José Alberto Sardinha é um advogado de Torres Vedras, etnomusicólogo de categoria nacional e internacional, que não tem merecido um destaque mais amplo e justo porque em Portugal é costume o desprezo pela cultura nacional, sobretudo quando não move negócios e comove os media.
Publicou A Origem do Fado (ed. Tradisom), onde defende a tese de que o fado nasceu das canções populares portuguesas ( e não de músicas brasileiras), isto é, do canto narrativo tradicional, transportado, numa primeira fase, pelos jograis e, depois, numa última fase, pelos músicos ambulantes que andavam de terra em terra, cantando nas feiras. «Normalmente, eram músicos mendicantes, que incluíam muitos cegos, a que o povo chamava de «ceguinhos» e ao que eles cantavam «fado dos ceguinhos». É esse fado, a que chamamos pejorativamente, o da «desgraçadinha», ou de «faca e alguidar», que está na origem próxima do que nós conhecemos hoje como fado e que se transformou num género artístico», palavras dele.
O desenvolvimento da tese, a sua clareza, rigor e observação concreta, quase que não eram necessários pois que a sua ideia é tão intuitiva e iluminadora que nos faz aderir sem hesitações.
Ainda me lembro perfeitamente de escutar esses romances «de cordel», narrando ingenuamente tragédias tão intensas que me comoviam até às lágrimas (mais tarde faziam-me sorrir, mas sem desprezo, tal era o seu excesso). Ainda me lembro dos «ceguinhos». Só não sabia que estava ali o Fado. Essa idiossincracia portuguesa. Bem que o Miguel de Unamuno nos classificava de povo melancólico...
Tiro o chapéu ao José Alberto Sardinha.
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