PERSPECTIVAS-3
No dia 10 de Janeiro os franceses
foram sondados sobre «A que unidade geográfica tem antes de mais o sentimento
de pertencer?»; 39% dos inquiridos responderam “França”, 23% a “cidade ou
localidade” onde residem e que sentem como “sua”, 18% a sua “região, província
ou departamento”, 11% o “mundo” e apenas 6% a “Europa”. Que resultados
obtínhamos se tal sondagem houvesse sido em Portugal? Teremos mais o sentimento
de pertencer a esta Europa do que a Portugal, ou Torres Vedras?
Há uns tantos espertalhões que
ladram nas televisões quando se censura esta Europa: “Mas você é antieuropeu?”.
Ou seja: esta União do Euro é a única Europa! É tão maravilhosa que os
resultados estão à vista dos invisuais. Claro que a alternativa é uma Europa de
povos soberanos, com a sua moeda e independência nas escolhas, democrática, sem
Alemanhas a ditar (palavra singela que evoca coisas horríveis).
Franceses e outros povos
responderam «não» no referendo sobre uma Constituição para a Europa
(Constituição que iria, na prática, subordinar e até subverter as Constituições
dos respetivos membros). O famoso Tratado de Lisboa em 2008 fez de conta que
não houvera negativas: os chefes dos governos social-democratas aprovaram o
texto sem lhe chamar Constituição. E pronto! Os “Comissários” ditam quem pode
ser rico e quem deve ser pobre.
Quem foram os “Pais fundadores da
Europa”? Eis o perfil de alguns: Jean Monnet, que sempre mostrara pouco apego a
democracias parlamentares, manobrador das ligações financeiras com os
americanos e um passado político nebuloso; Robert Schuman, funcionário dos
poderosos empresários do carvão e do aço, bem relacionado até pouco antes com
os fascistas franceses antes e durante a Guerra; Maurice Lagrange fora um
responsável pelas leis anti-judaicas pelas quais foram exterminados milhares de
franceses, na mesma Guerra que terminara dez anos antes do Tratado que fundou a
Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Como se sabe os regimes nazi-fascistas
tinham grandes planos para uma “Europa fascista”. Outra “União Europeia”. Derrotados,
os colaboradores trataram de recompor os grandes negócios com a ajuda
prestimosa do célebre Plano Marshall, seletivo e condicionador do tipo de
governo que o receberia.
Depois, veio o euro, em plena
euforia ultra-liberal (hegemonia financeira, privatização das empresas públicas
do pós-guerra, ponto final nos Estados Previdência). Com o euro, tudo que
ganháramos, perdemo-lo. Os propalados Fundos que iriam aumentar os grandes e
benéficos investimentos, foi o que se viu e vê-se em que ficou. Em vez da
industrialização acelerada, foi a desindustrialização. Das siderurgias aos
portos, sobraram umas indústrias “tradicionais” que não incomodavam por isso os
empresários da grande Europa (nós pertencemos à pequenina Europa, assim, uma
espécie de Portugal dos pequeninos). A emigração, que tinha estancado, retomou
o seu ritmo neste país de marinheiros que não sabem nadar. Melhores salários,
maior poder de compra? Sim, mas só ali ao pé, depois das fronteiras
desaparecidas da Holanda, Bélgica, Alemanha, etc. Cá para estas bandas
periféricas, empobrecemos, conforme garantem, e não mentem, as estatísticas.
Dito melhor: 90% empobreceu; os restantes até gostaram à brava do Euro, da
troika, dos governos do “centrão”, eu sei lá! É fartar vilanagem!
Entretanto, os nossos orçamentos
são vistoriados e aprovados, ou não, lá fora; os portugueses são regularmente
avisados de que se devem portar bem (com o grande capital estrangeiro
evidentemente), porque senão os senhores capatazes que ninguém elegeu puxam-nos
as orelhas. Na de copos hem!
Pobre e aviltada Pátria!
Continuas entalada entre o mar revolto e os impérios da vizinhança!
Nozes Pires
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