevo na universidade portuguesa atual está a ser
imposto. Assim, sejamos bem claros, o ser amigo do Boaventura não tem
nada a ver com o texto escrito. Fui seu amigo de muitos anos antes,
apesar de muitas picardias profissionais entre nós os dois, continuo a
ser seu amigo porque como argumento no texto, não me é credível o que as
acusantes afirmam. Se me fossem credíveis as referidas afirmações
acusatórias garantidamente eu deixaria de o considerar como amigo e o
texto que leste nunca seria escrito. Detesto o politicamente correto.
Este
distanciamento permitiu-me sustentar a minha argumentação apenas no
plano lógico e tanto assim que só depois do texto terminado é que passei
a ler a troca de emails entre Boaventura de Sousa Santos e as
acusantes. Fiquei-me pelo primeiro nome da lista, uma das principais
acusantes senão mesmo a principal, e fiquei horrorizado com o que li.
Até dois anos antes da “bomba” explodir ele era visto por ela como uma
espécie de anjo protetor, tendo-lhe até sido pedido pela acusante que
ajudasse um amigo seu que estava com uma depressão, possivelmente
provocada pela tensão vivida em torno de uma tese para entregar. Um
pedido que significa muito: significa que a relação entre Boaventura e a
acusante era boa, que o Boaventura era visto como alguém capaz de tirar
o amigo da “fossa”, uma confiança credivelmente assente noutros casos
de apoio dado pelo Boaventura de que a acusante deverá ter tido
conhecimento.
Com
o quadro mental, que a vida me permitiu elaborar ao longo destes meus
82 anos vividos e muitas das vezes sofridos, pretendi apenas olhar para a suposta realidade
do que as acusantes dizem ter acontecido e confrontar o que diziam
sobre essa situação com o que conheço da vida académica. Como expliquei
no meu texto, nada bate certo de uma coisa com a outra e é esse mesmo
texto, meu amigo, que tu consideras solidamente argumentado. Fiquei
satisfeito com essa tua leitura onde até a palavra amigo está certa
desde que associada a espírito de missão e este espírito de missão
estava implícito quando referes o ato nobre de publicar o texto para
além dos mal-entendidos que se pudessem colher com a sua publicação.
Partes,
pois, do raciocínio lógico do meu texto para o sentimento do homem
comum que expões a seguir e que reproduzo mais abaixo. Deixa-me,
entretanto, explicar-te qual foi o meu trajeto.
Quando
a bronca estalou, numa coisa eu acreditei, que haveria assédio sexual
mas questionei-me: qual a origem nele ou nelas? Um enviesamento,
seguramente. Deixa-me expor uma anedota que corre na Internet.
“
Há algumas semanas, jantei na casa de um amigo. À mesa, a filha dele,
de 9 anos, desafiou-me com um enigma. Talvez o leitor já o conheça.
Um
pai e um filho sofrem um grave acidente de carro. O pai morre na hora,
enquanto o filho é levado de helicóptero para o hospital em estado
crítico. Quando o garoto chega ao pronto-socorro, um cirurgião entra,
olha para o paciente e diz: “Não posso operar este menino, ele é meu
filho”. Então, quem é o cirurgião?
Eu
disparei alguns palpites rápidos. O cirurgião era o padrasto do menino.
O pai que morreu no acidente era o padrasto, e o cirurgião era o pai
biológico. Ou talvez o pai adotivo do garoto. Demorei alguns minutos
nisso. A filha do meu amigo olhava-me como se eu tivesse três cabeças.
Depois de um tempo, perguntou-me: “O que há de errado consigo ?A
resposta é: a mãe!”.
Fiquei
a morrer de vergonha. Pensei: “Meu Deus, o que há de errado comigo?!”.
Não conseguia acreditar que não tinha pensado na mãe. A resposta era tão
óbvia depois que o ouvi.
Quando li essa história no blog anecdote.com
neste fim de semana, também não consegui pensar na resposta certa. E
isso apanhou de surpresa a minha filha (que estuda uma área relacionada
com a medicina) e a minha esposa (que é médica). O meu filho
adolescente, no fim de contas, acertou.
Este
é um ótimo exemplo de como os nossos pressupostos estão tão
profundamente enraizados na nossa cabeça que um enigma com uma resposta
tão óbvia como é este o caso pode deixar-nos perplexos. Não consigo
evitar extrapolar a partir deste caso sobre como hipóteses inconscientes
influenciam as nossas decisões e perspetivas diante dos muitos desafios
difíceis que estamos a tentar enfrentar – a igualdade no local de
trabalho, por exemplo. Este artigo da Psychology Today explica
que “o viés de confirmação faz-nos pensar que estamos a pensar e a
avaliar racionalmente, quando na verdade não o estamos a fazer
racionalmente”. (original aqui)
O
final desta história a brincar diz-nos muito. Que pensei eu com as
primeiras declarações bombásticas? Que não há fumo sem fogo. Pensei
então: quem é que assediou quem? Parti, pois, da hipótese de que o
assédio existia, mas a partir de quem é que não sabia. Razão para este
raciocínio: como afirmei no texto o Boaventura aparecia para muita gente
como uma figura encantadora e para muita gente da América Latina como
uma espécie de santo na Terra. Naturalmente, a admiração poderia
transformar-se consciente ou inconscientemente em tentativa de sedução
delas, ou vice-versa pela parte dele face à admiração por elas mostrada.
Não pus a hipótese de não haver fogo, de só haver fumo , e um fumo
muito estranho, diga-se de passagem! Mas deixemos o mundo de santos e
santas. Surge depois a ideia de assédio moral e supostamente altamente
violento relativamente ao namorado da agora deputada brasileira. Aí
pensei, não, isto não pode ser. Isto seria só próprio de um monstro e de
um monstro fora de qualquer controlo. E de um monstro sem controlo não
havia uma qualquer notícia. Logo, uma hipótese a rejeitar. Depois houve a
documentação apresentada por Boaventura de Sousa Santos relativamente
às duas primeiras denúncias. Aí comecei a colocar uma hipótese
diferente: a de as duas acusantes estarem em campanha política nas suas
terras e de a campanha de acusações corresponder a interesses outros
que não os que as palavras de acusação traduziam. Uma ideia que morreu
ali. Era vaga demais para eu me ficar nela.
Mas
o inconsciente coletivo tem muita força sobretudo quando envolve
questões em torno da sexualidade. Esta lógica de só de um monstro
voltou-me, de novo, à cabeça quando ouvi a narrativa sobre o que se
teria passado na Curia com as tentativas sempre repelidas de mão na
virilha de uma mulher e num local rodeado de gente conhecida, um local
público! Ninguém abordaria uma mulher assim. Mais uma vez esta era,
assim, uma outra hipótese a rejeitar. Não, vão para o diabo com estas histórias. Não,
isto não pode ser assim, estas histórias não encaixam. Ninguém
abordaria inicialmente uma mulher, enquanto fêmea, desta forma, Terá de
haver outras razões, mas quais? A terminar a minha tomada de
consciência a sério, fiquei a saber dos múltiplos cancelamentos a que
Boaventura foi sujeito e, por fim, veio o cancelamento de Thomas Palley,
estabelecido pelos seus próprios colegas porque se tinha oposto á
guerra na Ucrânia. O campo de análise era agora já outro, era político, e
esse expliquei-o no texto que comentaste, uma análise em que penso
teres aceitado quando consideras que o meu texto estava bem argumentado.
É aqui que me desembaracei definitivamente dos fantasmas do
inconsciente coletivo quanto á sexualidade com as quais o pensamento
único é hábil em jogar, e como este caso tem muito bem ilustrado O meu
trajeto, o teu trajeto, mostram bem esta triste realidade, esse peso da
moralidade mesmo que inconsciente. E voltamos assim a história do
acidente acima relatada.
Com
o cancelamento tanto de Palley como de Boaventura estamos a falar já
não de acontecimentos locais- uma revista (Palley), uma Universidade
(Boaventura)- mas de um acontecimento a nível mundial e este não é nada
proporcional ao que se poderia considerar local. No caso que nos
importa aqui fomos levados a pensar em dois acontecimentos que a partir
de dado momento se terão desenrolado em paralelo, primeiro um movimento
desencadeado pelas vítimas do CES , depois é o aproveitamento
mundial pelos media, servidores fiéis e servis da lógica neoliberal e
das suas Instituições de base, as geridas pelos senhores do mundo, a que
se segue de imediato o descomunal cancelamento de Boaventura de Sousa
Santos. Depois, as ditas vítimas montam nesse cavalo poderoso que lhes é
oferecido para reforçarem as suas posições.
Meu
caro amigo, no teu texto abandonas depois o meu texto e o sentido
lógico nele contido para assumires o papel do cidadão comum,
questionando-se sobre a racionalidade ou não que pode estar por detrás
das acusações. E afirmas:
“Eu
só conheço este tema pelo que li nos jornais, nem sei se parte ou o
todo de que é acusado é verdade ou não, mas há coisas que fazem pouco
sentido, e se assemelham a muitas cabalas que nos chegaram através do
Metoo, de que sempre fui muito céptico, e acho, sem negar, por
desconhecer, que tenha havido situações de assédio, muitas foram
vinganças e acerto de contas antigas.
Uma
coisa que tenho dificuldade em perceber é o que terá motivado estas
“acusações”, ainda por cima agora e não no momento em que eventualmente
ocorreram. Vinganças? Mas porquê? Frustrações profissionais? Mas o que
resolve nesta altura?
O
movimento woke, apadrinhado por alguma esquerda (a esquerda também tem
defeitos), criou uma cultura de censura e autocensura e acusações a tudo
o que sai fora das baias do politicamente correcto. Não deixa de ser
curioso que Boaventura seja vítima desta cultura Woke, a que ele, justa
ou injustamente, foi por vezes associado. Movimentos como o Metoo e um
certo moralismo nasceram no seio da cultura Woke”. Fim de citação
Meu
caro amigo, sejamos claros, os homens e as mulheres são também o que
são as suas circunstâncias. Possivelmente, a maioria das circunstâncias
destas acusantes, por elas próprias designadas Coletivo de vítimas do CES, para
estas acusações de agora não terão de ser encontradas no tempo e no
espaço ao qual aludem as acusações, onde tu te queres situar, onde eu
também comecei por me sentar, mas sim nas circunstâncias de um outro
tempo, o de agora, e de outros espaços, os espaços em que vivem agora as
acusantes com as suas determinantes específicas. Que ambos
desconhecemos. Estas novas circunstâncias de tempo e espaço ignoramo-las
por completo e, então, será que as podemos considerar como elusivas unknow unknows,
uma vez que não podemos saber o que é que não sabemos delas? As tuas
interrogações de agora, tal como as minhas de outrora, são, pois,
puramente irrelevantes como digo acima, dadas as inconsistências
verificadas ou não explicadas pela Justiça que permanece calada. E não
esqueçamos o que o artigo da Psychology Today nos explica que
“o viés de confirmação faz-nos pensar que estamos a pensar e a avaliar
racionalmente, quando na verdade não estamos.” Julgamos avaliar
racionalmente quando muitas vezes não é o que fazemos como parece ter
sido o nosso caso, o meu e o teu, sobre esta situação.
Na
linha de raciocínio do meu texto, em que considero incoerentes as
declarações feitas pelas denunciantes quer com a vida universitária e as
suas exigências de trabalho intelectual quer com aquilo que se relata
na longa lista de emails trocados entre Boaventura e as acusantes, onde
se denota uma convivência sã, sou levado a pensar que também aqui há uma
motivação fortemente política deste grupo- independentemente do que é
feito á escala internacional pelos autores do cancelamento de Boaventura
pois aí os atores são já outros- assente o grupo na interseção
estabelecida por duas linhas radicais de esquerda não convencional: o wokismo e o interseccionalidade. Quanto aos efeitos destas duas linhas de atividade política na América e não só nela, estes são já bem visíveis
Num texto de Isabella Gonçalves e do Colectivo de vítimas do CES , intitulado
Chaui, a verdade não se divide entre o ‘santo Boaventura’ e as denunciantes (original aqui)
em que se pretende responder ao texto de Marilena Chaui onde esta defende fortemente Boaventura, pode-se ler:
“Para
enaltecer as qualidades intelectuais do homem, Marilena — que não nos
conhece, desconhece grande parte da história e sequer nos nomeia —
sentiu a necessidade de deslegitimar e atacar mulheres que se
mobilizam contra relações de poder estruturais na academia: o assédio
sexual e moral e o extrativismo acadêmico. (O sublinhado é nosso)
(...)
“E a história
hoje se move de uma academia enclausurada, marcada pela hegemonia do
pensamento colonial, racista e patriarcal, para uma academia com mais
mulheres, com mais pessoas do Sul Global, mais indígenas, mais pessoas
negras, que pensam, escrevem, questionam, se inquietam e se rebelam
contra as estruturas acadêmicas opressivas que por muito tempo lhes
impuseram barreiras e lhes causaram danos. O pensamento de Boaventura se inscreve nesse movimento, mas não está livre de contradições. ( O sublinhado é nosso)
A
relevância dos livros e da teoria de Boaventura para o pensamento
progressista leva alguns e algumas a crer que ele seja um santo na
terra. Mas, basta um pouco de convivência, para perceber a distância
entre o que se fala e o que se faz, entre teoria e prática, escancarada em sua trajetória marcada por muitos privilégios, brancos e europeus,
e por uma forma arrogante de se relacionar com quem desagrada sua
vontade imaculada, sobretudo quando essas pessoas estão subordinadas a
ele por vínculos laborais ou acadêmicos (os sublinhados são nossos)
(...)
“A exposição do “Caso Boaventura”
não se trata de vingança nem de destruir a imagem pública de alguém. A
sequência de relações abusivas de poder narradas pelas denunciantes diz
respeito não apenas ao professor, mas sobretudo à forma estrutural como o
patriarcado se reproduz no espaço acadêmico.”
(...)
Falar
de extrativismo intelectual e assédio moral e sexual no contexto
acadêmico significa debater duas dimensões estruturantes de uma
universidade que precisa se reinventar para reduzir a distância abissal
entre teoria e prática. Debates feministas importantes têm
refletido como a academia deve se tornar emancipatória, intercultural e
ecológica para as mulheres, em especial migrantes, indígenas, negras,
LGBT+. (O sublinhado é nosso)
(...)
Marilena,
ao afirmar que as denunciantes mentem, pois usufruíam de boas condições
de trabalho e pesquisa – o que as protegeria do assédio moral e sexual –
parece desconhecer a realidade da maior parte das mulheres na academia:
vivendo sem bolsas ou com remuneração insuficiente, sendo constrangidas
a não engravidar, a não amamentar, conciliando duplas e triplas
jornadas de trabalho, e, na maioria das vezes, realizando trabalhos
extras para seus orientadores para manter uma relação laboral e
científica precária.
(...)
A
‘Verdade’ é que o assédio moral e sexual e o extrativismo acadêmico são
elementos estruturais e estruturantes das relações de poder na
academia. Combatê-los não tem a ver com destruir a imagem pública de
alguém, mas sim com aprofundar um movimento dialético por uma academia
que não continue violentando mulheres.” Fim de citação.
Estes
excertos merecem ser lidos com muita atenção. Ao longo de mais de 15
anos tenho sido um forte crítico do que se passa na Universidade, dos
muitos poucos que se manifestam frontalmente contra o que se passa hoje
no Ensino Superior, mas quando falo de estudantes falo de homens e
mulheres, independentemente da cor, da raça, do género, quando falo de
docentes, falo de professores e professoras, uma vez que a precariedade
atinge-os a todos, e a precariedade para mim assenta na precariedade do
emprego de quem nas Universidades trabalha, assenta na precariedade das
condições de trabalho de uns e de outras, seja-se homem ou mulher,
assenta na desvalorização sistemática da profissão de docente, assenta
na degradação sistemática dos conteúdos do que se ensina, assente na
precariedade do valor dos diplomas concedidos, a valerem talvez menos
do que a tinta gasta na sua impressão. E isto não tem nada a ver com o
que se diz no texto acabado de citar, como se o problema da Universidade
fosse a necessidade desta “se tornar emancipatória, intercultural e
ecológica para as mulheres, em especial migrantes, indígenas, negras,
LGBT+” ou a necessidade desta ter “mais pessoas do Sul Global, mais
indígenas, mais pessoas negras, que pensam, escrevem, questionam, se
inquietam e se rebelam contra as estruturas acadêmicas opressivas que
por muito tempo lhes impuseram barreiras e lhes causaram danos”
Curiosamente,
quando estamos em vias de ver ruir toda a estrutura universitária, por
estar a ficar minada pelo trabalho demolidor levado a cabo pela
Inteligência Artificial Generativa (IAG) quando não se dispõe, nem de
Reitores, nem de diretores à altura dos graves problemas com se debate
o ensino superior, quando estes dirigentes académicos vivem
incapacitados para procurarem encontrar as linhas sempre difíceis de
defesa contra o ataque que contra a Universidade está a ser
desencadeado, quando a maioria dos professores que nela trabalham estão
já totalmente formatados para apenas lerem powerpoints e
aumentarem as linhas escritas dos seus curricula, quando tudo isto
acontece assiste-se à tentativa de assassinato intelectual de figuras
de alto gabarito como, por exemplo, as de Thomas Palley e de Boaventura
de Sousa Santos no altar do Pensamento Único, assiste-se é lamentável
ideia que os problemas da Universidade sejam basicamente os que são
citados por Isabella Gonçalves. Quanto a isso não é preciso dizer mais
nada.
O
alvo deste grupo parece, pois, ser político, parece então ser outra
coisa que não o que é expresso pelas acusações contra Boaventura: estas
acusações seriam apenas o meio para a notoriedade política que o
cancelamento de Boaventura lhes possibilitaria. Veja-se o que aconteceu
em S. Paulo, onde Boaventura de Sousa Santos terá sido impedido de estar
presente. Confinados, silenciados, vilipendiados na praça pública,
anulados, parece ser agora o destino dos que recusam o pensamento único.
Curiosamente, Isabella Gonçalves não deixa de afirmar: “A exposição do “Caso Boaventura”
não se trata de vingança nem de destruir a imagem pública de alguém. A
sequência de relações abusivas de poder narradas pelas denunciantes diz
respeito não apenas ao professor, mas sobretudo à forma estrutural como o
patriarcado se reproduz no espaço acadêmico.”
Pelo
que se transcreve, uma coisa é certa, a Universidade que Isabella
Gonçalves deseja não é claramente aquela pela qual me tenho vindo a
bater desde há décadas. Tudo isto é bem claro.
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