Foi um génio. Um criador visionário. Diz-se e eu repito. Um ícone da chamada pós-modernidade. Da Modernidade tardia e em completa crise e confusão. Vem de trás, mas representou superlativamente a terrível década de oitenta. Dos sonhos achados e perdidos. Da queda do Muro, do colapso de um mundo, do termo dramático da Guerra Fria. Vem da derrota no Vietnam e da recuperação chauvinista e imperialista dos EUA. Mas era britânico, da brutal ofensiva de Tatcher e das sinuosidades da "terceira via" de Tony Blair que liquidou a New Left. Passou por tudo e não ficou incólume, agitou, inovou, exprimiu cada época como reflexos diferentes em múltiplos espelhos. Não se vendeu e, contudo, não pôde deixar de ser vendável, pura mercadoria, marca e fétiche. Não cantava o triunfo do neoliberalismo e, no entanto, foi consumido no mercado e pelo mercado. Actor extraordinário, foi-o de si próprio, personagem fora do mundo que este mundo real absorveu com pouco incómodo. Por isso não foi subversivo, numa época em que quase nada já é subversivo, excepto ameaçar os interesses dos donos do Mercado.
Não foi maior que o seu tempo, o nosso tempo. Foi do seu tempo e do nosso. Mas permanecerá para além dele.
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