Só
muita ingenuidade pode ver na prisão de Michel Temer a prova de que a
justiça brasileira é neutra e não participou num golpe. Pelo contrário, a
gestão de políticas dos ritmos da investigação Lava Jato demonstram a
total instrumentalização política da Justiça.
O
golpe contra Dilma, que apesar do impeachment se arrisca a ser a única a
provar-se inocente (mas o cerco vai continuar), tinha dois objetivos:
afastar o PT do poder, para lançar, em tempo de vacas magras, uma feroz
contrarreforma social, e garantir aos autores do golpe a salvação do que
sabiam que aí vinha. Está documentado em escutas. Se há coisa que se
prova em toda esta história é que o afastamento de Dilma e do PT nada
teve a ver com qualquer combate à corrupção. Foi um ato desesperado de
corruptos que tentavam segurar o poder para salvarem a sua pele. Não
conseguiram. Com as suas políticas antissociais e no meio do caos, a
direita tradicional brasileira perdeu o controlo da situação. E foi
assim que abriu as portas a Jair Bolsonaro. Um deputado que, em 2016,
quando Dilma foi derrubada, valia menos de 5% nas sondagens.
As
prisões de Eduardo Cunha e de Michel Temer aconteceram no tempo em que
tinham de acontecer. Eles foram vítimas do seu próprio golpe. Foram eles
que fizeram o dirigiram, foram eles que criaram o caos que levou
Bolsonaro ao poder e são eles que agora permitem que o novo poder diga
que ninguém está a salvo
Para
além de abrir as portas a Bolsonaro, Eduardo Cunha e Michel Temer deram
tempo para retirar da corrida presidencial o candidato que estava à
frente nas sondagens: Lula da Silva. O processo de Lula passou à frente
de todos e os seus prazos foram escandalosamente determinados pelo
calendário eleitoral. Impedir que Lula fosse a votos era o grande
objetivo do juiz Sérgio Moro. Devidamente premiado com a oferta de um
superministério que pode vir a ser a passadeira vermelha para a desejada
presidência.
As prisões de
Eduardo Cunha, primeiro, e de Michel Temer, depois, com base em
evidências muito mais indiscutíveis do que as que existem contra Lula,
aconteceram no tempo em que tinham de acontecer. Depois de cada um ter
feito o que tinha de fazer. Cunha e Temer foram vítimas do seu próprio
golpe. Foram eles que o dirigiram, foram eles que criaram as condições
para Bolsonaro chegar ao poder e são eles que agora permitem que o novo
poder diga que ninguém está a salvo. A não ser, claro, homens como Onyx
Lorenzoni, chefe da Casa Civil de Bolsonaro, que confessou ter recebido
financiamento ilegal e que o ministro Sérgio Moro perdoou porque ele até
já tinha admitido os seus erros pedindo desculpas.
Temer
não é o único dispensado pelo novo poder. Giniton Lages, o delegado
policial que aproximou demasiado a investigação sobre o assassinato de
Marielle Franco da família Bolsonaro, recebeu guia de marcha para a
Europa. O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, disse que ele
estava muito cansado e propô-lo para um programa de intercâmbio com a
polícia italiana. Como veem, no Brasil é tudo às claras. Mas sim, tenho
completa confiança na justiça brasileira. Um dia chegará à verdade. Mas
sempre no tempo político conveniente.
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