Crise sistémica global
Primavera de 2011: Benvindo ao United States of Austerity
– Rumo ao grande descalabro do sistema económico e financeiro mundial
«O segundo trimestre de 2010 é bem caracterizado por um agravamento brutal da crise assinalado pelo fim da ilusão da retomada que foi alimentada pelos dirigentes ocidentais e pelos milhões de milhões engolidos pelos bancos e planos económicos de "estímulo" sem eficácia duradoura. Os próximos meses vão revelar uma realidade simples mas particularmente dolorosa: a economia ocidental e, em particular, a dos Estados Unidos , nunca saiu verdadeiramente da recessão . Os sobressaltos estatísticos registados desde o Verão de 2009 não foram senão as consequências passageiras de uma injecção maciça de liquidez num sistema tornado fundamentalmente insolvente, tal como o consumidor americano . No cerne da crise sistémica global desde a sua origem, os Estados Unidos vão portanto demonstrar nos próximos meses que estão novamente em vias de arrastar as economias e as finanças mundiais para o "coração das trevas" pois não chegaram a sair desta "Muito Grande Depressão estado-unidense" . Assim, no momento da saída dos sobressaltos políticos das eleições americanas de Novembro próximo, sobre o pano de fundo de taxas de crescimento tornadas negativas, o mundo vai ter de enfrentar a "Muito Grande Avaria" do sistema económico e financeiro mundial fundado há mais de 60 anos sobre a necessidade absoluta de a economia americana jamais se encontrar em recessão duradoura. Ora, o primeiro semestre de 2011 vai impor à economia americana uma cura de austeridade sem precedentes, mergulhando o planeta num novo caos financeiro, monetário, económico e social . Os próximos trimestre vão ser particularmente perigosos para o sistema económico e financeiro mundial. O patrão do Fed, Ben Bernanke, fez igualmente passar a mensagem tão diplomaticamente quanto possível aquando da recente reunião dos banqueiros centrais mundiais em Jackson Hole, no Wyoming: Apesar de a política de relançamento da economia americana ter fracassado, que seja o resto do mundo a continuar a financiar em perda os défices estado-unidenses e espera que num dado momento esta aposta venha a ser compensadora pois terá evitado um afundamento do sistema global, ou seja, os Estados Unidos vão monetizar a sua dívida e transformar em moeda de macacos o conjunto dos dólares e Títulos do Tesouro dos EUA possuídos pelo resto do planeta. Tal como toda potência acuada, os Estados Unidos doravante são obrigados a juntar a ameaça à pressão para poderem obter o que querem. Há apenas pouco mais de um ano, os dirigentes e responsáveis financeiros do resto do mundo dispuseram-se voluntariamente a "recolocar a flutuar o navio USA". Hoje contudo as coisas mudaram muito pois a bela garantia de Washington (tanto a do Fed como a da administração Obama) verificou-se não ser senão pura arrogância fundamentada sobre a pretensão de ter compreendido a natureza da crise e a ilusão de possuir os meios de dominá-la. Ora, o crescimento americano evapora-se trimestre após trimestre e tornar-se-á negativo a partir do fim de 2010, o desemprego não pára de crescer a estabilidade dos números oficiais e a saída em seis meses de mais de dois milhões de americanos do mercado do emprego (para o LEAP/E2020, o número real do desemprego doravante é de pelo menos 20%) , o mercado imobiliário americano continua deprimido a níveis historicamente baixos e vai retomar a sua queda a partir do 4º trimestre de 2010; enfim, como se pode facilmente imaginar nestas condições, o consumidor estado-unidense permanece e permanecerá ausente por longo tempo uma vez que a sua insolvência perdura e mesmo se agrava pois um americano em cada cinco não tem trabalho. Em primeiro lugar, há uma realidade popular muito sombria, uma verdadeira viagem "ao coração das trevas", que é a de dezenas de milhões de americanos (cerca de 60 milhões dependem agora de selos de alimentação) que doravante não têm mais emprego, nem casa, nem poupanças e que se perguntam como vão sobreviver nos próximos anos . Jovens , reformados, negros, operários, empregados administrativos , ... eles constituem esta massa de cidadãos em cólera que em Novembro próximo se vai exprimir brutalmente e mergulhar Washington num impasse político trágico. Apoiantes do movimento "Tea-Party" , novos secessionistas , ... eles querem "partir a máquina washingtoniana" (e por extensão a da Wall Street) sem entretanto ter propostas realizáveis para resolver a multidão de problemas do país . Assim, as eleições de Novembro de 2010 vão ser a primeira ocasião para esta "América que sofre" exprimir-se sobre a crise e suas consequências. E, recuperados ou não pelos republicanos ou pelos extremos, estes votos vão contribuir para paralisar ainda mais a administração Obama e o Congresso (que provavelmente oscilará para o lado republicano), não fazendo senão afundar o país num imobilismo trágico no momento em que todos os indicadores passam novamente para o vermelho. Esta expressão da cólera popular vai igualmente entrar em choque a partir de Dezembro com a publicação do relatório da comissão sobre o défice estabelecido pelo presidente Obama, que automaticamente vai colocar a questão dos défices no cerne do debate público do princípio de 2011 .
A título de exemplo, já se pode ver uma expressão bem particular desta cólera popular contra a Wall Street no facto de que os americanos desertaram da bolsa . A cada mês, são sempre mais os "pequenos accionistas" que deixam a Wall Street e os mercados financeiros deixando hoje mais de 70% das transacções nas mãos das grandes instituições e outros "high frequency traders" . Se se recorda a imagem tradicional de que a bolsa seria o tempo moderno do capitalismo, assiste-se então a um fenómeno de perda de fé que poderia ser comparável ao desgosto com grandes manifestações populares que o sistema comunista experimentou antes da sua queda.»
15 Setembro 2010
(in http:// resistir.info/.)
(cortes e adaptações da minha responsabilidade - N.P.)
2 comentários:
Permita-me viajar e aprender neste espaço tranquilo de lazer e cultura.
Abraço
Agradeço. Abraço.
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