Já antes da razão, ou do pretexto, da dívida externa, o Estado Social ou Estado Providência, estava a ser desmantelado, com a razão, ou pretxto, do Pacto de estabilidade. O argumento do déficite tem sido utilizado pelos governos do PSD, CDS, PS, desde há anos, mesmo antes da actual crise dos mercados. O argumento veio de fora, do alto comando da UE, acolitado pelas organizações internacionais que estabelecem as regras. Está no início do neo-liberalismo, da ofensiva capitalista que programou a liquidação dos socialismos e das sociais-democracias, isto é, que visou a privatização completa de tudo que fosse matéria de negócio e a libertação de todos os encargos que racaíam sobre o capital, incluindo os impostos. Os capitalistas nunca quiseram contribuir para as despesas sociais do Estado. Quem tem dinheiro paga e não está disposto a pagar para outros; contudo, e entretanto, quem tinha dinheiro para pagar os estudos superiores, por exemplo, não se importou de reivindicar também propinas gratuitas, ou um Serviço Nacional de saúde gratuito. Este é o dilema, ou a contradição, da chamada «classe média», sobretudo dela. O Estado Social também a protegia. O sistema fiscal também, nas deduções à colecta.
A classe média é oscilante: vota nos mesmos, mas estes dão-lhes bordoadas. O neo-liberalismo pareceu beneficiá-las numa primeira fase ( o dinheiro a crédito, por exemplo), agora aperta-lhes o garrote. A crise é verdadeira, e muito séria, mas é um bom pretexto para a liquidação definitiva do Estado Providência. Nesse aspecto a nossa Constituição já não vale um suspiro.
As doutrinas reformistas das sociais-democracias foram varridas. O espectro político radicalizou-se. Agora vê-se melhor o que antes era nebuloso: quais as causas que definem a Esquerda. É nas lutas institucionais e nas lutas de massas que ela se manifesta. Ou não.
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