A moral diz respeito aos costumes, a ética (melhor: Ética) é um estudo, análise, da moral, e toda a moral é evidentemente situada num determinado tempo e espaço. Assim, na Ética, encontramos filósofos que pensam a moral do seu tempo e, quase sempre, propõem alternativas profundas ou apenas correcções contra os chamados "desvios". Não surpreende que Aristóteles haja defendido, justificado, o esclavagismo que vigorou durante milhares de anos: o seu quadro mental, os limites da sua época, não lhe permitiram criticar e imaginar, ainda que ele fosse um génio.
No entanto, os avanços civilizacionais não pararam depois de Aristóteles, impelidos pelas contradições de interesses entre diferentes estratos e classes sociais. Economia e Política foram as forças motrizes que provocaram mudanças dos valores.
A doutrina liberal, baseada nas teorias dos mais importantes filósofos do liberalismo, desempenhou um papel progressista e até mesmo revolucionário no decurso dos séculos em que a "classe média" lutou para se converter em classe dominante. Nesse decurso de tempo, nessas lutas económico-sociais-culturais, surgiram alternativas ao próprio liberalismo (e não só ao clerical-feudalismo): os comunismos utópicos e, logo em seguida, os socialismos. Ou seja: o liberalismo foi acompanhado pelos socialismos mais ou menos radicais, em alianças que acabaram sempre mal. Acompanhado a contragosto. Filósofos e políticos liberais que se opunham vigorosamente ao Antigo Regime (à economia, aos valores das sociedades) opuseram-se com igual vigor aos ideais e projectos socialistas. Ao arrepio do que se pensa por vezes, muitas vezes, o liberalismo (os liberais) lutaram em duas frentes, com armas reais. As contra revoluções representam o triunfo (em banhos de sangue) dos liberais sobre os "radicais" (em vários casos eram também liberais). A história não se escreve a preto e branco. A pequena burguesia urbana do Portugal de oitocentos- liberal democrática- foi esmagada a tiro pelos liberais.
Os liberais que triunfaram sobre os "liberais radicais" (isto é, que exigiam a Democracia) aludiam a que valores liberais?
Os liberais "radicais" (muitos dos quais evoluíram para formas de socialismos, incluindo a social-democracia) justificavam os seus projectos por meio de que valores liberais?
Que alternativa pode avançar actualmente uma Ética? Se for somente ao chamado "neo-liberalismo" não deixará de ser uma Ética para valores liberais corrigidos dos seus "desvios". Não se mostrando social-democrata em boa verdade (de doutrina clássica), fazem-se acompanhar de social-democratas numa aliança que irá substituir o "neo-liberalismo" ortodoxo que conhecemos há mais de trinta anos.
Que, em minha opinião, iremos continuar a conhecer de perto. Com algumas pequenas correcções. Porque quem fala por último não são os valores morais, mas o muito que lhes está na base.
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