A
derrota do PCP é mais profunda do que parece. Porque, vista à lupa, ela
fala de um partido comunista social e territorialmente acantonado. Fica
em segundo lugar nos seus bastiões tradicionais (Setúbal, Évora e
Beja), em terceiro apenas em Portalegre, em quarto em cinco distritos,
em quinto em quatro distritos e, coisa perturbante, fica em sexto lugar,
atrás do PAN, em sete distritos, sendo um deles o Porto. Só fica à
frente do Bloco em Portalegre, Setúbal, Évora e Beja. E até em concelhos
como o Montijo é ultrapassado pelos bloquistas.
E
é mais profunda do que parece porque a CDU tende a ser beneficiada nas
europeias. O PCP é o partido com maior retenção de eleitorado. Dizem os
especialistas que andará pelos 90%. Por isso, nas últimas europeias teve
416 mil votos e, quando chegou, um ano depois, às legislativas,
ficou-se pelos 446 mil votos, apesar do número de votantes ter aumentado
2,2 milhões. É um padrão que apenas foi especialmente exagerado há
cinco anos. Retirando 1987, em que legislativas e europeias foram em
simultâneo e por isso com o mesmo número de votantes, a CDU teve 14,4%
nas europeias de 1989 e 8,8% nas legislativas de 1991; 11,2% nas
europeias de 1994 e 8,6% nas legislativas de 1995; 10,3% nas europeias
de 1999 e 9% nas legislativas do mesmo ano; 9,1% nas europeias de 2004 e
7,5% nas legislativas de 2005; 10,6% nas europeias de 2009 e 7,7% nas
legislativas do mesmo ano; 12,7% nas europeias de 2014 e 8,2% nas
legislativas de 2015. É infalível e seria um caso único (mas não
impossível) se a CDU tivesse mais do que 6,9% nas próximas legislativas.
Se seguir o padrão terá menos de 6%, o que seria uma tragédia.
A
derrota do PCP é mais profunda do que parece porque 228 mil votos é
algo a que os comunistas nunca se aproximaram na sua vida. Em
legislativas ou europeias, a votação mais baixa foi nas eleições para o
Parlamento Europeu de 2004 (309 mil votos). Só mesmo a candidatura de
António Abreu em 2001 (223 mil votos) e a de Edgar Silva em 2016 (183
mil) foram piores. E são presidenciais, em que a fidelização é
obviamente muito mais difícil.
João Ferreira
explicou a derrota do PCP dizendo que o resultado em 2014 foi conseguido
depois de um período de austeridade. Tendo o PCP participado ativamente
na maioria que contribuiu para reverter esse momento difícil, a
conclusão é que os comunistas crescem mais quando o povo fica pior do
que quando ele próprio participa na melhoria das suas condições de vida.
É uma conclusão politicamente mortífera para um partido
A
derrota do PCP é mais profunda do que parece porque é a terceira
consecutiva, depois de presidenciais e autárquicas. Nas presidenciais os
eleitores debandaram para a candidatura de Sampaio da Nóvoa, com o
perfil de democrata de esquerda que os comunistas sempre apoiaram. Uma
análise cuidada das mesas de voto prova-o. Nas autárquicas as derrotas
foram mais locais do que nacionais, mas o efeito foi político foi o
mesmo. A tese dominante é que o PCP está a ser punido pela geringonça, a
minha é a oposta: com muitos reformados e funcionários públicos, o
eleitorado comunista foi especialmente beneficiado por esta maioria. E
isso funcionou como o abraço do urso do PS. Ao cortar o cordão sanitário
com o PS, foi mais fácil. O Bloco beneficia com a porosidade com o PS. O
PCP é prejudicado. E Isto é uma tragédia para o PCP.
A
derrota do PCP é mais profunda do que parece porque é acompanhada por
uma profunda crise sindical. Segundo contas de 2015, a taxa de
sindicalização desceu, em 34 anos, de 60% para 19%. E os sindicatos da
CGTP são dos mais martirizados. Os comunistas estão a perder os outros
instrumentos de intervenção social e dependem cada vez mais dos
resultados eleitorais.
João
Ferreira, que é um dos eurodeputados mais sólidos e articulados,
explicou a derrota do PCP dizendo que o anterior resultado, em 2014, foi
conseguido depois de um período de austeridade e intervenção da troika.
Tendo o Partido Comunista participado ativamente na maioria que
contribuiu para reverter esse momento difícil, a conclusão lógica das
palavras de João Ferreira é que os comunistas crescem mais quando o povo
fica pior do que quando ele participa na melhoria das suas condições de
vida. É uma constatação compreensível e não obrigatoriamente maldosa,
mas politicamente mortífera para um partido. Sobretudo quando os seus
dirigentes têm consciência disso e nada podem fazer. E é uma tragédia
para a democracia, que precisa do PCP para segurar as classes sociais
intermédias que se costumam baldar para a extrema-direita.
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