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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Blogues

Os blogs (como escrever: blog ou blogue?) valem o que valem. Muito poucos, ou ninguém, procuram neles grandes e graves dissertações ou mesmo ensaios (no sentido convencional da palavra). Querem-se velozes, sucintos, divertidos. Não há tempo para mais, o tempo que sobra é para relaxar, abstrair-se do tempo real gasto ou para gastar, distrair-se dos compromissos de que se faz o tempo, medido pelos relógios, pelos toques de campainha ou pelo «picar o ponto». Os blogs não se inventaram para produzir ciência mas opinião (embora a ciência não dispense a opinião), isto é, doxa. E mesmo assim um comentário opinativo breve para não ser "chato", porque a "seca" aplica-se tudo que seja teórico (o convívio é que é bom). O blog é como o facebook ou qualquer dos outros meios de contacto: enviam-se mensagens, convites, trocam-se elogios mútuos (todos são "amigos" e, por isso, elogiam-se uns aos outros, mesmo que aquilo que lá escrevem ou "produzem" seja de uma mediocridade alarmante). Blogs, facebooks e outros meios semelhantes, são vastas feiras de vaidades, isto é, de narcisismos. Mas são também, paradoxalmente ou não, instrumentos incontornáveis e inegáveis de comunicação de afectos, que reforçam a função dos telemóveis e até lhe acrescentam alguma coisa.  Constituem-se grupos, movimentos, agremiações, irmandades, tribos, num instante, permitindo as uniões (mais ou menos fugazes), as fusões e as efusões, substituindo os arqueológicos telegramas e as não menos arqueológicas cartas de amor. Os fiéis fortalecem a sua fé reafirmando incansavelmente a sua crença aos olhos dos seus «companheiros de estrada».
A diferença dos blogs é ligeira: são do mesmo modo mensagens, espaços de maior ou nenhuma criatividade pessoal, postais que se endereça a alguém ou a ninguém, formais e informais, pessoais e impessoais no destinatário, confissões, estados de alma, partilha de gostos. Positivamente podem alcançar um grau pedagógico supletivo da escola formal ou dos livros convencionais. Blogs muito visitados pertencem normalmente a individualidades, nome que se costuma dar a indivíduos mediáticos (alguns funcionam à maneira dos gurus, dos sacerdotes que detêm a informação privilegiada).
O meu blog não é mais do que, à semelhança de muitos outros, uma forma de enganar a morte.

1 comentário:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Excelente! Excelente, meu amigo!

Viagem à Polónia

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Auschwitz: nele pereceram 4 milhôes de judeus. Depois dos nazis os genocídios continuaram por outras formas.

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Auschwitz, Campo de extermínio. Memória do Mal Absoluto.