Translate

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A submissão

O PEC (Plano de estabilidade e crescimento) é, por agora, apenas uma declaração de intenções, a Assembleia da República irá propor, discutir as medidas e votar. Por conseguinte, a declaração de intenções serve para anunciar as posições e opções do Governo e tranquilizar os mercados internacionais. Bruxelas deu o seu aval, mas a OCDE e, principalmente, o FMI, disseram que sim mas que não, ou seja, exigem e avisam que as medidas a tomar sejam mais duras que as receitas. Dois partidos da oposição parecem gostar, antevendo-se quais serão as suas propostas: reforçar os antibióticos. Assim, todos (o governo, o PSD e o CDS, o FMI, os Mercados) querem o mesmo: leilão das empresas públicas, congelamento e até descida se possível dos salários e pensões, encerramento de serviços públicos no rol dos «desperdícios», redução drástica das despesas sociais do estado, aumento da carga fiscal, diminuição dos investimentos públicos. Fica desenhado com clareza bastante o quadro do neo-liberalismo. A mesma ideologia, a mesma política, que provocou a actual crise financeira mundial. Provocou, exigiu e recebeu a ajuda respectiva do mesmo Estado que ela sempre teimou em encolher, e para sair-se da crise aproveita para leiloar os bens públicos, não pagar mais impostos directos, aumentar os lucros à custa dos salários e fortelecer os negócios com aqueles serviços que, outrora, eram públicos. Keynes, no seu tempo, preconizou a saída da crise que abalava então o capitalismo com o Estado Social, ou seja, um Estado intervencionista, grandes investimentos públicos para criar emprego e riqueza, medidas de apoio social. Os liberais e neo-liberais nunca gostaram de Keynes e têm vindo a acabar com essa teoria desde os tempos do sr. Reagan e da Sra. Tatcher. De crise em crise (desde 1973 pelo menos) vêm a aplicar golpes mortais no Estado Providência (por consequência, na Europa, nas sociais-democracias, que, aliás, aderiram alegremente ao neo-liberalismo).
Vivemos, portanto, uma época decisiva, porque nela se decide do futuro (ou do resto) das doutrinas sociais-democratas. Quem alguma vez o foi, ou ainda o seja, devia reflectir seriamente sobre a vocação real do seu partido social-democrata (Partidos Socialistas em geral). Se continuar a rever-se neles que não diga que é da Esquerda, a menos que seja estúpido ou mentiroso. O mais digno seria revoltar-se dentro do seu partido, votar contra as opções de Direita, ou dar à sola do partido que escolheu por engano.
Eis um tempo de grandes decisões. Se o mundo do trabalho, alvo e vítima deste PEC, se submeter, então teremos muito para reflectir sobre os mecanismos de submissão.

Sem comentários:

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

Viagem à Polónia

Viagem à Polónia
Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.