Diversas esferas da ação social humana são suficientemente autónomas para em determinadas circunstâncias virem a desempenhar um papel determinante no processo dialético e histórico das formações económico-sociais e das suas lutas e contradições internas.
A religião cristã já desempenhou esse papel na Idade Média. Não serviu, em vários períodos, tão só de cobertura ideológica para disfarçar as ambições territoriais. Os contendores acreditavam seriamente em deus e na missão que a divindade lhes atribuía, isto é, conforme lhes era afirmado pelos papas. Muitos deles, incluindo papas, não agiam com hipocrisia, mentira ou cinismo.
É necessário que se compreenda o conceito de Ideologia nos textos do próprio Marx e os seus desdobramentos corretos por filósofos e cientistas sociais marxistas.
A política (ou os seus protagonistas) não instrumentaliza sempre e tão só a ética e a moral. Acontece que eles próprios possuem a sua versão de ética e a sua moral. Em nome desta agem sem hipocrisia e cinismo em todos os casos.
Constatar a relativa autonomia das esferas da ação social, que não se reduzem às instituições físicas, é de fundamental importância para uma compreensão mais realista, ou mais científica se for o caso.
Para o peso da religião podemos adiantar o exemplo do sunismo e do xiismo para o desencadeamento de conflitos no Médio Oriente e das diferentes, por vezes opostas, estratégias e táticas políticas dos países de religião muçulmana. O imperialismo britânico e o imperialismo contemporâneo soube sempre manipular essas hostilidades.
Passa-se outro tanto com a Ética : a teoria marxiana na qual se articulam economia e política, é fundamentalmente uma Ética? Noutros termos: é o comunismo fundamentalmente uma Ética? Princípios e valores éticos que compõem um horizonte alternativo às barbaridades do capitalismo?
Uma ética com uma moral que exigem a luta política e transformações económicas.
A Ética marxiana compõe-se das categorias de exploração, dominação, alienação e reificação, e fetichização (ou à portuguesa : enfeitiçamento) para a compreensão de fenómenos decisivos do capitalismo. A eliminação deles é a tarefa de sociedades não capitalistas de todo.
Ora, o conceito de Ideologia funda-se na praxis. Nas atividades produtivas e reprodutivas dos seres humanos. Em primeiro lugar o Trabalho.
Tudo o que o homem pensa (do mais pobre senso-comum à mais elevada filosofia) mergulha na praxis.
Fora dela os valores éticos não fazem sentido. Elaborar valores fora desse terreno concreto da historicidade, da materialidade, é puro idealismo. É esta a armadilha da ideologia contemporânea capitalista. Que é a única que temos. Que é aquela que constitui a subjetividade neste período histórico.
Portanto, a transformação por via da luta política, da economia e da cultura, das circunstâncias que negam a humanidade do homem, é a tarefa principal da nova ética.
Emancipar os trabalhadores suprimindo o processo de produção e reprodução do capital. Suprimindo o processo da acumulação.
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