AS "CLASSES MÉDIAS"
A categoria sociológica de "classes médias" (seja no singular ou no plural) é enviesada para não dizer falsa. As camadas sociais intermédias - entre o proletariado produtivo de mais baixos rendimentos e a média-alta burguesia, ou seja, o capitalista - não constituem uma classe social, dada a sua heterogeneidade de lugares e funções na divisão social do trabalho e na distribuição dos rendimentos. Aliás, se admitirmos que somente se deveria falar de classe social quando um determinado e grande grupo possui dele mesmo consciência da sua identidade ou unidade de interesses contrapostos aos interesses dos capitalistas , então nem classe proletária existe enquanto classe consciente, mas enquanto grupo que possui objetivamente. mas não subjetivamente, isto é sem autoconsciência, uma função idêntica no modo de produção capitalista, qual seja o de produzir valor que lhe é extraído pelo patronato. Seja como for, as camadas intermédias, ditas "médias" existem subjetiva e objetivamente. quando se verifica que os seus constituintes desejam pertencer à classe alta, à burguesia capitalista, e rejeitam pertencer às classes mais baixas da formação social e económica. Procuram quase desesperadamente não "descer" e não ser tratados como meros assalariados, que o que são na sua maioria. Para isso determinada sociologia inventou o termo "elevador social". As camadas intermédias - se preferirmos "classe média" - auferem rendimentos mais elevados que a média dos operários, apresentando por isso maior poder de compra e capacidade de consumo. Tendem - ou prefeririam - a habitar em bairros de moradias e condomínios, conduzir automóveis mais caros e mais novos do que os pequenos lavradores e os pequenos assalariados - na sua crescente maioria precários-fabris ou pequenos empregados comerciais com maior ou menor vínculo à produção.
Admitidas estas definições entendemos porque os países mais ricos ou que procuram emergir da pobreza endémica ou nos quais observamos elevados (relativamente ao seu passado e a outros países) ritmos de crescimento económico, possuem um crescente volume de camadas médias e porque o seu lugar no ranking dos índices de desenvolvimento é visto por esse ângulo. Assim, diz-se : este ou aquele país é desenvolvido porque possui uma elevada e crescente classe média.
As classes intermédias, as camadas sociais não proletárias ou de uma "aristocracia operária", empregados do comércio relativamente bem remunerados, elementos da pequena burguesia, sempre existiram. Foram-se constituindo a partir do triunfo político da grande burguesia no século dezanove. Se o proletariado industrial (ou produtivo) existe na medida em que se formou a classe capitalista e vice versa, também se constituiu segundo ritmos diferentes da economia camadas sociais não proletárias (no sentido clássico) emergentes das novas divisões do trabalho. Modernamente o sector económico do comércio tem vindo a ultrapassar numericamente o proletariado (trabalhadores produtivos), nem sequer falando já dos camponeses que se reduziram ao mínimo num largo conjunto de países.
Assim sendo, as novas camadas médias adquiriram uma importância social e política cada vez maior, superando largamente o proletariado clássico em determinados lugares do globo. Os partidos políticos que desde sempre os representaram - tal como a pequena burguesia clássica (lojistas, pequenas empresas) - auto designaram-se não comunistas, até mesmo anti comunistas ou anti anarquistas, de social-democratas, ou com outros nomes - Trabalhistas, Fabianos, Socialistas - os quais poderiam agir na política de modos diferenciados. No século vinte assistiu-se ao triunfo consecutivo de partidos social-democratas na Europa central e nórdica, particularmente no pós-guerra.
Nos últimos decénios a luta de classes desenvolve-se com três "classes" : o proletariado, as "classes médias" e a grande burguesia (os grandes capitalistas, os verdadeiros "donos disto tudo".
Na sua expressão política a luta das "classes médias" contra os donos do Capital, existe de facto, porém mortiça, moderada, pelo facto de se haverem subjugado ao poder e à sedução do capital, isto é, do neo liberalismo. O proletariado, subjugado às formas de trabalho (ou contratos a termo) precário e mal pago, com poder de compra decrescente e fracamente representados por partidos políticos não social-democratas, oscila perigosamente na direção dos partidos da extrema-direita.
Fica a interrogação : virão a ser as "classes médias" as vanguardas da luta de classes? Não será necessário que os partidos que as representam se tornem mais diferentes da classe capitalista?
Enquanto isso suceda ou não suceda a médio prazo, para que direção se encaminharão os proletários?
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