A classe operária em Portugal
A intensidade da exploração, as desigualdades e a
estratificação da classe operária industrial, dos trabalhadores do
sector dos serviços e agrícolas.
-Por vínculo.
Tendo em conta que Portugal conta com uma força de trabalho de 5,2
milhões de trabalhadores activos e desempregados (dados da Wikipédia,
“economia de Portugal” citando o INE num boletim de 10 de Fevereiro de
2016), portanto são:
– 900 mil precários.
– 1 milhão de clandestinos.
– 690 mil desempregados.
-Por salário.
Nos números oficiais do INE. Em 2017 30% dos trabalhadores
assalariados ganham 600 euros ou menos (o salário mínimo é 560 euros e
sobe para 580 euros em Janeiro de 2018). Em 2017 outros 30% dos
assalariados ganham entre 600 e 900 euros. Em 2017 24% dos assalariados
ganham entre 900 e 1800 euros. Em 2017 3% dos assalariados ganham entre
1800 e 2500 euros. Em 2017 1,3% dos assalariados ganham de 2500 euros
para cima. Nesta tabela aparece estranhamente 11% de salários “não
classificados”.
(Fonte: Eugénio Rosa 2017)
Acresce aos dados oficiais que os trabalhadores clandestinos ganham
o salário mínimo ou menos. É preciso esclarecer que todos os
trabalhadores que ganham 600 euros ou menos hoje em Portugal são pobres.
E acrescem também os desempregados (mais de metade não ganham nada,
nenhum subsídio de desemprego e a maioria dos restantes ganham menos que
o salário mínimo). Os reformados e pensionistas (pensão de velhice e de
invalidez) são outro sector social que ganham na grande maioria (1,6
milhões deles) um rendimento mensal igual ou abaixo dos 600 euros –
dentro dos quais um grande grupo ganha até menos de 300 euros (250 mil
pensionistas).
(Fontes: Eugénio Rosa 2017)
As empresas que concentram um grande número de operários e as empresas que concentram um grande número de empregados
Ranking das empresas que mais empregam em Portugal
Pingo Doce – Distribuição Alimentar, SA – 22.117
Modelo Continente – Hipermercados, SA – 22.115
Randstad Recursos Humanos, Empresa de Trabalho Temporário, SA – 15.070
CTT – Correios de Portugal, SA – 10.904
Auchan Portugal Hipermercados, SA – 7.827
Kelly Services Empresa de Trabalho Temporário – 7718
MEO Serviços de Comunicações e Multimédia – 7.649
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra E.P.E – 7.363
Transportes Aéreos Portugueses, SA – 7.153
Prosegur – Companhia de Segurança, Lda – 6.909
Tempo Team Recursos Humanos, Empresa de Trabalho Temporário, Lda – 6.480
Iss Facility Services – Gestão e Manutenção de Edifícios, Lda – 6.053
Mota-Engil Engenharia e Construção África – 5207
Andrade Gutierrez Europa África Ásia – 5175
Securitas e Tecnologia Serviços de Segurança – 4998
“Os dados são da Revista Exame, que elabora anualmente uma lista
das 500 Maiores & Melhores Empresas de Portugal (edição de
dezembro de 2015, analisando o ano de 2014).”
Lista de empresas por número de operários (directamente da empresa +
subcontratados no parque industrial + subcontratados no resto do país):
PT/MEO: 7600 – Telecomunicações
TAP: 7100 – Transportadora aérea
Autoeuropa: 3000+2300+4000 – Automobilística
PSA Mangualde: 700 – Automobilística
Mota-Engil Engenharia e Construção África: 5200 (23000 em todo o mundo) – Construção civil
Andrade Gutierrez Europa África Ásia: 5100 – Construção civil
Teixeira Duarte: 11000 (em todo o mundo) – Construção civil
Cimpor: 8400 (em todo o mundo) – Cimenteira
GALP: 6800 (em todo o mundo) – Energia/Petróelo
EDP: 12100 (em todo o mundo) – Energia/Electricidade
Portucel/G.Sempa: 2200 – Pasta de papel
Secil/G. Semapa: 2000 (?) – Cimenteira
Cortiçeira Amorim: 3700 (em todo o mundo) – Rolhas de garrafa
Unicer/Super Bock: 15000 (em todo o mundo) – Cerveja, vinhos, águas, bebidas
Grupo Lusiaves: 2500+2000 – Alimentar
Comboios de Portugal: 2700 – Comboios
Carris: 1900 – Autocarros
STCP: 1500 (?) – Autocarros
EFACEC/G. Mello: 2300 – Componentes eléctricos
Siderurgia Nacional: 750 – Metalúrgica
Lisnave: 400 – Construção naval
ENVC 250 (?) – Construção naval
OGMA: 180 (?) – Peças para aviões
Delta: 3000 – Torra e empacotamento de café
Há outras indústrias que empregam muitos operários mas são sempre
empresas de pequena e média dimensão (abaixo de 1000 por empresa e por
fábrica) como é o caso da indústria têxtil e do calçado. Nos anos da
crise capitalista recente estas indústrias foram completamente
arrasadas. Segundo esta notícia de 2016 no sector do calçado laboram
mais de 43000 pessoas e até tem tido crescimento ao nível dos postos de
trabalho. https://www.dinheirovivo.pt/economia/industria-do-calcado-criou-mais-de-9200-empregos-desde-2010/
As indústrias mais dominantes, mais empregadoras e mais lucrativas
são: a Indústria automóvel, a Construção Civil, os transportes e as
indústrias básicas de energia e telecomunicações. A única grande
indústria de fábricas mesmo, de produção de mercadorias em Portugal é a
indústria automóvel (e unicamente pela instalação em Portugal de uma
fábrica da Volkswagen e outra da PSA/Peugeot/Citroen). A indústria dos
transportes é estratégica em todo o mundo no auge do capitalismo
globalizado em que estamos e Portugal é estrategicamente um ponto de
passagem de mercadorias e um país importador massivo. Portugal importa
muito e exporta muito pouco em termos de mercadorias, por outro lado
Portugal exporta bastantes capitais – o que quer dizer deslocalização de
empresas e crescente desemprego em Portugal. O sector da construção é
também um sector industrial importante e este sector está muito
associado à banca e à especulação imobiliária.
Em tempos de crise da Banca o sector da Construção desaparece e as
grandes indústrias de Portugal ficam reduzidas a duas fábrica de
automóveis e ao sector dos transportes. Isso reforça o poder das
indústrias básicas que são o sector da Energia e o sector das
Telecomunicações – que associam cada vez mais Portugal a ser
estrategicamente um país consumidor de mercadorias e não produtor de
mercadorias.
Empregos e sectores que são destruídos
A indústria pesada, especialmente todo o sector metalúrgico, foi
quase completamente destruída dentro dos acordos de entrada de Portugal
na CEE e na UE. Nesse âmbito foi também praticamente destruída a
indústria naval e várias indústrias fornecedoras de peças para o
transporte ferroviário e aéreo que estavam ligadas ao exército
português. A empresa ferroviária está a ser destruída aos poucos e as
suas linhas estão a ser desmanteladas (em alguns casos raros à volta das
cidades são substituídas por metros). Sobre as privatizações era
preciso todo um longo artigo a falar disso. Mas é sobretudo importante a
história dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC, sector Naval)
e da Sorefame (material circulante ferroviário) como exemplos de
destruição de sectores económicos inteiros por via da privatização.
A internacionalização do capital (a falsa disputa entre capital nacional e internacional)
Em tempos de crise financeira, crise dos bancos, o sector da
construção sempre desaparece. Nos últimos anos Portugal saiu da sua
crise capitalista (da sua crise “para os capitalistas”) entrando numa
bolha especulativa do turismo associada ao sector imobiliário (e
portanto à banca). O turismo está a crescer em Portugal de uma forma
exponencial. Claro que a construção é por sistema muito vulnerável
porque só pode realmente ser lucrativa numa economia capitalista em
forte expansão. Os capitalistas da construção como quase todos os
capitalistas dos sectores mais estratégicos lidam com estes problemas de
bolhas exportando capitais para outros países. E ao exportar capitais –
por exemplo as empresas de construção durante a crise de 2009 a 2014
estiveram em peso em Angola – os capitalistas pedem aos técnicos,
engenheiros e operários especializados para virem também trabalhar para
outro país mas o grosso do trabalho não é técnico nem especializado, o
grosso do trabalho é braçal e não-qualificado, trabalho que por exemplo é
muito mais barato em Angola do que em Portugal.
Os maiores capitalistas, com maiores lucros
A LISTA DOS MILIONÁRIOS
1. Américo Amorim: 2484,2 milhões de euros – GALP, Cortiçeira Amorim (cortiça, energia/petróleo)
2. Alexandre Soares dos Santos: 1763,2 milhões de euros – Pingo Doce (hipermercados)
3. Belmiro de Azevedo: 1382,5 milhões de euros – Sonae/continente (hipermercados/shoppings)
4. Família Guimarães de Mello: 1189,4 milhões de euros – Mello
saúde, EFACEC (grupo saúde privada, indústria eléctrica, indústria
química, naval, ex-CUF que era um grande monopólio fabril)
5. António da Silva Rodrigues: 967 milhões de euros – Grupo Simoldes (indústria química, plásticos)
6. Família Alves Ribeiro: 663 milhões de euros – Alves Ribeiro (construção)
7. Fernando Campos Nunes: 539,2 milhões de euros – Visabeira (Imobiliário, turismo, telecomunicações,)
8. Dionísio Pestana: 506,6 milhões de euros – Hóteis Pestana (hotelaria)
9. Maria Isabel dos Santos: 448 milhões de euros – Banca
10. Fernando Figueiredo dos Santos: 448 milhões de euros
11. Luís Silva e Maria Perpétua Bordalo Silva: 419,2 milhões de euros
12. Manuel Rui Azinhais Nabeiro: 391,8 milhões de euros – Delta (torra e empacotamento de café)
13. Nuno Macedo Silva: 378,4 milhões de euros – Grupo RAR (indústria alimentar)
14. Pedro Queiroz Pereira e Maud Santos Mendonça: 358,7 milhões de euros – Semapa (cimenteira e indústria da pasta de papel)
15. Manuel Alfredo de Mello e família: 345,3 milhões de euros
16. Humberto Pedrosa: 309,5 milhões de euros
17. António Mota e irmãs: 300,8 milhões de euros
18. António Manuel Gonçalves, Fernando Gonçalves e Maria Helena Gonçalves: 267,4 milhões de euros
19. Carlos Moreira da Silva: 263,1 milhões de euros
20. Arlindo Costa Leite, Armando Costa Leite e Gabriela Costa Leite: 234,8 milhões de euros
21. Paula Isabel Cordo Boullosa e família: 233,4 milhões de euros
22. Familia Salvador Caetano: 231,1 milhões de euros
23. Maria de Lurdes Soares dos Santos: 224,1 milhões de euros
24. Maria Helena dos Santos Mota Goya: 224,1 milhões de euros
25. Manuel Champalimaud: 211,8 milhões de euros
Fonte: revista exame 2015
Os empregos que são criados neste século em Portugal
“Somando, conclui-se que 87,3 mil empregos (85,3%) dos 102,3 mil
empregos criados no 2º Trim.2017 foram na Agricultura, na Construção,
Alojamento e Restauração, portanto atividades caracterizadas por baixos
salários e algumas delas pela sazonalidade.” (Fonte: Eugénio Rosa 2017)
O emprego está a aumentar sobretudo na hotelaria/turismo e na
construção. Há também um aumento do trabalho meramente sazonal no sector
agrícola que certamente também é alimentado pelo turismo (por exemplo a
procura dos turistas por vinhos portugueses é um fenómeno do turismo em
Portugal).
Mais de metade do emprego criado nos meses de 2017 em que cito
Eugénio Rosa (economista da CGTP e do PCP) são precários, fora o que não
está nos números oficiais. O que não está nos números oficiais é o
muito numeroso falso trabalho independente (falso auto-emprego) que
também é precário, a subcontratação que também é precária e o trabalho
clandestino em que os sectores que criam a maior parte do emprego são
precisamente os grandes protagonistas – é na hotelaria/turismo,
construção e agricultura que está o grosso do trabalho clandestino.