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segunda-feira, 11 de março de 2019

Entrevista de Alain Badiou por Mathieu Dejean, via LesInrocks, traduzido por Daniel Alves Teixeira.

Uma das lições que você tira do fracasso da Revolução Cultural é que “qualquer política de emancipação deve acabar com o modelo do partido, ou dos partidos, afirmar-se como política ‘sem partido’, sem cair na figura anarquista, que nunca foi mais do que a crítica vã, ou o duplo, ou a sombra, dos partidos comunistas”. Qual seria o equilíbrio certo? Quais formas de organização você recomenda?
Esta é uma questão fundamental, mas que terá que dar lugar a experimentos reais. Todo o ponto é que devemos sair da simples oposição entre o Partido-Estado de um lado e as massas populares do outro. A dialética política deve ter três termos, como vemos no texto de Mao dos anos vinte: “Por que o poder vermelho pode existir na China?”. Devem existir as organizações populares, com suas assembleias, suas reuniões e capazes de animar em todos os níveis os movimentos de massa independentes; deve haver uma organização política presente em todos os lugares, explicitamente em suporte ao projeto comunista, não como descrição e dogma, mas como um sistema de palavras de ordem “em situação”, e visão de futuro. E deve haver o Estado, pelo menos por um longo período.
O ponto mais complexo é este: como fazer a dialética dos movimentos populares e suas assembleias de um lado, e da organização política do outro, ser exercida na direção do Estado não para obedecê-lo, mas para de alguma forma forçá-lo a encorajar tudo o que vai na direção de uma sociedade comunista? Isso é obviamente impossível se a organização política se fundir com o Estado, como foi o caso dos partidos comunistas dominantes. Como guardar a triplicidade dos órgãos de decisão coletiva? Esse é o nosso problema depois da Revolução Cultural, como, depois da Comuna de Paris, o problema de Lenin era: como construir uma organização comunista capaz não apenas de tomar o poder, mas de mantê-lo?
É por isso que estamos no que meu amigo Emmanuel Terray chamou de “terceiro dia” do comunismo. Com Marx, primeiro dia: formulação de princípios em um contexto de repetido fracasso das insurreições dos trabalhadores. Com Lenin, segundo dia: a vitória é possível, mas o caráter verdadeiramente comunista dessa vitória é precário. Hoje, depois de Mao, terceiro dia: inventar a organização comunista da época do fracasso dos Estados socialistas.
Você recentemente prefaciou um livro sobre a Comuna de Xangai, do neo-maoísta chinês Hongsheng Jiang, para La Fabrique. A existência de correntes neo-maoístas na China lhe indica uma maior tolerância do Estado em relação a esta parte da sua história?
Eu não sei nada sobre isso. O que eu sei é que somente a China contém cerca de um terço do proletariado real, o proletariado fabril de nosso planeta. E que, só no ano passado, nós contamos 7.000 ações coletivas de trabalhadores na China. Acrescentemos a extraordinária existência de uma poesia de massa, uma poesia trabalhadora, de um nível muito alto. A China é provavelmente a cidadela do futuro da ação comunista. E que Xi Ling declare, contra todas as evidências, que “a China é socialista”, me parece o sintoma de uma posição já defensiva …
Qual é a sua visão da China hoje?
Graças ao legado da era maoista: um sistema educacional eficaz, um setor científico eficiente, o hábito da disciplina no trabalho, uma sólida base industrial, uma força de trabalho de origem camponesa em quantidade ilimitada, um Estado-Partido instalado, autoritário e respeitado, a China conseguiu se lançar no desenvolvimento capitalista com grandes chances de sucesso. A máxima “dialética” de Deng Xiaoping [secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC) 1956-1967, violentamente atacado por Guardas Vermelhos durante a Revolução Cultural, ele foi o número um da República Popular da China entre Dezembro de 1978-1992, ed.]: “A primeira fase do socialismo, é o capitalismo”, como o seu ditado favorito segundo o qual a única verdade é o desenvolvimento, deu o tom dos anos brilhantes de sucesso e acumulação primitiva. A China se tornou um país capitalista que mistura e organiza um capitalismo de milionários e um capitalismo de Estado, uma potência competitiva e feroz, que está lutando pela África, assim como fazem franceses, ingleses e os americanos, pelo saque e a exploração, mas com um estilo ligeiramente novo, um imperialismo mais avisado. Qual é o futuro de tudo isso? Provavelmente, como em 14, a guerra. Todo mundo está se preparando para isso. Só podemos nos recorrer à máxima de Lenin: “Ou a revolução (eu diria antes aqui “a política comunista “) impedirá a guerra, ou a guerra provocará a revolução”. Esperemos que seja a primeira hipótese, mas o tempo está se esgotando …
in LavraPalavra.com

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