À primeira volta
A vitória do«entertainer» político
O título deste post
é obviamente simplificador mas com ele o que pretendo significar é que,
no resultado de Marcelo Rebelo de Sousa, o que mais pesa, sobretudo em
relação ao que terá conseguido acima da votação do PAF em 4/10) não
pertence ao território da política (ou, pelo menos, como a temos
concebido) mas sim ao território de uma incomparável notoriedade, de uma
longuíssima exposição mediática, da simpatia pessoal e da prolongada
visita dominical aos lares dos portugueses a que há que acrescentar a
ajuda da construída maquilhagem e opacidade políticas do candidato
durante a campanha. Antes não o poderia escrever mas agora nada obsta a
que insista na ideia de que, sendo uma parte decisiva das intenções de
voto em MRS pertencente a este último território da não-política,
todos os justos argumentos e críticas feitas por outros candidatos a
MRS pertenciam a um mundo diferente e não podiam ter um efeito
significativo ou decisivo do ponto de vista da necessária erosão das
intenções de voto em Marcelo. Eram territórios ou mundos diferentes
praticamente impermeabilizados a efeitos de um sobre o outro.
Porque
muitos eleitores infelizmente o não compreenderam e há o perigo certo
de nas redes sociais e nos media aparecerem cidadãos e comentadores a
insistir num grande equívoco, quero salientar que a vitória de MRS à
primeira volta nada tem que ver com a diversidade de candidatos à sua
esquerda. De um ponto de vista aritmético (atenção, é aquele que conta
para haver ou segunda volta) não eram deslocações de votos entre os
candidatos à esquerda de Marcelo que mudavam ou alteravam as intenções
maioritárias de voto em Marcelo. Todos os votos desses candidatos não
iam para Marcelo e, portanto, todos contribuiam numericamente para o
forçar a uma segunda volta. Para que este objectivo fosse alcançado era
indispensável sim que intenções de voto fixadas em MRS se deslocassem
para outros candidatos.
Quero
sinceramente saudar Edgar Silva, porventura o mais injustiçado dos
candidatos, (e todos os que ergueram a sua combativa e corajosa
campanha) e manifestar um imenso apreço pelas suas qualidades de
humanismo e poderoso compromisso com os ideais de Abril manifestados
numa batalha extraordináriamente díficil onde o preconceito médiático
anticomunista voltou a exibir-se e cujo resultado, a meu ver, foi muito
provavelmente afectado pelo facto de um segmento do eleitorado da CDU
ter preferido usar o seu voto para resolver a competição entre Sampaio
da Nóvoa e Maria de Belém.
A vida e a luta continuam, amanhã é outro dia e há muitas outras batalhas para travar. De ciência certa, lá estaremos.
P.S.: apesar
de este ser um post sintético, seria absurdo não referir o excelente
resultado de Marisa Matias e o impressionante afundamento da candidatura
de Maria de Belém.
Via: O Tempo das Cerejas
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