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segunda-feira, 18 de março de 2019

Estupendo artigo!


Paul Street *
Graças ao selvagem “colono” branco e à limpeza étnica que produziu na maior parte da América do Norte, desde o século XVI até aproximadamente 1900, os povos indígenas representam apenas 1 por cento da população dos EUA. A taxa de pobreza dos nativos americanos (28%) é o dobro da do país […] Em alguns estados, a esperança de vida dos nativos americanos  é 20 anos menor que a média nacional. Em Montana, os homens nativos americanos vivem, em média, apenas 56 anos.

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A ameaça fascista de um fantoche farsante
Qualquer pessoa com cinco células cinzentas a funcionar sabe  que a declaração de emergência nacional do aspirante a fascista Donald Trump na fronteira EUA-México é absurda.
Não existe “nenhuma crise de segurança nacional” com a imigração ilegal na fronteira sul dos Estados Unidos.
As travessias ilegais não estão em níveis de “emergência”; estão ao nível de há   cinquenta anos.
Os imigrantes indocumentados não são uma ameaça de crime ou violência. São menos propensos a cometer crimes, incluindo os violentos, do que os cidadãos norte-americanos naturalizados.
As drogas chegam aos EUA não através de lacunas na fronteira, mas principalmente através de portos e entrada legais.
Não há grande necessidade de um muro completo entre os EUA e o México por parte dos cidadãos dos EUA, na fronteira sul.
As forças armadas dos Estados Unidos não  têm estado a “desarticular” e a bloquear “caravanas monstruosas” de imigrantes ilegais que tentam prejudicar os EUA.
A única crise na fronteira é a humanitária, criada pela guerra de Trump contra os requerentes de asilo e imigrantes legais e, tecnicamente, ilegais. O fortalhaço criou uma ridícula  ameaça fascista, num esforço para dar um passo sem precedentes.  Ele quer usar a lei das Emergências Nacionais para cumprir uma ridícula promessa da sua campanha eleitoral feita à sua base branca nacionalista. Pretende tornear as posições do Congresso para gastar ao contribuinte federal  o preço de um projeto que os legisladores escolheram não financiar – um esquema de vaidade política a que se opõe 60% da população dos EUA.

As verdadeiras emergências nacionais 
Existe aqui uma ironia: é que os Estados Unidos, hoje, são de facto assombrados por muitas emergências nacionais reais e interrelacionadas. Abaixo estão as trinta e uma que  ocorreram ao autor deste artigo no último fim-de-semana:
1. Desigualdade de classe. A América está atolada numa Nova Era Dourada, em que a disparidade económica é agora tão extrema, que um milésimo dos cidadãos dos EUA (0,1 por cento, não apenas 1 por cento) possui mais riqueza que os outros 90 por cento e três norte-americanos absurdamente ricos – Jeff Bezos, Bill Gates e Warren Buffett –, juntos, possuem mais riqueza que os outros 50%.
2. Pobreza. Os 540 bilionários do país (Trump é um deles) gozam vidas de opulência inimaginável (Trump voou para uma das suas estâncias de férias para jogar golfe depois de declarar a sua “emergência nacional” – uma “emergência” que ele imbecilmente disse que não precisava de declarar), enquanto 15 milhões de crianças – 21% de todas as crianças dos EUA – vivem em famílias com rendimentos abaixo do limiar da pobreza federal, um padrão que se tem mostrado drasticamente baixo para os orçamentos familiares minimamente adequados de que as famílias precisam para cobrir as despesas básicas.
3. Plutocracia. “Precisamos de escolher”, escreveu o ex-juiz do Supremo Tribunal, Louis Brandies, em 1941.Podemos ter democracia, ou podemos ter riqueza concentrada nas mãos de poucos, mas não podemos ter as duas.” Em coerência com a advertência de Brandies, os principais cientistas políticos do pensamento dominante, Benjamin Page e Martin Gilens, descobriram, através de pesquisas exaustivas, que “as melhores evidências indicam que os desejos dos americanos comuns, na verdade, tiveram pouco ou nenhum impacto na elaboração das políticas do governo federal. Indivíduos ricos e grupos de interesses organizados – especialmente corporações de negócios – tiveram muito mais influência política. Quando esses americanos são tidos em conta, torna-se evidente que o público em geral tem sido virtualmente impotente ...” A política do governo –  declaram Page e Gilens – reflete os desejos dos endinheirados, não os desejos dos milhões de cidadãos comuns que, a cada dois anos, escolhem entre os candidatos pré-aprovados e escolhidos pelo capital para o governo federal”. O poder económico está hoje tão concentrado nos EUA, que se pode contar com uma mão e um dedo  as instituições financeiras multitrilionárias que controlam a vida económica e política da nação: Citigroup, Goldman Sachs, JP Morgan Chase, Wells Fargo, Bank of América e Morgan Stanley. “Vocês não têm escolha”, costumava dizer ao público George Carlin, no início deste século: “Vocês têm  Eles possuem-vos. Eles possuem tudo. Eles possuem toda a melhor terra. Eles possuem e controlam os monopólios . Eles compraram e pagaram há muito tempo o Senado, o Congresso, as casas do estado, as autarquias. Metem os juízes no bolso  e são donos de todas as grandes empresas de mídia, de modo que controlam praticamente todas as notícias e informações que vocês  ouvem”.
4. Maus empregos. Trump orgulha-se da criação de empregos nos Estados Unidos e da baixa taxa oficial de desemprego (o desemprego real é uma história diferente) e esconde o facto de que dezenas de milhões de trabalhadores do país lutam com empregos cujos salários estão muito aquém do crescimento do emprego –, graças ao declínio da sindicalização (menos de 6,5% da força de trabalho do setor privado, devido a décadas de hostilidade implacável do patronato) –, salários mínimos inadequados, globalização, automação e Um terço dos trabalhadores do país ganha menos de US $ 12 por hora (US $ 24.960 por ano, considerado o trabalho em tempo integral) e 42% recebem menos de US $ 15 (US $ 31.200 por ano). Só com sorte conseguimos encontrar uma família que consiga pagar a alimentação,  a renda da casa, as despesas com os filhos, a assistência médica e o carro (ter um carro  é  muitas vezes necessário  num país que carece de transporte público adequado), com esse nível salarial.
O Banco da Reserva  Federal de Nova York informou recentemente que um número recorde de 7 milhões de norte-americanos está três meses ou mais atrasado no pagamento das suas contas. Como relata o Washington Post : «Economistas alertam que isso é um  sinal vermelho. Apesar da economia forte e da baixa taxa de desemprego, muitos americanos estão a lutar para pagar as suas contas. “O número substancial e crescente de pessoas em dificuldades para pagar os seus créditos sugere que nem todos os americanos beneficiaram do mercado de trabalho forte”, escreveram os economistas do Fed de Nova York no post de um blogue. Um empréstimo  para o carro é, tipicamente, o primeiro pagamento que as pessoas fazem, porque um veículo é fundamental para chegar ao trabalho, e alguém pode morar num carro se tudo o mais falhar. Quando aumenta o incumprimento do empréstimo do carro, é um sinal de  que existe uma grande pressão sobre os trabalhadores americanos com baixos salários».
5. A concentração dos órgãos de comunicação social é tão extrema nos EUA, que apenas seis grandes empresas – Comcast, FOX, Disney, Viacom, CBS e AT & T – possuem, no seu conjunto, mais da metade do conteúdo tradicional da mídia impressa, cinematográfica e eletrónica, dos EUA. Os gigantes da Internet Google, Facebook e Amazon dominam a comunicação eletrónica e as compras. (A propósito, não se trata apenas de “notícias e informações” [diz Carlin]. Os monopólios de comunicação social, provavelmente, difundem propaganda capitalista, racista, sexista, autoritária e militarista-imperialista com maior eficácia através dos seus conteúdos de entretenimento do que através da sua nova secção de assuntos públicos e políticos. Um filme como “American Sniper bate o cariz noticioso da CNN quando se trata de promover o projeto imperial dos EUA [ver # 28 e 29 abaixo]. Um filme como Gran Torino”, de Clint Eastwood, bate o noticiário da noite, quando se trata de promover o encarceramento racial em massa e a segregação racial [ver # 6 e 9 abaixo].
6. Disparidade racial e apartheid. A disparidade de riqueza entre negros e brancos nos EUA é gritante: uma média de 8 centavos para os agregados familiares negros contra a média de 1 dólar para os agregados brancos.  Igualmente gritante é o nível de segregação racial da nação. Nas áreas metropolitanas de Chicago, Nova York, Detroit e Milwaukee, por exemplo, mais de três em cada quatro negros têm de (ser autorizados a) sair dos seus setores  do Censo, quase todos negros, para setores brancos, para  viver  num sítio cuja composição racial coincida com a da região mais ampla em que residem. Estas duas medidas estatísticas estão intimamente inter-relacionadas, uma vez que os mercados de habitação distribuem muito mais do que apenas habitação. Distribuem também o acesso a empregos, a boas escolas, espaços verdes, hipermercados, segurança, serviços médicos e de todo o resto  que é  importante para a “igualdade de oportunidades” e o progresso.
7. Desigualdade de Género. Entre os trabalhadores americanos a tempo inteiro, as  mulheres ganham 81 centavos por cada dólar que um homem recebe. A diferença é maior no emprego a tempo parcial, uma vez que as mulheres trabalham mais frequentemente com horários reduzidos, para tratar do trabalho doméstico. As poupanças-reforma das mulheres são aproximadamente um terço das dos homens. As famílias monoparentais de mulheres solteiras com filhos têm uma taxa de pobreza de 35,6%, mais do dobro da taxa de 17,3% para as famílias monoparentais de  homens solteiros com filhos. As mulheres representam apenas 27%  dos dez mais altos rendimentos do país, 17% do 1%  mais alto e 11% do 0,1%. mais alto. Em contraste, as mulheres representam quase dois terços (63%) dos trabalhadores americanos que recebem o salário mínimo federal.
8. Pobreza dos nativos americanos.  Graças ao selvagem “colono” branco e à limpeza étnica que produziu na maior parte da América do Norte, desde o século XVI até aproximadamente 1900, os povos indígenas representam apenas 1 por cento da população dos EUA. A taxa de pobreza dos nativos americanos (28%) é o dobro da do país e é particularmente alta na maioria das reservas geralmente isoladas e com uma alta taxa de desemprego, onde vive mais de um quintoda população indígena do país. A esperança de vida dos nativos americanos  é de 6 anos a menos que  a média nacional. Em alguns estados, a esperança de vida dos nativos americanos  é 20 anos menor que a média nacional. Em Montana, os homens nativos americanos vivem, em média, apenas 56 anos.
9. Prisão Racista em Massa, Encarceramento e Marcação Cadastral. Os EUA têm a mais alta taxa de encarceramento do mundo, alimentada pela  corrida racialmente desigual da chamada Guerra às Drogas. As disparidades raciais são tão extremas  que 1 em cada 10 negros norte-americanosestá preso ou encarcerado em determinado dia. Um em cada três homens negros adultos carrega consigo a marca permanente de um registo de crime – aquilo a que a professora de direito  Michelle Alexander  chamou “o novo Jim Crow” [1]. Os negros representam 12% da população dos EUA, mas 38% da  população prisional estadual.
10. Trumpismo/Fascismo. A mídia de massas dos EUA concentra-se tão fortemente na terrível e interminável farsa do fascista Donald Trump (cuja natureza hedionda é famosa na CNN e na MSNBC) [2], que é fácil perder de vista o horror fascista dos seus apoiantes autoritários e nacionalistas-brancos – um pouco menos de um terço da nação. A melhor pesquisa em ciências sociais e políticas revela que a base de Trump é um movimento pró-fascista à procura de um “líder” autoritário “forte”, que reverta as liberdades civis e os direitos conquistados por mulheres e minorias raciais e étnicas desde a década de 1960. O trumpismo quer tornar a América mais plenamente supremacista branca, patriarcal e autoritária (“grande” de novo). À desproporcionada multidão armada de devotos obstinados de Herr Donald,  que apoia o seu querido líder, não importa o quão terrivelmente ele se comporta. É uma ameaça fascista grave e insidiosa para a democracia.
11. A guerra pela verdade. O aspirante a líder fascista, Trump, fez em média 15 declarações falsas por dia, em 2018. Tinha dito mais de 7.600 inverdades como presidente, até ao final do ano passado. Trump mente constantemente sobre assuntos importantes e assuntos sem importância. É um praticante do que Chris Hedges chama mentira permanente”. Não é uma questão pequena. Hedges descreve isso como “a mais ameaçadora ameaça” proposta por Trump. Trump é apenas a mais extrema e notória onda de invenção no vasto mar da deceção nacional. Os norte-americanos, descritos uma vez com precisão por Alex Carey como “as pessoas mais  alienadas do mundo pela propaganda”, estão cercados de informações e imagens dúbias e enganosas. Esta constante barragem de falsidade – os exemplos incluem, na campanha Trump, em 2016, a noção completamente falsa de que os EUA possuem uma “grande democracia” e que a Rússia  tem capacidade de (supostamente) “minar” – ameaça esgotar a nossa capacidade de distinguir o facto da ficção.
12. Violência Armada. Quarenta e quatro mil pessoas morreram em tiroteios no “manicómio armado” americano em 2017 (ainda estamos a aguardar a terrível estatística de 2018). Os EUA foram o palco de 322 disparos em massa, que mataram 387 pessoas e feriram 1.227, em 2018. Ocorreram, em janeiro deste ano, vinte e oito tiroteios em massa, que mataram 36 pessoas e feriram 92. Um tiroteio em massa matou cinco trabalhadores em Aurora, Illinois, no mesmo dia (sexta-feira passada) em que Trump declarou a sua falsa emergência nacional.
13. Violência Sexual. Uma em cada cinco mulheres e um em cada 71 homens serão violados nalgum momento de suas vidas, nos EUA.
14. Analfabetismo e iliteracia matemática. Mais de 30 milhões de adultosnos Estados Unidos não sabem ler, escrever ou  utilizar a matemática básica acima do terceiro nível.
15. Ignorância massificada e intencionalmente fabricada e amnésia. Graças ao controle monopolista dos mídia e das escolas do país, os norte-americanos são chocantemente ignorantes em relação a factos básicos relacionados com a sua própria história e a sua sociedade. Os norte-americanos brancos estão atolados numa negação extraordinária sobre o nível de desigualdade entre negros e brancos e a profundidade e o grau de discriminação que os negros americanos enfrentam Os norte-americanos em geral não sabem quase nada sobre o caos criminoso e os assassinatos em massa que a política externa dos EUA provoca em todo o mundo. Isso torna-os incapazes de compreender a política mundial e tornam-nos lamentavelmente vulneráveis à propaganda nacionalista e ao militarismo. Há onze anos, o historiador Rick Shenkman escreveu um livro intitulado “Até onde somos nós estúpidos? Encarando a verdade sobre o eleitor americano. Shenkman descobriu que a maioria dos americanos: não sabia qual o partido que estava  em maioria no Congresso; não sabia quem era o  presidente  do Supremo Tribunal de Justiça; não sabia que os EUA tinham três ramos do governo;  acreditava que o argumento de George W. Bush de que os EUA deviam invadir o Iraque porque Saddam Hussein tinha atacado os Estados Unidos no 11 de setembro. Pergunte-se a um americano médio quando teve lugar a Guerra da Independência Americana, por que razões se travou a Guerra Civil ou a Segunda Guerra Mundial e o que é a Declaração de Direitos, o que foi o fascismo no passado e  é no presente, ou o que era o Movimento dos Direitos Civis, e terão olhares em branco e respostas absurdamente erradas. Um povo que não conhece sua história vagueia sem rumo através do presente e tropeça sem rumo no futuro.  O conhecimento histórico real é uma grande arma democrática do povo e está  perigosamente em causa nos EUA hoje.
16. Os Lobbies de Israel e da Arábia Saudita. O poder de Israel na política e na cultura política dos EUA é tão absurdamente exagerado, que uma nova representante muçulmana dos EUA (Ilhan Omar) foi recentemente submetida a um assalto político massivo e bipartidário, acusando-a absurdamente de “antissemitismo, por ousar ter escrito no tweeter sete palavras sobre um facto elementarmente verdadeiro: o Comité de Assuntos Públicos dos EUA de Israel (AIPAC) – uma organização de lóbi e relações públicas profundamente poderosa, financiada para promover  os interesses do Estado de Israel – exerce uma influência lubrificada com dinheiro nos políticos e na política dos EUA. Visivelmente, levantar a questão dos direitos palestinianos e denunciar o tratamento horrendo que Israel dá aos povos árabes é acossar os cães criminosos e poderosos do  lóbi de Israel. Até são conhecidos por afastar professores titulares. Enquanto isso, o despótico regime saudita, possivelmente o governo mais reacionário da Terra, continua, através do dinheiro e de outros meios, a exercer enorme influência nos políticos dos EUA, ao mesmo tempo que crucifica cegamente o povo do Iémen (com assistência militar direta dos EUA), que cultiva o terrorismo em todos os países do mundo muçulmano e esquarteja jornalistas dissidentes nas suas embaixadas estrangeiras.
17. Neo-McCarthismo. O original macarthismo orwelliano-americano e russo do final dos anos 1940 e 1950 foi ressuscitado na era pós-soviética com uma curiosa mudança partidária. A histeria antirrussa foi retomada pelo Partido Democrata, que tem estado entusiasticamente ativo em culpar a supostamente poderosa “interferência da Rússia na nossa [completamente inexistente] democracia” em 2016 – pelo patético fracasso da sua campanha contra Trump e em negar o papel dos seus políticos em provocar qualquer ingerência russa relevante, como poderia ter ocorrido. Do lado republicano, Trump (que teve como mentor o ex-conselheiro-chefe do senador Joe McCarthy, Roy Cohn) e outros líderes do Partido Republicano seguem agora rotineiramente os passos de Joe McCarthy, chamando até  corporativistas-neoliberais aos democratas e “socialista” a tudo o que eles propõem. Um dos piores momentos do nauseante discurso do Estado da União de Herr Donald  aconteceu quando a Mãe Cor-de-laranja de todos os  Idiotas Malignos (OMoAMA) [Trump] disse aos funcionários federais reunidos que  “renovassem” o “juramento”  de que “a América nunca será um país socialista”. Inúmeros democratas, incluindo a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi (que disse: Somos capitalistas e é isso mesmo que somos” e possui um património líquido de US $ 71 milhões) e a senadora e candidata presidencial norte americana “progressista”, Elizabeth Warren (US $ 11 milhões), uniram-se aos republicanos para aplaudir esse “juramento”. O macarthismo sempre foi e continuará a ser  uma doença amplamente bipartidária.
18. Assistência médica e Saúde. O sistema de assistência médica dos Estados Unidos, de propriedade privada e gerido para obter lucros, é o mais caro do mundo, mas ocupa apenas o 12º lugar em esperança de vida entre os 12 países industrializados mais ricos. Os EUA gastam quase três vezes mais em saúde do que outros países com rendimentos comparáveis. Refletindo o sistema alimentar pobre, industrializado e imposto pelos monopólios e os estilos de vida letalmente sedentários, 58% da população dos EUA  sofre de obesidade, um importante fator de risco para a saúde.
19. Escolas más. As escolas públicas caras, mas muito desigualmente financiadas pelo país, produzem resultados terríveis. Entre as 34 nações do mundo do ranking da OCDE, as escolas dos EUA são as quintas mais caras, mas as classificações dos EUA estão bem abaixo da média em matemática. Estão em 17º lugar em leitura e o 21º em ciências.
20. Abuso Infantil. A organização Childhelp relata que “Todos os anos, são feitos mais de 3,6 milhões de encaminhamentos para agências de proteção infantil, envolvendo mais de 6,6 milhões de crianças. Os Estados Unidos têm um dos piores registos entre os países industrializados - perdendo em média entre quatro a sete crianças todos os dias por abuso infantil e negligência… A cada dez segundos é feito um relatório de abuso infantil”.
21. Depressão e abuso de substâncias. Os Estados Unidos, antes descritos pela ex-senadora Kay Bailey Hutchinson como “o farol do mundo do modo como a vida deveria ser” (num discurso em que apoia a autorização do Congresso de George W. Bush para invadir o Iraque), têm a terceira maior taxa de depressão e ansiedade e a segunda maior taxa de uso de drogas no mundo. “Um em cada cinco adultos nos EUA, a cada ano, sofre alguma forma de doença mental”, segundo a National Alliance on Mental Illness. Essa estimativa é, por certo, absurdamente baixa.
22. Trabalhadores Imigrantes Sem Direitos. Os imigrantes indocumentados representam 55% da mão-de-obra contratada em fazendas, 15% dos trabalhadores na construção e 9% na indústria e no setor de serviços. “Esses trabalhadores”, informou a CBS no início deste ano, “desempenham papéis vitais na economia dos EUA, construindo edifícios americanos, colhendo maçãs e uvas americanas e cuidando de bebés americanos. Ah, e a pagar impostos americanos”. O seu status tecnicamente ilegal torna-os facilmente explorados pelos patrões e prejudica a sua capacidade de se organizarem e lutarem por condições decentes, tanto para eles como para os outros trabalhadores.
23. O pesadelo dos sonhadores. Oitocentas mil pessoas que vivem nos EUA foram trazidas para o país em crianças por pais sem cidadania americana. O status legal desses “sonhadores” está preso no limbo. Não estão autorizados a votar. Vivem na sombra de uma possível deportação futura, com o seu status legal tratado como um futebol político partidário.
24. Supressão do direito de voto. A supressão racista dos eleitores a nível estadual e a privação de direitos de facto é corrente nos Estados Unidos. Entre outras coisas, isso contribuiu significativamente para que os republicanos ganhassem a presidência em 2000 , 2004 e Um “acordo de cavalheiros” entre os dois partidos políticos reinantes empurra esse problema crítico para as margens da discussão pública. (Os democratas têm amplamente ignorado o assunto, enquanto vão ficar obcecados por mais dois anos com o papel real ou suposto da Rússia nas últimas eleições. A influência de Moscovo provavelmente foi pequena, comparada com a supressão racista de eleitores à maneira americana na eleição de Trump). O cientista político David Schutlz observou à publicação Counterpunch, no ano passado, que os EUA  são “o único país do mundo que ainda não tem  na sua Constituição uma cláusula explícita que garanta expressamente o direito de voto para todos ou alguns dos seus cidadãos”.
25. A Constituição absurdamente arcaica dos EUA. A soberania popular, também conhecida como democracia, era, no final do século XVIII, o maior pesadelo dos Fundadores dos EUA. Eles elaboraram uma carta nacional aristocrática-republicana brilhantemente trabalhada para a manter à distância – em nome, sombriamente irónico, de “Nós, o Povo”. Dois séculos depois, e um terceiro a decorrer, este instrumento continua a fazer o seu trabalho, explicitamente não democrático e antidemocrático, por meio de mecanismos abertamente autoritários, como o Colégio Eleitoral, a proporção de dois senadores por cada estado dos EUA, independentemente da população, o impressionante tempo  de intervalo entre as  eleições, a nomeação presidencial vitalícia e a aprovação dos juízes do Supremo Tribunal pelo Senado. A absurdamente venerada Constituição dos Estados Unidos é uma calamidade autoritária em vigor há 232 anos,  com extrema necessidade de uma reforma radical e democrática. Já passou da hora de a população declarar uma emergência nacional e convocar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova estrutura nacional de governo para concretizar o significado da autogovernação popular. 
26. Trump e a Presidência Imperial. O OMoAMA (Trump) é, por todas as indicações, um narcisista demente e criminoso, um puro sociopata e um fascista insidioso. Mas o facto de que alguém tão torcido, venal, sexista e racista como Trump possa representar terríveis ameaças à humanidade, em primeiro lugar, deve-se em grande parte aos poderes extremos do executivo dos Estados Unidos que se acumularam, constitucionalmente superalimentados ao longo das muitas décadas em que os EUA reinaram como o estado mais poderoso do mundo. Os poderes absurdamente vastos e autoritários da presidência imperial são uma emergência nacional e global contínua.
27. Loucura Eleitoral/Eleitoralismo. No início da primavera de 2008, o historiador americano radical, Howard Zinn, denunciou energicamente a “loucura eleitoral, em que ele viu “mergulhada toda a sociedade, incluindo a esquerda" no ano da ascensão de Obama. “Um frenesi eleitoral toma conta do país de quatro em anos”, disse Zinn, preocupado “porque todos nós fomos educados para acreditar que votar é crucial para determinar o nosso destino, que o ato mais importante em que um cidadão pode se comprometer é ir às urnas … ” Zinn disse que apoiaria um dos principais candidatos do partido em detrimento de outro, mas apenas “por dois minutos – a quantidade de tempo necessária para puxar a alavanca na cabine de votação”. Então, ele deu um sábio conselho, lembrando-nos de que o eleitoralismo do principal partido centrado no candidato do momento é um substituto muito fraco da soberania popular real, a qual exige organização e militância de base,  muito para além do que seu bom amigo Noam Chomsky chamouA extravagância eleitoral quadrienal”: “Antes e depois desses dois minutos, o nosso tempo, a nossa energia, deve ser  usado para educar, agitar, organizar os nossos concidadãos no local de trabalho, nos bairros, nas escolas. O nosso objetivo deve ser o de construir meticulosamente, paciente, mas energicamente, um movimento que, ao atingir determinada massa crítica, abale quem quer que esteja na Casa Branca ou no Congresso, para mudar a política nacional em matéria de guerra e justiça social... Não devemos esperar que uma vitória nas urnas em novembro comece a  livrar a nação das suas doenças fundamentais: a ganância capitalista e o militarismo. Antes de [eleições]… e depois… devemos agir diretamente contra os  ataques às condições de vida, pela liberdade e a busca da felicidade… Historicamente, o governo, esteja nas mãos de republicanos ou de democratas, conservadores ou liberais, falhou as suas responsabilidades, até ser forçado pela ação direta: manifestações pacíficas, e  marchas pela liberdade pelos direitos dos negros, greves e boicotes pelos direitos dos trabalhadores, motins e deserções de soldados para parar uma guerra. Votar é fácil e marginalmente útil, mas é um substituto pobre para a democracia, que requer ação direta de cidadãos preocupados”. A corrente dominante da cultura dos políticos e da mídia dos EUA está ferozmente voltada para alcançar a hegemonia dos candidatos dos principais  partidos, num dado ciclo eleitoral, avançando a noção totalitária mortal de que esses dois minutos numa urna eleitoral a cada quatro anos – escolhendo geralmente entre  políticos previamente selecionados para nós pelas ditaduras inter-relacionadas  e não eleitas do dinheiro e do império – é a totalidade da “política” – a única política que realmente importa.
Desde que o controle oculto dos monopólios da política eleitoral dos EUA a favor da classe dominante de centro-direita, que exclui a vitória dos candidatos que refletem  fielmente a opinião pública maioritária de esquerda, estes exercícios rituais de falsa democracia reforçam profundamente a crença fatalista e falsa de que a maioria dos americanos são centristas e de direita. O circo do candidato presidencial do Partido Democrata em 2020, Iowa-New Hampshire, já está a tomar conta de vastas faixas de cobertura de notícias e comentários por cabo, enquanto numerosos assuntos urgentes (como a maior parte do que está listado no presente ensaio) são amplamente ignorados. Isto é patético.
28. Armas contra manteiga. O Dr. Martin Luther King Jr., corretamente, pregou que os EUA não poderiam acabar com a pobreza ou escapar da “morte espiritual” enquanto desviasse vastas faixas da sua receita tributária para uma gigantesca máquina de guerra que “atrai homens, capacidades e dinheiro como um demoníaco tubo de sucção”. Passado pouco mais de meio século sobre estas afirmações de King, os Estados Unidos dão ao Sistema Pentágono 54% do orçamento federal, um gigantesco subsídio aos monopólios de “defesa” (guerra e império) de alta tecnologia, como a Raytheon e a Boeing. Seis milhões de crianças dos EUA vivem em “profunda pobreza”, no mínimo metade(!) do que o governo federal considera obscenamente inadequado como nível de pobreza, enquanto o governo dos EUA mantém 800 bases militares em mais de 70 países e territórios ao redor do mundo (Grã-Bretanha, França e Rússia juntas têm 30 bases estrangeiras) e respondem por quase 40% de todos os gastos militares globais. É profundamente ofensivo que o senador norte-americano e candidato presidencial Bernie Sanders, progressista-populista (falso democrata-socialista) tenha repetidamente citado os países escandinavos como seus modelos de política social-democrata, sem ter a decência elementar do Dr. Kingian de notar que esses países dedicam parcelas relativamente pequenas dos seus orçamentos nacionais  às despesas militares. É perturbador, mas previsível, que a maioria dos democratas do Congresso tenha votado a favor do orçamento recorde de Trump, de US $ 700 biliões para o Pentágono, no ano passado. Os norte-americanos precisam de escolher: podemos ter democracia, justiça social, saúde gratuita garantida, escolas públicas bem financiadas e ecologia habitável ou podemos ter uma gigantesca máquina de guerra global.  Não podemos ter as duas coisas.
29. Negação Doutrinária do Imperialismo dos EUA. Em todo o espectro político e mediático dos “mainstream” dos EUA, está além do limite de uma discussão aceitável reconhecer que os Estados Unidos são uma potência profundamente criminosa e imperialista. Os exemplos são infinitos. É obrigatório para os jornalistas e comentadores da televisão por cabo, especialistas e políticos dos Estados Unidos discutirem a Europa Oriental ou a Ásia Oriental como se Washington tivesse o mesmo direito de influenciar os acontecimentos em Moscovo e Pequim, respetivamente. Acontecimentos terríveis no Oriente Médio e no Norte da África são rotineiramente discutidos por políticos, diretores e especialistas americanos “mainstream” como se os Estados Unidos não tivessem causado uma devastação quase indescritível no Iraque, na Líbia e no mundo muçulmano em geral. Os migrantes que buscam asilo na América Central são regularmente denunciados e discutidos sem qualquer referência ao facto de que os Estados Unidos infligiram uma devastação maciça e sangrenta naquela região  durante décadas – para não falar do apoio do governo Obama a um criminoso  golpe de direita nas Honduras, na primavera de 2009. A reportagem sobre a atual crise política na Venezuela caracteriza-se pela completa eliminação orwelliana do papel dos Estados Unidos no enfraquecimento do governo socialista democraticamente eleito do país, seguindo o modelo da campanha do governo Nixon para minar o governo socialista democraticamente eleito do Chile, no final dos anos 60 e início dos 70. Nenhuma discussão séria é permitida do contexto histórico da intervenção de longa data de Washington e das operações de mudança de regime em toda a América Latina. A negação do Império reinante é absurda.
30. Amazon. O Google (lol), ergue os seus multifacetados e intrincados feitos monopolistas e depois agradece à esquerda da cidade de New York por impedir esta corporação monstruosa – sorvedouro de subsídios públicos, que paga zero impostos – de instalar a sua sede na maior cidade do país.
31. Por último, mas não menos importante, Ecocídio. A catástrofe climática representa graves ameaças existenciais à ecologia habitável e a todas as perspetivas de um futuro humano decente. É uma emergência nacional e global de proporções épicas. É a maior questão do nosso ou de qualquer outro momento . Se esta calamidade ambiental não for evitada depressa, nada daquilo com que os cidadãos progressistas e honestos se preocupam vai ter qualquer importância. O Painel das Nações Unidas sobre Mudança Climática alertou recentemente que temos uma dúzia de anos para manter o aquecimento global a um máximo de 1,5ºC, além do qual um verdadeiro cataclismo cairá sobre centenas de milhões de pessoas. Sob o comando do capital , estamos atualmente num  caminho para derreter a Antártida até 2100. A principal sede política e económica do desastre climático que se desenrola é os Estados Unidos, que abrigam uma indústria superpotente de combustíveis fósseis, com um vasto e profundamente financiado sistema de lóbi e relações públicas para transformar o planeta numa gigantesca Câmara de Gases de Efeito Estufa.

Para um novo contrato verde
Se um fascista criminoso e imbecil como Donald Trump pode declarar uma emergência nacional falsa, devido a uma crise inexistente, para construir um muro de vaidade política rejeitado pelo Congresso e 60 por cento da população, talvez um futuro governo decente e democrático, sinceramente comprometido com o bem comum, possa declarar uma emergência nacional para enfrentar a tão real crise climática, deslocando o país dos combustíveis fósseis para as fontes de energia renováveis, enquanto promove práticas e padrões ambientalmente sustentáveis na economia e na sociedade. Um novo contrato verde, bem trabalhado, também abordaria outras emergências nacionais relacionadas com isso, incluindo as crises da oligarquia financeira, maus empregos, desigualdade, pobreza, plutocracia, desigualdade racial, encarceramento em massa, mentiras, cuidados de saúde inadequados, fascismo, baixa escolaridade, doenças mentais, abuso de substâncias, violência armada, militarismo-imperialismo, disparidade de género, morte espiritual e muito mais. Penso,  num futuro ensaio, desenvolver  o que se entende por um “New Deal [Novo Contrato] verde devidamente elaborado” [3].

Notas
[1] As leis de Jim Crow (em inglês, Jim Crow laws) foram leis locais e estaduais, promulgadas nos Estados do sul dos Estados Unidos, que institucionalizaram a segregação racial, afetando afro-americanosasiáticos e outros grupos étnicos. Vigoraram entre 1876 e 1965. – NT
[2] Canal televisivo  por cabo, parceria entre a Microsoft e a NBC, acrónimo de Micro Soft e National Broadcasting Company. – NT
[3] Obviamente, esta é uma solução completamente idealista e utópica. Só o derrubamento do capitalismo pode resolver em larga medida este problema. – NE
* Denis Patrick Carlin (1937-2008) foi um humorista e comediante, várias vezes preso por causa dos seus textos. O seu último livro é  They Rule: The 1% v. Democracy [Eles dirigem: o 1% versus democracia] (Paradigm, 2014).

Fonte: https://www.counterpunch.org/2019/02/18/thirty-one-actual-national-emergencies/,  publicado em 2019/02/18, acedido em 2019/02/23

Tradução do inglês de TAM

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