«O Que Nos faz pensar?»
Jean-Pierre Changeux (biólogo e professor de neurobiologia no Collège de France, autor do célebre «O Homem Neuronal») e Paul Ricoeur (filósofo, já falecido, autor de importantes obras entre as quais «Teoria da Interpretação», «O Discurso da Acção»,« Ideologia e Utopia», «A Crítica e a Convicção» (Edições 70)
Este diálogo entre um cientista que é em filosofia um materialista e um filósofo eminente que é, em filosofia, um idealista, é deveras instrutivo para o tema que tenho trazido aqui para o meu blogue.
Excerto:
P.Ricoeur- (…) Acredito no carácter universal da moral.
J.-P. C.- Também eu, mas será pelas mesmas razões?
P.R.- Por que razões? Por «razão» devemos entender vários níveis. Em Sources of the Self, Charles Taylor distingue um primeiro nível, o das «avaliações fortes» no plano do discurso habitual, quotidiano, e depois no das racionalizações filosóficas ou outras, enfim, o de que ele chama as «origens» ou a motivação profunda em termos de grandes heranças culturais. A este respeito, vivemos, em sua opinião, de uma tripla herança, a do judeu-cristianismo, a das Luzes, mas também a do romantismo, que se estende ate à ecologia contemporânea. Colhendo sempre neste tesouro de princípios, recursos, acredito que a democracia assenta na capacidade não só de se apoiar mutuamente, como de se ajudar mutuamente, capacidade decorrente destas três grandes tradições, uma baseando de certo modo a justiça no amor, a outra na razão e a terceira na relação com a vida dentro de nós e na natureza ambiente.
J.-P. C. – É uma visão muito ocidental das «origens» e das heranças culturais. As heranças do confucionismo e do budismo, como a dos filósofos atomistas da Antiguidade parecem-me tão importantes de ter em conta como a do judeu-cristianismo. Por outro lado, penso que se precipita a propósito da democracia. Não esqueçamos o carácter violentamente conflituoso do pensamento das Luzes em relação ao judeu-cristianismo.» pp.32, 33.
Notas à margem: 1. Este é apenas um brevíssimo excerto de um diálogo muito rico pelo qual se evidencia com enorme clareza o monismo do neurobiólogo de profissão e o dualismo do filósofo. Racionalismo em ambos, do melhor. Argumentação profunda e consistente. «O Que nos faz Pensar?» é um livro altamente pedagógico e perfeitamente acessível. Obrigatório.
O que é o monismo?
O que é o dualismo?
1 comentário:
Zé,
Ler-te é aprender.
E é também um sinal de ânimo.
Comentar... não sei.
Vou tentar "pensar".
Beijo
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