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sábado, 31 de julho de 2010

Utopia

A que se deve o sucesso estrondoso do filme «Avatar»? Não só aos efeitos técnicos, nem às técnicas que fazem de um filme uma história bem contada, nem à publicidade. Deve-se a tudo isso, mas, sobretudo, à utopia que transmite, à história que vai ao encontro da utopia que o público transporta no seu íntimo, no seu desejo, na sua imaginação. A utopia de uma ilha Bem Aventurada, de um paraíso terrestre preservado alhures, num continente perdido ou num planeta longínquo. Uma utopia tão antiga como o homem quando inventou as cidades e a civilização. Uma utopia da natureza reencontrada, de uma unidade primogénita. O filme, engenhosamente, soube tocar nessa corda, nessa memória, nesse arquétipo. Dessa utopia nos falava Platão quando contrastava a Atlândida, caída em desgraça por culpa sua, com a República; nos falava Tomás More na sua ilha da Utopia, Diderot no seu «Suplemento à Viagem de Bougainville» nas ilhas dos mares do Sul, Cabet na sua «Icária», William Morris no seu sonho «News from nowhere», e muitos mais. Todos falam do mesmo. Em livros, em cinema, na pintura, na música. Até na filosofia. A natuerza humanizada, a humanidade naturalizada.

CANÇÃO

(América do Sul, Piaroas)

Um dia
a lua estacará no céu;
secarão as flores,
e na selva
só gão-de crescer as pedras.
E então,
depois de esmagar as cabanas
e todo o povo piaroa,
no mundo haverá apenas
a Grande Pedra negra.

(Trad. de Herberto Helder)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Os cães

O cão é um animal quase humano.
Habitua-se ao dono e conhece-lhe os tiques e os truques.
Mas não é somente isso:
ganha sentimentos.
Ri-se quando o dono ri
e chora quando ele chora.
Lambe-lhe o rosto defunto
não abandona o cadáver
(contam-se histórias extraordinárias).
É por causa disso que desviamos o carro
para não o atropelar.
E somos nós que morremos.
É uma estupidez, eu sei,
deve ser puro instinto,
sabe-se lá.

Apenas átomos

A contracção e implosão (Big Bang) que originou a formação do universo demonstra que a matéria já existia antes. Não surgiu do nada. O Nada nada é. Este universo não será com certeza o único, ainda que o outro -ou outros - não tenham que ser idênticos. O nosso universo teve um princípio e tem um fim. É finito e curvo. O espaço e o tempo que conhecemos é o nosso, haverá com certeza outros espaços e tempos. Tudo tem uma história: o homem, a Terra, o universo. E todas as histórias acabam mal.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Os gatos

Um gato é apenas um animal
que atrai as pulgas
as pulgas são implacáveis, tenazes, sobreviventes.
E um gato é apenas um bicho com quatro patas
que fica debaixo do carro
(a boca aberta sem um ai)
No entanto vemos um gatito na rua
molhado, friorento, esfomeado,
e não resistimos.
Não se pode travar, ou nós ou ele.
São assim os gatos:
não sabem sobreviver nas estradas.

O meu fantasma

Ontem vi um fantasma
pediu-me um cigarro
eu disse «Os fantasmas não fumam»
«Ai isso é que fumam, e comem, bebem,
conduzem carros, dormem em casebres ou palácios!»
«A sério? Sois como nós?»
«Certamente. Vivemos convosco. Trocamos de identidade.»
Fiquei à conversa com ele uma hora e picos, bebemos um chá e fumamos um cigarro.
«Bem, vou à vida», disse ele, e desapareceu (Acho que saíu pela janela)
Fiquei com uma pergunta para lhe fazer da próxima vez:
És o meu fantasma pessoal? Como os anjos da guarda de antigamente?
Se fores, sabes tudo sobre mim. Eu ignoro tudo sobre ti.
Nunca reparei que me tivesses protegido.
Se calhar não é esse o teu papel.
Um misterioso papel.

Sentenças

Odeio e detesto principalmente aquele animal chamado homem; embora ame cordialmente John, Peter, Thomas, e assim por diante.

J. Swift (escritor inglês, autor de «As viagens de Gulliver», 1667-1745)

Amo a humanidade- o que não consigo suportar são as pessoas.

Ch. M. Schultz  (cartonista norte-americano, nascido em 1923)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A ópera bufa

A PT vende a VIVO. Chegou ao fim a ópera bufa, a farsa, a telenovela, a mentira mascarada, a encenação, a negociata (de milhares de milhões). Só os tontos não percebiam, só os tontos acreditavam na treta do «interesse estratégico», no «interesse nacional». Com capitalistas? Puff! Com o governo de Sócrates? Puff, Puff!
Afinal o «interesse nacional» tem um preço. Neste capitalismo há alguma coisa que não tenha?
E sabem qual a primeira coisa que na PT vão fazer? Distribuir os dividendos. Mas não por todos, era o que faltava!

terça-feira, 27 de julho de 2010

As necessidades

As primeiras necessidades (a nível histórico e individual) dos seres humanos não se reduziam, nem se reduzem, ao comer, vestir, reproduzir-se, abrigar-se...mas também à necessidade de pensar (imaginar, acreditar, comunicar). Erraram sempre aqueles que não incluiram, nem incluem, isto mesmo. A base das sociedades é a economia (produção, modo de produção), a actividade produtiva, o trabalho, a propriedade, é certo, contudo havemos de incluir aí mesmo a actividade pensante, ligada em primeiro lugar às actividades produtivas. O materialismo ignorou este elemento e o idealismo ignorou o trabalho produtivo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Os negócios sujos do Império

EUA – TERRORISMO, TRÁFICO DE DROGAS E DE MULHERES


Posted: 25 Jul 2010 05:54 PM PDT



O jornal italiano LA REPUBBLICA, edição de 19 de Julho, publica um trabalho do jornalista Angelo Aquaro, sobre o tráfico de mulheres conduzido por “soldados”norte-americanos nas guerras de libertação mundo afora. Desde o governo Bush a política de terceirização das guerras e dos serviços secretos na organização terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A, colocou a empresa privada nesse rentável negócio. Guerras? Guerras e toda a sorte de subnegócios gerados a partir do espírito democrático, cristão e ocidental dos norte-americanos. Tráfico de drogas e de mulheres. Há um relatório da CIA – AGÊNCIA CENTRAL DE INTELIGÊNCIA – fartamente divulgado por toda a mídia não comprada, corroborado pela DEA – AGÊNCIA DE COMBATE ÀS DROGAS, que acusa, explicitamente, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de ligações íntimas com o tráfico de drogas; mais especificamente, cocaína. A carreira política de Uribe iniciou-se com financiamento direto de Pablo Escobar, mega traficante. Mas Uribe é aliado…

Segundo o WASHINGTON POST, edição de terça-feira, dia 20 de Julho de 2010, o governo do presidente Obama tem uma batata quente nas mãos. Mais de 30% dos serviços secretos estão em mãos de funcionários de empresas privadas contratadas no governo Bush para facilitar as ações supostamente de antiterrorismo. Os motivos alegados, custos mais baixos, caíram por terra e o atual governo quer reduzir gradativamente essa privatização. Um porta-voz da Secretaria de Defesa disse ao jornal que há uma diferença entre o agente recrutado por empresas privadas e o agente do próprio governo. “Um preocupa-se com a empresa, com os seus acionistas, outro tem comprometimento com o país”.

Nem o jornal italiano e muito menos o WASHINGTON POST são suspeitos, ou seja, não podem ser acusados de “terroristas”. Uma menina iraquiana de doze anos prostitui-se em Bagdad diante de uma fila de soldados privados dos EUA. Fazem uma coleta de uns poucos dólares para pagar o custo do sexo. Desde crianças e adolescentes iraquianas, a moças recrutadas em países do Leste da Europa, com promessa de trabalho em Dubai. A viagem para o paraíso é desviada e terminam no Iraque onde perdem os passaportes e têm que juntar mais de mil dólares para pagar e sair do submundo da prostituição. Em Cabul, capital do Afeganistão, garçonetes chinesas nos bares da cidade disfarçam a prostituição e o tráfico de mulheres para servir aos militares recrutados para combater o “terrorismo”.

Junto a essa atividade democrática, cristã, ocidental e promotora de liberdade, o tráfico de drogas. Uma prática é consequência da outra. Martina Vendenberg, da HRW – HUMAN RIGHTS WACTH afirma que a despeito das denúncias “não há nenhum processo aberto”. O tráfico de mulheres foi descoberto pelo CPI – CENTER FOR PUBLIC INTEGRITY e revelado pelo WASHINTON POST na edição de domingo, 18 de Julho de 2010. A empresa responsável por combater os “terroristas” é a BLACKWATER. Para continuar operando impunemente depois de reveladas suas verdadeiras ações “libertadoras”, mudou de nome, passou a chamar-se XE SERVICE. A Marina Venderberg afirma também que: “… enfim, não há vontade de fazer com que se respeite a lei”. Como sempre acontece em se tratando de empresa privada, o porta-voz da quadrilha declarou que “nego com força essas acusações anónimas e sem provas, a política da empresa proíbe o tráfico humano”. O nome é irrelevante, mas o cara chama-se Stacy De Luke.

As mulheres “contratadas” no Leste Europeu (países onde a “liberdade” derrubou os governos comunistas) o tráfico é organizado pela EXCHANGE SERVICE, contratada pelo Exército dos EUA, para espalhar liberdade mundo afora. A empresa deveria ocupar-se de organizar os restaurantes militares, mas cuida também de fornecer “carne” diferenciada aos clientes. Já os lucros… Que o digam os acionistas…

No Afeganistão, onde os EUA também distribui “liberdade” e “reconstrói” o país, cerca de mil mulheres chinesas foram libertadas após blitz em bares e boates. Não indica que o tráfico acabou. Um empresário da ARMOR GROUP, empresa contratada para as guerras imundas, afirmou que a “aquisição de uma mulher por 20 mil dólares é um negócio rentável”.

No caso dos serviços secretos, o jornal WASHINGTON POST afirma que o governo aceita que o setor privado cresceu e está “fora de controle”. Washington não sabe nem mais quantos são e quanto custam, ou quantas empresas estão envolvidas. Há cerca de um mês agentes de Israel, principal parceira dos EUA nos “negócios”, mataram, com passaportes oficiais, um líder do Hamás, em Dubai. Passaportes britânicos, italianos e alemães. E ainda, segundo o mesmo jornal, 265 mil dos 854 mil agentes secretos nos EUA, são de empresas privadas contratadas para o setor. O caos chegou a tal ponto que o secretário de Defesa Robert Gates e o diretor da CIA, Leon Panetta, já externaram publicamente preocupação com o assunto. Foi Panetta quem disse que os agentes privados têm preocupações com acionistas e não com o país e Gates, publicamente, concordou.

A tarefa desses agentes da “democracia ocidental cristã” é recrutar espiões em outros países, subornar governantes, funcionários públicos para atender a interesses da organização terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

Interferem em outros países do mundo, como a Itália, ou qualquer país europeu (a Europa é um continente falido, cercado de bases norte-americanas por todos os lados) e mantêm prisões no exterior, onde colocam os supostos terroristas sequestrados, interrogam e assassinam também. Sem forças para reverter o quadro, o presidente Obama optou por reduzir de forma gradativa a presença de empresas privadas nos serviços secretos e nas forças armadas. Um terço da CIA é formado por empresas privadas. Eram, até ao último domingo, 114 firmas. Esse tipo de fato, ou esses fatos comprovam que os EUA são apenas um grande conglomerado de empresas e bancos com o objetivo de manter de pé um império que se sustenta num arsenal nuclear, por si só, terrorista em cada minuto.

Fatos como esses, regra geral, explicam porque o cidadão comum norte-americano ou destrambelha e sai matando à porta de escolas, em escritórios, ou os mais pacatos inventam carros com dois vasos sanitários e capacidade para seis rolos de papel higiénico. Não contam os centenas milhares de desabrigados por conta da quebra de bancos, imobiliárias, etc. São meros detalhes nesse processo. Uma das bases operacionais dos “libertadores” é a antiga Alemanha, hoje colónia dos EUA. É o modo de ser capitalista neoliberal.

(Artigo de Laerte Braga, jornalista brasileiro, in “O Berro”)

Comparações

Recentemente tive de recorrer a um tratamento. Comecei por uma clínica privada, onde dispendi por dois tratamentos quarenta euros. Decidi dirigir-me a seguir ao Centro de Saúde, por duas vezes. Não paguei nada e o tratamento foi mais dispendioso para o Centro, isto é, muito melhor para mim. Esta é a diferença entre o Serviço Nacional de Saúde e a saúde como negócio. O PSD quer rever a Constituição. Não deixemos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

CARAVAGGIO


Li um estupendo livro: «CARAVAGGIO», de Christopher Peachment, trad. portuguesa na "Temas e Debates". Biografia ficcionada de um revolucionário, genial, solitário, «nómada", perseguido pelos esbirros do Papa de Roma e, muito provavemente, por eles assassinado. Alguns dos seus quadros desapareceram na 2ª Guerra Mundial, ou pelas mãos da Máfia. Cada vez mais reconhecido pela sua originalidade formal e conceptual.
Aqui ao lado: «Giuditta e Oloferne», Galleria Nazionale d'Arte Antica di Palazzo Barberini

Cruzamentos

Há entre a arte e a filosofia notáveis aproximações. O século passado, sobretudo na segunda metade, a literatura, o teatro, o cinema, as artes plásticas, cruzam-se com as criações filosóficas, Sartre, Foucault, Deleuze, Derrida...1968 é um ano crucial. Inventou-se um nome: Arte Contemporânea. Assistiu-se à «libertação» do Desejo, exploraram-se os mecanismos ocultos da repressão, do controlo social, criticou-se a arte industrial, a mercadoria e a "reificação", protestou-se contra os mercados, atacaram-se as ideologias como meras "narrativas", organizaram-se gigantescas marchas e longas greves, abriram-se frentes de luta de guerrilhas na América Latina, um governo popular presidido por Salvador Allende toma o poder no Chile em eleições livres, é a guerra no Vietnam...o estruturalismo na filosofia e nas ciências humanas, Lévy-Strauss, Althusser, a aliança da psicanálise de Freud com o marxismo, Erich Fromm, Marcuse, Willelm Reich...a subida de Nietzsche ao estrelato, o niilismo, e Heidegger, a fenomenologia, em suma, a estética.
A seguir os "anos de chumbo", a repressão, as ditaduras, as revoluções tecnológicas, a informática e a comunicação, a ecologia e a bioética. O neo-liberalismo. A crise, o petróleo e a finança. A crise da Arte e a crise da Filosofia. Decadência ou Progresso? Que nova filosofia vem aí? Que nova arte está aí?

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Com as palavras se mente

Um reputado economista norte-americano esteve em Lisboa e deu uma entrevista à revista Visão. Chama-se James K. Galbraith e é filho do famoso economista John Kenneth Galbraith, discípulo de Keynes ( o inspirador do New Deal, depois do colapso de 1929) e, portanto, adversário das teorias monetaristas da chamada "Escola de Chicago" que têm guiado os rumos da economia norte-americana e europeia, para não dizer mundial, ou seja, o neo-liberalismo, doutrina do estado mínimo e do mercado livre. Disse coisas como estas: Durante os próximos 25 a 30 anos os consumidores não voltarão a puxar pela economia, «alimentados» pelo crédito; que os activos do sector financeiro estão insuflados; que o capitalismo vai sempre longe demais, é a sua natureza, o capitalismo na sua forma pura já tinha colapsado em 1929; o esforço de regressar ao capitalismo pré-1929 (sem um sector público forte), desregulamentado e sem supervisão, conduziu muito rapidamente à repetição do desastre de 1929, e que os governos não aprenderam nada com esta crise. A ganância tornou-se crime.  Na Europa, a Alemanha tem uma balança claramente supervitária, o que significa que o resto da Zona Euro terá uma balança deficitária, na mesma proporção. se os alemães querem ter superavit, terão de suportar as dívidas dos outros. Se não o fizerem vai acabar-se a prosperidade alemã e a prosperidade da Europa, os alemães não conseguem admitir que não devem impor condições ao resto da Europa e isso é intolerável.
Assim falou um economista que nem sequer é social-democrata, quanto mais socialista. Não disse menos do que a Esquerda eurpeia tem andado a dizer. Defende o investimento público e o papel motor do estado e outros estímulos ao crescimento, sem o que as medidas de austeridade provocarão um desastre.
A Comissão Europeia não é discípula de Keynes nem de Galbraith, é ultra-liberal. Quem manda é o governo alemão. Quem obedece é o auto-intitulado Partido Socialista do eng. Sócrates. Socialista??

quarta-feira, 21 de julho de 2010

«Más notícias, boas notícias»

Torres Vedras volta a ser notícia em todo o país por causa de um «serial killer». Da vez anterior foi por causa do furacão que devastou as estufas. No intervalo o próprio Carnaval já não mereceu destaque particular. É, pois, por motivos tristes que T. Vedras é recordada. Aguardamos que o seja, que venha a sê-lo, por motivos positivos. Pelas comemorações do bi-centenário das Invasões Francesas, por exemplo.

Uma notícia

Uma actriz de Hollywood foi condenada a 90 dias de prisão por abuso de drogas e por conduzir alcoolizada. Tem sido notícia em todo o planeta (os media que comandam a difusão das notícias à escala mundial), provocando piedade, simpatia e até protestos. A notícia é fabricada exatamente com essa finalidade. O modo como se fabrica e difunde pressupõe a avaliação dos sentimentos do público. Sucede que todos os dias são condenados nos EUA indivíduos afro ou italo americanos, a penas iguais ou maiores por delitos semelhantes. A esmagadora maioria dos presos em cárceres norte-americanos não são «brancos». Ninguém o sabe ou se importa com isso.

terça-feira, 20 de julho de 2010

GIUSEPPE UNGARETTI

Itália
1888-1970

Manhã

Ilumino-me
de imenso.

Sou uma criatura

Como esta pedra
de S.Miguel
assim fria
assim dura
assim enxuta
assim refractária
assim totalmente
desanimada
como esta pedra
é o meu pranto
que não se vê

A morte
desconta-se
vivendo.

A minha casa

Surpresa
tanto depois
de um amor
julgava tê-lo deixado em pedaços
pelo mundo.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O SER

O Ser só pode ser Uno, não podem existir dois seres autocriados, um teria criado o outro necessariamente. O Ser Uno não é apenas o substratum da realidade, é ela mesma no seu todo. Não pode ser limitado no tempo e no espaço, porque o tempo e o espaço são dimensões do Ser. É infinito, proque se fosse finito, existiriam outros Seres. É a natureza, aquela que o homem não transformou, porque foi ela que o transformou a ele, e aquela que o homem transformou, porque o homem é natureza, o material e o imaterial, pois que o imaterial é natureza. Quando o homem pensa, é a natureza que pensa. O Ser exprime-se de muitas maneiras, por muito que as venhamos a conhecer nunca as conheceremos todas.

sábado, 17 de julho de 2010

Crises da pintura moderna

2º momento
Periodização

Normalmente a arte moderna é classficada em três períodos: modernismo, arte moderna clássica e arte moderna tardia. O modernismo situa-se entre 1860 e 1870 (Cézanne encerra a sua pintura, e a sua vida, com uma ponte ou transição). A pintura entra em crise sobretudo por efeito das possibilidades que se abrem para a reprodução industrial e pelo surgimento da fotografia. A longa história da pintura ocidental parecia chegar ao seu termo (na música há-de surgir também uma crise semelhante). A revolução (ou ressurreição) através da arte abstracta (que referi no post anterior) não progride lienearmente para a 2ª arte abstracta: paralelamente à transformação profunda operada pelo cubismo (Picasso e outros) desenvolve-se uma arte «comprometida», por exemplo o «realismo socialista» (ou «social»). Um autor subdivide a arte contemporânea em quatro categorias: 1. Representação da natureza; 2. Abstracção da natureza; 3. Abstracção sem referência à natureza; 4. O tipo de pintura de que tenho vindo a falar - uma categoria para a qual não existe termo minimamente satisfatório ( Marcis Hafif, 1981). O rumo da pintura abstracta parece ter sido a depuração na pintura de tudo que fosse perceptivo e supérfluo, um significante sem significados. Exclusiva exposição de quadros num espaço que os tornavam automaticamente objectos artísticos (sem serem necessariamente estéticos), geometria pura, sistema de cores puras. Como vimos anteriormente chega-se mesmo ao esvaziamento do quadro, sem cor ou cor preta. É um momento de radicalismo: desmististificar a própria convenção pictórica de atribuir sentido à cor.
Jackson Pollock (1912-1956) introduz uma arte abstracta inovadora na sua execução e nos efeitos aparentemente inesperados, tentando evitar tudo que fosse planeado, retocado, «agradável». Na pintura norte-americana é um marco incontornável.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Crises da pintura modernista

1º Momento
A pintura abstracta

A pintura abstracta surge num primeiro momento como atitude teórica deliberada de rejeição dos modeleos clássicos de produzir e expôr os quadros: romper com qualquer processo de reprodução do real, da representação ou imagem, da figuração, da mimésis. Conduzir a diferenciação relativamente à fotografia, por exemplo, às últimas consequências. Os seus teóricos distinguiam-se por duas perspectivas contrárias: de um lado, aqueles que se propunham produzir uma pintura puramente cerebral ou espiritual (entre eles havia os místicos), abstraindo toda a referência ao concreto, por outro, aqueles que se propunham produzir telas monocromáticas esvaziadas de qualquer conteúdo, objectos autónomos que dependessem exclusivamente do olhar. Sem perspectiva, sem contraste, sem volume. A Primeira Obra («ícone da modernidade», como a designou o próprio autor, kasimir Malevitch, 1913) é por exemplo Quadrado preto sobre fundo branco.

Sobre a pintura

No século passado houve um tempo em que alguns pintores vanguardistas decidiram acabar de vez com a pintura, isto é, com a representação, a ilusão, os truques, fizeram-na monocromática. Chegou outro tempo em que tal não bastou: mostraram telas vazias. E a pintura não morreu. Continuou naqueles que não ligaram coisa nenhuma aos vanguardismos (mas, por causa deles, já não mais pintaram como dantes, excepto um Bonnard que permaneceu teimosa e fielmente a pintar como sabia e gostava). Entretanto, Picasso inventara o cubismo, pintura a duas dimensões, a expressão nos rostos desfigurados, a cor ou a negro. Seguidamente a pop-arte, com Andy Wharol, apropriou-se do marketing e competiu com a arte industrial. Hoje a pintura é modernista e pós-modernista. No meio de muita tralha, trafulhice e oportunismo, pontuam talentos inovadores e originais, honestos sobretudo. A arte tornou-se hermética, com algumas excepções, exigindo descodificadores. Porém, a pintura do Renascimento não está cheia de símbolos que poucos detectam (Caravaggio, por exemplo)? Há progresso na pintura? Ou, antes, paradigmas como dizia Khun, ou epistemes, como dizia Foucault? É possível uma arte pura? Está a arte direccionada para uma èlite, pois que a sua massificação corresponde à arte industrial, ao gosto médio? Cada um pinta o que quer e como quer, ou há ainda escolas e correntes (estilos) como sempre houve?

PIERRE BONNARD

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Jangada de pedra

O que me espanta nos economistas e comentadores que vão às televisões é não terem adivinhado que com as medidas do PEC a economia iria inexoravelmente mergulhar na estagnação, ou pior. E mais me espanta vê-los agora a desdizer o que sempre tinham exigido, com o ar mais seráfico do mundo. Precisamente nesta terça feira logo após o relatório do Banco de Portugal. Imediatamente passaram a outra estratégia: exigir com urgência um Governo do Bloco Central, ou, pelo menos, um entendimento ainda mais sólido entre o PS e o PSD. Este recado vem do PS ou dos seus ideólogos. Os radicais do PSD avançam com outra estratégia: uma moção de censura para derrubar o governo, confiando nas sondagens.
O que faz um relatório! Que não diz nada mais do que qualquer cidadão sensato já previa.
Querem fazer de nós estúpidos. Manipulam descaradamente o cidadão contribuinte e trabalhador. Nas mãos deles este país está uma desgraça. Metê-los a todos numa jangada de pedra seria uma boa ideia.

terça-feira, 13 de julho de 2010

HERMANN HESSE

Alemanha
1877-1962 --Prémio Nobel

MAUS TEMPOS

Agora nos calamos
E já não mais cantamos.
Nosso passo é pesado.
É a noite, o seu tempo é chegado.

Dá-me a tua mão.
Talvez que seja longo este caminho ainda.
E a neve cai, a neve!
O inverno em terra estranha nunca finda.

Onde está o tempo
em que uma luz, um lar por nós ardia?
Dá-me a tua mão.
Talvez que seja longo este caminho ainda.

NA NÉVOA

Como é estranho andar no nevoeiro!
Sozinha a pedra e a planta,
Uma ávore não vê a outra,
Solidão tanta.

Muitos amigos eu tinha
No tempo da vida viva;
Agora que a névoa cai,
De tudo a vista me priva.

Nada sabe quem não sabe
Como a treva nos separa
De tudo e todos, tão doce,
Inescapável, avara.

Como é estranho andar no nevoeiro!
A vida é solitude - não adianta.
Ninguém conhece um outro.
Solidão tanta.

sábado, 10 de julho de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ao pé do mar






Vem sentar-te comigo ao pé do mar
Não receies os abismos
Velados por um abraço.
Senta-te com os pés na espuma
E que o dia faleça de cansaço.
Desenho para ti na areia húmida
Um absurdo, uma incógnita, um desvario.
E sobre um charco de sal e lembranças
Farei de mim uma metáfora, um navio.
Não se te prenda o olhar no que é,
Porque o que seja já passou.
Deixa que o teu olhar se erga no horizonte
E a água leve com ela a marca que ficou.
Digo-te: a vida é uma paródia que um louco escreveu:
De uma comédia fez-se um drama.
Sabe-se o prólogo, não se sabe o epílogo,
Não se sabe o autor, nem a trama.
O que nos sobra é quase tudo:
Um ser errante sempre a partir.


Por isso estou aqui sozinho ao pé do mar
Sem saber se hei-de ficar, se hei-de ir.









O tempo

O tempo é uma ferida na pele da eternidade.

Manuel Maria Barbosa Du Bocage (1765-1805)

Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!), porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?

Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh! Venha...Oh! Venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!

Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.

Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pinóquio

Eis que o PS vira subitamente à esquerda! Nestas suas Jornadas Parlamentares o discurso para dentro e para fora (sobretudo para fora) enaltece a ideologia e os valores. E os Princípios, não esqueçamos os princípios! Desconhecia-se que o PS, dirigido pelo eng. Sócrates e seus acólitos, possuisse ideologia (o Programa é coisa que todo o mundo ignora e não lhe dá importância nenhuma), excepto os objetivos do neo-liberalismo em voga. Sabia-se que o Dr. Mário Soares anda a escrever de há uns tempos para cá sobre os «valores da Esquerda», mas já há muito tempo que não se dá importância nenhuma ao Dr. Mário Soares. Sabia-se que no Governo há lá um senhor que escreveu uns livros de sociologia o que lhe permitiu alcandorar-se por mérito próprio a ideólogo do Regime ( como aqueles a quem Bonaparte chamava pejorativamente «ideólogos»). Sabia-se que Manuel Alegre dá sempre umas "dicas" sobre a Esquerda, embora vote regularmente na política da Direita. Sabia-se que eles têm uma "ala esquerda" cuja grande diferença com a "ala direita" é aconselhar esta a explicar melhor ao povinho as políticas do Governo. Agora o que não se sabia era que o eng. Sócrates tinha uma doutrina...ainda por cima de esquerda, ou dito de outra forma: acredita nos princípios, valores e objectivos da Social-Democracia (assim, com maiúsculas). Ou ainda por palavras mais simples: defende o Estado- Social (ou Estado Providência como acrescentou, com aquele sabor antigo com que se exprimiam as sociais-democracias nórdicas). Ainda bem, ficamos todos mais tranquilos: vai com certeza interromper de chofre, com a coragem que o caracteriza (dizem), as medidas do PEC, inverter o rumo da Economia nacional, promover o emprego e combater a precariedade, fortelecer o SNS, aumentar as prestações sociais, etc. Viva! Vamos todos votar outra vez no PS. Nunca no Sr. Pedro Passos Coelho (é este o nome?) que é todo ultra-liberal (segundo nos informaram as Jornadas Parlamentares do PS), vade retro satanás!
Se bem me lembro o primeiro filme que vi, tinha eu sete aninhos, foi o «Pinóquio», de Walt Disney. Não sei porquê, veio-me à memória.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Júlio POMAR

A arte

Não é obrigatório que um artista transmita uma mensagem política propositada. O artista não produz doutrinas. Não é obrigatória a figuração -qualquer forma de realismo - para se sentir e compreender uma ideia. Nem é necessário existir sequer a ideia. Bastam as cores e as impressões que elas nos provocam, os sentimentos, as recordações que evocamos, tal como a música de Chopin ou de Mahler. Contudo, também não é obrigatório que o não faça, se for verdadeiro naquilo que faz. Júlio Pomar, entre os vivos, é o meu pintor preferido. Nas suas telas, tanto as mais antigas como as mais recentes, transmite tudo aquilo que eu gosto de sentir, imaginar: um campo de flores com crianças felizes a brincarem. Todas as crianças. E isso é uma boa utopia.

domingo, 4 de julho de 2010

Quem espera nem sempre alcança

Quando escrevi aqui que até no futebol se poderá, eventualmente, descortinar alguma utopia, ou esperança, referia-me a uma aspiração popular portuguesa ao amor-próprio numa altura emque o sentimento geral é de desânimo, medo e insegurança, baixa auto-estima. Os Jogos Olímpicos entre os gregos serviam essas funções, nomeadamente para fortalecer os laços que uniam as cidades gregas, o mundo helénico, a identidade que então se sobrepunha às suas divisões e conflitos.Ora, a população portuguesa, o povo se preferirmos, atravessa um péssimo presente e não vê a luz ao fundo do túnel.

Cem mil preguiçosos

A anterior ministra da educação publicou um livro contendo a sua defesa da política que praticou durante o seu mandato. Pelos media que transmitiram tão sublime lançamento não me lembro de ter visto nenhum dos bons especialistas das coisas do ensino e da educação, ex-ministros ou não. A senhora, pelo que li em entrevista que concedeu, diz cobras e lagartos dos professores. Resumindo as suas suaves e doces palavras em que ela é mestre: os professores eram uma cambada de absentistas e preguiçosos antes dela, depois dela foram postos em sentido. Davam poucas aulas (quanto mais velhos menos davam)? Pois então obrigou-os a permanecerem na escola o dia todo, quer dessem ou não dessem aulas. Queriam uma carreira igual para todos? Como assim?? Dividiu-os em duas categorias, com numerus clausus claro está. Os alunos chumbavam que se fartavam? A culpa era dos professores, sem mais, exclusivamente. A entrevista é um desaforo, fará o livro que não li. Espero lê-lo à borla, porque não merece que eu lhe dê dinheiro a ganhar. À pergunta que lhe fizeram: Não acha que o engenheiro Sócrates perdeu a maioria absoluta por sua causa? Respondeu: Não, não! Ele ganhou-as por minha causa!
E eu que estava quase a esquecê-la (por razões de saúde). Vem-me agora com isto para me lembrar que não foi um pesadelo, existiu realmente.

sábado, 3 de julho de 2010

Utopias

Eu vejo a utopia em variadíssimos actos individuais ou colectivos. Se não a reduzirmos exclusivamente a programas políticos que desenham sociedades perfeitas, poderemos encontrar sopros utópicos na pintura, na escultura, na literatura, na arquitectura, no cinema, de muitos e diversificados artistas, inclusivamente naqueles que mais nos parecem transmitir a tristeza e a dura realidade. Por vezes surgem-nos, as utopias, como evasões, escapes, pontos de fuga à bruta realidade do viver, ou insípida, rotineira. Contudo, inspiram em nós ou são inspiradas por desejos de alegria, de convivialidade, de projectos de uma outra vida, de rejeição da fealdade e da mentira. Uma pulsão de vida, uma força que move os seres para diante, para um horizonte onde está, ou pode estar, um mundo melhor, uma comunidade feliz. Há certas manifestações utópicas que são verdadeiramente comunitárias, ainda que, por vezes, inconscientes, impressionistas, abstractas. A utopia está ali onde se cria algo novo, porque é o Novo que se aspira. Por isso sou capaz de ver utopias nos concertos ao vivo que criam ou fortalecem laços colectivos, singulares explosões de confraternização -senão mesmo de fraternidade-, de união e identidade. E até as vejo na energia e nas crenças que mobilizam um povo à volta de disputas mundiais de futebol.  A intensidade com que se abatem sobre todos o fracasso e a derrota, demonstra bem o grau de alegria e de expectativa, de união e de identidade, que se investiu.
Evidentemente que há utopias concretas e utopias impossíveis, a água e o ópio.

MODIGLIANI

Da essência humana

Às vzes procura-se a essência do homem no sítio onde ela não se encontra. Durante séculos filósofos houve que a encontraram no interior de cada homem, na alma, mas a alma era mui difícil de definir e muito mais de encontrar («com o bisturi não a encontro», dizia um médico). Deste modo, a alma passou a chamar-se mente, melhor dito, aquela parte da mente que era espírito. Até hoje ninguém conseguiu descortiná-lo, com que se topa é com emoções e sentimentos, imagens e pensamentos, lembranças e desejos. Se é imortal nunca regressou para dar o seu testemunho. Por conseguinte, a antiga alma passou a chamar-se de subjetividade. Contudo, é impraticável conceber-se a subjectividade como essência, se esta for anterior à existência e independente dela. Portanto, o mais adequado é procurar-se a essência humana nas relações sociais, nessa larga, complexa e múltipla rede de relações que nos tecem e entretecem. Que são o que são agora mas podem não sê-lo amanhã, pois que ontem não eram assim. Tudo muda, não é?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Os pretextos do Império

O General dos EUA Stanley McChrystal foi demitido de comandante em chefe das tropas da NATO no Afeganistão por causa de um artigo da revista Rolling Stone muito crítico em relação à administração do seu país e ao estado em que se encontra a invasão do Afeganistão (nove anos de uma ocupação estagnada). O General é, ou era, muito louvado pelos seus métodos musculados no Iraque e no Afeganistão. Na verdade as forças de elite que organizou coseguiram matar muitos milhares de iraquianos e afegãos...a maioria dos quais eram civis.Pelo que se diz nos EUA conclui-se que o General fracassou no Afeganistão, provavelmente porque não matou o suficiente. Quando um General é responsável pela matança de dezenas de milhar de civis inocentes não é um criminoso, é apenas um vencedor ou um derrotado.
Os povos euroepeus não entendem porque os seus governos os enviam para uma guerra criminosa. A Europa já não necessita do guarda-chuva dos EUA para coisa nenhuma. A NATO é uma máquina de guerra super dispendiosa que serve excluisivamente os interesses geoestratégicos dos EUA. À Alemanha, grande potência da Europa, o que lhe interessa é abocanhar os mercados do centro e do leste e vincar o seu domínio sobre a UE, beneficiando do Euro e não se solidarizando com os outros membros. Com uma dívida monstruosa os EUA não se querem ver isolados, mas já se começa a ver que há barro nas suas gigantescas pernas cansadas.
É por causa disso e de outras dificuldades que o Irão é um pretexto. Um pretexto como sucedeu no Iraque. O imperialismo perdeu a sua ideologia. Inventa pretextos. Não é menos perigoso.

ESPERANÇA

A esperança...um sonho feito de despertares.
Aristóteles (384-322 a.C.) citado em Diógenes Laércio, Vidas dos filósofos

Esperar uma alegria também é uma alegria.
G.E. Lessing ( filósofo alemão, 1729-1781)

Ó esperanças, esperanças, suaves enganos / da minha primeira idade!
O speranze, speranze, ameni inganni / della mia prima età!
G. Leopardi (poeta italiano, 1798-1837), Canti, Le ricordanze

Posso suportar o desespero, mas não a esperança alheia.
R. Walpole (político inglês, 1676-1745)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Prisões

Estive a rever o filme «O prisioneiro de Alcatraz» que retrata com intensas imagens o que foi essa tristemente célebre prisão estadual norte-americana. Vi como aplicavam na década de trinta do século passado os castigos idênticos aos que se aplicavam por todo o mundo mas que muito boa gente julga que na América não. Aplicaram-se em Portugal no campo de concentração do Tarrafal, o último a ser encerrado em toda a Europa dita civilizada, uma cópia do que conhecemos pelos campos nazi-fascistas, tanto na Alemanha como na Espanha de um facínora chamado Franco. Recordo, por associação, outros bons filmes de Holywood sobre prisões, por exemplo o famoso «Papillon» (creio que é esse o título) que narra  a odisseia de um prisioneiro na Guiana francesa, um campo de concentração francês, portanto. Fez-se um belo filme português sobre a prisão do Forte de Peniche, não tenho a certeza neste momento se foi o Luís Filipe Costa, que relata casos verídicos, lembro particularmente da «solitária» (que podemos visitar ainda hoje). O meu professor de filosofia do Liceu havia estado preso seis anos se a memória não me falha, chamava-se Cansado Gonçalves. Estas coisas chegam à memória por causa de um filme, ou de uma fotografia, de uma conversa, de uma frase que se leia, de um encontro casual. A minha memória guarda o século vinte como um filme. Uma história má e feia.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.