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domingo, 20 de janeiro de 2019

A PROPÓSITO

A propósito deste texto de Daniel Bensaïd, a questão das estratégias para derrubar o poder político capitalista continua, ou deve continuar, a definir a orientação de todos os debates no interior das forças de esquerda, nos artigos e ensaios de filosofia política, etc.

«No entanto não é possível imaginar um processo revolucionário de outra forma que não seja através da transferência de legitimidade que confira preponderância ao “socialismo pela base” mas que interaja com formas de representação, principalmente em países com longas tradições parlamentares e onde o principio do sufrágio universal esteja firmemente enraizado.» D. Bensaïd.

Pensar a implantação de um governo revolucionário socialista, e, mais ainda, de um Estado (posterior ou paralelo) socialista, sem levar em conta essas «tradições parlamentares» é não só uma utopia, como uma má utopia. Saber articular a representação com formas imaginativas de organização popular (nas periferias das cidades, nas empresas, escolas, etc.).

Que lições podemos retirar dos protestos dos «coletes» amarelos em França? 
1. Que são espontaneamente populares, com reivindicações o mais das vezes justas e adequadas às condições específicas francesas (contra o custo de vida e os baixos rendimentos, a precariedade dos empregos, etc.). 
2. Não se articulam claramente com uma luta igualmente firme contra algumas das causas: esta União Europeia (e a exigência de saída da França), os monopólios e oligopólios,etc. Em suma: contra o sistema capitalista (certamente que alguns dos intervenientes falam com este discurso; a expressão «contra o sistema» já se pronuncia).
3. Não coincidem, ou não se fazem coincidir as manifestações com uma greve geral (o que demonstra o papel colaboracionista, burocrático e economicista, das grandes centrais sindicais, algumas sem remissão possível, outras, a ver vamos). A violentíssima repressão policial pode provocar alguma coisa de imprevisível por agora.
4. Falta uma estratégia (talvez porque o movimento não se queira dividir e, portanto, autodestruir). Demissão de Macron não é grande estratégia...Entretanto, toda a suspeita é legítima sobre as notícias e quem as distribui. É mais do que certo que nesse largo espectro de protestantes haja estratégias mais radicais e de esquerda...
5. Os fascistas, ou, se preferirmos, a extrema-direita, não conseguiu até agora liderar as manifestações nos centros principais. 
6. A esperança está em que os protestos ganhem cada vez mais força insurreccional. Um levantamento geral, popular, de massas, articulando-se com greves e outras formas de luta, e que surjam líderes que dêem a cara (e a voz) pelas melhores aspirações dos trabalhadores (solidários com os trabalhadores de outros países); que elaborem um manifesto comum capaz de unir os mais ativistas e conquistar senão a simpatia da pequena burguesia e camadas intermédias, saiba, pelo menos, deixá-las na expectativa.
7. Faz falta que os partidos de esquerda, sindicatos e outras forças sociais, aproveitem, senão para se solidarizarem porque não se sabe ainda com clareza o que está por dentro,pelo menos para organizarem debates sobre os acontecimentos, os quais podem anunciar uma nova fase na arrumação das forças ou da luta de classes. 

Nozes Pires


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