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sábado, 25 de dezembro de 2021

 

As vozes na cabeça

Numa altura em que um pouco por todo o lado a extrema-direita emerge dos cantos mais obscuros da história para tomar um lugar no centro político, forçando à radicalização dos discursos e empurrando parte dos políticos de centro-direita e da direita para o extremo do espectro político na ânsia de não perder o seu eleitorado descontente, é de estranhar que seja a ameaça do comunismo a grande bandeira capaz de arregimentar seguidores. Estranha-se ou, se calhar, não, já que um dos argumentos mais usados na cartilha do autoritarismo é o de trazer a ameaça do comunismo para se justificar como última linha defensiva contra esse inimigo invasor de mentalidades. Matar em nome do anticomunismo figura em local de relevo na cartilha do bom autoritário. Aliás, um autoritário é só alguém que convence os outros de que as vozes na sua cabeça são verdadeiras. Como diz o autor de Neofascismo in Grigio (Neofascismo em cinzento), Claudio Vercelli, numa forma teórica, em entrevista à revista Le Grand Continent, “as formações neofascistas apresentam-se hoje como o único sujeito político autêntico na medida em que trazem para o centro a política e os seus nobres e verdadeiros desafios (a chamada ‘aristocracia de espírito’) contra a hegemonia utilitarista e estritamente materialista exercida pela economia e os seus actores nacionais e internacionais”. Este neofascismo “aproveita o mal-entendido deliberado segundo o qual os fascismos históricos foram realmente uma alternativa à dialéctica conflitual entre capitalismo e comunismo”, para se afirmar como movimento agregador dos desarreigados da globalização e do capitalismo moderno.

 Público 24 Dec 2021, António Rodrigues, jornalista

 

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