Se as sondagens estão certas, vêm quatro anos de instabilidade política
O que a ÚLTIMA SONDAGEM
do Expresso nos diz é que o PS está em primeiro, bastante destacado.
Mas que não só a maioria absoluta é praticamente impossível como está
cada vez mais distante. Dizem também que Bloco de Esquerda e PCP não
terão sofrido grande desgaste com esta experiência governativa mas, ao
contrário do PS, também não terão capitalizado grande coisa. Ficarão
mais ou menos na mesma. Quanto ao PSD, continua a sua queda livre. E o
CDS, surpreendentemente, não será, ao contrário do que prometeu Assunção
Cistas, líder da oposição. Acho que as sondagens estão a subvalorizar
os pequenos e novos partidos, mas não tenho, para além da minha
intuição, qualquer base para o afirmar.
Olhando
para a sondagem, é evidente que não há condições para se fazer um bloco
central. Ele exige o mínimo de paridade entre partidos. A enorme
diferença entre o PS e o PSD torna totalmente inviável essa
possibilidade. Com aquele resultado, dificilmente Rui Rio sobreviverá. E
qualquer novo líder terá de se afirmar na oposição. Se, mesmo assim,
Rio ficasse, nunca teria, com esta votação, força interna para impor um
acordo com o Partido Socialista. A tendência, depois de um resultado
destes, seria para o PSD radicalizar o discurso.
Se
as sondagens estiverem certas há duas coisas inevitáveis: terá de haver
um qualquer tipo de reedição da “geringonça” e isso será muito mais
difícil de fazer do que nestes quatro anos. E o bloco central, com a
hecatombe no PSD, é altamente improvável. Serão anos mais instáveis do
que nos parecem à partida
Mas à esquerda as coisas
também não são fáceis. O Partido Socialista, mesmo longe da maioria
absoluta, aparece demasiado forte para que o Bloco de Esquerda e o PCP
aumentem ou sequer mantenham a influência que tiveram no Governo. Se
quiserem aprofundar a “geringonça” e não ficar como mero suporte de um
governo do PS, os partidos à sua esquerda têm os próximos meses para
roubar votos aos socialistas. Talvez só o consigam se o fizerem em nome
da “geringonça”. O que implica valorizarem, mesmo com as suas
insuficiências, estes quatro anos e o papel que tiveram neles. Fazer o
que estão a tentar com a redução do preço dos passes sociais ou querem
fazer na Lei de Bases de Saúde e, ao mesmo tempo, o que fizeram com o
Novo Banco.
Mas acresce
outro problema político causado pela matemática. Um dos segredos da
“geringonça”, que se deveu aos resultados eleitorais de 2014, era o
Partido Socialista precisar dos deputados do BE e do PCP em simultâneo.
Isso obrigava a que todas as medidas tivessem de ter um apoio
tripartido, vencendo o bloqueio na relação entre os dois partidos mais à
esquerda. Nenhuma sondagem repete essa situação. E com a vitória do PS,
que agora passa para primeiro lugar, dificilmente repetirá.
Por
fim, há um problema político mais profundo. Um próximo governo não será
de mera reposição de rendimentos. Teria de ser um governo com um
programa mais profundo, sendo até possível que tenha de vir a lidar com
uma situação económica europeia – e por isso também portuguesa – bem
mais difícil. Não sabemos como acabará o Brexit, não sabemos que cenário
político sairá das próximas europeias. Sabemos que as coisas deverão
piorar, não melhorar. Tudo bem diferente do cenário de 2014.
A
situação é paradoxal. Por um lado, o cenário político é muitíssimo
negro para a direita, que deverá atravessar um deserto penoso com
resultados especialmente maus. Por outro, a aritmética dos resultados à
esquerda, seja por um peso relativo maior do PS, seja pelo facto de os
socialistas deixarem de precisar de comunistas e bloquistas em
simultâneo, será menos favorável aos equilíbrios instáveis destes quatro
anos. Muito menos para fazer reformas à esquerda ou lidar como uma
possível crise económica europeia. Por fim, o bloco central, com a
hecatombe no PSD, é altamente improvável. Serão anos mais instáveis do
que nos parecem à partida.
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