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domingo, 30 de junho de 2019
«Por exemplo, o modo de produção capitalista precisa reconhecer,
escreveu Marx, que uma “desvalorização do dinheiro creditício [...]
faria estremecer todas as relações existentes”. Os bancos, como sabemos
bem, precisam ser socorridos custe o que custar. “Sacrifica-se,
portanto, o valor das mercadorias para assegurar a existência imaginária
e autônoma desse valor no dinheiro. Como valor monetário, ele só fica
assegurado enquanto estiver assegurado o dinheiro.” A inflação, como
também sabemos muito bem, precisa ser controlada a todo custo. “Por uns
poucos milhões em dinheiro, é preciso sacrificar, portanto, muitos
milhões de mercadorias, o que é inevitável na produção capitalista e
constitui uma de suas belezas.” Valores de uso são sacrificados e
destruídos independentemente da necessidade social. Quão insano é isso?”»
segunda-feira, 24 de junho de 2019
Por uma questão de princípios
24.06.19
A propósito da Declaração de Montevideu
Partido Comunista do México (PCM)
Estamos disponíveis para conversações bilaterais com os partidos irmãos, para os informar sobre a realidade no México, tomando a devida nota de que a posição da Declaração de Montevideu põe obstáculos à luta do PC do México e apoia o inimigo da classe operária no nosso país. Mas o que é ainda mais preocupante, é que se pretenda estabelecer o reformismo como linha geral para o movimento comunista latino-americano, que os comunistas mexicanos, com a experiência de um século, que se completa em novembro, consideram ser um beco sem saída.
Recentemente, reuniram-se os partidos
comunistas irmãos do Cone Sul da América, e emitiram uma Declaração
Conjunta, que aborda questões de estratégia e tática relativas a todo o
movimento comunista na América Latina e na qual, de forma infundada e
perigosa, se glorifica o social-democrata mexicano López Obrador, cuja
política à frente do governo afeta os interesses do povo do México.
Por esta razão, publicamos a nossa
opinião e procuraremos discutir fraternalmente com os partidos
comunistas a essência das posições da dita Declaração, porque
acreditamos que elas não só não promovem os princípios, a reconstrução e
o fortalecimento do movimento comunista mas, pelo contrário, levam à
sua degradação e alinhamento com a social-democracia.
Acreditamos que o movimento comunista,
na região e internacionalmente, beneficiaria se tivéssemos a
oportunidade de discutir os diferentes pontos de vista, sem exceção, de
modo a que cada partido contribuísse com as suas posições e se evitasse
tirar conclusões que, em nossa opinião, não se baseiam numa análise
objetiva da situação e caminham numa direção errada:
- Do ponto de vista histórico, traça-se uma comparação com a Primeira Conferência Comunista Latino-americana, em junho de 1929 e, concordando em prestar-lhe a devida homenagem, devemos lembrar que ela não se limitava a uma região do continente, mas respeitavaa toda a América Latina, articulada no sentido do desenvolvimento de uma estratégia unificada para a defesa dos interesses da classe operária; não se buscava apenas a troca de pontos de vista, mas, como assinalava na sua abertura Eugenio Gómez – histórico secretário-geral da Secção uruguaia da Internacional Comunista –: “Não se trata apenas de manter relações cordiais, mas de conseguir a vinculação necessária para o trabalho comum”.
A delegação PCM era então liderada pelo
camarada David Alfaro Siqueiros. Pensamos que a melhor maneira de honrar
a Primeira Conferência Comunista Latino-Americana é continuar o esforço
pedido pelo Partido Comunista Peruano e centro os interesses da
classe operária e dos setores populares.
- A definição que se procura dar ao desenvolvimento capitalista contemporâneo é eclética e, portanto, confusa; incorporam-se conceitos apreendidos nas escolas económicas de diferentes matrizes, mas os da economia marxista-leninista não são usados. Usam-se os conceitos da classe dominante, eufemismos que procuram atenuar e escamotear que vivemos no imperialismo, a fase superior do capitalismo, o capitalismo dos monopólios. A crise que vivemos desde 2008 foi de sobreprodução e de sobreacumulação; pode ser uma questão de redação, mas a crise económica não é impulsionada, induzida, é o resultado de leis objetivas e não é permanente. A crise levou à recuperação da economia, que atualmente é fraca, mas a força motriz continua a ser o lucro dos capitalistas, o caráter do desenvolvimento é classista e os problemas da classe operária e dos setores populares mantêm-se e agravam-se cada vez mais.
Em todo caso, como temos verificado
muitas vezes através do desenvolvimento da economia capitalista, as
condições de uma nova crise capitalista estão a ser criadas, e os
comunistas devem calculá-la bem para preparar os trabalhadores a tempo.
A contradição básica do capitalismo está a agudizar-se, as contradições interimperialistas, não levadas em conta na Declaração,
exacerbam-se. As contradições entre os Estados Unidos e a China, a
guerra económica que estalou entre eles, a desaceleração na UE, a China e
as zonas de guerra são elementos que devemos acompanhar
sistematicamente, porque estão ligados à possibilidade de uma nova crise
capitalista.
- A questão do neoliberalismo é abordada, mas oculta-se que isto é apenas uma forma de gestão – como também o é o keynesianismo – do modo de produção capitalista, que é o capitalismo que explora os trabalhadores e os povos e os condena à barbárie. É o capitalismo que explora e oprime a classe operária da América Latina, em qualquer das suas formas de gestão. Pensamos que é um erro de estratégia concentrar esforços contra uma das formas de gestão do capitalismo, e não contra o próprio capitalismo, colocando-nos assim num beco sem saída, no qual a opção contra o “capitalismo selvagem” será a busca utópica e perigosa da “humanização do capitalismo”.
Assim, a luta pelo socialismo é colocada
como algo distante, quando hoje existem todos os elementos para falar
sobre os limites históricos do sistema capitalista explorador e o
amadurecimento das condições materiais necessárias para a sociedade
socialista, equipando ideologicamente a classe operária e trabalhando
estrategicamente para a maturação do fator subjetivo.
O Partido Comunista do México, que
acredita profundamente no valor do Internacionalismo Proletário, luta
determinadamente contra as intervenções imperialistas dos Estados Unidos
e da UE na nossa região e em todo o mundo. Durante décadas, na prática
e na ação, o PCM expressou a sua luta internacionalista e o seu apoio à
Revolução Cubana, manifestando a sua solidariedade internacionalista
com os partidos comunistas e os povos da Venezuela e de todos os países.
Nessa direção continuaremos, contra os planos imperialistas e as forças
reacionárias, apoiados por fortes setores da burguesia e dos EUA, que
usam fantoches como Guaidó, Bolsonaro ou outros.
No entanto, ninguém pode refutar que,
apesar das mudanças governamentais das últimas décadas e do surgimento
de governos que se declararam de esquerda – na medida em que aplicam um
programa social-democrata, adotaram algumas reivindicações populares ou
aliviaram a extrema pobreza –, a burguesia continua a ter o poder nas
suas mãos e a propriedade dos meios de produção, sendo o lucro
capitalista o critério do desenvolvimento. Os partidos do governo
administraram o capitalismo sem ameaçar a ditadura de classe da
burguesia, e isso para os comunistas é uma questão crucial.
- Não basta falar sobre os erros dos governos de esquerda; depois de 20 anos de experiência, é necessário fazer um balanço objetivo do chamado “progressismo”, para tirar conclusões sólidas.
Em primeiro lugar, devemos retirar
lições das consequências da manutenção da base económica capitalista, a
manutenção da propriedade capitalista dos meios de produção e a anarquia
capitalista, que leva a crises económicas e traz graves consequências
para os povos. Isso é necessário para superar o dilema do “mal menor”
e julgar a política dos governos social-democratas do ponto de vista
dos interesses da classe operária, da luta para abolir a exploração.
Examinemos as suas relações com os monopólios, os Estados Unidos e
outros polos imperialistas, os compromissos que assumiram, e vejamos
objetivamente que a frustração das expetativas e esperanças dos povos é
usada demagogicamente e abre as portas às forças reacionárias e
fascistas.
Se as contradições interimperialistas
não forem tidas em conta, será muito complicado compreender as mudanças
que ocorrem nas alianças interestatais e a sua substituição por outras,
agora favoráveis ao polo imperialista dos EUA, e já não à UE ou aos
BRICS [1]. Mas a questão de fundo é: qual é a natureza de classe das
uniões interestatais, como o MERCOSUL [2], a UNASUL [3], a CELAC [4], a
ALBA [5], etc?
- É necessária uma discussão aprofundada sobre questões estratégicas; é o caso do grau de desenvolvimento do capitalismo na América Latina, já que existem duas conclusões diferentes: será que, como nós pensamos, o capitalismo apodreceu e o socialismo é a alternativa imediata, ou, como indica a mencionada Declaração, é necessária uma etapa intermédia, que, objetivamente, é uma etapa no terreno do capitalismo, com uma política de gestão burguesa, já que o poder político e os meios de produção estão nas mãos dos monopólios?
- O PCM considera que todas as manifestações de desvios devem ser refutadas. Lutámos contra o dogmatismo e o sectarismo, continuamos a luta ideológica contra o trotskismo e outras tendências similares que aparecem na América Latina e que também estão a ser usadas pela social-democracia.
Mas é muito necessário que os partidos
comunistas e operários lutem duramente contra o reformismo e o
revisionismo. Diríamos que, na fase em que nos encontramos, é uma
questão de “vida ou morte” combater o oportunismo de direita,
que se fortaleceu após a contrarrevolução e é o veículo da negação da
revolução socialista e da luta de classes, da substituição do papel
dirigente da classe operária por outros sujeitos “revolucionários”.
- Claro que os Partidos Comunistas têm o dever de estudar as circunstâncias específicas dos seus próprios países, o desenvolvimento do capitalismo, o ordenamento das forças políticas e sociais; mas essas particularidades não negam os princípios e leis gerais da construção socialista, que foram condenadas e distorcidas pelo oportunismo, atacando os princípios subjacentes à existência e à missão histórica dos Partidos Comunistas, censurando a luta pelo socialismo, a que eles chamam “sectarismo”.
Porque os princípios do poder político
da classe operária, da propriedade social dos meios de produção, da
planificação central, em que assentam as bases da construção socialista,
sob a vigilância constante do povo e na mobilização, nas condições
atuais, da luta de classes, são universais; porque estes princípios têm
sido aqueles que deram força à Revolução Cubana e a levou às suas
conquistas; e porque a sua negação levou à contrarrevolução na União
Soviética e ao derrubamento das grandes realizações do socialismo.
- Discordamos frontalmente que se considere o Foro de São Paulo (FSP) como a expressão mais importante da esquerda na região, e isso implica um debate sobre o que é atualmente considerado “esquerda”.
Somos comunistas, temos a
responsabilidade dos partidos comunistas e temos de prestar contas à
classe operária. Os partidos social-democratas que se retratam a si
mesmos como de esquerda administram o capitalismo e dizem que podem
humanizá-lo. Mas, na prática, mantêma a exploração do trabalho
assalariado, a acumulação da riqueza social em poucas mãos, o poder do
Estado burguês. Tanto o Fórum de São Paulo como o Partido da Esquerda
Europeia são oportunistas que procuram “desarmar”e “mudar”
os partidos comunistas. Esta tem sido a nossa experiência desde há
muitos anos. Cada PC tem o direito, mas também a responsabilidade, pelas
suas decisões, e o nosso partido tem tomado posições e continuará a
definir os seus próprios pontos de vista.
No caso do FSP, com a experiência que
temos de ter participado ativamente nele, desde 2001 até 2016, ano em
que nos separámos, verificamos que, exceto para aqueles que pertencem
ao Grupo de Trabalho, os Partidos Comunistas são simples figuras
decorativas, parte do cenário para apresentar documentos e orientações
que foram previamente decididas.
- Sobre o consenso da Nossa América, é necessário dizer que não tem o consenso dos partidos comunistas da América Latina; e não falamos só do caso de PCM, que o questionou na Assembleia de Lima dos partidos Comunistas e Revolucionários – com argumentos razoáveis, com lealdade, fraternidade e camaradagem, sem necessidade de recorrer à violência verbal nem àcalúnia – mas de vários Partidos Comunistas, entre eles alguns signatários da Declaração de Montevideu.
A aliança interclassista nunca foi
positiva para o interesse dos trabalhadores. Se alguns Partidos
abandonam os seus programas para assumir o Consenso da Nossa América é
um problema seu e uma responsabilidade sua, mas não podem declarar que é
o caminho de todo o movimento comunista latino-americano. Ninguém pode
estar contra a unidade, mas a questão que se coloca é o que queremos
dizer com ela: a unidade como colaboração de classes ou a unidade da
classe operária com os seus aliados nos setores populares, os
camponeses, os indígenas, os estudantes ?
É paradoxal falar sobre diferenças e
singularidades e, simultaneamente, procurar introduzir, de contrabando,
uma linha geral que é absolutamente reformista, de subordinação ao Fórum
de São Paulo e ao Consenso da Nossa América, lutando por etapas
intermédias e branqueando outros centros imperialistas que não os
Estados Unidos.
Um documento no qual a luta pelo
socialismo aparece apenas como uma formalidade discursiva, e em que o
papel dos comunistas é reduzido a uma força de acompanhamento à
social-democracia e às forças burguesas populistas e partidárias da
gestão keynesiana.
Nós também notámos isso. É um drama,
para dizer o mínimo, que, em nome das especificidades, se neguem as leis
gerais da construção socialista. Temos discutido com muitos Partidos
Comunistas e existem coincidências. O movimento comunista
latino-americano está a pagar caro – assim como em outros lugares – o
atraso teórico, o ecletismo ideológico, a desvalorização da educação
política e da formação de quadros.
- Temos a obrigação de esclarecer perante a classe operária do nosso país o que é dito na Declaração sobre o governo de Lopez Obrador e o seu partido, MORENA – partido da nova social-democracia, igual ao Podemos ou ao Syriza. Os Partidos Comunistas irmãos podem não saber que a primeira medida governamental de Obrador foi participar na mesa de negociações com a Administração Trump para o chamado TLCAN 2.0 [6], o T-MEC [7], ou o USMCA [8], continuação do TLCAN, assinado em 1994, com consequências desastrosas para a classe operária do Canadá, dos EUA e do México, negociação realizada no contexto da guerra comercial entre a China e os EUA e totalmente favorável aos monopólios americanos da indústria automóvel.
Além disso, Lopez Obrador dá
continuidade às medidas antioperárias e antipopulares, à militarização
aberta do México, com a Guarda Nacional, com o ataque contra os povos
indígenas do sudeste do país, com a criminalização das lutas sociais,
com uma reforma da educação que é exatamente o mesmo que os
trabalhadores do setor rejeitaram no tempo do ex-presidente Peña Nieto, e
uma reforma laboral que legaliza a precarização do trabalho através do
outsourcing, o trabalho sem direitos, que introduz um modelo
sindical tendente à divisão e à fragmentação dos trabalhadores, para
impedir a sua unidade, totalmente de acordo com as exigências do T-MEC.
Provavelmente, os camaradas não sabem
que Obrador está a entregar o trabalho de 2.000.000 de jovens
trabalhadores aos monopólios mexicanos para os explorar, sem qualquer
custo para a burguesia, porque os seus magros subsídios saem do
orçamento social. Que continua a repressão e o assassinato de líderes
populares, uma política anti-imigração e políticas de contenção social
através do assistencialismo. Em que consiste a natureza progressista do
novo governo mexicano? É uma questão impossível de responder.
Referir-se-ão a alguns gestos de política externa, como ocorreu durante
os governos do PRI [9], que condenavam o bloqueio a Cuba e reconheciam
as forças da insurgência da América Central, enquanto no interior do
México levavam a cabo a Guerra Suja, o assassinato em massa de
estudantes, a repressão do movimento operário e sindical e o
anticomunismo?
Estamos disponíveis para conversações
bilaterais com os partidos irmãos, para os informar sobre a realidade no
México, tomando a devida nota de que a posição da Declaração de
Montevideu põe obstáculos à luta do PC do México e apoia o inimigo da
classe operária no nosso país.
Mas o que é ainda mais preocupante, é
que se pretenda estabelecer o reformismo como linha geral para o
movimento comunista latino-americano, que os comunistas mexicanos, com a
experiência de um século, que se completa em novembro, consideram
ser um beco sem saída.
O movimento comunista na América Latina
precisa de uma estratégia revolucionária para assumir o seu papel de
vanguarda nas difíceis condições da luta de classes, para lutar pelo
poder dos trabalhadores e o socialismo-comunismo.
Proletários de todos os países, uni-vos!
Comité Central do Partido Comunista do México
Notas:
[1] BRICS: acrónimo de
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, criado por Jim
O'Neil, chefe de pesquisa em economia global do grupo financeiro Goldman
Sachs. – NT
[2] MERCOSUL: instituição criada pelo Tratado de Assunção, assinado
em 26 de março de 1991, entre a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai,
com o intuito de criar um mercado comum entre estes países, formando
então o que popularmente foi chamado de Mercosul (oficialmente, Mercado
Comum do Sul e em língua espanhola Mercado Común del Sur). – NT
[3] UNASUL: acrónimo de União de Nações Sul-Americanas (em castelhano: Unión de Naciones Suramericanas, UNASUR); é uma organização intergovernamental composta pelos doze Estados da América do Sul. – NT
[4] CELAC: acrónimo de Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (em castelhano: Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños); é um organismo internacional, herdeiro do Grupo do Rio e da Calc, a Cúpula da América Latina e Caribe, sobre Integração e Desenvolvimento. Foi criado em fevereiro de 2010. – NT
[5] ALBA: acrónimo de Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América — Tratado de Comércio dos Povos (em castelhano: Alianza Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América — Tratado de Comercio de los Pueblos);
é uma plataforma de cooperação internacional, baseada na ideia da
integração social, política e económica entre os países da América
Latina e do Caribe. – NT
[6] TLCAN: acrónimo de Tratado de Libre Comercio de América del Norte;
é um tratado envolvendo Canadá, México e Estados Unidos e criando
uma zona de livre comércio para promover a circulação de bens entre os
três países. – NT
[7] T-MEC: acrónimo de Tratado México, Estados Unidos e Canadá, assinado em novembro de 2018. Também é conhecido como “TLCAN 2.0”, “NAFTA 2.0”,
com o objetivo de o distinguir do seu predecessor, o Tratado de Livre
Comércio da América do Norte (TLCAN, ou NAFTA, nas suas siglas em
inglês). – NT
[8] USMCA: acrónimo de United States of America, United Mexican States, and Canada,
Tratado entre o México, os Estados Unidos e o Canadá, também designado
como T-MEC. É também referido como a “Nova NAFTA”. – NT
[9] PRI: O Partido Revolucionário Institucional
é um dos principais partidos políticos do México, no poder
entre 1929 até 2000. Todos os presidentes do México foram deste partido.
Fonte: http://www.comunistas-mexicanos.org/partido-comunista-de-mexico/2213-por-cuestion-de-principios, publicado em 2019/05/24, acedido em 2019/05/27
Tradução do castelhano de TAM
domingo, 23 de junho de 2019
Como se demonstra o que é o capitalismo na sua fase (e face) imperialista.
Sanções económicas dos EUA:
sabotagem económica mortífera, ilegal e ineficaz
Enquanto o mistério de quem é responsável pela sabotagem
dos dois petroleiros no Golfo de Omã continua sem solução,
está claro que a administração Trump tem sabotado as
remessas de petróleo iranianas desde 2 de maio, quando anunciou sua
intenção de "
reduzir as exportações de petróleo do Irão a zero, negando ao regime a sua principal fonte de rendimento
". Esta ação foi dirigida à China, Índia,
Japão, Coreia do Sul e Turquia, nações que compram
petróleo iraniano e agora enfrentam ameaças dos EUA se
continuarem a fazê-lo. Os militares dos EUA podem não ter
explodido fisicamente petroleiros transportando petróleo bruto iraniano,
mas as suas ações têm o mesmo efeito e devem ser
consideradas atos de terrorismo económico.
A administração Trump está também a cometer um roubo maciço de petróleo ao confiscar 7 mil milhões de ativos de petróleo da Venezuela – impedindo o governo de Maduro de obter acesso ao seu próprio dinheiro. De acordo com John Bolton, as sanções à Venezuela afetarão 11 mil milhões de dólares em exportações de petróleo em 2019. A administração Trump também ameaça as companhias de navegação que transportam petróleo venezuelano. Duas empresas – uma baseada na Libéria e outra na Grécia – já foram punidas com penalidades pelo envio de petróleo venezuelano para Cuba. Não há buracos nos seus navios, mas há no entanto sabotagem económica.
Seja o Irão, Venezuela, Cuba, Coreia do Norte ou um dos 20 países sob a bota das sanções dos EUA, o governo de Donald Trump está a usar o seu peso económico para tentar mudanças de regime ou mudanças políticas importantes em muitos países pelo mundo afora.
Mortais
As sanções dos EUA contra o Irão são particularmente brutais. Embora os EUA não tenham conseguido avançar nas metas de mudança do regime provocaram crescentes tensões com parceiros comerciais dos EUA em todo o mundo e infligiram terríveis sofrimentos ao povo do Irão. Embora alimentos e medicamentos estejam tecnicamente isentos de sanções, as sanções dos EUA contra os bancos iranianos como o Parsian Bank, o maior banco não estatal do Irão, tornam quase impossível processar pagamentos por bens importados – e isso inclui alimentos e remédios. A escassez resultante de medicamentos certamente causará milhares de mortes evitáveis no Irão e as vítimas serão trabalhadores comuns, não Ayatolahs ou membros do governo.
Os grandes meios de comunicação dos EUA têm sido cúmplices no pretexto de que as sanções dos EUA são uma ferramenta não violenta para pressionar os governos-alvo a fim de forçar algum tipo de mudança democrática de regime . Os relatórios norte-americanos raramente mencionam o impacto mortal das sanções sobre o comum das pessoas culpando os governos visados pelas crises económicas resultantes.
O impacto mortal das sanções é muito claro na Venezuela, onde as sanções económicas dizimaram uma economia já sofrendo com a queda dos preços do petróleo, a sabotagem da oposição, a corrupção e más políticas do governo. Um relatório conjunto sobre mortalidade na Venezuela em 2018 realizado por três universidades venezuelanas concluiu que as sanções dos EUA foram grandemente responsáveis por pelo menos 40 mil mortes adicionais naquele ano. A Associação Farmacêutica da Venezuela relatou uma escassez de 85% de medicamentos essenciais em 2018.
Na ausência das sanções dos EUA, a recuperação dos preços globais do petróleo em 2018 deveria ter levado a pelo menos uma pequena recuperação na economia da Venezuela e a importações mais adequadas de alimentos e medicamentos. Em vez disso, as sanções financeiras dos EUA impediram a Venezuela de renegociar as suas dívidas e privaram a indústria petrolífera de dinheiro para peças, reparações e novos investimentos, levando a uma queda ainda mais dramática na produção do que nos anos anteriores de baixos preços do petróleo e depressão económica. A indústria petrolífera fornece 95% divisas estrangeiras da Venezuela, portanto, estrangulando a sua indústria petrolífera e cortando a possibilidade da Venezuela aceder a empréstimos internacionais. As sanções previsivelmente – e intencionalmente – aprisionaram o povo da Venezuela numa espiral económica depressiva.
Um estudo de Jeffrey Sachs e Mark Weisbrot para o Centro de Pesquisas Económicas e Políticas, intitulado "Sanções como castigo coletivo: o caso da Venezuela" , informou que o efeito combinado das sanções dos EUA de 2017 a 2019 deve levar a uma espantosa redução de 37,4% do PIB real da Venezuela em 2019, na esteira de um declínio de 16,7% em 2018 e a queda de mais de 60% nos preços do petróleo entre 2012 e 2016.
Na Coreia do Norte, décadas de sanções , juntamente com longos períodos de seca, deixaram milhões de pessoas do país de 25 milhões de habitantes malnutridos e empobrecidos . As áreas rurais, em particular, têm falta de remédios e água limpa . As sanções ainda mais rigorosas impostas em 2018 proibindo a maior parte das exportações do país, reduziram a capacidade do governo para pagar por alimentos importados para aliviar a escassez.
Ilegais
Um dos elementos mais notórios das sanções dos EUA é o seu alcance extraterritorial. Os EUA atacam empresas de países terceiros com penalidades por "violarem" sanções dos EUA. Quando os EUA deixaram unilateralmente o acordo nuclear com o Irão e impuseram sanções, o Departamento do Tesouro dos EUA gabou-se de que em apenas um dia, 5 de novembro de 2018, sancionou mais de 700 indivíduos, entidades, aeronaves e embarcações que faziam negócios com o Irão. Em relação à Venezuela, a Reuters informou que em março de 2019 o Departamento de Estado havia "instruído as empresas petrolíferas e refinarias em todo o mundo para reduzirem ainda mais as transações com a Venezuela ou enfrentarem sanções, mesmo que negociações comerciais não sejam proibidas pelas sanções tal como publicadas pelos EUA.
Uma fonte da indústria petrolífera lamentou-se à Reuters: "É assim que os Estados Unidos operam hoje em dia. Eles têm regras escritas e depois ligam-nos para explicar que também existem regras não escritas que eles querem que sejam cumpridas."
Autoridades norte-americanas dizem que as sanções beneficiarão o povo da Venezuela e do Irão ao pressioná-los a derrubarem os seus governos. Desde que o uso da força militar, golpes e operações secretas para derrubar governos estrangeiros demonstraram-se catastróficos no Afeganistão, Iraque, Haiti, Somália, Honduras, Líbia, Síria, Ucrânia e Iémen, a ideia de usar a posição dominante dos EUA e do dólar nos mercados financeiros internacionais, como uma forma de "poder brando" para alcançar uma "mudança de regime", pode parecer aos políticos dos EUA uma forma mais fácil de coerção para apresentar a um público nos EUA cansado de guerras e a aliados difíceis.
Mas a mudança do "choque e pavor" do bombardeio aéreo e ocupação militar para os assassinatos silenciosos por doenças evitáveis, desnutrição e pobreza extrema está longe de ser uma opção humanitária e não mais legítima sob o Direito Internacional Humanitário do que o uso da força militar.
Denis Halliday foi Secretário-Geral Adjunto da ONU, serviu como Coordenador Humanitário no Iraque e demitiu-se da ONU em protesto contra as sanções brutais contra aquele país em 1998.
"Sanções abrangentes, quando impostas pelo Conselho de Segurança da ONU ou por um Estado sobre um país soberano, são uma forma de guerra, uma arma contundente que inevitavelmente pune cidadãos inocentes", disse Denis Halliday: "Se as sanções forem deliberadamente ampliadas quando as suas consequências mortais são conhecidas, podem ser consideradas genocídio. Quando a embaixadora dos Estados Unidos Madeleine Albright disse em no programa "Sessenta minutos" da CBS em 1996 que matar 500 mil crianças iraquianas para tentar derrubar Saddam Hussein tinha "valido a pena", a continuação das sanções da ONU contra o Iraque ajusta-se à definição de genocídio".
Atualmente dois relatores especiais da ONU nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU são autoridades independentes e sérias sobre o impacto e a ilegalidade das sanções dos EUA à Venezuela, as suas conclusões gerais aplicam-se igualmente ao Irão. Alfred De Zayas visitou a Venezuela logo após a imposição das sanções financeiras dos EUA em 2017 e escreveu um extenso relatório sobre o que lá encontrou. Ele encontrou impactos significativos devido à dependência de longo prazo da Venezuela em petróleo, má governação e corrupção, mas também condenou veementemente as sanções e a "guerra económica" dos EUA.
"As sanções económicas e os bloqueios modernos são comparáveis aos cercos medievais das cidades", escreveu De Zayas. "As sanções do século XXI tentam colocar não apenas uma cidade, mas países soberanos de joelhos". O relatório de De Zayas recomendou que o Tribunal Penal Internacional investigasse as sanções dos EUA contra a Venezuela como um crime contra a humanidade.
Um segundo relator especial da ONU, Idriss Jazairy, emitiu contundente declaração em resposta ao fracassado golpe apoiado pelos EUA na Venezuela em janeiro. Ele condenou a "coação" vinda de poderes externos como uma "violação de todas as normas do direito internacional". "Sanções que podem levar à fome e à falta de assistência médica não são a resposta à crise económica e humanitária na Venezuela", disse Jazairy. (…) "precipitar uma crise económica e humanitária não é uma boa base para a solução pacífica de disputas."
As sanções também violam o Artigo 19 da Carta da Organização dos Estados Americanos que , que proíbe explicitamente a intervenção "por qualquer motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro Estado". Acrescenta que "proíbe não apenas a força armada, mas também qualquer outra forma de interferência ou tentativa de ameaça contra personalidades do Estado ou contra elementos políticos, económicos e culturais ".
O artigo 20 da Carta da OEA é igualmente pertinente: "Nenhum Estado poderá usar ou encorajar o uso de medidas coercivas de caráter económico ou político para forçar a vontade soberana de outro Estado e obter dele vantagens de qualquer natureza".
Nos termos da lei dos EUA, as sanções de 2017 e 2019 contra a Venezuela baseiam-se em declarações presidenciais infundadas de que a situação na Venezuela criou uma dita "emergência nacional" nos Estados Unidos. Se os tribunais federais dos EUA não tivessem tanto medo de responsabilizar o poder executivo em questões de política externa, isso poderia ser questionado e muito provavelmente descartado por um tribunal federal de forma ainda mais rápida e fácil do que o caso de uma emergência nacional na fronteira mexicana, que pelo menos está geograficamente ligado aos Estados Unidos.
Ineficazes
Há mais uma razão crítica para poupar o povo do Irão, Venezuela e outros países alvo dos impactos mortais e ilegais das sanções económicas dos EUA: elas não funcionam.
Há vinte anos, quando as sanções económicas reduziram o PIB do Iraque em 48% em cinco anos e estudos sérios documentaram seu custo humano genocida, eles mesmo assim não conseguiram derrubar o governo de Saddam Hussein do poder. Dois Secretários-Gerais Adjuntos da ONU, Denis Halliday e Hans Von Sponeck, renunciaram aos altos cargos na ONU em protesto, em vez de apoiarem essas sanções assassinas.
Em 1997, Robert Pape, então professor do Dartmouth College, tentou resolver as questões mais básicas sobre o uso de sanções económicas para alcançar mudanças políticas noutros países, reunindo e analisando os dados históricos de 115 casos em que isso foi feito entre 1914 e 1990. No seu estudo, intitulado Why Economic Sanctions Do Not Work concluiu que as sanções só obtiveram sucesso em cinco dos 115 casos.
Pape também colocou uma questão importante e provocadora: "Se as sanções económicas raramente são eficazes, por que é que os estados continuam a usa-las?"
Ele sugeriu três respostas possíveis:
A administração Trump está também a cometer um roubo maciço de petróleo ao confiscar 7 mil milhões de ativos de petróleo da Venezuela – impedindo o governo de Maduro de obter acesso ao seu próprio dinheiro. De acordo com John Bolton, as sanções à Venezuela afetarão 11 mil milhões de dólares em exportações de petróleo em 2019. A administração Trump também ameaça as companhias de navegação que transportam petróleo venezuelano. Duas empresas – uma baseada na Libéria e outra na Grécia – já foram punidas com penalidades pelo envio de petróleo venezuelano para Cuba. Não há buracos nos seus navios, mas há no entanto sabotagem económica.
Seja o Irão, Venezuela, Cuba, Coreia do Norte ou um dos 20 países sob a bota das sanções dos EUA, o governo de Donald Trump está a usar o seu peso económico para tentar mudanças de regime ou mudanças políticas importantes em muitos países pelo mundo afora.
Mortais
As sanções dos EUA contra o Irão são particularmente brutais. Embora os EUA não tenham conseguido avançar nas metas de mudança do regime provocaram crescentes tensões com parceiros comerciais dos EUA em todo o mundo e infligiram terríveis sofrimentos ao povo do Irão. Embora alimentos e medicamentos estejam tecnicamente isentos de sanções, as sanções dos EUA contra os bancos iranianos como o Parsian Bank, o maior banco não estatal do Irão, tornam quase impossível processar pagamentos por bens importados – e isso inclui alimentos e remédios. A escassez resultante de medicamentos certamente causará milhares de mortes evitáveis no Irão e as vítimas serão trabalhadores comuns, não Ayatolahs ou membros do governo.
Os grandes meios de comunicação dos EUA têm sido cúmplices no pretexto de que as sanções dos EUA são uma ferramenta não violenta para pressionar os governos-alvo a fim de forçar algum tipo de mudança democrática de regime . Os relatórios norte-americanos raramente mencionam o impacto mortal das sanções sobre o comum das pessoas culpando os governos visados pelas crises económicas resultantes.
O impacto mortal das sanções é muito claro na Venezuela, onde as sanções económicas dizimaram uma economia já sofrendo com a queda dos preços do petróleo, a sabotagem da oposição, a corrupção e más políticas do governo. Um relatório conjunto sobre mortalidade na Venezuela em 2018 realizado por três universidades venezuelanas concluiu que as sanções dos EUA foram grandemente responsáveis por pelo menos 40 mil mortes adicionais naquele ano. A Associação Farmacêutica da Venezuela relatou uma escassez de 85% de medicamentos essenciais em 2018.
Na ausência das sanções dos EUA, a recuperação dos preços globais do petróleo em 2018 deveria ter levado a pelo menos uma pequena recuperação na economia da Venezuela e a importações mais adequadas de alimentos e medicamentos. Em vez disso, as sanções financeiras dos EUA impediram a Venezuela de renegociar as suas dívidas e privaram a indústria petrolífera de dinheiro para peças, reparações e novos investimentos, levando a uma queda ainda mais dramática na produção do que nos anos anteriores de baixos preços do petróleo e depressão económica. A indústria petrolífera fornece 95% divisas estrangeiras da Venezuela, portanto, estrangulando a sua indústria petrolífera e cortando a possibilidade da Venezuela aceder a empréstimos internacionais. As sanções previsivelmente – e intencionalmente – aprisionaram o povo da Venezuela numa espiral económica depressiva.
Um estudo de Jeffrey Sachs e Mark Weisbrot para o Centro de Pesquisas Económicas e Políticas, intitulado "Sanções como castigo coletivo: o caso da Venezuela" , informou que o efeito combinado das sanções dos EUA de 2017 a 2019 deve levar a uma espantosa redução de 37,4% do PIB real da Venezuela em 2019, na esteira de um declínio de 16,7% em 2018 e a queda de mais de 60% nos preços do petróleo entre 2012 e 2016.
Na Coreia do Norte, décadas de sanções , juntamente com longos períodos de seca, deixaram milhões de pessoas do país de 25 milhões de habitantes malnutridos e empobrecidos . As áreas rurais, em particular, têm falta de remédios e água limpa . As sanções ainda mais rigorosas impostas em 2018 proibindo a maior parte das exportações do país, reduziram a capacidade do governo para pagar por alimentos importados para aliviar a escassez.
Ilegais
Um dos elementos mais notórios das sanções dos EUA é o seu alcance extraterritorial. Os EUA atacam empresas de países terceiros com penalidades por "violarem" sanções dos EUA. Quando os EUA deixaram unilateralmente o acordo nuclear com o Irão e impuseram sanções, o Departamento do Tesouro dos EUA gabou-se de que em apenas um dia, 5 de novembro de 2018, sancionou mais de 700 indivíduos, entidades, aeronaves e embarcações que faziam negócios com o Irão. Em relação à Venezuela, a Reuters informou que em março de 2019 o Departamento de Estado havia "instruído as empresas petrolíferas e refinarias em todo o mundo para reduzirem ainda mais as transações com a Venezuela ou enfrentarem sanções, mesmo que negociações comerciais não sejam proibidas pelas sanções tal como publicadas pelos EUA.
Uma fonte da indústria petrolífera lamentou-se à Reuters: "É assim que os Estados Unidos operam hoje em dia. Eles têm regras escritas e depois ligam-nos para explicar que também existem regras não escritas que eles querem que sejam cumpridas."
Autoridades norte-americanas dizem que as sanções beneficiarão o povo da Venezuela e do Irão ao pressioná-los a derrubarem os seus governos. Desde que o uso da força militar, golpes e operações secretas para derrubar governos estrangeiros demonstraram-se catastróficos no Afeganistão, Iraque, Haiti, Somália, Honduras, Líbia, Síria, Ucrânia e Iémen, a ideia de usar a posição dominante dos EUA e do dólar nos mercados financeiros internacionais, como uma forma de "poder brando" para alcançar uma "mudança de regime", pode parecer aos políticos dos EUA uma forma mais fácil de coerção para apresentar a um público nos EUA cansado de guerras e a aliados difíceis.
Mas a mudança do "choque e pavor" do bombardeio aéreo e ocupação militar para os assassinatos silenciosos por doenças evitáveis, desnutrição e pobreza extrema está longe de ser uma opção humanitária e não mais legítima sob o Direito Internacional Humanitário do que o uso da força militar.
Denis Halliday foi Secretário-Geral Adjunto da ONU, serviu como Coordenador Humanitário no Iraque e demitiu-se da ONU em protesto contra as sanções brutais contra aquele país em 1998.
"Sanções abrangentes, quando impostas pelo Conselho de Segurança da ONU ou por um Estado sobre um país soberano, são uma forma de guerra, uma arma contundente que inevitavelmente pune cidadãos inocentes", disse Denis Halliday: "Se as sanções forem deliberadamente ampliadas quando as suas consequências mortais são conhecidas, podem ser consideradas genocídio. Quando a embaixadora dos Estados Unidos Madeleine Albright disse em no programa "Sessenta minutos" da CBS em 1996 que matar 500 mil crianças iraquianas para tentar derrubar Saddam Hussein tinha "valido a pena", a continuação das sanções da ONU contra o Iraque ajusta-se à definição de genocídio".
Atualmente dois relatores especiais da ONU nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU são autoridades independentes e sérias sobre o impacto e a ilegalidade das sanções dos EUA à Venezuela, as suas conclusões gerais aplicam-se igualmente ao Irão. Alfred De Zayas visitou a Venezuela logo após a imposição das sanções financeiras dos EUA em 2017 e escreveu um extenso relatório sobre o que lá encontrou. Ele encontrou impactos significativos devido à dependência de longo prazo da Venezuela em petróleo, má governação e corrupção, mas também condenou veementemente as sanções e a "guerra económica" dos EUA.
"As sanções económicas e os bloqueios modernos são comparáveis aos cercos medievais das cidades", escreveu De Zayas. "As sanções do século XXI tentam colocar não apenas uma cidade, mas países soberanos de joelhos". O relatório de De Zayas recomendou que o Tribunal Penal Internacional investigasse as sanções dos EUA contra a Venezuela como um crime contra a humanidade.
Um segundo relator especial da ONU, Idriss Jazairy, emitiu contundente declaração em resposta ao fracassado golpe apoiado pelos EUA na Venezuela em janeiro. Ele condenou a "coação" vinda de poderes externos como uma "violação de todas as normas do direito internacional". "Sanções que podem levar à fome e à falta de assistência médica não são a resposta à crise económica e humanitária na Venezuela", disse Jazairy. (…) "precipitar uma crise económica e humanitária não é uma boa base para a solução pacífica de disputas."
As sanções também violam o Artigo 19 da Carta da Organização dos Estados Americanos que , que proíbe explicitamente a intervenção "por qualquer motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro Estado". Acrescenta que "proíbe não apenas a força armada, mas também qualquer outra forma de interferência ou tentativa de ameaça contra personalidades do Estado ou contra elementos políticos, económicos e culturais ".
O artigo 20 da Carta da OEA é igualmente pertinente: "Nenhum Estado poderá usar ou encorajar o uso de medidas coercivas de caráter económico ou político para forçar a vontade soberana de outro Estado e obter dele vantagens de qualquer natureza".
Nos termos da lei dos EUA, as sanções de 2017 e 2019 contra a Venezuela baseiam-se em declarações presidenciais infundadas de que a situação na Venezuela criou uma dita "emergência nacional" nos Estados Unidos. Se os tribunais federais dos EUA não tivessem tanto medo de responsabilizar o poder executivo em questões de política externa, isso poderia ser questionado e muito provavelmente descartado por um tribunal federal de forma ainda mais rápida e fácil do que o caso de uma emergência nacional na fronteira mexicana, que pelo menos está geograficamente ligado aos Estados Unidos.
Ineficazes
Há mais uma razão crítica para poupar o povo do Irão, Venezuela e outros países alvo dos impactos mortais e ilegais das sanções económicas dos EUA: elas não funcionam.
Há vinte anos, quando as sanções económicas reduziram o PIB do Iraque em 48% em cinco anos e estudos sérios documentaram seu custo humano genocida, eles mesmo assim não conseguiram derrubar o governo de Saddam Hussein do poder. Dois Secretários-Gerais Adjuntos da ONU, Denis Halliday e Hans Von Sponeck, renunciaram aos altos cargos na ONU em protesto, em vez de apoiarem essas sanções assassinas.
Em 1997, Robert Pape, então professor do Dartmouth College, tentou resolver as questões mais básicas sobre o uso de sanções económicas para alcançar mudanças políticas noutros países, reunindo e analisando os dados históricos de 115 casos em que isso foi feito entre 1914 e 1990. No seu estudo, intitulado Why Economic Sanctions Do Not Work concluiu que as sanções só obtiveram sucesso em cinco dos 115 casos.
Pape também colocou uma questão importante e provocadora: "Se as sanções económicas raramente são eficazes, por que é que os estados continuam a usa-las?"
Ele sugeriu três respostas possíveis:
-
"Os decisores que impõem sanções sistematicamente
sobrestimam as perspetivas de sucesso coercivo das sanções".
-
"Líderes que planeiam o uso da força como último
recurso, muitas vezes esperam que a imposição de
sanções aumente a credibilidade das ameaças militares
subsequentes".
- "A imposição de sanções geralmente gera maiores benefícios políticos para os líderes que a recusa de impor sanções ou o recorrer à força".
Acreditamos que a resposta é provavelmente uma combinação
de "todas as alternativas acima". Mas acreditamos firmemente que
nenhuma combinação dessas ou de qualquer outra
justificação pode justificar o custo humano genocida das
sanções económicas no Iraque, Coreia do Norte,
Irão, Venezuela ou em qualquer outro lugar.
Enquanto o mundo condena os recentes ataques contra os petroleiros e tenta identificar os culpados, a condenação global deve também concentrar-se no país responsável pela guerra económica mortal, ilegal e ineficaz no coração desta crise: os EUA.
[*]
Medea Benjamin: ativista política americana, mais conhecida
por ser co-fundadora do
Code Pink
juntamente com o ativista e autor Kevin
Danaher, o grupo de defesa do comércio justo Global Exchange
Enquanto o mundo condena os recentes ataques contra os petroleiros e tenta identificar os culpados, a condenação global deve também concentrar-se no país responsável pela guerra económica mortal, ilegal e ineficaz no coração desta crise: os EUA.
[**] Nicolas J.S. Davies: autor de Blood On Our Hands: the American Invasion and Destruction of Iraq . Também escreveu os textos de "Obama at war" em "Grading the 44th President: a Report Card on Barack Obama's First Term as a Progressive Leader."
O original encontra-se em www.informationclearinghouse.info/51778.htm
e em www.codepink.org/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
sexta-feira, 21 de junho de 2019
"Hacia una nueva física": Japón planea revolucionar ya este año la ciencia con este invento futurístico (VIDEO, FOTOS)
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Científicos nipones disparan neutrinos contra dos enormes depósitos subterráneos de agua pura y proyectan
construir un tercero, aún más grande, que posibilitará experimentos inéditos.
Síguenos en FacebookLos astrofísicos llevan décadas esperando interceptar algún haz de partículas proveniente de la explosión de
supernovas. Cuentan con enormes instalaciones para eso, como el observatorio de neutrinos en Kamioca, Japón.
Sin
embargo, desde los años 1980 solo han detectado 24 neutrinos –todos
provenientes de una sola supernova– y precisamente en esa década
del siglo pasado, destacó este lunes en un
artículo multimedia Jake Sturmer, corresponsal de Australian Broadcasting Corporation, quien visitó recientemente el observatorio nipón.
Ese conjunto de múltiples detectores, que recibe el nombre de Kamiokande, fue construido en un subterráneo para
evitar el ruido de partículas omnipresentes en la atmósfera.
Después de aquella primera hazaña, los científicos nipones erigieron
una segunda versión, el Súper-Kamiokande. Allí fue registrada
la primera evidencia de oscilaciones de neutrinos: otro éxito
científico de los finales del siglo pasado.
Japón planea revolucionar ya este año la ciencia con este invento futurístico
Científicos nipones disparan neutrinos contra dos enormes depósitos subterráneos de agua pura y proyectan construir un tercero, aún más grande, que posibilitará experimentos inéditos.
Científicos nipones disparan neutrinos contra dos enormes depósitos subterráneos de agua pura y proyectan construir un tercero, aún más grande, que posibilitará experimentos inéditos.
Japón
planea revolucionar ya este año la ciencia con este invento futurístico
https://youtu.be/GoUbmB_Mu0 Científicosnipones
disparan neutrinos contra dos enormes depósitos subterráneos de agua pura y… https://youtu.be/- GoUbmB_Mu0
Por el momento, las dos gigantescas cavernas subterráneas coexisten. "Son simplemente tanques de agua pura o muy limpia, rodeados de colectores de luz", explicó el profesor Mark Vagins, colaborador del proyecto nipón, quien acompañó al periodista a la más grande de esas instalaciones.
Por el momento, las dos gigantescas cavernas subterráneas coexisten. "Son simplemente tanques de agua pura o muy limpia, rodeados de colectores de luz", explicó el profesor Mark Vagins, colaborador del proyecto nipón, quien acompañó al periodista a la más grande de esas instalaciones.
Estos
depósitos, con 3.000 y 50.000 toneladas de agua, respectivamente,
contribuyen a la busca de "pistas sobre los orígenes de nuestro
Universo" por medio de la radicación de Cherenkov,
producida por partículas eléctricamente cargadas a su paso por el agua y
a velocidades superiores a la de la luz en dicho medio. Las
paredes constan de miles de detectores dorados de partículas.
Básicamente son grandes bombillas, pero
"bombillas al revés", puesto que capturan la luz en vez de producirla y emiten la electricidad que consume una bombilla normal. De esta manera los físicos se enteran del paso de un neutrino
a gran velocidad a través del depósito.
Una variedad de neutrinos y su detección
Cada supernova es "una bomba de neutrinos", según Vagins, quien las calificó también como "la mejor fuente de neutrinos".
A
su vez, los miles de detectores son tan sensibles que si estuvieran en
la Luna, podrían detectar una cerilla encendida sobre la Tierra.
Además, reaccionan de manera distinta al paso de neutrinos que emanan de fuentes diferentes, lo que permite distinguir si provienen de una supernova y rompen moléculas de agua, o de una
fuente terrestre (como una central nuclear), o del Sol, cuyos neutrinos también fueron interceptados por el observatorio nipón.
No
obstante, Vagins comparó la posibilidad de atrapar aquellos que llegan
de las supernovas con "una ventana al pasado". Y es que, según
la teoría que postula, "cada átomo de oxígeno que respiramos, cada uno
que está en el agua que bebemos, en el agua de nuestros cuerpos (…) se
formó en el corazón de una estrella muerta, explotada, que desapareció
hace mucho".
En espera de una nueva
explosión de supernova, los estudiosos calibran la sensibilidad de los detectores
disparando protones y neutrinos hacia el depósito. Estos disparos se efectúan
desde el acelerador de partículas J-PARC, situado a 295 kilómetros de distancia y a casi 2 kilómetros de profundidad, más cerca de Tokio.
Además, los investigadores propusieron agregar al agua un metal plateado de tierras raras, llamado gadolinio, para
aumentar aún más la sensibilidad del sistema detector.
Vagins es uno de los científicos encargados de reiniciar el
funcionamiento del conjunto a finales de este año o principios del
próximo,
ya con este ingrediente adicional.
Del 'Súper' al 'Híper'
La caza de neutrinos podría ascender a un nivel tecnológico jamás visto con la
puesta en marcha del depósito número tres,
que los científicos llaman Híper-Kamiokande. Un anteproyecto apunta a
una gigantesca cámara detectora de neutrinos, con 260.000 toneladas de
agua
y 40.000 fotomultiplicadores, que son los detectores ópticos de vacío.
Las tareas que podrían plantearse a partir de esa instalación de tercera generación "llevan más allá del
modelo estándar y hacia una física nueva",
valoró el profesor Yuri Kudenko, del Instituto de Investigaciones
Nucleares de la Academia de Ciencias de Rusia. El catedrático compartió
este lunes con RIA Novosti los planes de largo alcance que diseñan los colaboradores del observatorio.
Kudenko destacó entre esas tareas
la medición de la masa exacta del neutrino,
la comprensión de la asimetría entre la materia y la antimateria y la
búsqueda de algunas pistas de desintegración de protones, que es un
proceso
hipotético jamás visto, puesto que la expectativa de vida estimada de
un protón supera la de todo el Universo.
Se
espera que el Gobierno de Japón apruebe el proyecto de la construcción a
finales del año en curso y que las obras comiencen en abril
del 2020. La nueva instalación podría estar lista para experimentos en el 2027.
En
el Súper-Kamiokande se han registrado aproximadamente 10 "eventos de
neutrino" al mes (inducidos todos por el acelerador de partículas),
mientras que en el nuevo depósito los podría haber hasta siete u ocho
veces más, señaló el físico ruso.
La
noticia, publicada en mayo pasado en el sitio web del propio
observatorio, apuntó también al uso potencial del Híper-Kamiokande para
medir con precisión el tiempo y cantidades de luz.
El colectivo estuvo ese mes probando unos prototipos de circuitos
electrónicos hechos con fibra óptica, capaces de mandar a distancia
la "señal de tiempo" con una precisión cercana a 100 picosegundos (una
mil millonésima parte de un segundo).
quarta-feira, 19 de junho de 2019
O Portugal da Mini – um discurso salazarista em Portalegre Carlos de Matos Gomes *
Tinha
curiosidade no discurso de João Miguel Tavares, presidente das
comemorações do 10 de Junho de 2019. Tinha vontade, mais do que
esperança, de ser surpreendido. Em várias ocasiões da minha já longa
vida vi pessoas vulgares superarem-se quando colocadas em situações
difíceis. Serem mais do que eles.
Na minha geração e como símbolo do que quero expor, o Fernando
Salgueiro Maia,
que se transformou diante dos nossos olhos no Terreiro do Paço e no
Largo Carmo no “homem do leme” do poema de um génio, Fernando Pessoa,
que enfrentou o Mostrengo.
O 10 de Junho tem como patrono um génio que escreveu uma epopeia dos
portugueses.
O
discurso de João Miguel Tavares correspondeu ao que esperava dele, em
vez de génio e grandeza, ele exaltou o português da mini do snack
bar da cidade, aquele português que sucedeu sem percalços ao português
de Salazar do copo de três na tasca da aldeia. O mesmo português do
respeitinho, servil, de chapéu na mão, um tanto alarve.
O Portugal e o portugueses do discurso de JMT foram os glosados por Alexandre O’Neill no poema «Portugal», os da:
“desancada varina,
(d)o plumitivo ladrilhado de lindos adjetivos,
(d)a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato! “
João Miguel Tavares proferiu uma arenga retirada da letra do fado Uma Casa Portuguesa:
“Numa
casa portuguesa fica bem pão e vinho sobre a mesa. A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza de dar, e ficar contente.
Quatro paredes caiadas, um cheirinho a alecrim, um cacho de uvas
doiradas, duas rosas num jardim, um São José de azulejo…”
A
Amália Rodrigues tinha muito melhor voz do que João Miguel Tavares na
saga familiar, respeitável é claro, que entoou com voz
fúnebre na descrição feita na sua terra natal do seu percurso. A do
jovem filho de funcionários numa cidade do interior que chega onde ele
chegou. Só deve existir vergonha na pobreza de espírito, digo eu. Que
foi a que ele exibiu, para contrapor ao Camões.
Acontece
que a arenga de JMT explorou os sentimentos mais baixos das turbas: a
resignação, o servilismo hipócrita e a recusa
de cada português assumir as suas responsabilidades. Populismo do mais
reles. A demagogia do discurso assentou em dois pilares clássicos, já
utilizados por Salazar na definição da sua família na capa do livro da
3ª Classe da Escola Primária: os portugueses
querem uma vidazinha, uma casinha, os filhos educados, pão e vinho
sobre a mesa, um emprego no Estado, uma semana no Algarve, referiu o
tribuno, numa concessão pós-moderna. Mais, os portugueses devem
abster-se de assumir responsabilidades políticas – a política
é uma porca e os políticos uns malandros da pior espécie, disse ele por
outras palavras. Só não esclareceu que somos nós, os portugueses, a
escolhê-los e a elegê-los, porque isso nos responsabiliza e o discurso
da JMT é o da irresponsabilidade. Se os portugueses
soubessem o que custa mandar preferiam obedecer, já Salazar sentenciou.
João
Miguel Tavares lembrou que é o primeiro presidente das comemorações do
10 de Junho nascido na liberdade do pós-25 de Abril.
Referiu que frequentou a escola primária pública, o liceu público e a
universidade pública. Pelo seu discurso se conclui que o ensino, de
qualquer natureza, não altera a natureza. Não fornece nem carácter, nem
coragem. O ensino não dá grandeza a quem a não
tem.
No Portugal de Salazar o vinho dava de comer a um milhão de Portugueses. No Portugal apresentado por João Miguel Tavares, são
as mini que alimentam os seus portugueses e umas maledicências com tremoços.
Quer
isto dizer que alguns temas da letra do fado que João Miguel Tavares
proferiu em Portalegre, da corrupção à irresponsabilidade,
não são candentes e não devem ser enfrentadas e punidas? Não, em
absoluto. Quer apenas dizer que neste dia, ainda mais do que nos outros,
devemos apelar ao que melhor temos, aos nossos melhores, que devemos
ser individualmente mais exigentes em vez de nos
lamuriarmos e de clamarmos por salvadores que nos conduzam como um
rebanho. Nem uma palavra sobre o que julgo ser grande problema da
democracia portuguesa: o sistema judicial em roda livre e coberto de
privilégios.
O
discurso deste 10 de Junho foi um discurso salazarista, com meio século
de atraso, que podia ter sido proferido por um antigo
graduado da Mocidade Portuguesa. Felizmente Portugal tem muito melhor
que este JMT. Infelizmente são estes demagogos sem história que sobem às
tribunas da opinião pública. Não é por acaso… e é perigoso…
* Militar, investigador de história contemporânea, escritor com o pseudónimo Carlos Vale Ferraz
O avanço da direita e a causa oculta -- Boaventura Boaventura de Sousa Santos
Para
impor “verdades” repetidamente desmentidas, as elites globais suprimiram
o debate público e instalaram, em seu lugar, um mercado frenético e
vazio de opiniões. Daí às “fake news” foi um passo
A verdade de um sistema errado é o erro.
Para ser politicamente eficaz, este erro tem de ser incessantemente
repetido, amplamente difundido e aceito pela população como a única
verdade possível e credível. Não se trata de uma qualquer repetição. É
necessário que cada vez que o erro é posto em prática,
o seja como um ato inaugural – a verdade finalmente encontrada para
resolver os problemas da sociedade. Não se trata de uma qualquer
difusão. É necessário que o que se difunde seja percebido como algo com
que naturalmente temos de estar de acordo. Não se trata,
enfim, de uma qualquer aceitação. É necessário que o que se aceita seja
aceito para o bem de todos e que, se envolver algum sacrifício, ele seja
o preço a pagar por um bem maior no futuro.
O
avanço das forças políticas de direita e extrema-direita um pouco por
todo o mundo assenta nesses pressupostos. É difícil
imaginar a sobrevivência da democracia numa sociedade em que tais
pressupostos se concretizem plenamente, mas os sinais de que tal
concretização pode estar mais próxima do que se pensa são muitos e
merecem uma reflexão antes que seja demasiado tarde. Abordarei
os seguintes sinais: a reiteração do erro e a crise permanente; a orgia
da opinião e a fabricação massiva de ignorância; da sociedade
internética à sociedade métrica.
A
reiteração do erro é hoje patente. Desde há décadas, os países
capitalistas centrais, mais desenvolvidos, têm assumido a
responsabilidade
de dedicar parte de seu orçamento à “ajuda ao desenvolvimento”. O
objetivo é, como o nome indica, ajudar os países periféricos,
subdesenvolvidos, a seguir a trilha do desenvolvimento e, idealmente,
convergir com estes em níveis de bem-estar num futuro mais
ou menos próximo. É hoje patente que o fosso que separa os países
centrais dos países periféricos é cada vez maior. A chamada “crise dos
refugiados” e o aumento alarmante do movimento de populações migrantes
indesejadas são os sinais mais evidentes de que
as condições de vida nos países periféricos são cada vez mais
intoleráveis. O mesmo se diga das políticas de redução da pobreza
levadas a cabo pelo Banco Mundial há décadas. O balanço é negativo se
por redução da pobreza entendermos a diminuição do fosso entre
ricos e pobres dentro de cada país e entre países. O fosso não tem
cessado de aumentar. Do mesmo modo, as políticas de “austeridade” ou de
ajustamento estrutural impostas aos países com dificuldades financeiras,
têm falhado em seus objetivos e o próprio FMI
tem-no reconhecido, de forma mais ou menos velada (“excesso de
austeridade”, “deficiente calibração” etc).
Apesar
disso, uma e outra vez as mesmas políticas vão sendo impostas como se
no momento fossem a melhor ou a única solução.
O mesmo se pode dizer da privatização da segurança social e, portanto,
do sistema público de aposentadorias. O alvo mais recente é a
Previdência Social do Brasil. Segundo os estudos disponíveis, em cerca
de 70% dos casos em que a privatização foi realizada,
o sistema falhou e o Estado teve de resgatar o sistema para evitar uma
profunda crise social. Apesar disso, a receita continua a ser imposta e a
ser vendida como a salvação do país. Por que se insiste no erro de
impor medidas cujo fracasso é antecipadamente
reconhecido? São muitas as razões, mas todas convergem no que considero
ser a mais importante: o objetivo de criar uma situação de crise
permanente, que force as decisões políticas a concentrarem-se em medidas
de emergência e de curto prazo. Estas medidas,
apesar de envolverem sempre a transferência de riqueza dos mais pobres
para os mais ricos e imporem sacrifícios aos que menos podem
suportá-los, são aceitas como necessárias e inviabilizam qualquer
discussão sobre o futuro e as alternativas de médio e longo
prazo.
A
orgia da opinião. O erro reiterado e sua repetição não seriam possíveis
sem uma mudança tectônica na opinião pública. Os últimos
cem anos foram o século da expansão do direito a ter opinião. O que
antes era um privilégio das classes burguesas transformou-se num direito
exercido por vastas camadas da população, sobretudo nos países mais
desenvolvidos. Essa expansão foi muito desigual,
mas permitiu enriquecer o debate democrático com a discussão de
alternativas políticas significativamente divergentes. O conceito da
razão comunicativa, proposto por Jürgen Habermas, assentava na ideia de
que a formulação da discussão livre de argumentos prós
e contra em qualquer área de deliberação política transformava a
democracia no regime político mais legítimo porque garantia a
participação efetiva de todos. Acontece que nos últimos 30 anos a
sociedade midiática, primeiro, e a sociedade internética, depois,
produziram uma cisão insidiosa entre ter opinião e ser proprietário da
opinião que se tem. Fomos expropriados da propriedade da nossa opinião e
passamos a ser arrendatários ou inquilinos dela. Como não nos damos
conta desta transformação, podemos continuar
a pensar que tínhamos opinião e imaginar que ela era nossa. Empresários
de opinião de todo tipo entraram em cena para simultaneamente reduzir o
leque de opiniões possíveis e intensificar a divulgação de opiniões
promovidas. Os agentes principais desta transformação
foram os partidos políticos do “arco da governação”, os meios de
comunicação oligopólicos e os sistemas de publicidade, inicialmente
vocacionados para o consumo de massa de mercadorias, os quais foram
sendo direcionados para o consumo de massa do mercado das
ideias políticas. Assim surgiu a sociedade mediática e a
política-espetáculo, onde as diferenças substantivas entre as posições
em que se diverge são mínimas, mas apresentadas como se fossem máximas.
Foi o primeiro passo.
O
passo seguinte ocorreu quando da sociedade midiática passamos à
sociedade internética. Nesse passo, o direito a ter opinião
expandiu-se sem precedente e a expropriação da opinião de que somos
usuários (mais que titulares) atingiu novos patamares. Surgiram os
empresários, tanto legais quanto ilegais, da manipulação da opinião
pública, de que são exemplos paradigmáticos as redes
e as páginas de facebook e de whatsapp que produzem “táticas de
desinformação” particularmente ativas em períodos eleitorais, como
sucedeu nas eleições para o Parlamento Europeu. A conhecida organização
Avaaz identificou 500 páginas suspeitas, seguidas por
32 milhões de pessoas, que geraram 67 milhões de interações
(comentários, links, compartilhamentos). A empresa Facebook fechou 77
destas páginas, que eram responsáveis por 20% do fluxo de informações
nas redes identificadas. Esta extraordinária manipulação
da opinião teve três consequências que, apesar de passarem
despercebidas, constituíram uma mudança de paradigma na comunicação
social.
A
primeira consequência é que este policiamento das redes legitimou-se
apesar de ter controlado apenas a ponta do iceberg. O
recurso cada vez mais intenso aos big data e aos algoritmos para tocar
cada indivíduo nos seus gostos e preferências, e de o fazer
simultaneamente para milhões de pessoas, tornou possível mostrar que os
verdadeiros proprietários da nossa opinião são Bill Gates
e Mark Zuckerberg. Como tudo é feito para não nos darmos conta disso,
consideramo-nos devedores gratos do Eldorado de informações que nos
proporcionaram e não credores de um desastre democrático de
consequências imprevisíveis, pelas quais deviam ser eles
responsabilizados.
A
segunda é que a informação que passamos a usar, apesar de tão
superficial, não pode ser contestada com argumentos. Ou é aceita,
ou recusada, e os critérios para decidir são critérios de autoridade e
não de verdade. Se servir os interesses do líder político de turno, o
povo é exaltado como tendo finalmente opinião própria e capaz de
contradizer a das elites tradicionais. Se não servir,
o povo é facilmente considerado como “ignorante e incapaz de ser
governado democraticamente”. Quando o povo segue a opinião do líder, é o
líder que segue a opinião do povo. Quando o povo diverge da opinião do
líder, deve, como povo ignorante, confiar na opinião
do líder. Conforme lhe convenha, o líder “populista” pode aparecer ora
como seguidor do povo, ora como seu tutor. Aqui reside a razão última de
reemergência do “populismo”. Este capital de confiança cria-se
facilmente na medida em que tudo se passa na intimidade
do indivíduo e da sua família. Enquanto a sociedade midiática
transformou a política num espetáculo, a sociedade cibernética
transforma-a num show íntimo, um verdadeiro peep show em que toda a
interação afetiva ocorre entre o líder e o cidadão, sem argumentos
nem mediação.
A
terceira consequência da sociedade internética é que as redes sociais
criam dois ou mais fluxos de opinião unânime, que correm
em paralelo e por isso nunca se encontram. Ou seja, em nenhum caso podem
ser contraditados ou contra-argumentados numa discussão democrática. A
política errada pode assim ser amplamente aceita se cavalgar um dos
fluxos de unanimidade. Este é o caldo comunicacional
da radicalização política, o ambiente ideal para o clima de polarização,
de ódio ou de demonização do inimigo político, sem que seja necessário
usar argumentos discutíveis e apenas recorrendo a frases apocalípticas.
Da
sociedade internética à sociedade métrica. Vivemos uma outra orgia, a
orgia da quantificação da vida individual e coletiva.
Nunca as nossas vidas coletivas estiveram tão dependentes dos números
dos seguidores do facebook, dos likes nas interações nas redes,
dosscores nos concursos, dos rankings nas universidades, na
quantificação da produção científica. Sabemos que a lógica da
quantificação é extremamente seletiva e muito enviesada pelos critérios
que usa e pelos campos que seleciona pra quantificar. Deixa de fora tudo
o que é mais essencial à vida individual e coletiva. Deixa de fora
setores sociais que, pela sua inserção social,
não podem ser adequadamente contados. Os sem-teto são contados pelo fato
de serem sem-teto e não pelo que fazem durante o dia; a agricultura
familiar, informal, apesar de em muitos países alimentar ainda hoje a
população, bem como o trabalho não pago da economia
do cuidado em casa, não conta para o PIB. O que está dominantemente a
cargo das mulheres não entra nas estatísticas do trabalho, apesar de
crucial para reproduzir a força de trabalho. Se não for sufragada
quantitativamente, a qualidade da produção científica
não conta para a carreira dos pesquisadores. E o grande problema do
nosso tempo é que o que não é contado não conta.
Estas são algumas das dinâmicas subterrâneas que vão minando a democracia e criando uma cultura pública e privada indefesa ante
os erros, de que a direita e a extrema-direita se vão alimentando.
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