Uma abordagem erudita e fecunda de Friedrich Engels
Osvaldo Coggiola comenta “Curso Livre Engels: vida e obra", destacando como os textos de Alysson Mascaro, José Paulo Netto, Ricardo Antunes, Virgínia Fontes e Marília Moschkovich possibilitam um mergulho profundo aos que desejam nadar contra a corrente.
Por Osvaldo Coggiola
Os textos reunidos em Curso Livre Engels: vida e obra, nascido do Curso Livre Marx-Engels organizado pela Boitempo, são todos excepcionais na sua abordagem erudita e fecunda da obra de Friedrich Engels. Resgatam-no não apenas como um pensador e homem de ação independente (ao contrário da lenda que tendeu longamente a apresentá-lo como um complemento “inferior” de Karl Marx e, principalmente, como um vulgarizador de sua obra), mas, sobretudo, provam, de modo contundente, que essa autonomia não é só um fato histórico como também uma componente orgânica daquilo que Engels chamava de “nova teoria” e que chegou até nós, por razões óbvias de delimitação teórica e política, sob o nome de “marxismo”.
Diversos autores, como Perry Anderson, já apontaram que, em diversos campos do conhecimento (como a historiografia), os juízos de Engels eram mais certeiros que os de Marx. Outros chamaram a atenção para a superior abrangência de sua obra, compreendendo campos como o da “ciência pura”, ou o que hoje chamamos de antropologia, da qual Engels foi um precursor, como discute um dos textos ora reunidos. Isso levanta a questão decisiva: toda revolução teórica tem um centro (Darwin no evolucionismo biológico, Einstein na relatividade física, Marx, enfim, na teoria histórico/social dialética), mas surge indefectivelmente da interação não só com gigantes teóricos pretéritos (já muito apontada em relação a Marx e Engels), mas também coetâneos.
Alguns autores apontaram, de modo mais ou menos fecundo, para a condição dos dois alemães como membros da “geração de 1840”, a geração das revoluções de 1848, que estava muito longe de estar composta por dois gênios e um conjunto de nulidades teóricas ou filosóficas. As obras de Marx e Engels devem ser consideradas em sua autonomia tanto como em sua complementariedade crítica, em sua “unidade dialética” (sem falar, obviamente, em sua solidariedade política). Não nos é permitido ler Marx com atenção, e Engels, por assim dizer, “distraidamente”.
Isso não é só uma correta aproximação histórica, mas também hodiernamente metodológica. A teoria, qualquer teoria, só pode progredir caminhando nas trilhas abertas pelos colossos do passado com uma atitude e “espírito” independentes, de omnibus dubitandum. O mergulho profundo na obra de Engels é o melhor instrumento para estender esse princípio ao próprio marxismo. O conjunto dos textos de Curso Livre Engels: vida e obra, redigidos desde ângulos múltiplos, são, junto com as eruditas biografias de Engels de que já dispomos, o melhor instrumento para iniciar esse mergulho e nos mantermos na superfície, nadando contra a corrente.
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Curso Livre Engels: vida e obra reúne artigos de Alysson Leandro Mascaro, José Paulo Netto, Ricardo Antunes, Virgínia Fontes e Marília Moschkovich, texto de orelha de Osvaldo Coggiola e capa de Maykon Neri.
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Osvaldo Coggiola
é professor titular de história contemporânea da Universidade de São
Paulo. Nascido na Argentina, é autor, entre outros livros, de Teoria econômica marxista: uma introdução, e organizou a edição da Boitempo do Manifesto comunista de Karl Marx e Friedrich Engels. Colaborador da revista semestral da Boitempo, a Margem Esquerda, também tem textos publicados nos livros Curso Livre Marx-Engels, organizado por José Paulo Netto e István Mészáros e os desafios do tempo histórico, organizado por Ivana Jinkings e Rodrigo Nobile.
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