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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Agamben sendo Agamben: o filósofo e a invenção da pandemia

"O diagnóstico de Agamben a respeito da covid-19 antecede a análise dos fenômenos, o que faz parecer que ele está mais comprometido com a sua própria filosofia do que com o mundo que ela quer explicar. O resultado é uma análise que chega às raias do rompimento com a verdade factual e que não tem sensibilidade para os impactos da pandemia nas camadas mais vulneráveis da população. "


Por Yara Frateschi.

Em suas reflexões sobre a crise do coronavírus, Giorgio Agamben chega às raias do rompimento com a verdade factual e nem mesmo as milhares de mortes ou o colapso dos sistemas de saúde em diversos países do mundo o demovem da tese de que as medidas de contenção, como o distanciamento social, sejam “irracionais” e “imotivadas”. Em nenhum momento abordada como um problema de saúde pública, a pandemia teria sido inventada para restringir liberdades e manter o estado de exceção como paradigma normal de governo. Embora os textos do filósofo italiano estejam causando espanto – até pelas semelhanças entre aspectos do seu discurso com o de Jair Bolsonaro –, devemos reconhecer que a sua posição sobre a crise do coronavírus é coerente com a sua obra, especialmente com o esquema para explicar a afinidade entre o biopoder e o estado de exceção na modernidade. O esquema já estava pronto, Agamben o aplicou ao caso.

Se as suas reflexões não estão à altura dos desafios que a crise atual nos impõe, isso se deve às limitações da sua própria filosofia, construída a partir de um binarismo um tanto simplório, de acordo com o qual a máquina governamental sempre domina, controla e restringe liberdades, ao passo que a sociedade é invariavelmente passiva, compacta e inerte. Como lidar com as tensões agudas que a pandemia provoca a partir de uma filosofia sem tensões? Não fosse tão mais comprometido com as próprias teses do que com o mundo que elas deveriam explicar, esta seria uma grande oportunidade para o filósofo admitir “sei que não sei” e reconciliar-se com a cidade, quiçá com a sua própria humanidade. (...)
in blogue da BoiTempo

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