Translate
domingo, 7 de março de 2010
Interrogações do professor Ramos
1. Devemos aplicar o preceito «carpe diem» (goza cada dia) no sentido hedonista (só o prazer imediato vale)? O filósofo grego Epicuro, que o criou, não era um puro hedonista, era, sobretudo, um eudemonista (procura da felicidade possível). No seu preceito estava contido um ideal de serenidade pessoal que só se alcança pelo domínio das paixões funestas para o indivíduo, pelo cultivo das boas, como a amizade, a convivialidade, o intercâmbio de ideias, a comunicação inter-subjectiva tão racional quanto possível entre interlocutores que desejam atingir realmente um acordo. O seu preceito não era um postulado a priori, mas um resultado de uma filosofia do mundo e da vida que valorizava a natureza como fonte e composto originário do homem, a racionalidade sobre a irracionalidade, a liberdade sobre a escravatura, a comunidade sobre a multidão de egoísmos, o poder da vontade sobre a fatalidade, a alegria do viver sobre o pessimismo da morte. Carpe diem: não vivas torturado pelo medo da morte e da fatalidade, pelo medo que as religiões incutem, pela submissão que os tiranos impõem, pelo ódio ao corpo e aos prazeres terrenos.
2. É a vida que determina a consciência, não é esta que determina a vida. É a natureza que nos dá a vida ou a morte, foi nela que se gerou a espécie humana, ela é o nosso corpo, o cérebro que determina o pensamento, o viver com os outros que determina o que somos. E quando a consciência impele à acção sobre o viver, a natureza, a sociedade, não abandona nunca a sua natureza primeira.
3. Individualmente considerado o pensamento não existe separado do corpo e da matéria: da natureza e da exterioridade e coercitividade das regras sociais. O pensamento é uma propriedade da matéria, o seu desenvolvimento depende das experiências e relações sociais concretas. Educa-se o corpo e a mente, tal como aprendemos as propriedades da matéria.
4. Biliões de anos separam a humanidade da formação da Terra e da Vida. Porque haveria o espírito humano de ser anterior? Sendo o nosso planeta apenas um planeta médio perdido em biliões de enxames e galáxias onde incontáveis estrelas e seus planetas se movem e colidem, porque haveria de ser o nosso o planeta escolhido por um Espírito criador? Todas as religiões tiveram o seu povo eleito…
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário