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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O quarto poder

Os quase dois milhões e meio de votos no candidato da direita vencedor não vieram das hostes revanchistas dos partidos que nos infernizaram a vida durante quatro anos, estes sofreram uma derrota clamorosa (em votos) nas legislativas. Não vieram dos convictos reaccionários das políticas de agressão ao povo, de extorsão e saque dos contribuintes, dos convictos neoliberais. Vieram do meu vizinho que abre a oficina de bate-chapas às oito da manhã, dos reformados do café do meu bairro que folheiam de borla o Correio da Manhã, da Dona Otília que vende na mercearia o pãozinho quente, da professora que, numa corrida nervosa, deixa o filho no jardim de infância, dá um beijinho cordial e fugidio na sua colega educadora e abre a sala de aula com o coração aos pulos. Vieram do médico bem ou mal pago, temeroso das mudanças que façam perigar o seu rendimento, do paciente da terceira idade que adormece nas telenovelas que distraem a mulher. Vieram do senhor Faustino que labuta de sol a sol na courela ingrata e que não lê coisa nenhuma desde os bancos da escola. Vieram de muitos eleitores que até simpatizam com o primeiro-ministro e com aquilo que o governo promete.
Vieram através do jornal e da estação de televisão mais vistos. Vieram não do quarto poder, mas do segundo que faz o primeiro.

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