A manifestação do 1º de Maio em Lisboa organizada pela CGTP mobilizou dezenas de milhar de trabalhadoras e trabalhadores (9o mil, diz-se) e o discurso de Carvalho da Silva foi potente e acutilante, acessível e combativo. Manifestações como esta demonstram a certos intelectuais cépticos que a luta de massas é ainda o mais poderoso meio de combate democrático. Se dessemos ouvidos a certas teses que por aí circulam vindos da direita e engolidos por alguns de esquerda, baixávamos os braços e permitiamos que nos saltassem para a garupa, enquanto proferíamos entre amigos discursos críticos mas desistentes. O combate nas autarquias é incipiente ou não existe; os combates na Assembleia da República são derrotados pela maioria de direita; logo, a alternativa é o combate nas ruas e nos locais de trabalho.
O que é triste é observar que os jovens, estudantes sobretudo do Ensino Superior, futuros desempregados, futuros trabalhadores precários e a recibos verdes, futuros assalariados a receber muito abaixo das suas qualificações, continuem, em grande número, indiferentes, apáticos, passivos e despolitizados. Alguma coisa se passa nas escolas, alguma coisa de inquietante se passa com os jovens, quando ignoram o passado e evitam combater pelo futuro. Estou em crer que muitos já vão sentindo na pele os apertos do cinto lá em casa dos pais, onde foram habituados a satisfazer os seus caprichos. Muitos não compreenderam ainda que os pais não os podem sustentar a vida toda. Muitos não compreenderam que vão viver pior do que provavelmente viveram os pais na juventude. Sociólogos, psicólogos, advogados, gestores, jornalistas, artistas, e muitos mais diplomados, vão andar de porta em porta à procura de trabalho, qualquer que ele seja. Querendo, como é natural, sair dos ninhos paternos e morar noutros, onde vão arranjar dinheiro para pagar alugueres ou hipotecas, roupinhas, diversões (a que estão muito habituados), tecnologias de ponta para ocuparem as suas horas altamente culturais?
Se os jovens não ganham juízo, vai ser difícil ajuizar do futuro que os espera. Se não aprenderam a cidadania nas escolas e nas famílias, a vida ensiná-los-á da pior maneira.
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