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sexta-feira, 5 de março de 2010
CONFISSÃO
Bem que eu não saiba história, ou muito pouca, sou o autor destas páginas.
Tudo me aconteceu desde o princípio.
Sou o protagonista,
a vítima, o culpado, o carrasco.
Sou o que olha e o que actua.
As idades descansaram em mim.
Os dias foram meu alimento.
As ideias, minhas asas,
meus punhais.
Pelo vazio de minhas mãos passou
o rio das armas.
Meus olhos são os fornos em que ardeu
a criação inteira.
Meu canto é o silêncio.
Homem, mulher, criança, ancião,
cada gesto meu treme nas estrelas
atravessando o tempo irrepetível.
Eu sou. Não busquem outro,
não torturem outro,
não amem outro.
Não tenho maneira de escapar.
CINTIO VITIER ( n. 1921)
trad.: José Bento.
Etiquetas:
Ed. Assírio e Alvim,
in Rosa do Mundo.
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1 comentário:
Belo poema. Não conhecia Cintio Vitier.
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