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sábado, 16 de março de 2019


PERSPECTIVAS-3

   No dia 10 de Janeiro os franceses foram sondados sobre «A que unidade geográfica tem antes de mais o sentimento de pertencer?»; 39% dos inquiridos responderam “França”, 23% a “cidade ou localidade” onde residem e que sentem como “sua”, 18% a sua “região, província ou departamento”, 11% o “mundo” e apenas 6% a “Europa”. Que resultados obtínhamos se tal sondagem houvesse sido em Portugal? Teremos mais o sentimento de pertencer a esta Europa do que a Portugal, ou Torres Vedras?
Há uns tantos espertalhões que ladram nas televisões quando se censura esta Europa: “Mas você é antieuropeu?”. Ou seja: esta União do Euro é a única Europa! É tão maravilhosa que os resultados estão à vista dos invisuais. Claro que a alternativa é uma Europa de povos soberanos, com a sua moeda e independência nas escolhas, democrática, sem Alemanhas a ditar (palavra singela que evoca coisas horríveis).
Franceses e outros povos responderam «não» no referendo sobre uma Constituição para a Europa (Constituição que iria, na prática, subordinar e até subverter as Constituições dos respetivos membros). O famoso Tratado de Lisboa em 2008 fez de conta que não houvera negativas: os chefes dos governos social-democratas aprovaram o texto sem lhe chamar Constituição. E pronto! Os “Comissários” ditam quem pode ser rico e quem deve ser pobre.
Quem foram os “Pais fundadores da Europa”? Eis o perfil de alguns: Jean Monnet, que sempre mostrara pouco apego a democracias parlamentares, manobrador das ligações financeiras com os americanos e um passado político nebuloso; Robert Schuman, funcionário dos poderosos empresários do carvão e do aço, bem relacionado até pouco antes com os fascistas franceses antes e durante a Guerra; Maurice Lagrange fora um responsável pelas leis anti-judaicas pelas quais foram exterminados milhares de franceses, na mesma Guerra que terminara dez anos antes do Tratado que fundou a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Como se sabe os regimes nazi-fascistas tinham grandes planos para uma “Europa fascista”. Outra “União Europeia”. Derrotados, os colaboradores trataram de recompor os grandes negócios com a ajuda prestimosa do célebre Plano Marshall, seletivo e condicionador do tipo de governo que o receberia.
Depois, veio o euro, em plena euforia ultra-liberal (hegemonia financeira, privatização das empresas públicas do pós-guerra, ponto final nos Estados Previdência). Com o euro, tudo que ganháramos, perdemo-lo. Os propalados Fundos que iriam aumentar os grandes e benéficos investimentos, foi o que se viu e vê-se em que ficou. Em vez da industrialização acelerada, foi a desindustrialização. Das siderurgias aos portos, sobraram umas indústrias “tradicionais” que não incomodavam por isso os empresários da grande Europa (nós pertencemos à pequenina Europa, assim, uma espécie de Portugal dos pequeninos). A emigração, que tinha estancado, retomou o seu ritmo neste país de marinheiros que não sabem nadar. Melhores salários, maior poder de compra? Sim, mas só ali ao pé, depois das fronteiras desaparecidas da Holanda, Bélgica, Alemanha, etc. Cá para estas bandas periféricas, empobrecemos, conforme garantem, e não mentem, as estatísticas. Dito melhor: 90% empobreceu; os restantes até gostaram à brava do Euro, da troika, dos governos do “centrão”, eu sei lá! É fartar vilanagem!
Entretanto, os nossos orçamentos são vistoriados e aprovados, ou não, lá fora; os portugueses são regularmente avisados de que se devem portar bem (com o grande capital estrangeiro evidentemente), porque senão os senhores capatazes que ninguém elegeu puxam-nos as orelhas. Na de copos hem!  
Pobre e aviltada Pátria! Continuas entalada entre o mar revolto e os impérios da vizinhança!
Nozes Pires


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