Não há modo como evitar a interdisplinaridade da Sociologia com a Psicologia. Essa complementaridade não se resolve com uma disciplina como seja a Psicologia Social (é esta que completa a Psicologia; uma estuda o indivíduo num contexto, a outra estuda o contexto dos indivíduos; indivíduo-grupos). Pela Sociologia entendemos a realidade social como um conjunto de relações, definidas como relações de forças ( a Marx devemos o conceito de «relações sociais», exposto pela primeira vez nas famosas «Teses sobre Feuerbach»; e a descoberta de que elas são relações entre forças em presença, em «O Capital», as «forças» desenham a cada momento, permanentemente, as «tendências» que imprimem a tensão no interior do sistema capitalista). As estruturas da realidade social possuem um carácter objectivo; esta objectividade e exterioridade não são de todo inconciliaveis com a compreensão da realidade social como um conjunto de «relações de sentido» (que conferem sentido), expressão forjada por Pierre Bourdieu, segundo Max Weber.
As estruturas sociais são objectivas, isto é, independentes da consciência e da vontade dos agentes, que são capazes de orientar ou de constranger as suas práticas ou as suas representações. Mas há uma génese social, por um lado, dos esquemas de percepção, de pensamento e da acção que são constitutivas do que eu chamo habitus e, por outro lado, das estruturas sociais e em particular do que chamo campos (P. Bourdieu). Os actores agem efectivamente, num espaço de manobra mais ou menos alargado conforme as as forças das classes sociais opostas. Compreender quem são estes actores, os seus esquemas de percepção, as suas representações, as suas motivações, as suas personalidades, é tarefa da Psicologia. Um exemplo: os papéis reservados à família e à escola na interiorização e reprodução dos habitus (méritos, hierarquias, exclusão/integração).
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