O conceito de superexploração para a teoria do imperialismo
«Naturalmente, a força produtiva é sempre a força produtiva de trabalho útil, concreto (…). O trabalho útil se torna, desse modo, uma fonte mais rica ou mais pobre de produtos em proporção direta com o aumento ou a queda de sua força produtiva. Ao contrário, por si mesma, uma mudança da força produtiva não afeta em nada o trabalho representado no valor. Como a força produtiva diz respeito à forma concreta e útil do trabalho, é evidente que ela não pode mais afetar o trabalho, tão logo se abstraia dessa sua forma concreta e útil. Assim, o mesmo trabalho produz, nos mesmos períodos de tempo, sempre a mesma grandeza de valor, independentemente da variação da força produtiva. Mas ele fornece, no mesmo espaço de tempo, diferentes quantidades de valores de uso (…). (Marxv. I, p. 137) [Boitempo, Livro I, p. 104]
A crença em uma relação direta entre salários e produtividade é, assim, fundada na confusão entre valor de uso e valor de troca, uma confusão que destrói os próprios fundamentos da teoria de Marx e, na verdade, é idêntica à percepção capitalista das relações de produção. Em outras palavras, os marxistas ortodoxos estão promovendo economia burguesa disfarçada com terminologia marxista.
Se os conceitos de Marx de mais-valor
absoluto e relativo são insuficientes para explicar a realidade das
redes da produção global contemporânea, do que mais precisamos? A
resposta é direta: uma conceituação teórica da superexploração.
Como dito acima, Marx excluiu repetida e explicitamente de sua “teoria
geral” do capital as variações internacionais da taxa de mais-valor e a
diminuição dos salários abaixo do valor da força de trabalho. A redução
do valor da força de trabalho através da supressão dos níveis de consumo
(ou, o que dá na mesma, da redução de salários abaixo do valor da força
de trabalho) é uma forma distinta, uma terceira forma de aumentar o
mais-valor, e foi de importância central durante a era neoliberal, sendo
a força motora fundamental por trás da arbitragem global do trabalho e
do deslocamento massivo da produção para países de baixos salários.(...) »
Por John Smith, via Review of African Political Economy, traduzido por Fernando Savella
Esta é a quarta parte que trazemos da polêmica envolvendo David Harvey e John Smith acerca do imperialismo. As outras partes são, na ordem, O Imperialismo ainda é um conceito relevante, David Harvey nega o imperialismo (um réplica) e A realidade concreta: David Harvey responde a John Smith.
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