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domingo, 13 de junho de 2010
ROTINAS
Uma camisa pendurada num lugar improvável
Um papel que escreveste (mais um) noutra Era
Uma fotografia onde uns olhos azuis sorriem para a objectiva
Um gato empoleirado na janela horas a fio
Um livro aberto na página cinquenta e um
Um recado no frigorífico «Não esquecer de»
Um cravo murcho sobre a mesa rústica
Uma saudade no bolso do roupão
Uns chinelos número trinta e seis pasmados na ausência
Um pesadelo esquecido sob a cama
A chave de um cacifo com um enigma lá dentro
Um pente com fios de prata que é outra maneira de dizer
“Envelheces, homem!»
Faz de ti um molde e mete-o no congelador
Às recordações más assa-as no forno
Das boas não tentes fazer versos
Somente o amor e ódio merecem versos
E tu não sentes nem uma coisa nem outra.
Fecha o gato na gaiola e põe os pássaros à janela
Desinfecta o cacifo dos sentidos universais sem sentido
Atira para o cesto dos papéis os bilhetinhos patetas
Lava o roupão e oferece os chinelos a uma pedinte
E disfarça o pesadelo das derrotas com um sorriso
De quem sabe que a cor dos olhos é apenas um pigmento.
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1 comentário:
E sorri...
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