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sábado, 1 de maio de 2010

A PESTE

Assiste-se a um retrocesso civilizacional. Esta expressão já se ouve muito mas apenas a indivíduos das esquerdas. Num sentido amplo ser das esquerdas é recusar o neo-liberalismo. Ora, porque razão a maior parte dos comentadores da imprensa e das televisões não usam essa expressão? Ou o significado que ela contém? Porque razão se folheia um semanário ou revista, se segue um debate ou um comentador na televisão, e as reportagens, entrevistas e comentários soletram a cantiga do neo-liberalismo e nunca defendem uma alternativa socialista, ideias-chave do socialismo, um programa, um projecto de ruptura com o actual sistema financeiro, económico, político, cultural? Quando são professores universitários, que o são na sua maior parte, e não saem da roleta-russa que é este sistema, onde páram os socialistas, e até mesmo os sociais-democratas? Nada de confusões: não me refiro aos partidos socialistas ou sociais-democratas pois que disso só conservam o nome.
Importámos tudo: os bens materiais e imateriais. As coisas e os simulacros. As políticas e a ideologia. O endividamento externo é a ponta do icebergue. Por baixo acumula-se o atraso do ensino, da educação e da investigação. Respira-se na atmosfera as crenças, as normas e os valores que a élite dominante foi impondo ao país. Transformou-se a escola num centro de reprodução da ideologia anglo-saxónica. A hegemonia da língua inglesa não é inocente. Pertence ao habitus de que falava Bourdieu. Habituámo-nos a desprezar o passado (ou as conquistas civilizacionais que resistem no presente) e a correr como idiotas para o «moderno».
O cidadão-consumidor, o estudante, o professor, os quadros técnicos, os intelectuais, fomos todos contaminados pelo «consenso» neo-liberal. Pensamos através dos estereótipos que nos impingiram. E transmitimo-los aos mais novos.
O retrocesso civilizacional é uma espécie de peste. Vale a pena ler agora, ou reler, a «Peste» de Albert Camus.

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