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quinta-feira, 5 de setembro de 2024

TESES Sobre O novo capitalismo

 11 TESES sobre a atualidade

 

1ª- O modo de produção capitalista nos anos setenta começou uma nova fase, esgotada as fases sucessivas do fordismo e do taylorismo. Começou porque precisava existencialmente. Começou porque pôde. Para alcançar essa fase de nova acumulação necessitava de eliminar definitivamente o bloco socialista e a Esquerda nas suas variadas formas, sobretudo os partidos comunistas. O bloco socialista, nomeadamente a URSS, RDA, Hungria, Polónia, Checoslováquia, nos anos setenta, não se encontravam em crise económica sem saída pois mantinham-se em crescimento ainda que com urgentes alterações. Eram os partidos comunistas, que designamos como eurocomunistas, que se encontravam a profunda crise existencial. Nos finais dos anos oitenta o chamado Ocidente constituía uma atração irresistível, com influência cada vez mais avassaladora nas Academias e nas massas avidamente consumidoras.

2ª Entra-se, então, na fase dita neo-liberal, expressão em rigor algum, pois os seus teóricos fundadores não pregaram o regresso ao liberalismo da Primeira Revolução Industrial. O Estado somente lhes era hostil enquanto não lhes fosse subserviente, uma ferramenta. Esta fase é a dominação absoluta do Estado pelas grandes corporações. O capital monopolista já não era somente nacional e, portanto, nacionalista e protecionista, mas mundializado. Necessitava, para acumular e reproduzir-se, de se mundializar. Marx previra-o e Lenine (e outros) verificaram-no.

3ª Essa fase triunfou nos finais da década ou, precisamente, na década de noventa, com o desaparecimento do Bloco Socialista e o desmoronamento dos prrtidos de esquerda, fossem os eurocomunistas, fossem os sociais-democratas. Num aparte : a social-democracia, nomeadamente alemã e nórdica, escancarou as portas ao neo-liberalismo, isto é, às corporações capitalistas mundiais. Terminava, assim, a época dos acordos notáveis, que ela promovera, entre os Estados (ou os governos social-democratas ou de coligação) e os Sindicatos. O Estado Social.

4ª A principal finalidade das maiores corporações (do Aço, Petróleo, Armamento, Agro-negócio, minas, etc.) fora alcançada : eliminação do poder dos sindicatos ou do Trabalho. Portanto, elevação da taxa média do lucro. Maior taxa de exploração. Acumulação rápida, e rápida centralização e concentração do capital. Eliminação do "mercado de concorrência livre", o que desmente a expressão "neo-liberalismo".

5ª Formou-se um Mercado Mundial, correspondente à dominação absoluta das maiores corporações (clássicas e outras novas que subtraíram os serviços públicos). Mas era preciso mais : a completa subordinação dos trabalhadores, isto é, de todas as classes cujos rendimentos vêm do salário, já que a pequena burguesia sempre estivera completamente subordinada. Mas não se queria uma subordinação involuntária, como anteriormente, potencialmente rebelde. Servidão voluntária. Apoderamento de todo o tempo diários (da vida) do trabalhador. Conversão deste na figura substancial do CONSUMIDOR. O assalariado torna-se o "colaborador" da "empresa-família" (quanto mais e melhor trabalhar nela mais esta enriquecerá conservando, assim, os empregos e elevando salários (??) ou prémios . Criam-se engrenagens de avaliação online ou por via telefónica.

6ª- Tudo se converte em negócio. Em tudo (natural ou artificial) se descobre (muitas vezes através da ciência, ou seja, da colaboração dos cientistas pré-formados) um potencial nicho de lucratividade. O capitalismo torna-se canibalesco. Novas elites nascem ao lado da clássicas. super poderosas, escolhendo os governantes . No século vinte e um, intervêm todos os países que lhes sejam "antipáticos". Umas vezes à força, outras vezes por meio de ONGs e subornos. Inventaram os "Eixo do Mal", força de expressão propagandista para provar a sua força imperial. Ou imperialista, na designação de V.I. Lenine. Na verdade, é o o século do Império Norte-americano. Ou estava sendo.

7ª eis senão quando , a partir do décimo ano deste século, irrompe a China, comercial e industrialmente, e a Rússia, militarmente. Recentemente Os BRICS. Uma outra Ordem com outras regras. O velho imperialismo estrebucha, não quer ceder a sua hegemonia a novos polos. A sua crise é sistémica, sem saída. Contudo, o capitalismo possui ainda contratendência para as suas crises. Uma delas é pela destruição. Destrói para se recriar. Destrói-se a si próprio em parte. Destruiria a Rússia se tivesse podido. Destruirá a China se puder. o que é completamente duvidoso, pois a China é uma potência nuclear. Este facto é iniludível, porém não impede guerras regionais (ou marítimas), diretas ou por intermediários (agora são as Filipinas as intermediárias no Pacífico).

8ª O capitalismo na sua atual fase não é de menosprezar : criou a extrema-direita e formatou boa parte das juventude escolar e das classes médias (ou intermédias). Apoderou-se do modo de vida e do próprio pensamento. 

9ª Os EUA , cabeça do imperialismo, ele próprio o Império, prepara-se para abandonar a Europa à sua sorte indigna, à sua economia desindustrializada (indústrias alemãs e outras emigraram já para os EUA), inclusivamente à sua guerra com a Rússia. A guerra que eles mesmos desencadearam. Os EUA não querem a Europa como um bloco suficientemente poderoso (que já foi) para os confrontar na concorrência. Necessitam de uma Europa submetida ao dólar, compradora. Os EUA necessitam escoar, pois essa é a base da acumulação de capital e da financiarização. Precisam, em suma, de ser o que são : imperialistas.

10ª O capitalismo no seu topo, no vértice da sua organização económica, tornou-se rentista. O capital produtivo (que era reinvestido) cedeu o poder aos acionistas, ao casino das Bolsas, ao desperdício, ao consumo próprio. Poderá vir a ser a última fase do capitalismo como modo de produção. Ou não. A pré campanha eleitoral nos EUA mostra que existe e se fortalece a corrente ideológica que pretende reindustrializar a América. Neste caso >´à custa da Europa. Para isso quer enfrentar a China para , pelo menos, diminuir a sua expansão no comércio mundial, na inovação técnica, nas cadeias de distribuição e na captura dos recursos em matérias-primas. Eis porque não cede o seu "quintal das traseiras" onde se guarda a maior reserva planetária de petróleo e do lítio. Tenta. pois, uma nova fase. A InterNet fora um instrumento fundamental para triunfar na última fase- Não vemos qual a ferramenta revolucionará para uma possível nova fase (a IA ? E a China?). Uma nova organização do trabalho? Novos e inesperados nichos de negócios ? Destruição dos BRICS?

11ª Perante este panorama, no qual não esquecemos as alterações climáticas e a depredação dos ambientes naturais, que fazer? Desenvolver uma Frente Antifascista, considerando acaso que o (neo)Fascismo é o perigo mais imdediato? Uma Frente Anti imperialista, mais abrangente que a primeira, unindo todos os países que, podendo ser ocidentalistas, querem ser soberanos para negociarem como e com quem quiserem (isto é, as suas classes burguesas dominantes)? No entanto, as classes dominantes nesses ou em alguns desses países não são já rentistas e entreguistas? Não se verifica tal facto nos golpes que empreendem nos países dos BRICS ou que desejariam pertencer?

Admitamos essas duas frentes, sejam elas organizadas implicitamente ou explicitamente. Para já, atualmente, não existem. Na Europa não existe nenhuma dessas Frentes, com exceção porventura da França que se opôs ao (neo)fascismo. Admita-se que existe uma Frente anti imperialista composta de partidos comunistas, de nome, ou social-democratas (Venezuela, Nicarágua, Bolívia, talvez Colômbia ou Guatemala por aproximação), muito embora possa ruir a qualquer momento com várias "revoluções coloridas" (veja-se a rapidez com que caiu o governo do Bangladesh para que, assim, se quebrasse um eixo das Rotas da Seda ou da Nova Ordem). Admita-se que se constituem forças no mundo progressistas (no sentido em que seriam anti imperialistas) crescentemente capazes de fazer gorar a estratégia mundial do imperialismo (ou do Império) ; não de o derrotar a curto prazo, mas contê-lo na sua máxima ferocidade. Será capaz qualquer dessas duas frentes, ainda que viessem a ser organizadas, isto é, unidas com um plano consensual, de destruir o capitalismo dito neo-liberal. Ou seja, o imperialismo na sua fase contemporânea, simultaneamente violenta, assassina (Iraque, Síria, Palestina, Líbano, Irão, Geórgia, Arménia, etc.) e subtil, sedutora, neste modo de viver que o apoderamento das mentes, das vontades, dos desejos? 

Os comunistas afirmam : ao capitalismo só há um alternativa, que é o socialismo. Não. Poderá existir a alternativa do fim do mundo, ou das sociedades. Ou poderá o imperialismo seduzir, intimidar e desunir os polos alternativos e fazer trunfar as suas contra-tendências à baixa da taxa média de lucro como o fizeram várias vezes, porque em cada país existem classes, e uma delas domina as demais Na esmagadora maioria dos casos , nos países do planeta, a classe dominante é capitalista e se lhe deram espaço e tempo tornar-se-á rentista. 

A melhor alternativa é um modo de produção socialista. Conhecemos várias modalidades (ou talvez um só modelo). Ou já faleceram por lutas internas, por pressões externas com apoios internos, por doenças mais ou  menos constitucionais - a burocracia e a corrupção-., ou são demasiado revolucionárias (com um partido comunista dominante) pelo menos neste continente e nesta fase. Uns desviam-se para a direita , outros para o esquerdismo. Tentemos ficar no meio, como ensinava Aristóteles. Se se quiser sobreviver (como resquício não é sobreviver!) não se pode ser "esquerdista" (aquele do "Socialismo já!) ; nem se pode ser "reformista", isto é, potencialmente liquidacionista.

        NOZES PIRES

05/09/2024


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