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quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Benedito Espinosa

 

Baruch Espinoza – Wikipédia, a enciclopédia livre

Espinosa, poema de Machado de Assis

 

Gosto de ver-te, grave e solitário,

Sob o fumo de esquálida candeia,

Nas mãos a ferramenta de operário,

E na cabeça a coruscante idéia.

E enquanto o pensamento delineia

Uma filosofia, o pão diário

A tua mão a labutar granjeia

E achas na independência o teu salário.

Soem cá fora agitações e lutas,

Sibile o bafo aspérrimo do inverno,

Tu trabalhas, tu pensas, e executas

Sóbrio, tranqüilo, desvelado e terno,

A lei comum, e morres, e transmutas

O suado labor no prêmio eterno.

Machado de Assis

 

BARUCH SPINOZA

Ocidente a janela em bruma de ouro

A luz evoca. Assíduo, o manuscrito

Já prenhe de infinito a hora aguarda.

Alguém nesta penumbra a Deus constrói,

Um homem Deus engendra. É um judeu

De tristes olhos e cítrea pele.

O tempo o leva como leva um rio

A folha que nas águas vai descendo.

Não importa porém; com delicada

Geometria insiste o feiticeiro

E a Deus cinzela; da doença parte

Para além do que dele só é nada.

A Deus vai erigindo com palavras,

O mais pródigo amor lhe foi doado,

Amor que não espera ser amado.

 

(Jorge Luis Borges)

 

12/10/2010Programa que mostra a vida e as ideias do filósofo renascentista Espinoza, que desafiou a Igreja e propôs a separação entre religião e ...
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Programa que mostra a vida e as ideias do filósofo renascentista Espinoza, que desafiou a Igreja e propôs a separação entre religião e Filosofia.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

ECOSSOCIALISMO

 

OutrasPalavras
Jornalismo de Profundidade e Pós-capitalismo

Löwy: História, razões e ética do Ecossocialismo

Por que reorganizar a produção e o consumo, em bases não-mercantis. A luta para superar o sistema não precisa esperar a conquista do poder. Marx, produtivista?


Por que reorganizar a produção e o consumo, em bases não-mercantis. As divergências em relação ao “capitalismo verde” e ao “socialismo” burocrático. A luta para superar o sistema não precisa esperar pela conquista do poder. Marx, um produtivista?

Por Michel Lowy, em entrevista a Miguel Fuentes | Tradução: Inês Castilho | Imagem: Marc Chagall

O sociólogo e filósofo Michael Lowy, uma das referências mais importantes do pensamento anticapitalista, concedeu há poucos dias entrevista sobre o perigo crescente da crise ecológica e sua importância como problema estratégico central para o marxismo.

Refletindo sobre uma série de questões tais como as mudanças climáticas, o ecossocialismo e os desafios do movimento revolucionário durante as próximas décadas, as ideias deste intelectual constituem um claro chamado de advertência. Segundo ele, dependerá da capacidade que tenham as organizações de esquerda para integrar esses debates em seus seus respectivos eixos estratégicos, a possibilidade (ou não) de enfrentar o último desafio programático da revolução socialista: o perigo do colapso da civilização e da extinção humana, ou melhor, nas palavras de Lowy… a ameaça de um ecossuicídio planetário.

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O que é o Ecossocialismo e quais suas referências?

O ecossocialismo é uma alternativa radical ao capitalismo que resulta da convergência entre a reflexão ecológica e a reflexão socialista (marxista). Sua premissa fundamental é que a preservação de um ambiente natural favorável à vida no planeta é incompatível com a lógica expansiva e destrutiva do sistema capitalista. Não se podem salvar os equilíbrios ecológicos fundamentais do planeta sem atacar o sistema, não se pode separar a luta pela defesa da natureza do combate pela transformação revolucionária da sociedade.

Existe hoje uma corrente ecossocialista internacional que, por ocasião do Foŕum Mundial de Belém (janeiro de 2009), publicou uma declaração sobre as mudanças climáticas, assinada por centenas de pessoas de 45 países. Entre seus precursores se encontram figurais tais como Manuel Sacristán (Espanha), Raymond Williams (Inglaterra), André Gorz (França), James O’Connor (Estados Unidos), e entre seus representantes atuais estão o coautor do “Manifesto Ecossocialista Internacional” (2001) [1] Joel Kovel (Estados Unidos), o marxista ecológico John Bellamy Foster (ibidem), o indigenista peruano Hugo Blanco, a ecofeminista canadense Terisa Turner, o marxista belga Daniel Tanuro, e muitos outros.

O ecossocialismo dissocia-se de dois modelos inoperantes: 1) A ecologia conformista, que adapta suas propostas ao mercado e busca desenvolver um “capitalismo verde” — quer dizer, uma ilusão nefasta ou, em muitos casos, uma mistificação. 2) O pretendido “socialismo real” (da falida URSS, China etc.), o qual não foi mais que uma caricatura burocrática do socialismo baseada numa imitação servil do aparato técnico capitalista e num produtivismo antiecológico tão destruidor da natureza como seu equivalente ocidental.

O ecossocialismo propõe uma reorganização do conjunto do modo de produção e de consumo baseado em critérios exteriores ao mercado capitalista: as necessidades reais da população e a defesa do equilíbrio ecológico. Isso significa uma economia de transição ao socialismo, na qual a própria população – e não as “leis de mercado” ou um Birô Político autoritário – decidam, num processo de planejamento, as prioridades e os investimentos.

Esta transição poderá conduzir não só a um novo modo de produção e a uma sociedade mais igualitária, mais solidária e mais democrática, mais também a um modo de vida alternativo, uma nova civilização ecossocialista para além do dinheiro, dos hábitos de consumo artificialmente induzidos pela publicidade, e da produção ao infinito de mercadorias inúteis. O “Bem Viver” da tradição indígena das Américas é uma importante fonte de inspiração para esta alternativa.

Quais são os principais aportes do Ecossocialismo à teoria marxista e à prática das organizações de esquerda?

Muitos ecologistas criticam Marx por considerá-lo produtivista. Tal crítica nos parece completamente equivocada: ao fazer a crítica do fetichismo da mercadoria, é justamente Marx quem coloca a crítica mais radical à lógica produtivista do capitalismo, a ideia de qua a produção de mais e mais mercadorias é o objeto fundamental da economia e da sociedade.

O objetivo do socialismo, explica Marx, não é produzir uma quantidade infinita de bens, mas sim reduzir a jornada de trabalho, dar ao trabalhador tempo livre para participar da vida política, estudar, brincar, amar. Para tanto, Marx proporciona as armas para uma crítica radical do produtivismo e, particularmente, do produtivismo capitalista. No primeiro volume de O Capital, Marx explica como o capitalismo esgota não só as forças do trabalhador, como também as próprias forças da terra, esgotando as riquezas naturais. Assim, essa perspectiva, essa sensibilidade está presente nos escritos de Marx. No entanto, não foi suficientemente desenvolvida.

É verdade, entretanto, que alguns escritos de Marx, e sobretudo de Engels (o Anti-Dühring, por exemplo) propõem que a tarefa de uma revolução seria unicamente mudar as relações de produção, que se converteram em travas ao livre desenvolvimento das forças produtivas. Cremos que, desde uma perspectiva ecossocialista, necessita-se de uma visão muito mais radical e profunda do que deve ser uma revolução socialista. Trata-se de transformar não só as relações de produção e as relações de propriedade, como a própria estrutura das forças produtivas, a estrutura do aparato produtivo. É preciso que aplicar ao aparato produtivo a mesma lógica que Marx pensava para o aparato de Estado a partir da experiência da Comuna de Paris quando ele dizia o seguinte: “os trabalhadores não podem apropriar-se do aparato do Estado burguês e usá-lo a serviço do proletariado, não é possível, porque o aparato do Estado burguês nunca vai estar a serviço dos trabalhadores. Então, trata-se de destruir esse aparato de Estado e criar outro tipo de poder”.

Essa lógica tem de ser aplicada ao aparato produtivo que deve ser, se não destruído, ao menos radicalmente transformado. Este não pode ser simplesmente apropriado pelas classes subalternas, e posto a trabalhar a seu serviço, pois necessita ser estruturalmente transformado. Por exemplo, o sistema produtivo capitalista funciona com base em fontes de energia fósseis, responsáveis pelo aquecimento global – o carbono e o petróleo. Um processo de transição ao socialismo só seria possível quando se der a substituição dessas formas de energia por energias renováveis — por exemplo a água, o vento e, sobretudo a energia solar.

Por isso, o ecossocialismo implica uma revolução do processo de produção, das fontes energéticas. É impossível separar a ideia de socialismo, quer dizer, de uma nova sociedade, da ideia de novas fontes de energia, particularmente do calor – alguns ecossocialistas falam já de um “comunismo solar”, pois entre o calor, a energia do Sol, o socialismo e o comunismo haveria uma espécie de afinidade eletiva.

Mas não basta transformar o aparato produtivo e os modelos de propriedade, é necessário transformar também o padrão de consumo, todo o modo de vida em torno do consumo, que é o padrão de capitalismo baseado na produção maciça de objetos artificiais, inúteis e perigosos. Por isso trata-se de criar um novo modo de consumo e um novo modo de vida, baseado na satisfação das verdadeiras necessidades sociais, algo completamente diferente das supostas e falsas necessidades produzidas artificialmente pela publicidade capitalista. Dele se depreende pensar a revolução ecossocialista como uma revolução da vida cotidiana, como uma revolução pela abolição da cultura do dinheiro e da mercadoria imposta pelo capitalismo.

O ecossocialismo não é só a perspectiva de uma nova civilização, uma civilização da solidariedade – no sentido profundo da palavra, solidariedade entre os humanos, mas também com a natureza –, é também uma estratégia de luta, desde já, aqui e agora. Não se trata de esperar até o dia em que o mundo se transforme, mas de começar desde já, agora, a lutar por esses objetivos. Trata-se de promover a convergência, a articulação entre lutas sociais e lutas ecológicas, as quais têm o mesmo inimigo: o sistema capitalista, as classes dominantes, o neoliberalismo, as multinacionais, o FMI, a OMC. Os indígenas da América Latina, desde as comunidades andinas do Peru até as montanhas de Chiapas, estão na primeira linha de combate em defesa da Mãe Terra, da Pachamama, contra o sistema.

Noam Chomsky tem afirmado nos últimos anos que a crise ecológica é mais importante que a crise econômica [2]. Qual sua opinião sobre essa frase?

Estou inteiramente de acordo com Chomsky! A crise econômica é grave, porque serve às classes dominantes, ao capital financeiro, para aplicar suas receitas neoliberais, agravando o desemprego, destruindo conquistas sociais, privatizando os serviços públicos etc. Mas a crise ecológica é algo muito mais importante e muito perigoso, porque ameaça as condições de vida da humanidade no planeta.

A que se você refere quando fala de um possível ecossuicídio planetário?

A civilização capitalista industrial moderna é um trem suicida que avança, com rapidez crescente, em direção a um abismo: as mudanças climáticas, o aquecimento global. Trata-se de um processo dramático que já começou, e que poderá levar nas próximas décadas a uma catástrofe ecológica sem precedentes na história humana: elevação da temperatura, desertificação das terras, desaparecimento da água potável e da maioria das espécies vivas, multiplicação dos furacões, elevação do nível do mar – até que Londres, Amsterdã, Veneza, Xangai, Rio de Janeiro e demais cidades costeiras fiquem debaixo d’água. A partir de um certo nível de elevação da temperatura, será ainda possível a vida humana neste planeta? Ninguém pode responder com segurança a esta pergunta.

O dito ecossuicídio planetário é uma situação hipotética, ou uma possibilidade concreta para as próximas décadas?

Cientistas como James Hansen – durante muitos anos o climatólogo da NASA, nos EUA – explicam-nos que as mudanças climáticas não se desenvolvem de forma gradual, mas sim com saltos qualitativos. A partir de um certo nível de aquecimento – 2 graus centígrados além das temperaturas pré-industriais – o processo se tornará irreversível e imprevisível. Isso pode acontecer nas próximas décadas, sobretudo se se confirmam uma série de evidências científicas recentes: derretimento do gelo dos polos mais rápida do que o prevista; maciças emissões de metano (um gás com muito maior efeito de aquecimento do que o CO2) pelo derretimento do permafrost na Sibéria, Canadá etc. Ninguém pode prever quando se dará a inversão, e portanto não têm sentido as previsões que se referem ao ano 2.100.

Uma série de cientistas começaram a alertar sobre uma grande crise planetária no caso de que o aquecimento global supere os 2 graus centígrados, produzindo com ela uma importante quebra nos sistemas agrícolas. Ideias semelhantes têm sido discutidas no âmbito dos estudos energéticos, projetando-se a possibilidade de uma crise estrutural próxima do capitalismo como produto do esgotamento do petróleo e dos combustíveis fósseis (fenômeno conhecido como Peak Oil). [3] Como se relacionaria a ideia do perigo de um ecossuicidio planetário com a possibilidade de um fenômeno de colapso capitalista, aquele como consequência do avanço da crise ecológica no futuro próximo?

Em primeiro lugar, não tem sentido discutir o Peak Oil como se fazia ainda há alguns anos. O problema não é o esgotamento do petróleo, mas que há muitas reservas de petróleo e carvão. Se elas forem queimadas, o aquecimento global será inevitável e catastrófico.

Pois bem, a crise ecológica, por si mesma, não leva a um colapso do capitalismo. O capitalismo pode sobreviver nas piores condições energéticas e agrícolas. Não há menhum mecanismo automático que leve a um colapso capitalista. Haverá crises terríveis, mas o sistema encontrará alguma saída, em forma de guerras, ditaduras, movimentos fascistas etc. Assim foi nos anos 1930 e assim pode ocorrer no futuro. Como dizia Walter Benjamin: “o capitalismo nunca vai morrer de morte natural”. Se queremos por um fim no sistema capitalista, isso só será possível por um processo revolucionário, uma ação histórica coletiva anticapitalista. O capitalismo só desaparecerá quando suas vítimas se levantarem contra ele e o eliminarem.

Marx afirmou no Manifesto Comunista que a história da humanidade foi até hoje a história da luta de classes, e que esta luta terminou sempre com a vitória de uma classe sobre outra… ou então “na destruição das classes em conflito”. Em nossos dias, mais de um século e meio após aquela afirmação, uma equipe de pesquisadores financiados parcialmente pela NASA divulgou um estudo no qual se sugere, entre outras coisas, que a combinação dos efeitos das mudanças climáticas e dos níveis de concentração extrema de riqueza, assim como também de uma futura escassez de recursos em nível mundial estariam a ponto de produzir a ruína da civilização contemporânea. [4] Poderíamos hoje dizer que a sincronia entre as crises ecológica, econômica e social constituiria a materialização histórica daquela possibilidade prevista por Marx em torno de uma possível autodestruição das classes fundamentais do capitalismo?

Creio que se trata de realidades distintas. A concentração extrema de riquezas não conduz à “destruição das duas classes de luta”: é simplesmente a vitória de uma das classes, a burguesia financeira parasitária contra as classes subalternas…

Pois bem, a crise ecológica pode, sim, ter como resultado a ruína da civilização atual e a autodestruição das classes da sociedade moderna, segundo a previsão de Marx. Se se permite ao capitalismo destruir o planeta, todos os seres humanos serão vítimas. Mas a mentalidade dos capitalistas, em particular a oligarquia fóssil – os interesses da indústria do carbono, do petróleo e suas associadas da eletricidade, do transporte, da indústria química etc – poderia ser resumida com a famosa frase do rei francês Luís XIV: “Depois de mim, que venha o dilúvio”.

Durante as primeiras décadas do século XX, algumas importantes figuras do marxismo tais como Lenin, Trotsky ou Gramsci tiveram de enfrentar os horrores das Guerras Mundiais e do Fascismo. Em nosso caso, em troca, pareceria que temos diante de nós um horizonte destrutivo muito superior ao que ditos revolucionários poderiam ter sequer imaginado. Um exemplo disso pode ser visto nos efeitos hipercatastróficos que podem chegar a ter as mudanças climáticas, assim como também no começo do que algumas importantes referências científicas denominaram como a sexta extinção maciça de espécies. Outra denominação em voga deste fenômeno é a do Antropoceno e sua possível relação com um fenômeno de extinção iminente da própria espécie humana. [5] É correto, para você, afirmar que nos encontraríamos às portas de um salto destrutivo inédito da dinâmica capitalista?

Há um consenso crescente entre os cientistas de que entramos numa nova era geológica, o Antropoceno, uma era na qual a ação humana – na verdade, a civilização capitalista industrial moderna – determina os equilíbrios do planeta, inicialmente o clima. Uma das características do Antropoceno é o processo da sexta extinção maciça das espécies, que já começou.

A elevação da temperatura global acima de 2 graus centígrados terá sem dúvida efeitos “hipercatastróficos”, que não se podem comparar com outros eventos históricos (guerras etc.), mas somente com eventos de outras eras geológicas quando, por exemplo, a maioria das costas dos continentes atuais estava sob o mar.

Não creio que se possa afirmar que a extinção da espécie humana seja “iminente”. É um perigo real, uma ameaça, mas para as próximas décadas.

Há mais de um século Rosa Luxemburgo lançou uma das talvez mais obscuras advertências da tradição marxista: isto é, sua famosa frase “Socialismo ou Barbárie”. No caso de Walter Benjamin é igualmente conhecida sua advertência em torno da necessidade de “cortar o pavio antes que a fagulha chegue à dinamite”, em alusão à possibilidade de um “fim catastrófico” (negativo) do desenvolvimento capitalista. Hoje, já passado mais de um século no qual o capitalismo seguiu impondo sua vontade às expensas de toda a humanidade… é possível dizer que a barbárie triunfou… ou então que se encontraria perto disso?

A barbárie ainda não triunfou. Tampouco sabemos se se encontra perto de fazê-lo. Tudo depende da capacidade de resistência das vítimas do sistema: quer dizer, também de nós. O fatalismo é um erro político. Como dizia Gramsci, precisamos de pessimismo na razão e de otimismo na vontade.

Nas últimas décadas, algumas das ideias-força mais importantes que a intelectualidade capitalista integrou em seu programa ideológico foram aquelas em torno dos conceitos de “fim da história”, “fim da luta de classes” e “fim da classe trabalhadora”. Deixando de lado o evidente triunfalismo capitalista que acompanhou o desenvolvimento de tais ideias, estes conceitos podem hoje ser considerados, diante do possível ecossuicídio planetário? O “fim da história” é hoje um perigo real?

O possível econssuicídio planetário é um perigo real, mas nada tem a ver com os discursos ideológicos do “fim da história” ou da luta de classes, que proclamavam a eternidade do capitalismo neoliberal. Ao contrário, a luta de classes é o método para por fim à dinâmica autodestrutiva do capital.

Como podemos pensar essa situação a partir do marxismo e nos preparar para um cenário de crise com uma dimensão possivelmente muito superior à que o campo das lutas sociais enfrentou nos últimos séculos?

O marxismo nos permite compreender a natureza destrutiva do capitalismo, sua tendência inexorável à expansão perpétua, e portanto sua contradição com os limites naturais do planeta. O marxismo nos permite colocar nas vítimas do sistema, nas classes e grupos oprimidos e explorados o sujeito possível de uma transformação anticapitalista. Finalmente, o marxismo nos propõe, com o programa socialista, os fundamentos de uma alternativa radical ao sistema. Mas, sem dúvida, como expusemos acima, necessitamos de uma reformulação ecossocialista das concepções marxistas.

A Revolução Social é uma política anticapitalista que coloque a expropriação da burguesia e a tomada do poder pelos trabalhadores como um passo necessário para deter o desastre que se avizinha, ou para nos preparar para resistir ao colapso?

Deter o desastre é uma tarefa imediata. Cada tubulação de petróleo que se interrompe, cada central elétrica de carbono que se fecha, cada mata que se protege contra a voracidade destruidora do capital, detém o desastre. Mas só será possível impedir a ruína da civilização humana destruindo o sistema com uma revolução socioecológica.

É necessário adaptar o programa e a política da Revolução Socialista diante dos novos perigos que supõe a combinação entre crise ecológica, econômica e social durante o século atual? Que elementos o Manifesto Ecossocialista nos oferece para esta tarefa?

O Manifesto Ecossocialista não tem a resposta a todas estas perguntas. Simplesmente expõe que o socialismo do século 21 tem que ser um socialismo ecológico, e vice-versa: de pouco nos serve uma ecologia que não seja socialista. Sua principal tese é que o sistema capitalista é incompatível com a preservação da vida em nosso planeta. O programa socialista tem que transformar-se em programa ecossocialista, integrando de maneira muito mais central a questão da relação com a natureza do que na tradição socialista ou comunista do século 20.

Um dos princípios fundamentais do marxismo revolucionário foi o de defender o papel da classe trabalhadora como sujeito social da Revolução Socialista. Agora, se considerarmos que um possível colapso civilizatório iminente se associaria à ruína da sociedade industrial e, consequentemente, à desintegração do próprio sujeito trabalhador em vastas regiões do planeta… é possível continuar defendendo a centralidade do movimento trabalhador na luta de classes e do projeto socialista?

A combinação das crises “tradicionais” do capitalismo e da crise ecológica cria as condições para uma ampla aliança de forças sociais contra o sistema. Potencialmente, como expunha o “Occupy Wall Street”, os 99% que não têm um interesse fundamental na manutenção do sistema, são atores possíveis para sua superação. Desde a Conferência Intergalática dos Zapatistas em Chiapas em 1996, e os eventos de Seattle em 1999, até os movimentos recentes de Indignados, vemos os primeiros elementos desta coalisão antissistêmica. Participam dela sindicalistas, ecologistas, movimentos indígenas, camponeses, movimentos de mulheres, associações cristãs, correntes revolucionárias, movimentos da juventude, associações de bairro, militantes socialistas, comunistas e anarquistas. Hoje em dia na América Latina as comunidades indígenas e camponeas estão na vanguarda das lutas socioecológicas, antineoliberais, anti-imperialistas e anticapitalistas. Mas, em última análise, a principal força desta coalizão são os trabalhadores, no sentido amplo: os que vivem da venda de sua força de trabalho, ou do seu próprio trabalho individual ou comunitário. Esta ampla classe de trabalhadores, que não deve ser confundida somente com os operários industriais, constitui a maioria da população, e sem sua ação coletiva nenhuma revolução será possível.

Outro princípio tradicional do marxismo durante o século 20 foi defender a necessidade do controle operário da produção, do planejamento mundial da economia e da distribuição socialista das riquezas como meios possíveis para satisfazer, entre outras coisas, as necessidades materiais do conjunto da humanidade. Agora, se considerarmos que a crise ecológica que se avizinha (e o tipo de quebra alimentar global que trará consigo) poderia implicar que inclusive tais medidas sejam já insuficientes (ineficazes) para dar resposta às necessidades da população mundial, isso devido à própria gravidade da crise que se avizinha e à inexistência de tecnologias capazes de assegurar uma adequada produção agrícola ante um cenário hipercatastrófico de mudanças climáticas… O que fazer? Como resolver esse aparente paradoxo no qual um setor da humanidade pareceria já estar perdido (morto) para o projeto socialista? Mas ainda… é possível resolvê-lo?

Penso ser prematuro discutir o que fazer quando o aquecimento global superar os 2 graus centígrados… Nossa tarefa nas próximas décadas é tratar de impedir isso, promovendo as lutas socioecológicas, as várias resistências anticapitalistas e a consciência ecossocialista. O objetivo é a abolição do capitalismo, o planejamento ecossocialista – em escala local, nacional, continental e, em algum momento, mundial – a distribuição da riqueza e o controle democrático (não apenas “operário”) da população sobre a produção e o consumo.

Evidentemente, é possível que sejamos derrotados e que a humanidade seja levada pelo capitalismo a uma catástrofe. Mas, no momento histórico atual, temos de levar adiante, com todas as nossas forças, este combate decisivo para evitar o desastre.

Tendo em conta a gravidade das ameaças implicadas na crise ecológica atual… por que elas têm sido tão escassamente tratadas no âmbito das organizações de esquerda?

Há várias explicações possível para a demora da tomada de consciência ecológica da esquerda:

1) O dogmatismo, a repetição do tradicional, a resistência a aceitar mudanças na teoria e na prática.

2) O economicismo, a redução da política a interesses corporativos imediatos: por exemplo “salvar o emprego”, isso sem questionar as consequências humanas, sociais ou ecológicas desses “empregos”.

3) A influência da ideologia burguesa do “progresso”, identificado com a expansão, o “crescimento” da economia, a produção de mais e mais mercadorias, e o consumismo.

4) O caráter futuro das ameaças ecológicas – colapso da civilização – em comparação com os problemas econômicos imediatos: a crise, o desemprego etc.

Notas:

[1]Nota sobre o Manifesto Ecosocialista: https://www.rebelion.org/hemeroteca/sociales/lowy090602.htm.

[2] Entrevista a Noam Chomsky: http://www.jornada.unam.mx/2015/09/12/cultura/a36n1cul.

[3] Notas complementares sobre esses temas nos siguintes links:

(1) http://www.eldesconcierto.cl/2017/03/15/manuel-casal-lodeiro-y-su-libro-sobre-la-izquierda-ante-el-colapso/

(2) http://www.eldesconcierto.cl/2017/02/24/entrevista-a-peter-wadhams-el-artico-esta-en-peligro/.

[4] Estudo cofinanciado pela NASA sobre um possível colapso capitalista iminente: https://www.theguardian.com/environment/earth-insight/2014/mar/14/nasa-civilisation-irreversible-collapse-study-scientists.

[5]Link:http://elpais.com/elpais/2015/06/19/ciencia/1434727661_836295.html.

domingo, 26 de dezembro de 2021

 

Não é por julgarmos uma coisa boa que nos esforçamos por ela, que a queremos, que a apetecemos, que a desejamos, mas, ao contrário, é por nos esforçarmos por ela, por querê-la, por apetecê-la, por desejá-la, que a julgamos boa.

Espinoza, Ética, parte 3, proposição 9 esc

Bento de Espinosa, "Príncipe dos filósofos"

 

Prenomes

Recebeu dos pais portugueses o nome de Benedito de Espinosa. Assinou Baruch em vários trabalhos, pela condição de judeu nascido e criado em Amsterdão. Adotou Benedictus, a forma correspondente latina, para assinar a sua Ethica, depois do chérem em seu nome, em 1656.[18]

Vida

A sua família fugiu da Inquisição de Portugal. Foi um profundo estudioso da Bíblia, do Talmude e de obras de judeus como Maimónides, Ben Gherson, Ibn Ezra, Hasdai Crescas, Ibn Gabirol, Moisés de Córdoba e outros. Também se dedicou ao estudo de Sócrates, Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro, Lucrécio e Giordano Bruno. Ganhou fama pelas suas posições opostas à superstição: a sua frase Deus sive natura, "Deus, ou seja, a Natureza" é um conceito filosófico, e não religioso. Notabilizou-se também por ter escrito sua ética na forma de postulado e definições, como se fosse um tratado de geometria.

Chérem

O banimento, que foi escrito em português

Em 27 de julho de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdão puniu Espinoza com o chérem, o equivalente hebraico da excomunhão católica, pelos seus postulados a respeito de Deus em sua obra, defendendo que Deus é o mecanismo imanente da natureza, e que a Bíblia é uma obra metafórico-alegórica, que não pede leitura racional e não exprime a verdade sobre Deus.[18]

O banimento (texto original em português)

Conforme Will Durant, o chérem de Espinoza pelos judeus de Amsterdã (tal como ocorrera com as atitudes que levaram à retratação e posterior suicídio de Uriel da Costa em 1647) seria um gesto de "gratidão" por parte dos judeus para com o povo holandês. Embora os pensamentos de da Costa não fossem totalmente estranhos para o judaísmo, contradiziam os pilares da crença cristã. Os judeus, perseguidos por toda a Europa na época, especialmente pelos governos ibéricos e pelos governos luteranos alemães, haviam recebido abrigo, proteção e tolerância dos protestantes de inspiração calvinista dos Países Baixos e, assim, não poderiam permitir, no seio de sua comunidade, um pensador tido como herege.

Pós-chérem

Após o chérem, adotou o primeiro nome "Benedictus" (termo latino para "Bendito", isto é, uma tradução do seu nome original, Benedito), assim atestando seu desvencilho da religião judaica.

Para sua subsistência, trabalhava com polimento de lentes durante os períodos em que viveu em casas de famílias em Outerdek (próximo a Amsterdã) e em Rijnsburg, tendo recusado várias oportunidades e recompensas durante sua vida, em prestigiosas posições de ensino. Em 1670 mudou-se para a cidade da Haia, e desenvolveu suas principais obras. Convidado a lecionar na Universidade de Heidelberg, recusou porque teria de acatar as normas ideológicas da universidade e seria impossível continuar com a sua obra de forma independente. Uma vez que as reações públicas ao seu Tratado Teológico-Político não lhe eram favoráveis, absteve-se de publicar seus trabalhos. A Ética foi publicada após sua morte, na Opera Postuma editada por seus amigos.

Morte

Morreu em um domingo, 21 de fevereiro de 1677, aos 44 anos, vitimado pela tuberculose. Morava então com a família Van den Spyck, na Haia. A família havia ido à igreja e o deixara com o amigo doutor Meyer. Ao voltarem, encontraram-no morto. Encontra-se sepultado no pátio da Nieuwe Kerk, na Haia, nos Países Baixos.[19]

Traços físicos

Conforme Colerus, que o conheceu em Rijnsburg, Espinoza "era baixo, feições regulares, pele cor de oliva, cabelos pretos e crespos, sobrancelhas negras e bastas, denunciando claramente a ascendência de judeus Sefardim, ou sefarditas (originalmente naturais da Península Ibérica). No vestir era muito descuidado, a ponto de quase se confundir com os cidadãos da mais baixa classe".[20]

Reconhecimento

Estátua de Spinoza em Haia

Suas obras o fizeram reconhecido em vida, tendo recebido cartas de figuras proeminentes como Henry Oldenburg da Royal Society; do inventor alemão Ehrenfried Walther von Tschirnhaus; do cientista holandês Huygens; de Leibnitz; do médico Louis Meyer, de Haia; e do rico mercador De Vries, de Amsterdã. Luís XIV lhe ofereceu uma larga pensão para que Espinoza lhe dedicasse um livro. O filósofo recusou polidamente.

O príncipe de Condé, na chefia do exército da França que invadira a Holanda, novamente convidou-o a aceitar uma pensão do rei da França e ser apresentado a vários admiradores. Spinoza, desta vez, aceitou a honraria, mas se viu em dificuldades ao retornar a Haia, por causa dessa suposta "traição". Porém, logo o povo, ao perceber que se tratava de um filósofo, um inofensivo, se acalmou.

O monumento feito em homenagem a Spinoza em Haia foi assim comentado por Renan em 1882:

O retrato de Spinoza foi impresso nas antigas notas de 1 000 florins dos Países Baixos, até a introdução do euro, em 2002.

Obra

Livros

a) Publicados "post mortem":

Escritos em latim:[21]

Conteúdo:

Escritos em holandês:


b) Publicados

  • Tratado sobre a Reforma do Entendimento (De Intellectus Emendatione) - Ensaio. Também publicado na língua portuguesa com os títulos: Tratado para Emendar o Intelecto (Editora Unicamp), Tratado da Reforma da Inteligência (Editora Martin Fontes), Tratado da Reforma do Entendimento (Editora Escala) e Tratado sobre a Correção do Intelecto (Acrópolis Filosofia), 1662.

Conteúdo filosófico

Espinosa defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura ("Deus ou Natureza" em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós.

A sua visão da natureza da realidade, então, fez tratar os mundos físicos e mentais como dois mundos diferentes ou submundos paralelos que nem se sobrepõem nem interagem mas coexistem em uma coisa só que é a substância. Esta formulação é uma solução muitas vezes considerada um tipo de panteísmo e de monismo, e ainda de panenteísmo com influência cabalista,[22] como em sua divisão da Natura naturans e Natura naturata.[23] Espinosa era um racionalista e, por extensão, fundamentou seu sistema sobre o acompanhamento intelectual do Universo, como define ele em seu conceito de "Amor Intelectual de Deus".

Espinosa também propunha uma espécie de determinismo, segundo o qual absolutamente tudo o que acontece ocorre através da operação da necessidade, e nunca da teleologia. Para ele, até mesmo o comportamento humano seria totalmente determinado, sendo então a liberdade a nossa capacidade de saber que somos determinados e compreender por que agimos como agimos. Deste modo, a liberdade para Espinosa não é a possibilidade de dizer "não" àquilo que nos acontece, mas sim a possibilidade de dizer "sim" e compreender completamente porque as coisas deverão acontecer de determinada maneira.[24]

A filosofia de Espinosa tem muito em comum com o estoicismo, mas difere muito dos estoicos num aspecto importante: ele rejeitou fortemente a afirmação de que a razão pode dominar a emoção. Pelo contrário, defendeu que uma emoção pode ser ultrapassada apenas por uma emoção maior. A distinção crucial era, para ele, entre as emoções activas e passivas, sendo as primeiras aquelas que são compreendidas racionalmente e as outras as que não o são.

Substância

Para Espinoza, a substância não possui causa fora de si, ela é causa de si mesma, ou seja, uma causa sui. Ela é singular a ponto de não poder ser concebida por outra coisa que não ela mesma. Por ser causa de si, a substância é totalmente independente, livre de qualquer outra coisa, pois sua existência basta-se em si mesma. Ou seja, a substância, para que o entendimento possa formar seu conceito, não precisa do conceito de outra coisa. A substância é absolutamente infinita, pois se não o fosse, precisaria ser limitada por outra substância da mesma natureza.

Pela proposição VI da Parte I da Ética, ele afirma: "Uma substância não pode ser produzida por outra substância", portanto, não existe nada que limite a substância, sendo ela, então, infinita. Da mesma forma, a substância é indivisível, pois, do contrário, ao ser dividida ela, ou conservaria a natureza da substância primeira, ou não. Se conservasse, então uma substância formaria outra, o que é impossível de acordo com a proposição VI; se não conservasse, então a substância primeira perderia sua natureza, logo, deixaria de existir, o que é impossível pela proposição 7, a saber: "à natureza de uma substância, pertence o existir". Assim, a substância é indivisível.

Assim, sendo da natureza da substância absolutamente infinita existir e não podendo ser dividida, ela é única, ou seja, só há uma única substância absolutamente infinita ou Deus.

Apesar de ser denominado Deus, a substância de Espinoza é radicalmente diferente do Deus judaico-cristão, pois não tem vontade ou finalidade já que a substância não pode ser sem existir (se pudesse ser sem existir, haveria uma divisão e a substância seria limitada por outra, o que, para Espinoza, é absurdo, como foi explicado no parágrafo anterior). Consequentemente, o Deus de Espinoza não é alvo de preces e menos ainda exigiria uma nova religião.

Natureza Humana

Baruch Espinoza viveu em um tempo onde recebeu diferentes influências, um tempo de transição, que marcava o início da modernidade. O filósofo teve que ser cauteloso na exposição de seu pensamento, porque muitos de seus colegas sofreram perseguição e foram até mortos. Para Espinoza, Deus e a natureza são uma coisa só, não havendo distinção entre eles. Essa concepção exclui ideias transcendentais e entra em choque com os que acreditam no direito divino para os reis, bem como com Direitos naturais hereditários. Seu caráter Naturalista exclui a ideia Dualista de que haveria uma maneira natural de como as coisas deveriam ser. Muitos pensadores acreditavam que as coisas deveriam ser da maneira que são pela vontade de Deus: essa é uma diferença importante no pensamento de Spinoza. 

O filósofo começa a expor seu pensamento acerca da natureza humana no livro Tratado Teológico-político. Nele, o autor explica como acredita que funcionam as economias dos Afetos e Desejos e de que maneira isso afeta como vivemos. No capítulo XVI/3, encontramos um exemplo: "O direito natural e cada homem definem-se, portanto, não pela razão sã, mas pelo desejo e pela potência". Ninguém, com efeito, está determinado a se comportar conforme as regras e as leis da razão; ao contrário, todos nascem ignorantes de todas as coisas e a maior parte de suas vidas transcorre antes que possam conhecer a verdadeira regra da vida e adquirir o estado de virtude, mesmo que tenham sido bem educados. E eles não são menos obrigados a viver e a se conservar, nessa espera, pelo simples impulso do apetite, pois a natureza não lhes deu outra coisa, e lhes recusou a potência atual de viver conforme a reta razão; logo, considerando submetido apenas ao império da natureza, tudo o que um indivíduo julgar como lhe sendo útil, seja pela conduta da razão seja pela violência de suas paixões, é-lhe permitido desejar, em virtude desejar, em virtude de um soberano direito de natureza e tomar por qualquer via que seja, pela força, pela artimanha, por preces, enfim, por meio mais fácil que lhe pareça. Consequentemente, também ter por inimigo aquele que quiser impedi-lo de se satisfazer".[25]

Mais adiante, Spinoza vai argumentar que o uso da Razão viria a partir de um exercício, mas que ainda estamos longe de chegar lá devido às Paixões. O autor disserta: "Mas falta muito para que todos se deixem facilmente se conduzir apenas pela razão; cada um se deixa levar por seu prazer e, mais amiúde, a avareza, a glória, a inveja, o ódio etc. ocupam a mente, de tal sorte que a razão não tem qualquer lugar".[26]

No ano de sua morte, Spinoza termina um outro livro, que seria uma continuação do anterior, dando sequência a seus pensamentos e sua teoria. No Tratado Político (Espinosa), título do novo livro, Espinosa também aborda, em diferentes momentos, a questão da natureza humana, bem como a força das paixões e os efeitos que elas produzem nos corpos. Logo no primeiro capítulo, o autor explica de que maneira ele tenta entender essas paixões e estudá-las, a fim de aplicá-las na sua teoria: "Quando, por conseguinte, apliquei o ânimo à política, não pretendi demonstrar com razões certas e indubitáveis, ou deduzir da própria condição humana, algo que seja novo ou jamais ouvido, mas só aquilo que está mais de acordo com a prática. E, para investigar aquilo que respeita a esta ciência com a mesma liberdade de ânimo que é costume nas coisas matemáticas, procurei escrupulosamente não rir, não chorar nem detestar as ações humanas, mas entendê-las. Assim não encarei os afetos humanos, como são o amor, o ódio, a ira, a inveja, a glória, a misericórdia e as restantes comoções do ânimo, como vícios da natureza humana, mas como propriedades que lhe pertencem, tanto como o calor, o frio, a tempestade, o trovão e outros fenômenos do mesmo gênero que pertencem à natureza do ar, os quais, embora sejam incômodos, são contudo necessários e têm causas certas mediante as quais tentamos entender sua natureza".[27]

O autor expõe seu pensamento com clareza acerca da sua discordância com o pensamento comum da época. Explicando o porquê de não acreditar que as pessoas agem exclusivamente através da razão: "Depois, na medida em que cada coisa se esforça, tanto quanto esta em si, por conservar o seu ser, não podemos de forma alguma duvidar de que, se estivesse tanto em nosso poder vivermos segundo os preceitos da razão como conduzidos pelo desejo cego, todos se conduziriam pela razão e organizaram sabiamente a vida, o que não acontece minimamente, pois cada um é arrastado pelo seu prazer".[28] Para o filósofo, as pessoas não se submetem ao estado por uma análise racional, mas por uma economia de seus desejos, sejam eles medo ou esperança. São as paixões que, em acordo com outras Paixões, encontram vontades comuns que permitem que as pessoas se agrupem em "estados" e, assim, se submetam de alguma maneira a algum sistema. Seja ele monárquico aristocrático ou democrático. "Longe de ser fruto de uma ruptura com a natureza, o estado forma-se no âmbito desta, mediante a dinâmica afetiva, ou passional, que associa ou põe em confronto os indivíduos". "Por isso também, a essência do político é impossível de se confundir com uma qualquer moldura racional de onde e no interior da qual as normas de conduta fossem deduzidas, de modo a imporem-se como condição necessária e legítima da paz e da estabilidade".[29]

Observamos que Spinoza defende uma espécie de sistema econômico de gerenciamento dos afetos, tanto por parte dos súditos, como do Soberano. Esse gerenciamento é subjetivo, e acontece individualmente, com efeitos no coletivo. Cabe, aos súditos, sentirem sua Potência, a fim de preservar sua vida, e maximizar sua liberdade, bem como o soberano de não impor sistema rígido demais que encurrale seus súditos a ponto de que esses se rebelem. O estado mais "racional", é aquele que consegue entender as demandas da sua população, e promover uma espécie de bem-estar. A paz imposta pelo medo, como ausência de guerra, é sempre temporária. O bem-estar de todos é o que ajuda a manter o estado coeso. Esse sistema é precário, e está sempre sujeito a avaliações e adequações para melhor atender a todos, defendendo, assim, até a manutenção do estado pelo soberano. Spinoza entende o estado como a potência da Multidão, e define, no TP 2/17, os sistemas políticos que podem constituir esse estado. O autor esclarece: "Detém–no absolutamente quem, por consenso comum, tem a incumbência da república, ou seja, de estatuir, interpretar e abolir direitos, fortificar as urbes, decidir sobre guerra e paz etc. E se esta incumbência pertencer a um conselho que é composto pela multidão comum, então o estado chama–se Democracia; mas se for composto só por alguns eleitos, chama–se Aristocracia; e se finalmente, a incumbência da República e por conseguinte, o estado, estiver nas mãos de um só, então chama–se Monarquia".[30] Com isso, podemos concluir o pensamento de Spinoza e entender como a Natureza age sobre as e através das potências de todos e como isso influencia o estado e o sistema político.

Os afetos - o desejo, a alegria e a tristeza

Os corpos se individualizam em razão do "movimento e do repouso", da "velocidade e lentidão" e não em função de alguma substância particular (escólio 1 da proposição 13 da parte 2 da Ética), e a identidade individual através do tempo e da mudança consiste na manutenção de uma determinada proporção de movimento e repouso das partes do corpo (proposição 13 da parte 2 da Ética). O corpo humano é um complexo de corpos individuais, e é capaz de manter suas proporções de movimento e de repouso ao passar por uma ampla variedade de modificações impostas pelo movimento e repouso de outros corpos. Essas modificações são o que Espinoza chama de "afecções".[31]

Uma afecção que aumenta a capacidade do corpo de manter suas proporções características de movimento e repouso aumenta a "potência de agir" e tem, em paralelo, na mente, uma modificação que aumenta a "potência de pensar". A passagem de uma potência menor para uma maior é o "afeto de alegria" (definição dos afetos, parte 2 da Ética). Uma afecção que diminui a potência do corpo de manter as proporções de movimento e repouso diminui a potência de agir e tem, em paralelo, na mente, uma diminuição da potência de pensar. A passagem de uma potência maior para uma menor é o "afeto de tristeza". Já uma afecção que ultrapassa as proporções de movimento e repouso dos corpos que compõe o corpo humano destrói o corpo humano e a mente (morte).

Os indivíduos (mentes e corpos) se esforçam em perseverar em sua existência tanto quanto podem (proposição 6 da parte 3 da Ética). Eles sempre se esforçam para ter alegria, isto é, um aumento de sua potência de agir e de pensar, e eles sempre se opõem ao que lhes causa tristeza, ou seja, aquilo que diminui sua capacidade de manter as proporções de movimento e repouso características de seu corpo. O esforço por manter e aumentar a potência de agir do corpo e de pensar da mente é o que Espinoza chama de "desejo" (conatus).

Não é por julgarmos uma coisa boa que nos esforçamos por ela, que a queremos, que a apetecemos, que a desejamos, mas, ao contrário, é por nos esforçarmos por ela, por querê-la, por apetecê-la, por desejá-la, que a julgamos boa.

Espinoza, Ética, parte 3, proposição 9 esc.

As afecções que são atribuídas à "ação" do corpo humano testemunham o aumento de sua potência de agir e de pensar e, por isso, o afeto de alegria sempre impulsiona a atividade. Em contraste, as afecções que diminuem a potência de agir e de pensar (provocando tristeza) testemunham sempre a passividade do corpo humano, são sempre passivas, são "paixões" (do grego pathos, "sofrer uma ação").

Para Espinoza, a ilusão dos homens de que suas ações resultam de uma livre decisão da mente é consequência de eles serem conscientes apenas de suas ações enquanto ignoram as causas pelas quais são determinados, o que faz com que suas ações sejam determinadas pelas paixões. Isso é o que ele chama de "primeiro gênero de conhecimento", "imaginação" ou "ideias inadequadas" (a consciência de nossos afetos, e a inconsciência do que os determina). O "segundo gênero de conhecimento" são as "noções comuns" ou "ideias adequadas", que se caraterizam pela consciência do que nos determina a agir. As ideias adequadas sempre são efeitos da alegria, acarretam alegria e impulsionam a atividade, enquanto a imaginação (ideias inadequadas) se caracteriza pela passividade e pelo acaso de causar ou ser efeito da alegria ou da tristeza.

[...] uma criancinha acredita apetecer, livremente, o leite; um menino furioso, a vingança; e o intimidado, a fuga. Um homem embriagado também acredita que é pela livre decisão de sua mente que fala aquilo sobre o qual, mais tarde, já sóbrio, preferiria ter calado. Igualmente, o homem que diz loucuras, a mulher que fala demais, a criança e muitos outros do mesmo gênero acreditam que assim se expressam por uma livre decisão da mente, quando, na verdade, não são capazes de conter o impulso que os leva a falar. Assim, a própria experiência ensina, não menos claramente que a razão, que os homens se julgam livres apenas porque são conscientes de suas ações, mas desconhecem as causas pelas quais são determinados. Ensina também que as decisões da mente nada mais são do que os próprios apetites: elas variam, portanto, de acordo com a variável disposição do corpo. Assim, cada um regula tudo de acordo com o seu próprio afeto e, além disso, aqueles que são afligidos por afetos opostos não sabem o que querem, enquanto aqueles que não têm nenhum afeto são, pelo menor impulso, arrastados de um lado para outro. Sem dúvida, tudo isso mostra claramente que tanto a decisão da mente, quanto o apetite e a determinação do corpo são, por natureza, coisas simultâneas, ou melhor, são uma só e mesma coisa, que chamamos decisão quando considerada sob o atributo do pensamento e explicada por si mesma, e determinação, quando considerada sob o atributo da extensão e deduzida das leis do movimento e do repouso [...]

Spinoza, Ética, parte 3, proposição 2 esc.

A grande inovação da ética de Espinoza foi que, nela, a razão não se opõe aos afetos, pelo contrário, a própria razão é um afeto, um desejo de encontrar ou criar as oportunidades de alegria na vida e de evitar ou desfazer ao máximo as circunstâncias que causam tristeza, mas o próprio desejo-razão (do mesmo modo que os outros tipos de afetos) não depende da vontade livre, mas de afecções que fogem ao controle do indivíduo porque são modos da substância única infinita, que não tem finalidade nem providência. Em diversas obras,[32][33] Espinoza diz que é nocivo (diminui nossa potência de agir e de pensar) ridicularizar ou reprovar alguém dominado pelas paixões, porque isso não depende da livre decisão da mente. O único modo do homem que se guia pela razão ajudar os outros é, nas palavras de Espinoza:

Não rir nem chorar, mas compreender.

Espinoza, Tratado Político

A ética de Espinoza é a ética da alegria. Para ele, só a alegria é boa, unicamente a alegria nos leva ao amor (que ele define como a ideia de alegria associada a uma causa exterior) no cotidiano e na convivência com os outros, enquanto a tristeza sempre é má, intrinsecamente relacionada ao ódio (que ele define como a ideia de tristeza associada a uma causa exterior), a tristeza sempre é destrutiva para nós e para os outros.

O terceiro gênero de conhecimento - beatitude

Além dos dois gêneros citados anteriormente, Espinoza afirma ainda um terceiro, chamado beatitude. Esse conhecimento se caracteriza por compreender, nas coisas singulares, o aspecto da eternidade (sub specie aeternitatis). Seria algo como ver as coisas singulares como inseparáveis dos modos da substância infinita e eterna (Deus), compreendendo que as coisas singulares são elas mesmas eternas, existindo fora do tempo. Esse é um dos conceitos de Espinoza mais controversos e discutidos.[34]

A influência

Spinoza ficou considerado como maldito por muitos anos após sua morte. Quem recuperou sua reputação foi o crítico alemão Gotthold Ephraim Lessing em seus diálogos com Johann Jakob Reiskei em 1784. Na sequência, o filósofo foi citado, elogiado e inspirou pessoas como os teólogos liberais Johann Gottfried von Herder e Friedrich Schleiermacher, o poeta católico Novalis e o polímata Johann Wolfgang von Goethe.

Da combinação do pensamento de Spinoza com a epistemologia de Immanuel Kant, saíram os "panteísmos" de Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling e de Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Influenciou os conceitos de Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche e Henri Bergson "vontade de viver", "vontade de poder" e "élan vital", respectivamente. Inspirou o pensador inglês Samuel Taylor Coleridge, bem como os poetas e também ingleses William Wordsworth e Shelley.

No Brasil, Bader Burihan Sawaia trouxe a influência de Espinoza para a Psicologia Sócio-Histórica, enfatizando, em bases materialistas-dialéticas a importância da afetividade como categoria fundamental do psiquismo.[35]

Bibliografia

Sobre Espinoza

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  • Boucher, Wayne I., ed., 1999. Spinoza: Eighteenth and Nineteenth-Century Discussions. 6 vols. Thommes Press.
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  • Hampshire, Stuart 1951. Spinoza and Spinozism, OUP, 2005 ISBN 978-0-19-927954-8
  • Junior Pick - Du bonheur, un voyage pholosophique - Fayard - France ISN 978-223166136
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Traduções

Para o português
  • Tratado Político. Tradução, introdução e notas: Diogo Pires. Revisão da tradução de Homero Santiago. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. ISBN 978-85-7827-141-1
  • Tratado Teológico-político. Organização J. Guinsburg, Newton Cunha, Roberto Romano. Tradução J. Guinsburg, Newton Cunha. 1 ed. São Paulo: Perspectiva, 2014. 
  • Ética. Tradução de Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
  • Victor Civita. Editor. Os Pensadores: Espinoza. São Paulo: Abril Cultural, 1983, 3a edição.
Inclui as seguintes obras: Pensamentos Metafísicos, Tratado da Correção do Intelecto, Ética, Tratado Político, Correspondência. Inclui também "Espinoza: Vida e Obra", de Marilena de Souza Chauí
  • Ética. Tradução: Grupo de Estudos Espinosanos. São Paulo: EDUSP, 2015.
  • Princípios da Filosofia Cartesiana e Pensamentos Metafísicos. Tradução: Homero Santiago e Luís César Oliva. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
  • Tratado da Emenda do Intelecto. Tradução: Cristiano Novaes de Rezende. Campinas: Editora da UNICAMP, 2015.
  • Breve Tratado. Tradução: Emanuel Ângelo R. Fragoro e Luís César Oliva. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
Para o francês
  • Spinoza. Oeuvres III: Éthique. Paris: GF-Flammarion, 1965. Tradução Charles Appuhn.

Estudos introdutórios

Sobre a filosofia de Spinoza
Sobre a Ética
  • Charles Appuhn. "Notice sur l'Éthique". Em: Spinoza, Oeuvres III: Éthique. Paris: GF-Flammarion, 1965.

Tópicos spinozanos

Subjetividade, intersubjetividade e individualidade
  • Martial Gueroult. 1974. Spinoza II: L'Âme. Millau: Aubier, 2001.
  • Alexandre Matheron. 1969. Individu et Communauté chez Spinoza. Paris: Les Editions de Minuit, 1988, V+647 páginas.
Nova edição da obra original à qual foi acrescida uma advertência na qual o autor diz que nada modifica no texto e remete aos seus outros trabalhos para maiores desenvolvimentos dos estudos spinozanos presentes no livro.
Liberdade
  • Robert Sleigh Jr., Vere Chappell e Michael Della Rocca. "Determinism and human freedom." Em Daniel Garber e Michael Ayers, editores, The Cambridge history of seventeenth-century philosophy, volume II, capítulo 33. Cambridge, New York e Melbourne: Cambridge University Press, 1998.
O trecho sobre liberdade em Spinosa vai da página 1226 à página 1236.
Sabedoria
  • Alexandre Matheron. 1971. Le Christ et le Salut des Ignorants chez Spinoza. Aubier-Montaigne.

Ver também

Referências


  1. Sawaia, B. B. O sofrimento etico-político como categoria de análise da dialética inclusão/exclusão. In: --- (org.) as artimanhas da exclusão (1999), Petropolis, RJ, Ed. Vozes.

Bibliografia

Ligações externas

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Wikiquote
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Obras
  • A forma Espinoza e Spinoza também é utilizada.

  • Nadler 2001, p. 45.

  • Popkin, Richard H. «Benedict de Spinoza Dutch-Jewish philosopher». Encyclopedia Brittannica

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  • Yovel, Yirmiyahu.(1992). Spinoza and Other Heretics: The Adventures of Immanence. Princeton University Press. p. 3

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  • Fréderic Lenoir- Du bonheur, un voyage pholosophique, p 117/118

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  • ESPINOZA, Baruch de. Tratado Político. Tradução, introdução e notas: Diogo Pires. Revisão da tradução de Homero Santiago. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. ISBN 978-85-7827-141-1. Pgs. 7-8. 

  • ESPINOZA, Baruch de. Tratado Político. Tradução, introdução e notas: Diogo Pires. Revisão da tradução de Homero Santiago. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. ISBN 978-85-7827-141-1. Pg. 13.

  • ESPINOZA, Baruch de. Tratado Político. Tradução, introdução e notas: Diogo Pires. Revisão da tradução de Homero Santiago. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. ISBN 978-85-7827-141-1. Pg XXIII-XXIV. 

  • ESPINOZA, Baruch de. Tratado Político. Tradução, introdução e notas: Diogo Pires. Revisão da tradução de Homero Santiago. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. ISBN 978-85-7827-141-1. Pg. 20.

  • A Imortalidade de Espinoza EuroNet

  • Tratado Político

  • Ética

  • YOVEL, Y. Espinosa e Outros Hereges.

  • Viagem à Polónia

    Viagem à Polónia
    Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

    Viagem à Polónia

    Viagem à Polónia
    Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.